domingo, 30 de novembro de 2008

CARTÃO DO CIDADÃO





Hoje, até porque tenho um tempo muito limitado visto que acabei de chegar de Torres Novas onde fui para servir de júri no Festival do Arroz Doce, não posso alargar-me em comentários sobre o que ocorre aqui no nosso País, que mereça fazer perder tempo aos leitores do meu blogue – que parece estarem a ser cada vez em maior número – com a sua apreciação. Mas como tenho feito questão que, cada dia que passa, não deixe ter algum apontamento da minha autoria, nem que seja apenas um poema ou um pensamento que me tenha ocorrido, por isso eis-me com meia dúzia de palavras.
E o que me leva a preencher este espaço é a notícia que li de que já tinge a casa de umas centenas de milhar o número de pedidos e de parte já entregue do novo Cartão do Cidadão, que reúne, num só documento, vários dos outros de identificação que é preciso transportar sempre nas nossas carteira.
Segundo está a ser divulgado, este documento preenche o espaço dos característicos bilhetes: de Identidade, de Contribuinte, Segurança Social, Utente de Saúde e de Eleitor. É pena que não ocupe também o referente à Carta de Condução, como sucede em muitos países onde este cartão tem uma importância essencial na identificação do possuidor.
Mas, basta-me, por hoje, sublinhar dois factores, um de crítica e outro de elogio O primeiro é, como de costume na nossa Terra, começar-se uma iniciativa tomada sem antes nos prepararmos convenientemente para prestar o serviço sem falhas e correspondendo a uma programação bem pensada e melhor ainda posta em prática. É que, após dois meses de ter começado o serviço de satisfação dos pedidos dos cidadãos que desejam usufruir deste serviço, foram necessários abrir mais 31 balcões para responder à afluência que, pelos vistos, não era esperada (?), mas, mesmo assim, ocorrem mais de 3 horas de "seca" para tratar do documento, quem pretende fazer a marcação pelo telefone para conseguir marcação, é-lhe dada uma data bastante longínqua que desanima qualquer interessado, o sistema informático dos serviços chegou a ir abaixo em determinada altura e não se sabe quando tudo funcionará correctamente, por forma a darmos os parabéns por termos, aqui e acolá, algumas coisas que acabam por chegar depois de os vermos a ser utilizados lá fora. O outro factor que refiro, o do elogio, é por constatar que aquilo que eu apontei várias vezes em escritos da minha autoria, inclusivamente num blogue atrasado, que era precisamente a necessidade de acabarmos de vez com a quantidade enorme de cartões que temos de carregar para provar a nossa existência, por ter sido posta em prática essa minha insistência – e não terá sido, certamente, pelo facto de ter teimado em referir o assunto – merece que eu agora faça o elogio, repito, reconhecendo que, apesar de tudo, mais vale tarde do que nunca.
Vamos agora esperar pela conclusão do processo e até o alargamento dos serviços, para que não se torne necessário sermos portadores de um arquivo para, com a maior rapidez, demonstrarmos quem somos.

sábado, 29 de novembro de 2008

LOGO...


Os preços dos carros novos vão subir 2,5% em Janeiro próximo. Logo… se baixaram bastante as vendas de automóveis, por motivo da crise, do custo da gasolina e do pouco dinheiro que cada família média pode dispor, essa situação ainda se vai agravar mais para os vendedores de viaturas.
A crise também se está anotar nos casinos. Têm mais clientes, mas cada um joga menos. Logo… não há tanto dinheiro para arriscar e os Stanley Ho deste mundo também sofrem as consequências.
Sócrates continua a proteger a ministra da Educação, não fazendo o que se impunha que era nomear outro político para o lugar. Logo… a “guerra” com os professores continua e quem sofre com tudo isto são os alunos que, todos contentes, nem precisam de estudar.
Na Assembleia da República lá se realizou o debate para aprovação do Orçamento para 2009, que resultou na aprovação apenas com os votos do PS. Logo… apesar das lamúrias que permanentemente surgem por parte das Oposições, a verdade é que o Governo continua, feliz da vida, a fazer o que entende e, até às próximas eleições, Sócrates e os seus sequazes não cuidam de se esforçar para pôr de parte os elogios em boca própria e usar melhor o dinheiro público, que é o que tem de estar debaixo de olho neste momento.
Paulo Portas, no meio da sua pequenez política, não deixa de apontar o dedo desde a sua cadeira de deputado, atirando ao primeiro-Ministro as acusações mais violentas que surgem do lado dos parlamentares que estão contra o Governo. Logo… nem assim o CDS cresce no horizonte político, nem o Governo liga a mínima ao que lhe diz o partido da Direita.
Dias Loureiro continua a sua vida, agora reconfortado pelas palavras de Cavaco Silva que não lhe retirou o lugar de Conselheiro de Estado. Logo… tudo indica que, para ocupar uma posição que obriga a uma posição que não levante as menores suspeitas de má conduta em qualquer situação, não é necessário nem sê-lo nem parecê-lo.
A Ordem dos Advogados está em alvoroço, porque uma parte dela não concorda com o actual Bastonário. Logo… o que parece ser o ideal, até naquela Organização que deveria merecer o maior respeito dos cidadãos, é que um bastonário não seja muito falador e que não venha à praça pública enfrentar situações que convêm ficar protegidas de críticas.
Aquele caso, que foi muito falado, em que Abel Pinheiro, então exercendo as funções de tesoureiro (ou coisa parecida) do CDS, foi escutado telefonicamente pela Polícia, o que o tornou arguido quanto ao corte de milhares de sobreiros (completamente proibido) numa propriedade denominada Portucale, continua ainda no Tribunal e aguarda por uma conclusão. Logo… as influências políticas continuam a dar resultado no nosso País, fazendo com que culpados em actos ilícitos andem por aí a rir-se e a vangloriarem-se do que fizeram.
O Banco Privado Português, atravessando um período de enormes dificuldades e tendo-se candidato às garantias do Estado para usufruis de empréstimos de outras instituições, o que lhe foi recusado, parece ter a sua salvação alcançada, dado que outros seis bancos nacionais se juntaram para proceder a uma injecção de cerca de 500 milhões de euros. Logo… era previsível que um banco, tido como sendo uma “caixa” dos ricos, não fosse deixado entregue à situação que atingiu também outras casas congéneres; o próprio Governo mostrou-se disponível para ajudar o BPP, muito embora o ministro das Finanças tenha declarado, há uma semana, que a queda do BPP “não constituía um risco para o sistema uma eventual falência do BPP”.
Quanto ao Banco Português de Negócios, Oliveira e Costa, o único arguido detido até agora quanto à embrulhada que conduziu aquela instituição bancária à situação difícil em que se encontra, devido, parece, a negócios ilegais praticados, assumiu sozinho a responsabilidade total dos acontecimentos. Logo… a conclusão a que se chega é que, ou, de facto, o que foi presidente do BPN tinha o poder absoluto e não dividiu com ninguém os resultados das acções praticadas (que lhe deram elevados proventos), ou o ex-banqueiro é um indivíduo que, apesar de tudo, tem enorme formação moral.
E muitos mais “logos” havia a referir neste espaço. Mas não posso ir por aí fora, correndo o risco dos eventuais leitores não terem paciência para chegarem ao fim do texto. Logo…

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

MAIS DO MESMO



Que se pode esperar, quanto a novidades, deste País que, sem poder fugir da crise que grassa por toda a parte, continua a lutar com aquilo que, afinal, já está habituado desde séculos de existência? Sim, porque no que diz respeito a adversidades, sem querer comparar com outros locais pelo mundo que terão mais razões de queixa do que nós, quem conhece minimamente a História portuguesa e não é de todo indiferente ao que tem ocorrido, ao longo de múltiplas eras, em vários locais da esfera terrestre, não se pode admirar de, neste momento preciso, não andarmos a lançar foguetes de contentamento pelo facto de estarmos a sentir a felicidade espalhada pela população inteira deste cantinho à beira-mar plantado.
O Natal que está aí à porta, e que, no meu caso, nem é a época que transporta mais alegria, desta vez apresenta-se ainda mais lúgubre e nem dá vontade de andarmos por aí a fingir que tudo corre bem e a desejar “boas festas” a torto e a direito, até a pessoas a quem nos é indiferente que as tenha de uma forma ou de outra. No caso dos cartões que, cinicamente, se enviam e se recebem apenas para marcar uma presença, mas que de verdade não transmitem o mais pequeno sentimento, provavelmente este ano nem vão ser muito usados. Os bancos, que, neste aspecto, mantêm um hábito de ir à lista dos seus clientes e remeter-lhes, automaticamente, um cartão igual para todos, seguramente que, dadas as circunstâncias que os têm posto em exposição pelas dificuldades que atravessam, este ano não vão dar largas ao seu fingimento. A menos que, a sem vergonha seja superior à consciência sobre as realidades.
Eu, por meu lado, não utilizo este blogue para endereçar quaisquer desejos a quem, por ventura, costume ler o que escrevo. Aos editores de livros, em particular, não faço outros votos que não sejam os de prestarem melhor atenção quanto às suas escolhas de autores e de qualidade dos escritos, por forma a que se dê descanso ao “lixo” que, sendo comercial, não ajuda a melhorar o panorama da literatura portuguesa. Basta de carolinas e de mediatismos provenientes de caras que são conhecidas por razões que nada têm a ver com os escritores e poetas que por aí há e que merecem que se lhes dê oportunidade. Surgirem obras de valor, anos depois dos autores já não se encontrarem no mundo dos vivos, só serve para outros, familiares ou não, gozarem do prazer de serem do mesmo sangue ou pertencerem ao número dos que conviveram com os homenageados.
Mas, com crise ou sem ela, este País de portugueses com características muito próprias, lá se vai arrastando, mostrando, ano após ano, o seu clássico sempre mais do mesmo.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

