quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

APODRECER

Como ele passa, o grande atrevido
Nem nos dá descanso para pensar
O que fica p’ra trás cai no olvido
Tudo se conjuga no verbo amar

Mas esse tempo, o tão necessário
P’ra levar a vida que nos impõem
Acaba por ser enorme calvário
Da via que os outros nos dispõem

Tal como um verme, rói-nos e tortura
Vai corroendo a carne e a alma
Quase nos tira o que é bom de viver

E é do lado de cá da sepultura
Com o seu tempo e sem perder a calma
Que nós começamos a apodrecer


FIM DO ANO


ALELUIA! Um novo ano está aí. É à meia-noite que, de baguinhos de uva numa mão, subindo a uma cadeira, com o porta-moedas com uns trocados na outra mão, que o portuguesinho da silva repete aquilo que fez durante toda a sua vida e viu fazer aos pais e até aos avós. E, em silêncio, faz um pedido que, naturalmente, dirá respeito ao seu sucesso no trabalho, à saúde que aspira sempre ter, para si e para a sua família mais chegada e a qualquer outra situação que conserva só para si.
No fundo, trata-se de enterrar o que ocorreu e de abrir portas de esperança para o que vem a seguir. É sempre assim. O Homem, por muito mal que seja tratado enquanto se arrasta por este suplício da vida, no fundo arrecada permanentemente a aspiração de que o que vem depois compensará o que de ruim teve de suportar. E até os miseráveis, os que não têm cama para se deitar nem prato com comida, mesmo esses suportam no seu íntimo a ânsia de que as coisas irão mudar. E o começo de um ano novo traz sempre essa espécie de milagre que não dá felicidade apenas aos outros. Por isso se diz que a esperança é a última coisa a morrer.
Sendo assim, por cá, por este País que anda azarado desde há muitos anos, há décadas, talvez há séculos, que não foi capaz de tirar partido das qualidades do seu povo, paciente, resmungão mas que lá vai fazendo, descobridor mas não sabendo tirar partido daquilo aonde chegou primeiro, com uma posição geográfica invejável no Continente Europeu mas não sendo capaz de beneficiar dessa situação, com grande História mas com confuso futuro, este País, chamado Portugal, entra em 2010 à procura do pé que deve colocar à frente, o Esquerdo ou o Direito, e, atrapalhando-se, metendo os pés pelas mãos e escorregando na passadeira da entrada.
Mas entremos. À porta não podemos ficar. E sejamos capazes de desembrulhar o pacote que nos espera pendurada na aldraba. Por muito que surjam os alertas amarelos, primeiro, e vermelhos, depois, isto devido às consequências das subidas dos caudais dos rios e das chuvas intensas que resolveram inundar várias partes do País, mesmo assim, depois de tanta água e precisamente a seguir a um período recente em que os agricultores se queixavam de que não tinham água para dar de beber aos seus animais – é sempre assim, ou excesso ou falta, mas nunca o bastante -, apesar disso tudo os aleluias são cantados, pelo menos para dentro, porque o suicídio não se pratica com facilidade e o que se tornou um destino dos portugueses é o aguentar, aguentar, aguentar…

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

CANSADO

Estou cansado do que fiz
do muito que já foi feito
ter querido o que não quis
levado coisas a peito
no fundo
confundo
o que neste mundo
é sempre segundo

Queria coisa melhor
ter vaidade numa obra
com a escrita ou pintor
mostrando arte de sobra
ser primeiro
de pé, pinheiro,
sem berreiro
bom viveiro

E se eu não me acredito
se ao alto eu não cheguei
o muito que deixo escrito