PEDOFILIA





Todos os dias se espera que as notícias surjam com a indicação de que terminaram, finalmente, as alegações que têm ocorrido no Tribunal sobre o ultra velho julgamento Casa Pia, mas esse encerrar do processo continua-se a arrastar, agora por isto, depois por aquilo, e os arguidos que fazem parte da história lá vão caminhando para a sala de audiências, deixando todos os interessados em conhecer o desfecho com a curiosidade em suspenso.
Agora, foi a de que Bibi, o único sobre o qual, embora tendo estado já na cadeia, não existem dúvidas de que, no final, será objecto de alguma condenação, acabou por denunciar o antigo provedor-adjunto do referido estabelecimento escolar, Manuel Abrantes, como também implicado na prática de abusos sexuais em menores. Ele, que sempre o tinha deixado de fora como culpado.
Por outro lado, o procurador João Aibéo continua a diminuir os crimes imputados ao mesmo Bibi, devido ao facto do actual Governo ter mudado a lei para ser aplicada neste processo, fixando em apenas um único “crime continuado” em relação a cada uma das vítimas. O que torna absolutamente igual dizer-se que há 500 ou mil crimes. É completamente indiferente.
O que revolta ainda mais é saber-se que, desde 1823 que a pedofilia documentada é praticada na Casa Pia. Catalina Pestana, que foi provedora daquela instituição até Maio de 2007, não se cansa de referir que existe uma enorme impunidade de que têm beneficiado os pedófilos que, sobretudo nesta fase dos acontecimentos, têm sido privilegiados pela ausência de acusação, frisando que a lei do silêncio é sempre a mais forte. E sublinha que, neste processo “estão presentes apenas personalidades da guarda avançada, mas que o grosso da coluna está cá fora”, isto porque “os jovens apontaram mais nomes do que aqueles que estão no processo”.
Perante tudo isto a que se assiste, não é possível que o cidadão comum, aquele que só toma conhecimento do que se passa no nosso País pelo que lê e ouve nos órgãos de Informação, não se interrogue como é possível que existam autoridades de todos os tipos, desde o mais alto de todos e por aí abaixo até ao que já pouco poder possui – mas algum ainda terá -, e não faça alguma coisa para que não fiquem impunes gentinhas que, por muito bem colocadas que se encontrem no mapa das importâncias, não merecem que gozem de protecções que chegam ao ponto de ocultar casos como este de tamanha malvadez.
Muito dinheiro deve andar envolvido em situações do tipo que registo no meu blogue! Só pode ser isso…

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ninguém nasceu para aquilo que é
e para o que possa vir a ser.
Depende muito de si próprio,
das circunstâncias que rodeiam cada um,
da sorte e de muito trabalho para a conseguir.

PACHORRA

Não tenho pachorra
Não posso com isto
Viver na modorra
Aturar tal lixo

Olhando em volta
Que vejo Deus meu ?
Está o mundo à solta
Quem perdeu, perdeu

Não tenho pachorra
Perdoem-me, porra !
Não posso ir mais longe

Sumir-me quisera
Meter-me pudera
Na pele de um monge

NÃO HÁ PACIÊNCIA!



Pus-me a escrever hoje, depois de ter estado a pensar seriamente sobre as múltiplas notícias que surgem na Imprensa, e a vontade que tenho é de meter a viola no saco e não dar nenhuma opinião no que respeita às perspectivas que se apresentam ao mundo e no nosso País para o ano que está a chegar a até em relação aos seguintes, pois, sem querer ser excessivamente pessimista, não consigo dar um ar de satisfação por ter nascido, ao fim e ao cabo, por ser um elemento incluído na onda dos seres humanos, essa espécie que tem dado, no decorrer da longa vivência de milhares de anos, provas mais do que suficientes de que o mundo não ficou mais rico com o desenvolvimento, a todos os níveis, do Homo Sapiens.
Não estou disposto, hoje, a entrar em grandes pormenores sobre cada situação que, em Portugal, enche o espaço e o tempo da Informação. Vou, por isso, apenas enumerar os casos que se colocam em posição de serem apontados e que demonstram bem como o Homem só se satisfaz quando está em confronto com outros parceiros da sua existência. Também não me preocupo em colocar por ordem de importância cada problema que apresento:
- Apesar das aparentes diligências de acabarem as desavenças entre educadores e Ministério da Educação, milhares de professores manifestaram-se ontem, nas ruas de várias cidades do Norte, contra a avaliação que parecia já estar em fase de pré-acordo.
- Ramalho Eanes, magoadíssimo com as “revelações” que Pires Veloso entendeu fazer sobre o 25 de Novembro, afirmando que “foi tudo prefabricado para fazer de Eanes um herói”, classificou de cretino o autor do livro publicado pelo outro general.
- Todos os conselhos distritais dos advogados pedem a demissão do Bastonário da Ordem, discordantes com a proposta de orçamento para 2009, apresentada por António Marinho.
- Anuncia-se que Lisboa vai estar sem recolha de lixo durante cinco dias, isso para mostrar não aceitarem que a Câmara privatize os serviços de limpeza na Baixa/Chiado.
- Trabalhadores dos CTT estão em litígio com a Empresa, por estar em vistas a caducidade de um acordo que protege os funcionários e que os mesmos não querem ver terminado.
- A Citroen e a Peugeot, que têm uma fábrica em Mangualde, anunciaram que vão ser dispensados mais de 3 mil trabalhadores a nível mundial, através de rescisões amigáveis. Quantos caberão a Portugal?
- Ainda não se apurou devidamente quais os preços a que deveriam ser vendidos os combustíveis entre nós, já que o custo do petróleo, nas origens, têm vindo a baixar, sem a contrapartida respectiva nos postos de gasolina.
- Até a megalivraria Byblos, inaugurada há cerca de um ano, teve de encerrar as suas portas por motivo de falência.
- Num estudo da Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho, apurou-se que o povo português, numa escala de um a dez e sob o ponto de vista da felicidade, se situa no final da lista, tendo apenas como mais infelizes os búlgaros e os letões.
E por aqui me fico. Pelo menos por hoje, já que amanhã é outro dia e não faço a menor ideia se me vai apetecer tocar temas que mereçam a minha perca de tempo. E também a vossa!...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

CERTEZAS

Mas que bom é ter certezas
e nunca se enganar
é para dissimular
muitas de outras fraquezas

Não se pode acreditar
em quem se julga perfeito
porque um ser sem defeito
deve ser de agoniar

Por pequenina que seja
qualquer saída da norma
é ser-se de qualquer forma
alguém que às vezes graceja

Mas são assim os sisudos
e por certo convencidos
têm de ser atrevidos
e estar muito tempo mudos

Reconheço erros meus
não me deixo equivocar
estou-me sempre a enganar
tal qual sucede a Deus

Quando aceita homens desses
que se julgam infalíveis
o Criador baixa os níveis
e não ouve bem as preces

Ainda bem, eu cá digo
que as dúvidas não me deixam
como disso alguns se queixam
não será pois um castigo

Antes dúvida aparece
para ajudar a saber mais
em abrir novos canais
e é prova do interesse

Gente, pois, só com certezas
e a isso um dom chamam
estão nos que as não proclamam
e não entendem as defesas

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Ter consciência de que não se sabe,
é humildade.
Pensar que se sabe, o que não se sabe,
isso é pesporrência

NÃO HÁ PRESSAS!


O mundo inteiro debate-se com o problema da crise que surgiu como um vírus e que, ao contrário das epidemias que escolhiam sempre os países mais miseráveis, como são alguns da África, desta vez resolveu instalar-se nas zonas ditas mais prósperas, não poupando empresas de fama universal e dando mesmo preferência às organizações que, até agora, eram consideradas como intocáveis e sendo consideradas fortalezas do dinheiro, como são os bancos. Estes estão a lançar SOSs por tudo que é sítio e nem conseguem fazer frente ao que só acontecia aos pequenos empresários, que é essa coisa horrível das falências.
Como é que nós por cá poderíamos constituir uma excepção a tal vaga de calamidades? O sector bancário nacional já deu sinal da sua fragilidade e de necessidade de ajuda dos poderes públicos, para além do caso BPN que, mesmo sem crise, se encontrava, às escondidas, a navegar em águas turvas. E, já agora, uma palavra sobre esta situação que está na ordem do dia: de toda a embrulhada que mantém em prisão preventiva o homem que era o presidente desse banco e aguardando-se que não fique por aqui a varridela que os poderes judiciais levarão a cabo, espera-se, talvez tenha sido bom que tivesse ocorrido tamanha demonstração de incompetência, ganância de alguns, falta de honestidade, ou seja como for que se deve chamar a actuação dos responsáveis pela bancarrota provocada. E digo isto porque era e continua a ser absolutamente necessário que se averigúem as riquezas que, antes e depois da crise, apareceram no nosso País de um dia para o outro.
O Chefe do Estado quis dar um passo que não me ilibo de chamar de descabido – para dar um nome -, de publicamente afirmar que o homem que está agora na boca dos portugueses, na sua opinião merece permanecer no cargo honroso de membro do Conselho de Estado, cuja responsabilidade da nomeação pertence a Cavaco Silva. Teria sido preferível, digo eu, que o Presidente se mantivesse caladinho, deixando que o assunto acabe de ser completamente esclarecido, pois nunca se sabe se existem surpresas que deixem de boca aberta os portugueses. E talvez não, porque, por cá, sabem-se guardar alguns segredos, quando convém não tocar em nomes protegidos.
Pois será assim, mas Dias Loureiro, o homem em causa, e não só – há muita gente suspeita em Portugal – devia explicar, tostão por tostão, como é que se consegue, só com ordenados – mesmo sendo muitos de vários cargos ao mesmo tempo, como se assiste escandalosamente por aí – chegar a tão grande potencial de valores no activo, casas, quintas, depósitos bancários e todas as benesses que se usufruem desde que se tenha passado pela política, governo ou partidos bem situados, para, logo a seguir, fazer parte de conselhos de administração, consultadorias e tudo que, nesta área, oferece largos proventos, directos e indirectos, bastando, para isso, fazer parte de uma teia de interesses habilmente criados, desses que juntam o hábil com o interesseiro, o pouco escrupuloso com o fechar dos olhos para a trapalhice que vai surgindo à sua volta. E mais tarde declarar, com todo o à-vontade, que não se era conhecedor de nada!
Como temos todos muito tempo, como não há necessidade de pressas, pois Portugal tem uma enorme margem de manobra (!), para quê pedirmos urgência a todas as averiguações que são necessárias para dormirmos descansados?

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A MORTE

Eu oiço o sino da morte
Dar badaladas por mim
Tenho pronto o passaporte
Estou preparado p´ro fim

O que não quero é que então
Olhem p´ra cova a chorar
Pois a incineração
Deixa cinzas p´ra espalhar

É triste pensar na morte?
Aceitá-la consciente?
É isso ser-se mais forte?

Basta enfrentar o real
Partir como toda a gente
E a todos ser igual.

CULPADOS PRECISAM-SE




Não vou hoje pôr muito na carta. Não faltam assuntos que prendem a atenção nesta nossa Terra, mas como se prolongam as soluções por tempos demasiado longos, manter-me num blogue a bater sempre nas mesmas teclas é demasiado enfastiante, sobretudo porque não é por aqui que os mencionados assuntos são resolvidos.
Mas hoje, não posso deixar passar em branco o esclarecimento que Cavaco Silva entendeu por bem lançar para a opinião pública, em face, diz ele, de ter tomado conhecimento de “mentiras e insinuações” que podem provocar a associação do seu nome ao caso do BPN. E até surgiram os rendimentos do Presidente da República para ajudar a tirar dúvidas.
Ora bem, esta posição dá-me oportunidade de voltar ao tema da pouca eficácia da Justiça portuguesa, pois teria de ser através dela que os bons e os maus nomes de qualquer cidadão, seja ele quem for, deveriam ser mostrados na praça pública. Mas, infelizmente, como é sabido não é através desta fonte que se pode estar protegido de ditos e mexericos, quando os há. É que as demoras em ver sair dos Tribunais as decisões sobre casos que se encontram pendentes dos veredicto dos juízes, obrigam a que, cada um, procure libertar-se de acusações públicas pelos seus próprios meios, como no caso de Cavaco Silva, que esse ainda tem uns serviços de apoio que funcionam e a sua própria posição superior dá-lhe facilmente possibilidade de ver acolhido qualquer comunicado que venha da sua Casa.
Aproveito até esta ocasião para referir o enfadonho assunto da Casa Pia, que começou nos Tribunais há quatro anos e só agora parece estar próximo da solução (?), e em que as dúvidas públicas que existiam mantêm-se quanto aos verdadeiros culpados. Uns tantos estiveram presos, embora preventivamente, mas circulam agora por aí com todo o à-vontade. No entanto, sempre correram nos “mentideros” uns nomes que não foram nunca dados como envolvidos na pedofilia ou foram-no vagamente e à sorrelfa. Há quem tenha fotos comprovativas das malvadezes, há quem afirme claramente os seus envolvimentos, o próprio Bibi não escondeu acusações, só que, segundo parece, os seus nomes pertencem a gente demasiado forte para deixar liberdade de actuação em plena consciência. É que nunca se sabe se o “boomerang”, ao voltar à origem, não causará estragos insanáveis que castigam quem o atirou antes.

domingo, 23 de novembro de 2008

A VIDA

A vida passa com baixos e altos
rindo p’ra uns, gozando com outros
sorrateira ou correndo aos saltos

Não é a mesma para toda a gente
muda de face em cada momento
torna difícil caminhar em frente

Mas como os mortais, tem seus preferidos
há os que escolhe p’ra bem servir
e os que mantém sempre desvalidos

É cínica e traiçoeira a magana
ataca muitas vezes pelas costas
à bruta ou com ares de filigrana

Mas eis que de repente se arrepende
e no meio de enorme confusão
a uma prece avulsa lá atende

E tudo muda como por feitiço
de um grande azar algo se compõe
e dá também aos males um sumiço

A vida deixa assim seu conteúdo
tem de se atravessar com paciência
já que o tempo é borracha p’ra tudo

CHUVA PRECISA-SE



Está a fazer muita falta que chova no nosso País. Mas que seja uma chuva que lave bem tudo o que anda cá por baixo, para não falar já do bom que é a água que cai do céu que é um bem biológico de que só nos damos conta da sua escassez quando temos sede e somos obrigados a racioná-la nas nossas vidas. Sobretudo em Lisboa, esta capital que está à borda de água salgada mas que desperdiça a outra, a doce, quando ela não é devidamente detida em espaços próprios criados para o efeito sempre que transborda nas ruas dos bairros baixos lisboetas, a chuva devia cair com alguma intensidade, digo eu, para lavar também as cabeças dos governantes e afins, por forma a poderem ficar com maior possibilidade de discernir, por ordem de importância, aquilo que está por fazer e deve ser feito e a forma de executar programas bem pensados e com eficiência.
Chuva, venha ela. Molhe esta gente que, apesar de se deslocar sempre confortavelmente nos belos e caros carros de luxo que as várias dependências do Estado põem à sua disposição e que são a antecâmara de cargos bem pagos em empresas que, antes, dependiam da vontade dos mesmos que depois os ocupam, mesmo assim, ou até por isso, tratam-se de fulanos que enchem os bolsos que se encontravam, tempos passados, bem sequinhos de dinheiro.
Só agora é que se está a levantar uma pontinha do horizonte que, para alguns, já era de uma visibilidade claríssima. Mas os que se encontravam e encontram na “bicha”, para poderem vir a usufruir também dessas riquezas que viam cair nas mãos de uns tantos – e, claro, por isso nem abriam nem abrem o bico para não estragar a fila em que têm participado -, este aparecimento de forma pública do escândalo do BPN veio mesmo estragar um panorama que só era alcançável por umas minorias de afortunados (mesmo assim, ainda muitos) e, evidentemente, mal comportados em potência, mas sempre dispostos a entrar em falcatruas.
Este diz tu, direi eu, de figuras de alto relevo (até conselheiros do Estado) constituem
a prova de que, em Portugal, não são de levar em consideração, quanto a honorabilidades, pessoas que, tendo ocupado já lugares de grande relevo no panorama político nacional, não é por isso que merecem a confianças dos cidadãos deste País. Cidadãos que, cada vez mais, têm de suportar as regras da Democracia - a menos má das políticas -, que coloca nos lugares cimeiros gente ineficaz, mas que é a que recebe mais votos nas eleições. Um desconforto!
Para o próximo acto eleitoral que já está a aproximar-se, a grande dúvida neste momento – e falo por mim – é saber quem estará em condições de assumir as funções de chefe do Governo e em que partido político se poderá encontrar tal "homem-providência". Não temos nenhum Obama à vista, admitindo que esta escolha dos americanos tenha sido a ideal. Mas, por cá, no que a nós diz respeito, aquilo que é mostrado aos cidadãos não abre um apetite por aí além...
O que precisamos é de chuva. De uma molha que leve por água abaixo essa multidão de oportunistas que conseguem sempre sair limpos das tais falcatruas em que se metem, mas que se mostram permanentemente de colarinhos brancos impecáveis. E com um falabaratismo que até mete raiva!...

sábado, 22 de novembro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!


Quem escreve terá sempre, julgo eu, a ideia de que, um dia, surgirá a obra-prima. É como quem joga na lotaria; de tantas vezes tentar, alguma vez lhe poderá caber um prémio grande. Pelo menos, essa esperança vai-se mantendo. E é bom que assim seja.
Se a perfeição, o sublime, o inédito, o belo é um objectivo que só alguns alcançam, o sustentar a ideia de que, numa certa altura, pode surgir a inspiração, quem se dedica à escrita ou a qualquer das outras produções artísticas, tem de alimentar esse sonho que é, quase sempre, o sustentáculo do esforço que não pode faltar para se caminhar para atingir o objectivo.
Vale sempre a pena a tentativa e a teimosia em lutar contra a não comparência do génio. Desistir é que nunca!
Poderá a obra produzida não ser a tal, não corresponder ao desejado, não ser ainda dessa vez que saia senão a sombra do que se terá sonhado. Se assim é, o rasgar e o não prosseguir na caminhada, o não escrever outra vez, o não pintar por cima, o não emendar a pauta serão atitudes compreensíveis, mas não constituem as ideias.
No capítulo da escrita, escrever, não ficar satisfeito mas, em lugar de destruir conservar para, noutra altura, voltar a pegar no trabalho, talvez seja esta a melhor atitude.
Porém, não há regras. Se as houvesse!...

SER HUMANO

É triste, mas é verdade
mesmo com muita idade
a esfera onde vivemos
em que toda a fé que temos
nos leva a acreditar
no pouco que vai mudar,
é mistério o futuro
tudo para lá é escuro
só nos resta ir vivendo
gozando o que vamos tendo

Mas enquanto cá andamos
não é por muito falarmos
que as coisas vão melhorando
e se assim for, quando,
as guerras, essas não param
há sempre os que disparam
para matar do outro lado
os que têm o mau fado
de não estar no sítio certo
quer vivam longe ou perto
porque o que importa é ganhar
diz quem anda a matar
sem saber bem porquê
pois aquilo que se vê
é que o ser humano é mau
impiedoso em alto grau

Pode ser que isto mude
que surja outra atitude
e que algo de eficaz
traga ao mundo então a paz.
Pode ser, não acredito,
mas basta estar-se aflito
para surgir solução
e passar a ser irmão
quem antes se detestava
e o Homem que não amava
passa a ser melhor amigo
só p’ra fugir ao perigo.

Mesmo que seja a fingir
e tendo até que fugir
mais vale isso do que a guerra
pois o mal da nossa Terra
é sofrer de muita inveja
e nunca achar que sobeja
tudo aquilo que já tem
o Homem, filho da mãe…

E o mundo, esse avança
não pára e não descansa
até que em certa altura
se acaba a fartura,
a agua é bem escasso
o ar falta no espaço
a terra deixa de dar
de comer e até o mar
farto de se explorado
diz que peixe foi riscado
do mapa das iguarias
pertence às velharias
e que o Homem, inventor,
descobre que com pastilhas
se come como as ervilhas.

E o ser humano, então,
aprenderá a lição
de que o mundo encheu de mais
e que tais biliões, tais,
de gente que já não cabe
e rejeita que não sabe
que o fim é inevitável
e que pr’a ser habitável
vê que o caminho a seguir
é só o de reduzir
todos aqueles que sobram
e que, por estarem cá… cobram !
,


LÃMPADA DE ALADINO





Acontece, com frequência, depararmos com determinadas personalidade que, de repente, dão mostras de enorme prosperidade, até de ostentação, assumindo cargos em lugares, quer privados quer ligados por qualquer maneira ao poder central, e sabendo-se que essas funções acumuladas resultam em proventos que excedem largamente o que é normal receberem os trabalhadores comuns, mesmo com excepcionai conhecimentos académicos ou especializados, deparamos com esse espectáculo e ficamo-nos a perguntar os motivos por que uns fulanos têm assim tanta capacidade para merecer tamanhas recompensas.
Este caso do BPN, que tem andado nas montras jornalísticas, fez surgir situações que, não sendo consideradas uma raridade propriamente dita, não deixam de causar a maior admiração daqueles que, por não se encontrarem muito ao corrente das manigâncias da vida portuguesas num determinado estatuto, fez abrir muitas bocas de espanto e provocou alguma indignação na maioria dos portugueses que vivem, desde sempre, com a corda na garganta.
Mas, a verdade veio ao de cima. Tornou-se um caso público. Já não é preciso comentá-lo à boca pequena. Verificou-se aquilo que alguns já conheciam e que invejam não ter a sorte de gozar de tamanhos privilégios. Afinal, a política não serve apenas para entrar na teia da governação, quer por via directa quer através da ajuda de um partido. O objectivo principal – e poderão desmentir esta afirmação um ou outro que se envolveu no ambiente político com a maior das ingenuidades – é a intenção de vir a obter uma situação financeira e económica que lhe poderá ser proporcionada, quase exclusivamente, através dessa filiação partidária que, se vier a poder chegar à cimeira da governação, tanto melhor.
Os exemplos são múltiplos. Basta passarmos uma vista de olhos por uma série de elementos que figuraram e/ou ainda figuram em lugares de preponderância na área da governação, mesmo em situações antigas e agora colocados nas oposições, e tomarmos conhecimento dos cargos que foram ocupando e que ainda mantêm hoje, para verificarmos como a política foi e é de importância fundamental para serem atingidas algumas riquezas impensáveis em tempos atrás.
Não vou aqui referir nomes de gentes que gozam nesta altura de uma abundância exageradíssima e que eu recordo tê-las conhecido a viver apenas dos seus ordenados regulares, que não deslumbravam ninguém. Mas, de repente, logo após uma passagem pelo ambiente político, terem começado a desenvolver actividades em lugares de preponderância que iam acumulando, sendo, sobretudo o meio bancário que maior interesse despertava.
E não ponho mais na carta. Esta situação do BPN, como uma prisão preventiva nesta altura, mas que poderá – assim o queiram as autoridades respectivas – arrebanhar mais alguns intervenientes, porque não é crível que uma situação daquela dimensão tenha sido provocada apenas por uma pessoa, deveria despertar a atenção dos que mandam. E, já agora, espreitar algumas dessas riquezas nascidas de uma “lâmpada de Aladino”, para fazer uma limpeza nas hostes do mal. Enfim, são sonhos como outros quaisquer!...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

A fila ao lado daquela em que nos encontramos anda sempre mais depressa, mas não adianta mudar porque, logo a seguir, acontece exactamente o contrário.
Chama-se a isso andar desencontrado com a vida.


TEMPO PERDIDO



Quem já fez muito pela vida fora
e não tem apoio para fazer mais
tem até razão p’ra dizer agora
já passou o tempo dos jogos florais

O que fica feito por aí anda
guardado está mas sem grande aprumo
e como sempre se o autor desanda
corpo e papeis ficarão em fumo

Lágrimas, soluços não valem a pena
o melhor será ficar conformado
ninguém valoriza toda esta cena
pois o destino é ser ignorado

Por aqui me fico, a pensar no ar
e a ir escrevendo coisas sem sentido
mas com consciência de que o meu estar
já só representa um tempo perdido

A PREPOTENTE MARIA DE LURDES



Maria de Lurdes Rodrigues, ministra da Educação, lá entendeu que seria capaz, numa entrevista como foi a que concedeu à RTP, de explicar claramente todo o enredo do conflito que tem posto, desde há demasiado tempo, os professores deste País em guerra aberta contra aquilo a que se tem chamado de avaliação daqueles que ensinam.
Quem não tinha ainda assistido à responsável pelo Ministério a expor as suas razões, ficou a saber como é difícil obter dela respostas a perguntas que um jornalista se propõe fazer. Na verdade, por muito que a dra. Maria de Lurdes pretendesse justificar-se sobre a demora em encontrar soluções para o diferendo, aquilo que ela demonstrou foi que não é capaz de distinguir uma entrevista de um monólogo. Não deu oportunidade de ouvir as questões que lhe foram e seriam postas (e tantas não chegaram a ser ouvidas) e o único que fez foi não parar num discurso, a maior parte vazio de esclarecimentos, mandando calar a entrevistadora que estava ali a cumprir uma missão: a de interpretar as dúvidas que se põem por toda a parte, pelos próprios professores e principalmente pelos cidadãos que estão muito longe de entender todas as barafustas que, isso sim, custam dinheiro ao País, logo ao bolso dos contribuintes, e paralisam o seguimento das aulas por essas escolas fora de Portugal.
A Ministra, muito embora tivesse aceite que a proposta apresentada antes necessitava de rectificações, não foi capaz de, perante as câmaras e com a maior humildade, declarar que tinha ela própria cometido o erro de não dar razão às primeiras discordâncias dos professores, evitando, dessa forma, as manifestações, as greves, as paragens que não chegaram ainda ao fim. É que, o seu ar de dona da verdade, de prepotente e de estar até a fazer um favor por dizer que procura ir de encontro às pretensões dos que já deram mostras de que não estão para a aturar, essa maneira de se colocar só serve para aumentar a discórdia e os sindicatos surgiram logo, a seguir à “entrevista”, para dizer que não alinham nos “remendos” e a exigir a suspensão da dita avaliação. Até podem não ter totalmente razão, mas a postura ministerial acaba por provocar de imediato essa relutância em reabrir um diálogo.
Ficou mais que provado que esta Maria de Lurdes não é capaz de levar o barco a bom porto. Agora, nem que ela peça desculpa de joelhos, implore aos professores para a aceitarem, faça tudo que lhe é exigido, nem assim acabam os confrontos. É que já não é um problema de discordância sobre métodos. É, pura e simplesmente, um problema de não ter já lugar no Ministério da Educação uma figura que conseguiu arregimentar mais de uma centena de milhar de inimigos. É obra!
E quando as coisas chegam a este ponto, se Sócrates segue a mesma forma de actuar da sua “querida” ministra, então que sofra as consequências… quando chegar a altura. Não poderá contar com o voto das centenas de milhar de professores e de pais de alunos que, nesta altura, já estão a preparar-se para não votar no PS. Se calhar, até para não votar em ninguém!...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Fernando Pessoa, de novo ele que tenho sempre presente, quando escrevia – e fazia-o continuamente -, não escondia as suas amarguras. Questionava-se. Era também o maior crítico de si próprio. Olhava igualmente a sociedade com nítido desconsolo. Porém, vistas bem as coisas, quem tem olhos, ouvidos, sentimentos, quem coloca tudo isso a funcionar e põe a máquina do pensamento em laboração, inevitavelmente colhe motivos suficientes para não mostrar satisfação plena. Desgosta-se do que observa nos outros, no mundo em geral e, sendo sincero, não se envaidece de si próprio. Para além de tudo isso, se a saúde dá mostras de não querer manter-se em pleno, se este ou aquele mal físico se instala no corpo, e, não só isso, mas também o espírito é vítima dos seus achaques, perante tudo isto, o natural é não se andar embevecido com o ambiente em que nos movimentamos.

A PORTA


Aquela porta aberta lá no fundo
deixa-me descobrir para além dela
sinto algo que não é deste mundo
e dá ideia de ser coisa bela

Ah, como me desperta o apetite
ir ver de perto o que lá se passa
e na ausência de um bom convite
é com coragem que parto à devassa

P’ra lá chegar encaro o corredor
profundo, escuro, algo tortuoso
o primeiro sentimento é de horror
hesito, paro, não sei se ouso

Lá me abalanço p’ra vencer o medo
árdua tarefa, às apalpadelas
de passo em passo, por vezes me quedo
há que prevenir escorregadelas

Aqui tropeço, ali me alevanto
Mas a atracção pela porta é grande
cada vez é maior o meu espanto
que tentação, nada há que me abrande

O mistério atrai, cada vez mais perto
que estará para lá? Essa porta intriga,
tenho que saber com espírito aberto
por muito grande que seja a fadiga

Levo o meu tempo, um vento me frena
tudo parece impedir que eu goze
o dom de sentir harmonia plena
ainda que seja em pequena dose

Mas tenho que vencer dificuldades
se vejo a porta tenho que chegar
o que está depois, se forem verdades
será algo que me force a lutar

Ai porta, porta, que tanto me atrais
deixa-me chegar pertinho de ti
por muitos que sejam os vendavais
bem me esforçarei p’ra chegar aí

Quero espreitar o que está para lá
aqui já se sabe, a vida é torta
vou-me arrastando aos poucos por cá
nem que seja só p’ra morrer à porta


LILI ACTRIZ!




Vivemos uns tempos, pelo menos em Portugal que é o que conheço melhor por aqui viver, em que o que interessa mais não é cultivar, desenvolver e dar oportunidade ao valor do reconhecido mas sim, aproveitar as oportunidades que surjam para ganhar mais facilmente, de tirar proveito económico e de forma mais rápida das acções que se praticam.
Eu explico melhor o que quero dizer com isto: vem a propósito o facto do tão conhecido elemento do chamado "jatset", Lili Caneças, vir a participar numa peça de teatro que ainda está nos primeiros passos de ensaios e já está a usufruir de uma publicidade que, obviamente, consegue despertar a curiosidade do público, o que, só por isso, irá seguramente levar à referida casa de espectáculos bastante público, só para ser constatado se a pessoa em causa tem habilidade para a eventual actividade que lhe foi proporcionada. E provavelmente o lucro vai ser de monta.
O primeiro caso a justificar este blogue é o de sublinhar a circunstância de se saber que existem inúmeros actores profissionais de teatro que atravessam períodos de paragem, de desemprego, de dificuldades financeiras que os levam a ter de aceitar actividades que, quase sempre, não têm nada em comum com a arte de representar. Recordo-me de, muitos anos atrás, ter encontrado Eunice Muñoz a trabalhar numa loja de venda de cortiças, porque, nessa altura, o teatro tinha fechado as suas portas para um valor como é o da actriz que, felizmente, conseguiu ultrapassar essa fase. E, por muito que a publicidade e a televisão ainda dêem, neste período, uma ajuda monetária a esses parados actores e actrizes, a verdade é que não existem suficientes casas de espectáculo capazes de acolher quem se entregou, de alma e coração, à arte de Talma e só isso aceita fazer. E, quanto a produtores teatrais, também é rara a sua existência.
Claro que eu não posso criticar as Lilis, as Carolinas, os jogadores de futebol e outras figuras que são conhecidas pela sua actividade em funções que nada têm a ver com qualquer arte, de representar, de escrever, de cantar (ah, aí então!), pois toda a gente é livre de procurar aquilo que lhe dá mais projecção, mas que os realizadores animem essas pessoas a desempenhar papeis que outros, os verdadeiros profissionais, necessitam e merecem que sejam aceites para dar largas ao seu talento, contra isso, de facto, indigno-me, revolto-me, fico ainda mais zangado com o mundo, embora saiba que o ser humano é assim mesmo.
Os editores são, quanto a mim, os maiores culpados de a literatura em Portugal estar tão pouco acarinhada pela população, ao ponto de até ter falido há dias um estabelecimento em Lisboa que nem tinha um ano de vida e que se apresentou como sendo um centro comercial do livro. Causou-me pena. Com os editores tão afadigados em lançar tanto lixo literário e a não cuidarem de acarinhar os escritores que merecem alguma atenção entre nós, para mostrarem o que valem, não admira que a crise atinja também um sector que, a morrer, será dos que mais falta fazem no progresso intelectual de uma Nação. Mas eu fico-me por aqui, para não me acusarem de estar a querer defender um tema em causa própria.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Viver toda uma existência com esperanças e, chegando a uma certa altura da vida, sentir que se está a perdê-las, que o tempo para a frente já não dá para grandes expectativas, que seria necessário começar tudo de novo e, provavelmente, de forma distinta, seguindo outro caminho, actuando de maneira diversa, concluir tal coisa não é entusiasmante. Porque, não usando já hoje a velha e amiga máquina de escrever – que ainda mantenho, bem guardadinha, num armário -, sendo o computador quem faz o trabalho, com maior limpeza é verdade, guardando simultaneamente no tal arquivo, produzindo quantas cópias sejam necessárias, e efectuando as emendas que nunca deixam de ser necessárias, apesar de tais perspectivas não me sinto capaz de enfrentar outra vez a luta com o talento, para tentar colocá-lo do meu lado e não contra mim. Mesmo com forças, falta-me o tempo.. E este, juntamente com o trabalho, é essencial para ir em busca do génio.
É por isso que me dedico apenas ao presente. O passado já foi. Relembrá-lo, para não cometer os mesmos erros, isso faço. O futuro será a soma do antes, do agora e do depois possível. Estará escrito nalgum estudo astronómico, mas, como não sou seguidor dessa prática, ciência ou o que quer que seja que se deva denominar, entrego-me ao consumo do dia-a-dia. E, assim, vou escrevendo e pintando. Faço o que posso.
Não escondo que, apesar de todo o conformismo que aqui mostro, no íntimo não posso deixar de manter a aspiração de que um milagre se produza. Imagine-se, um milagre! Um fenómeno que se encontra distante das minhas crenças. Será, então, uma entrega ao acaso. Produzir sem preocupação com o que vai passar-se com o que fica. E, se ficar, onde? Nas gavetas? No arquivo do computador? Provavelmente nunca chegará a sair daí, a menos que esta máquina diabólica vá parar às mãos de algum curioso que se lembre de vasculhar o tal arquivo, o que está guardado no seu interior.
O que for, será. Só que, pode muito bem acontecer, não venha a ser nada.


QUADRAS SOLTAS

Os pobres de não ter nada
Que os há por aí, bem vejo
Deixam-me a alma culpada
Do que em mim é um sobejo

Madressilva, madressilva
Que cheirinho tu me deixas
Mas quando o vento silva
Vai o odor, ficam queixas

Sempre que estou triste escrevo
Não sei p’ra quem nem p’ra quê
É algo em que me atrevo
Mas não sou eu quem me lê

Ler por vício os jornais
É mal de que eu me queixo
Digo sempre: é demais !
Tropeço no mesmo seixo

DISCURSO DO FIM DO ANO




Está a aproximar-se o Natal e o fim do Ano, que é uma das épocas tradicionais para o Presidente da República fazer o seu costumado discurso dirigido ao Povo português. E dado que, com excepção daquele caso da Assembleia dos Açores – que, de resto, não causou grande sensação a quem o estava a aguardar com expectativa, em virtude do suspense fabricado -, não é muito corrente ouvir-se Cavaco Silva dizer com clareza aquilo que lhe vai na alma, falando para os cidadãos sobre temas que estão a causar preocupações em alturas específicas, em vista disso e perante as circunstâncias de se estar a atravessar um período que é, deveras, preocupante, para todo o mundo, mas que nós, neste cantinho que não tem grande voz para ser ouvida, aqui estamos a ver se se conseguem aproveitar as melhorias que nos cheguem de fora para também nos livrarmos da tal crise, sobretudo quando há mais gente a preocupar-se em encontrar os culpados do que a procurar o remédio, perante tal circunstância, temos razões para aguardar, com os ouvidos bem abertos, tudo o que o actual Presidente dos portugueses tem para dizer. Porque, quanto a Sócrates e a alguns ministros que por aí se pavoneiam, estamos nós fartos de saber o que pensam e de conhecer as suas fantasias e as suas faltas de explicação, como lhes tem de ser exigido por todos os que pagam os seus impostos.
Não me quero adiantar, até porque falta ainda algum tempo para chegar o dia em que Cavaco Silva se colocará, perante as câmaras de televisão e microfones, disposto a dizer aos portugueses aquilo que pensa que se vai passar em Portugal e como ficaremos quando passar esta fase de verdadeiras dificuldades. E, claro, espera-se que não esconda os erros que têm ocorrido, apesar do vício daqueles que têm responsabilidades e que não se cansam de se vangloriar sobre tudo que fazem, não admitindo nunca que se enganam!...
Claro que não queremos que se levantem desavenças entre as duas Instituições máximas do Estado nacional. Nem por sombras. Mas que alguém, com voz poderosa, faça o papel que as Oposições não estão a desempenhar, que é o de apontarem os erros, mas não deixando de apresentar soluções para serem discutidas em campo aberto, isso, em face das circunstâncias, e embora a Constituição portuguesa não dê poderes ao Presidente para intervir nas acções do Governo, seria bam que mostrasse aos cidadãos nacionais que, pelo menos, tem uma posição, mesmo que ela não seja igual à dos governantes. Claro que o ideal é uma coisa, mas a realidade é outra, bem diferente!...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Isto de ter pretensões de ser dono de opiniões e das mesmas serem indiscutíveis é de uma arrogância doentia.
Por outro lado, navegar permanentemente no mar das dúvidas dá também a sensação de ausência de chão seguro por onde se caminha.
Viver a meias, com metade de uma coisa e metade da outra, é nunca saber quando se deve estar certo ou quando é altura de duvidar. Um martírio!
Talvez seja preferível andar ao sabor das ondas e só ouvir as opiniões dos outros. Fazendo o julgamento para dentro. É uma forma de não se comprometer.
Mas isso é vida?

ESCREVER

Papel em branco que para mim olhas
por vezes pouco tempo outras horas
à espera que se encham muitas folhas
e impaciente com as demoras

Custa muito ter o papel bem cheio
de linhas mesmo riscadas por cima
o pior é quando se fica a meio
por falta de génio não sai a rima

Sem rimas também se faz poesia
como sem métrica pode ser boa
basta fazer voar a fantasia
pensar que houve um dia um Pessoa

Não pode é ficar o papel em branco
coisa que p’ra quem escreve é vulgar
mas neste assunto há que ser franco
escrever, nem que ao lixo vá parar

O INGÉNUO SOARES


Mário Soares, num texto de sua autoria publicado hoje no “Diário de Notícias”, parece mostrar alguma surpresa por ter constatado que na recente Cimeira dos G20, onde compareceram 21 chefes de Estado ou de Governo de vários países, para além de outras figuras mundiais de relevo, como Durão Barroso, estiveram presentes vários dos apoiantes de George Bush enquanto este exerceu a funções como chefe supremo nos Estados Unidos da América e teve enorme influência e responsabilidade em muitos acontecimentos que ocorreram pelo mundo e cujas consequências ainda se arrastam. Claro que Bush, de resto como anfitrião, esteve presente nessa Cimeira, e, segundo o mesmo Soares, sacando da sua experiência política e da idade que também é um posto, não esconde que o referido encontro teve como objectivo tentar branquear o mau comportamento do presidente americano, como primeiro responsável pela crise financeira e económica que grassa pelo mundo e que teve origem, em grande parte, na invasão do Iraque e de tudo o que se tem seguido posteriormente.
Sublinho ainda o facto de Barak Obama não ter assistido à referida Cimeira, como mostra de prudência em não se envolver numa espécie de homenagem que não estará nos horizontes do Presidente americano eleito, e de referir também que do mesmo encontro não se pode dizer que terão saído medidas de importância para solucionar os problemas graves em que o mundo está envolvido.
Mas, o que pretendo neste blogue acentuar é a surpresa que Mário Soares demonstra pelo facto de constatar que antigos apoiantes internacionais de Bush tenham surgido agora a evidenciar louvaminhas ao Homem forte que toma posse em Janeiro de 2009. Diz Soares textualmente que “é chocante que os homens que acompanharam Bush no passado (Berlusconi, Brown, Sarkozy e Durão Barroso, salienta-os) se queiram agora agarrar a Obama, sem largar Bush”.
A mim o que me estranha, eu que sempre acompanhei Soares em toda a sua vida política – mesmo antes do 25 de Abril -, que até fiz dez viagens ao estrangeiro nas minhas funções de jornalista e ele como primeiro-Ministro, o que me deu um conhecimento apreciável das suas interpretações políticas, mesmo com desacordos pontuais, é que este profissional experiente daquelas funções não tenha entendido que o ser humano, seja qual for a actividade a que se dedique, é raramente fiel, estando sempre a espreitar a oportunidade que lhe pode dar mais vantagens e não deixando de se passar para outra cor clubista se verificar que tira vantagens com essa troca.
Nem deu por isso, mesmo ele que lhe sucedeu ter deparado com “incontestáveis” seguidores que, na primeira altura, deram o salto para o outro lado? Sábio, sim, mas ingénuo, também.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Ter um sonho e caminhar pela vida tentando transformá-lo em realidade é, só por si, uma justificação para se existir
Ao menos que esse sonho não se desfaça antes de chegarmos ao fim do corredor do nosso percurso.

GARGALHADA

Uma gargalhada forte
Dada a tempo e com medida
Haverá quem não suporte
Quem a ache descabida

Mas se ela sair de dentro
Do fundo do coração
Pode cair bem no centro
De toda a nossa atenção

Afinal o rir com gosto
Sem ser com falsa ironia
Afasta qualquer desgosto

Dá prazer, põe bem disposto
Quem tem falta de alegria
E nem sequer paga imposto

PAÍS, ISTO?


Vá lá, que no capítulo da escaramuça que se tem mantido na área da Educação, com uns professores teimosos, uns alunos a aproveitar para brincar às manifestações e uma Ministra que, finalmente, resolveu esta noite passada dar um pouco de si e rectificar (ela chama clarificar) aquela medida que merecia mesmo ser rasgada na cara de quem a redigiu, a da não clarificar as faltas justificadas e meter tudo no mesmo saco, vá lá, dizia eu, que as coisas se encaminham para uma eventual solução. Mas ainda não é desta, esclarecem os professores da Fenprof, que a solução foi encontrada. Ainda fazem finca-pé no problema das avaliações e, ao fim e ao cabo, o que não conseguem é convencer os portugueses de que não querem é ser avaliados… por muito que afirmem o contrário.
Perante este estado de coisas, eu por mim confirmo aquilo que escrevi aqui ontem: tem de ser José Sócrates a sair do seu cacifo e dar mostras de que, com a Ministra caladinha para sempre, ponha os pontos nos “is” e apresente soluções que sirvam todos, sobretudo, os portugueses que pagam os seus impostos e não estão para suportar greves caríssimas e contribuições para que os estudantes saiam das escolas cada vez a saber menos.
E enquanto esse folclore nojento se arrasta, por seu lado o Ministério das Finanças não está para graças. E vá de exigir dos funcionários mínimos de cobranças diárias aos devedores ao fisco, chegando essa obrigação a cada “cobrador” ter de apresentar resultados de montantes cobrados até ao valor de 75 mil euros, e desde o mínimo de 3 mil, obrigações estas que se manterão até ao fim do ano. Não estou contra o dever dos contribuintes cumprirem o que lhes incumbe, mas lastimo que não conste em nenhum despacho a obrigação do Estado pagar as suas dívidas, que são muitas e s em prazo instituido. O cidadão que espere...
E já que estou a referir-me a dívidas, como o folclore dentro do nosso País não dá mostras de abrandar, vale a pena transcrever uma notícia vinda a lume de que uma empresa pediu a hipoteca judicial da sede do Banco Santander Totta, na rua do Ouro, por alegada recusa da instituição bancária em devolver 3,6 milhões de euros que, parece, foram cobrados de forma ilegal.
A falta que fazem as velhas revistas do Parque Mayer, com Censura e tudo, para podermos gozar à tripa forra as calamidades que ocorrem nesta Terra a que se costuma dizer que é um País!...

domingo, 16 de novembro de 2008

E DEPOIS?

Sempre há um depois do que agora passa
Alguma coisa de que se suspeita
Ou de que se tem só ideia escassa
Mas que está bem ao pé de nós à espreita

Esse depois assusta muita gente
Pode ser p’ra melhor ou nem por isso
Quem pode saber é só o que sente
Que esta vida é toda um compromisso

Se o depois é tão grande mistério
E se há também quem tal não entenda
Esteja só ou tenha vida a dois

Será bom ver o amanhã a sério
Estar sempre pronto para a contenda
Para não perguntar sempre: e depois?...

MÃO Á PALMATÓRIA


A Ministra da Educação não desarma e mantém-se na sua. Veio agora a firmar publicamente que “se o Governo suspendesse a avaliação seria uma vergonha”. Quer dizer, na opinião da responsável pela instrução escolar dos portugueses, repensar um assunto e, se for caso disso, não persistir teimosamente na defesa de um ponto de vista, dando mostras humildes de querer chegar a um consenso e de, até mesmo, dar o braço a torcer, actuar dessa forma modesta é… uma vergonha!
Eu não dou daqui razão à atitude dos professores, que vieram para a rua comportar-se como se gente sem a menor formação educativa se tratasse. Nem por sombras! Acuso mesmo essa classe de não ter sido capaz de lidar com um problema que, mesmo tratando-se de enfrentar uma ministra teimosa e dura de ouvido, teria de ser levado a seu termo de uma maneira mais elegante. As greves e as manifestações de rua com o aspecto que aquelas tiveram só devem ser utilizadas em derradeira circunstância e as explicações públicas têm obrigação de ser dadas com uma boa imagem dos declarantes – que não é o caso dos elementos do Sindicato.
Quanto aos alunos, ninguém me convence de que não houve ali a mão de gente crescida interessada em deixar o Governo socialista em maus lençóis. Há sempre, nestes casos, interesses que estão alheios ao fundamento dos problemas em discussão. E é pena.
Agora, quanto ao Executivo de Sócrates, já que a ministra sustenta que sé está a actuar assim para cumprir o programa governamental, bem podia e devia o primeiro-Ministro actuar de forma a que não deixasse chegar a situação ao extremo em que se encontra. É que acabam por perder todos e, em primeiro lugar, os estudantes que sofrem as consequências de as aulas serem interrompidas, de os educadores andarem distraídos com outros assuntos, em vez de estarem a ensinar os que vão até eles para aumentar os seus conhecimentos.
Só Sócrates tem poder para acabar de vez com este conflito vergonhoso. Já que a Ministra não pretende ir contra o Programa do Governo, então que seja o seu responsável principal a intervir para encontrar uma solução que possa ser aceite pelas partes em conflito, mesmo com a declaração de que a sua actuação é contrária ao seu entendimento. Para além disso, existem sempre os exames finais para penalizar quem não sabe da matéria, quem, em vez de estudar andou a atirar ovos à Ministra. Não se trata de uma vingança, mas de avaliação das duas partes: a da competência dos professores em ensinar e a da capacidade de aprendizagem dos alunos, sobretudo daqueles que não querem ser penalizados por falta às aulas.
Dar a mão à palmatória, neste caso escolar, é preferível a manter indefinidamente uma “guerra” que não dá nota positiva a ninguém!...

sábado, 15 de novembro de 2008

ODE A PESSOA

Oh! Pessoa
tu que me inspiras, que me orientas
na minha cabeça ecoa
o que em mim sustentas
com o teu génio ou o dos teus heterónimos
com rima ou sem ela
mas sempre bela
afastando os demónios.
Ajuda-me, oh! Pessoa
a escrever esta ode
pensando em Lisboa
saindo como pode
com esforço, com rompantes
contrariando o ruído do café que me acolhe
que tem algo de igual ao teu que era dantes
mas que, tal como contigo,
é o café que escolhe
a freguesia, qual porto de abrigo
é ele que anima a que olhe
e veja o que me rodeia, o mau e o bom
aquilo que me foi dado apreciar,
deleitar
e ouvir o som
com agrado ou sem ele
E desde que me conheço
é o que peço:
que Aquele,
o que comanda,
não deixe a banda
à solta.
Pessoalmente penso assim
não me importa saber
se outros julgam igual a mim,
eu sei o que fazer
com a inspiração do poeta,
não basta pegar na caneta
e divagar,
pessoar,
procurar
no íntimo do sentimento
o que tiver mais cabimento
para saudar,
gritar
que poeta serei quem for
mas por amor
ao génio de um poeta dedico
e por aqui me fico
a compreendê-lo
e a relê-lo.

Ele, que dizia não ser nada
era tudo
perdido em frente da sua janela
ou sentado no café, à mesa,
procurando a frase mais bela
e encontrando com certeza
a sua inspiração
interpretando os sonhos do mundo
com devoção
bem no fundo
carregando a carroça da vida
com o fervor de um crente
que sabe que só há ida
por isso olhando sempre em frente
sem saber que o futuro
lhe traria tanta aclamação,
que transporia o muro
da vulgarização.

Oh! Fernando
tu que não sabias o que eras
nem como nem quando
que não crias deveras
nas certezas do mundo,
que só a Tabacaria era verdadeira
porque a vias ao fundo
da tua rua inteira
onde compravas os cigarros
da mesma maneira
que sacudias os catarros
e bebias a tua jeropiga
para acalmar a ânsia de versejar
e respirar
e produzir outra cantiga
sem fadiga,
naturalmente,
mas preocupadamente
a pensar que os versos criavam nada
que acontecia zero
que não havia fada
capaz de mudar, mesmo em desespero
a vida sensaborona,
triste e pesada,
qual matrona
pavoneada.
Hoje, o mundo sempre igual continua
parece diferente, mas nada mudou
aqui nesta como em qualquer outra rua
quer para quem trabalha e também estudou
porque os políticos continuam a falar
na busca de eleitor,
a dissertar
mas não são capazes, nem querem mudar
seja o que for
lá se vão enchendo
porque o que dá lucro vai-se mantendo
que o povo, esse fica,
a gritar pelo Benfica
sem eira nem beira
agarrado à bandeira
como se fosse da Pátria a salvação
a gritar nos estádios com emoção
contra quem seja
tendo na mão a cerveja
que dá calor
tremor
mas não altera os resultados
dos futebóis ou dos pecados.
Hoje está tudo na mesma
como a lesma.

Vês, Pessoa ?
Não fui capaz.
Estás onde estás
e eu estou onde estou
e não sei quando vou.
Verás que a minha intenção era boa
que me esforcei
mas o génio não agarrei.
Não digo como tu
que não sei o que serei,
sei sim, foi o génio que ficou no baú
e que também nada herdei
e como deixei de fumar
continuo sem achar
a Tabacaria
a que te trazia
o fumo da inspiração,
a divinização.

Perdoa-me, Fernando
Continuarei procurando
mas será tarde
para fazer alarde
de algo que me falta
para trazer à ribalta
coisa de valor,
mas amor
esse sim, não perdi
e como mostro aqui
não serei capaz
mas lá contumaz
é o que até agora tenho sido
e estou decidido
a prosseguir
enquanto a vida mo permitir.

Pessoa houve um,
não haverá mais nenhum
e se alguém o prometeu
não fui nem serei eu.

ESPÓLIO DE FERNANDO PESSOA


Como seria interessante poder conhecer a reacção de Fernando Pessoa, lá onde estiver e para os que acreditam que há um sítio para onde se vai depois de morto, ao contemplar o leilão que teve lugar e ainda está por resolver completamente do espólio literário do poeta e escritor que, enquanto foi vivo, não mereceu a admiração e o apreço que veio a conquistar depois de ter partido.
Quem tem consciência que o ajudante de guarda-livros que passou grande parte da sua existência a habitar um quarto numa rua estreita da Baixa lisboeta e que, depois de beber o seu bagacito, ia sentar-se numa mesa no Café da Arcada e aí escrevia o muito que, passados anos, constitui o valioso material que foi discutido agora numa leilão proporcionado pelos seus familiares, quem, sendo considerado “pessoano” tem aquele autor na galeria dos seus predilectos, como é o meu caso, não pode deixar de, por um lado, manifestar a sua revolta pela ingratidão pública durante tantos anos e, nesta altura e a partir de determinado momento passar ser considerado como um mestre na ingrata missão de deixar no papel o muito que o seu íntimo deixou transparecer.
Os editores, que são os grandes culpados, quase sempre, de não saber distinguir os valores autênticos no meio dos vendilhões de palavras que, sobretudo na nossa era, sobressaem por motivos vários mas geralmente longe do valor da escrita que produzem, esses profissionais da venda de obras que merecem esse título deverão meter as mãos nas consciências e reconhecer que pouco lhes interessa analisar as propostas que lhes chegam de trabalhos que, pode acontecer, só mais tarde serão reconhecidos como valorosos, para, em primeiro lugar, colocarem os fazedores de escritos que apenas possuem um nome que lhes é reconhecido por serem vistos nas colunas dos jornais ou nas televisões, por exercerem qualquer mister que tem público… público esse que, de uma maneira geral, não lê livros.
Fernando Pessoa rendeu, com o leilão, cerca de 350 mil euros, dando a ganhar à leiloeira 66 mil da mesma moeda.
Vamos a ver como fica, no final do que é chamado “leilão virtual”, todo este espólio, em que o Estado ainda tem de exercer o seu direito de preferência que lhe cabe e ainda após a C.M.L. determinar, após decisão judicial, se alguns dos lotes pessoanos, que declara terem sido adquiridos em 1986 por 36 mil euros, lhes vão ser entregues.
Menos mal que o contrato de arrendamento da casa onde viveu os últimos tempos Fernando Pessoa, em Campo de Ourique, propriedade do município lisboeta, já está salvaguardada, e é essa mesma casa onde, actualmente, se vai recordando a vida literária do infausto Mestre.
Termino como comecei: será que Pessoa se riria de todo este barafustante leilão da papelada, manuscrita ou passada alguma à máquina de escrever, numa altura em que a ele tanto lhe importaria que surgissem apressadamente os descendentes daqueles que não lhe ligaram muita importância enquanto foi vivo?

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

FALAR


De repente, perdi a palavra
deixei de falar
fiquei mudo
nenhum som sai da minha boca
as mãos não chegam
para me expressar
só por escrito posso transmitir
o que me vai na alma
mas ninguém está disposto
a conversar comigo
e só a ler o que eu escrevo.

Eu oiço, mas não falo,
faço caretas
para mostrar se estou satisfeito
ou triste
se concordo ou discordo
mas não exponho os meus pontos de vista
não consigo manter um diálogo
para além do curto sim ou não
e o uso da mímica não chega
para ser expressivo.

Por isso, uso o papel
e a caneta
como sempre fiz, antes, quando falava
mas é como quem argumenta sozinho
sem se ouvir
sem ter uma ideia do tom que deve utilizar
sem perguntas
sem respostas
e só sim porque sim
ou o contrário

Não falar terá as suas vantagens
não aborrece o próximo
não lhe castiga os ouvidos
não corre o risco de dizer coisas inúteis
de falar por falar
do palrar demais
não tem de se arrepender do que disse
não tem de voltar atrás
com a palavra dada
não empenha a palavra de honra
só vale o que escreve
mas isso tem remédio
deita o papel para o lixo
não o mostra a ninguém.

Falar, falar…
falar barato
abrir a boca para dizer o que lhe vem à cabeça
até asneiras
quando mais valia ter ficado calado
que é o risco de quem não tem
tento na língua.

Por isso, desde que deixei de falar
passei a andar mais descansado
não tenho de me conter
para não dizer mais do que devia
falo comigo mesmo
sem som
e só funciona
o mesmo comando que antes
orientava as palavras:
o cérebro
e esse, de facto,
não se vê
nem se ouve.






EDUCAÇÃO


Já não bastava a crise que alastrou e alastra por todo o mundo e que nos chega, inevitavelmente, com as consequências bem nefastas que são conhecidas e de que não sabemos ainda como poderemos ultrapassá-las, não é suficiente esse tormento que atinge a maioria da população portuguesa, a mais débil economicamente, e eis que surge a posição agreste tomada pelos professores de Portugal e, não contentes com isso, também a rapaziada que anda a estudar, nitidamente comandada, vem para a rua gritar que não aceita a forma como as faltas às aulas lhes são impostas.
Ou seja, atravessamos um período em que, por um lado, a população constituída pelos mestres das escolas anda aos gritos “a ministra para a rua” e, por outro, os alunos usam o mesmo slogan e se divertem porque, enquanto participam nessa alegre manifestação, não têm de estudar nem de estar a aprender nas aulas.
Não pretendo agora avaliar as razões que levaram a que se chegasse a esta situação tão radical. As duas causas, dos que ensinam e dos que aprendem, podem e devem ser analisadas e discutidas, mas, segundo parece, deixou-se chegar a discórdia a tal ponto que já não será possível invocar o diálogo para se procurar chegar a uma solução.
Por um lado, a questão da avaliação dos professores é recusada pelos próprios porque, segundo afirmam – e percebe-se pouco das alegações apresentadas -, está baseada em excessiva burocracia de papelada, a qual faz perder muito tempo para ser preenchida. É estranho, mas é o que afirmam.
No caso dos alunos, ainda que dando a impressão que ali anda mão de graúdos a incendiar o ambiente, a razão dos protestos é de que a justificação das faltas não aceita os casos de doença, parecendo que este é o único fundamento dos protestos.
Pouco pode ser dito por quem não está colocado no meio de tanta barafunda. Mas, que existe todo o direito a avaliar os professores, os cidadãos que têm sobre si a responsabilidade de colocar na vida pública os futuros seres que, por seu lado, devem contribuir para que este País não se mantenha na cauda da Europa, quanto a essa necessidade de seleccionar os bons profissionais e de excluir os que não são capazes de formar a gente nova, quanto a isso permito-me opinar que sou favorável a deixar ensinar apenas aqueles professores que dão mostras de fazer o trabalho com total competência.
Já, quanto aos alunos que não querem prestar contas em relação às suas faltas às aulas, nesse ponto não abdico das normas que existiam no meu tempo, em que se perdia o ano quando se excediam 10 faltas. Mas, evidentemente, os atestados médicos permitiam estar doente, muito embora nos exames finais, aí se tinha de mostrar que se sabia da matéria analisada.
Ora bem, não havendo já nada a fazer em relação ao péssimo ambiente com a Ministra, então, sem ter de ser considerada essa atitude como fraqueza do Governo, mas simplesmente o desejo de encontrar uma saída, procedendo-se às alterações possíveis – e só essas - para satisfazer professores e alunos, dar descanso à detentora da pasta da Educação e nomear um substituto que mostre claramente logo de princípio que “se acabou a brincadeira”, essa talvez seja a única forma de “apagar o fogo”, mantendo, no entanto, a vigilância para que não se reacenda mais tarde. Já chega de má actuação de um lado e de outro. E se Sócrates não é capaz de acabar rapidamente com essas brincadeiras, então que pague as favas nas próximas eleições. Mas, para ganhar quem?...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Já ouvi dizer que um escritor não se arrisca. E isso, para mim, é o mesmo que afirmar que só corre riscos quem atravessa a rua despreocupadamente, ignorando as passadeiras dos peões, quem passa junto a um prédio em obras ou, muitas vezes mais afoito, resolve aventurar-se a subir os Himalaias Não é apenas isso – e já é muito – que serve para alinhar nas experiências de arriscar. Quem escreve e dá a ler aos outros o que lhe sai em prosa ou em verso enfrenta as críticas, especialmente as malévolas, de quem considera que a obra publicada não merece o apoio de quem perdeu tempo a apreciá-las e sujeita-se, por isso, a ser apontado como um mau cumpridor da tarefa a que se entregou.
E, dentro deste ponto de vista, sucede o mesmo aos que pintam e esculpem, aos autores musicais e, obviamente, aos que interpretam, com a voz ou com um instrumento musical, as composições dos outros.
Logo, o não fazer nada ou não dar a conhecer aquilo que constitui um atrevimento de produção, é a situação mais cómoda para não se ficar sujeito a críticas. Não correr esse risco é uma maneira de viver em tranquilidade, muito embora não se fique alguma vez a saber se valeu ou não a pena conhecer a opinião alheia.
Eu, pelos vistos, quero correr o risco de conhecer o que os outros pensam das minhas escritas e das minhas pinturas. E, mesmo que opinem desfavoravelmente, o mais que posso fazer é não aceitar tais opiniões ou admitir que têm mau gosto.
E cá vou continuando teimosamente…



CEGO


Aquilo que eu vejo hoje
o que gosto e o que detesto
as flores, as árvores, a Natureza
e as maldades dos homens
só é possível porque os meus olhos
ainda funcionam
e é com eles que o meu cérebro
raciocina
se alegra e se revolta
se sensibiliza
me obriga a olhar para trás e para a frente
a parar para ver melhor
a espantar-me com o belo
e com o desprezível

Mas penso se um dia
deixo de ver
se terminam as minhas contemplações
se se fecha a janela da vida
se só poderei
ouvir, apalpar, falar
e só com isso serei capaz de decifrar
o que se planta diante de mim,
então o cérebro trabalhará a dobrar
penso eu, mas talvez a falta de visão
descanse mais o pensamento
o que não se vê
se não mostra a beleza
também não revolta
quando é isso mesmo:
repugnante

O pior é a leitura
o breille ajuda, dizem os invisuais
mas não se anda tão ao par
do que vai saindo
e que valha a pena
embora, por outro lado,
não se tenha de assistir
à enormidade de lixo literário
que as editoras atiram para a rua.

É melhor ou pior ser cego?
o ideal é não se conhecer nunca
a resposta
ficar na dúvida
questionar-se até ao fim.
Por enquanto, já que vejo
deixem-me ficar assim!...





VENDER O QUE NÃO É PRECISO




C’oa breca, mas eu não desejo glorificar-me cada vez que assisto a uma tomada de posição dos governantes que coincida com opinião dada publicamente por mim, quer neste blogue quer em artigos saídos em diferentes órgãos de comunicação, mas, como mais vale tarde do que nunca, pelo menos que, com enormes atrasos, acabe por verificar que tinha razão na altura em que manifestei uma opinião que não era asneira de todo.
Desta vez, o caso é o de o ministro Nuno Severiano Teixeira ter anunciado que o Governo se prepara para alienar muito do património militar, constituído por quartéis, conventos, cadeias, hospitais, fortes, tudo já fora de uso e em condições até de mau funcionamento, não ficando para trás o próprio edifício do Ministério, também ele, apesar de imponente de aspecto, em risco de caiarem painéis de pedra, e que o valor que se espera que vá enriquecer o montante destinado a modernizar as infra-estruturas das Forças Armadas, dizem, atingirá cerca de 834 milhões de euros.
Tudo isto parece ser medida acertada, a mesma que eu já tinha alvitrado em tempos – e não só no que se refere ao Ministério da Defesa -, mas o que faz levantar certas dúvidas é a circunstância de esta atitude ir levar 12 anos a ser levada a cabo. E todo esse tempo chega e sobra para que uns novos governantes que, entretanto, possam surgir, não venham com opinião diferente e tudo fique “em águas de bacalhau”.
Digo isto não por excesso de pessimismo, mas por estar escaldado como cidadão normal por ver anúncios de iniciativas que, passados tempos, ou ficam nas gavetas esquecidas ou acabam mesmo por ser revogadas porque quem toma posse, mais tarde, nos lugares de decisão, aparece com ideias novas ou defende as antigas, não mexendo uma palha no sentido de fazer progredir o que tinha sido decidido antes.
Eu, por mim, aquilo que continuo a defender é que, aproveitando até um período em que o Estado está cheio de dívidas antigas que leva tempo a liquidar, e as faltas de dinheiro para pôr de pé medidas que são da maior importância para não ficarmos cada vez mais para trás, em comparação com a Europa a que pertencemos, desfazermo-nos de tudo que está a cair de podre e que não tem utilidade na vida moderna só pode ser observado com aprovação, isso, repito, desde que o dinheiro apurado não seja gasto em ordenados escandalosos de funcionários superiores, sobretudo de empresas públicas, nem em adquirir automóveis de modelos luxuosos sempre que um novo alto cargo entra no esquema.
E sobre isto dos carros, repito o que já escrevi em mais de uma ocasião: que é existir uma garagem de carros oficiais e uma disponibilidade de motoristas - muito menos do que existem hoje -, por forma a acabar com esse “riquismo” de ter sempre à porta das repartições um automóvel à disposição do chefe e com o motorista sentado à espera que “sua excelência” queira sair, para ir para casa ou para levar os filhotes ao colégio. Se fosse necessário requisitar condução quando fosse preciso para o serviço e surgisse um carro, fosse ele qual fosse, o disponível, e com o condutor que, também ele, fosse o que se encontrava na lista para sair, se essa fosse a forma de utilização das viaturas, quantos milhões de euros se economizavam por ano?

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

CAMPO DE OURIQUE


É neste bairro de Campo d’Ourique
Nesta Lisboa que já foi alegre
Que mais apetece pedir que fique
E se não é d’aqui que se integre

Ruas planas e gente agradável
Lojas vistosas, também populares
Andar às voltas é até saudável
E há ainda quem tome bons ares

Mas tudo muda nesta Capital
Os mais velhos notam a diferença
E vai-se perdendo a tradição

O que se pode esperar, afinal,
De uma vida que é toda tensa
Onde a cabeça mata o coração?

UM PAÍS DE CASOS




Estamos numa altura em que, todos os dias, acontece alguma coisa que extravasa os hábitos de tranquilidade que se tinham noutros tempos. E quem não anda completamente ao corrente da evolução da vida na nossa Terra, chega a acumular casos e a fazer confusões de nomes e de situações, misturando já tudo e metendo os pés pelas mãos.
Por isso, quem vai seguindo os meus blogues, talvez fique satisfeito pela selecção que faço no prosseguimento diário das “broncas” que se vão sucedendo. E já quase não tenho espaço para abarcar todas as mais importantes, para não falar do cuidado que ponho em não repetir temas já referidos, a não ser quando os folhetins vão aumentando de interesse e os seus autores vão acrescentando mais este ou aquele pormenor que merece ser divulgado.
Por hoje, ataco duas situações que, não se tratando de um grande “furo” que nos deixe de boca aberta, representam, pelo menos, o estado a que se chegou na desvergonha de comportamentos que já nem são limitados a pessoas que não têm responsabilidade na vida pública portuguesa. O primeiro a merecer a referência da minha atenção diz respeito a duas personalidades que deveriam ter mais cuidado nos seus procedimentos, para não dar razão ao dito tão antigo de que não é preciso só sê-lo, também importa parecê-lo. E se não é bem assim, pelo menos é parecido.
Ora, aquela do ministro da Economia, Manuel Pinho, que, na altura, detinha um alto cargo no BES, ter passado uma procuração com plenos poderes para compra/venda de um prédio em Lisboa, isso na hora em que o nomeado procurador, Manuel Sebastião, fazia parte da equipa de administradores que acompanhavam Vítor Constâncio no Banco de Portugal, passando agora a desempenhar as funções de presidente da Autoridade da Concorrência, essa atitude que, tratando-se de dois portugueses comuns, não mereceria qualquer comentário – a não ser fazer a estranheza da procuração, quando os dois estariam na cidade e não havia necessidade de um deles se esconder -, ao ter sido levada a cabo por quem foi, merece, isso sim, no mínimo que seja um acto tornado público. E que nos interroguemos sobre a razão do facto.
E, já agora, sublinhar a circunstância que está a ocorrer sucessivamente, de que os favores cá se fazem e cá se pagam, não sendo por acaso que os intervenientes de situações parecidas com esta, pouco depois mudam de lugares para outros ainda melhores e a ganharem mais dinheiro…
Falar agora de Vítor Constâncio e da sua pálida e atrasada actuação no drama do BPN, eu, que o conheço, não me passa pela cabeça que tenha existido o menor interesse de ordem pessoal do governador do Banco de Portugal. Agora, que não pode o homem com as obrigações que lhe cabem, desculpar-se, por muitos profundos discursos que faça na Assembleia da República, isso é que não se pode omitir na apreciação da ocorrência. Não vou ao ponto de subscrever o tom de Paulo Portas quando aproveitou a ocasião para se sobressair no Parlamento, ele que não está em condições de criticar ninguém, sobretudo depois daquele dos submarinos, quando foi ministro da Defesa .Mas tenho pena que Vítor Constâncio não tivesse actuado com a firmeza e a rapidez que o caso merecia.
Ao fim e ao cabo, estamos condenados a ser um País mal gerido e de interesses ocultos que circulam nos subterrâneos da política! Somos um País de casos...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

DESENCANTO...POR ENQUANTO!

Cada vez mais tenho a sensação de que, para os outros, fui sempre alguém do lado de lá. Não só para os mais afastados, mas também para os parentes. Quanto mais tempo vivo, mais me convenço desta realidade, E, nesta altura, não vale a pena disfarçar que não é assim. A culpa, se é que se pode querer descortinar culpado nesta situação, terá de ser atribuída apenas a mim. Porque não serei abertamente comunicativo. Porque não pertenço àquela maioria de pessoas que mostram dar grande importância ao que os outros dizem, sobretudo quando internamente não atribuem valor suficiente para isso. Será por não ter esse sentimento de interesse demonstrativo, que tanto agrada aos outros interlocutores. Será por isso. Mas, seja pelo que for, a realidade é essa: Provoco pouco sentimento de intimidade nos outros.
E a verdade é que nem sei se sinto falta dessa intimidade. Dessa cumplicidade. Mesmo no que diz respeito aos amigos mais chegados, nunca senti esse entrosamento, daqueles que dá para trocas de confidencialidades. O meu íntimo sempre foi resguardado e, talvez por isso, o dos outros nunca me foi revelado. Antes assim.
Aquilo a que se chama “abrir-se” com alguém, foi coisa que nunca fez parte dos meus costumes. Sobretudo, porque não creio que interesse ao próximo saber o que vai no meu íntimo. Poderão, por simples curiosidade, escutar o que lhes transmitisse de muito privado que existisse no meu âmago, mas mais do que isso não se passaria.
Estar do lado de lá é, pelo menos, estar nalgum sítio. Digo eu, para justificar o meu ponto de vista. Estar em todos os lugares, do lado de cá e do lado de lá, mostrar abertura e até entusiasmo quanto ao que se escuta numa conversação, é uma forma de estar na vida para além de ser cómodo. E não importa averiguar o grau de verdade que existe em tal posição. Se eu fosse assim, só tinha a ganhar no capítulo da apreciação dos outros a meu respeito.
Mas, quanto à apreciação de mim para mim próprio?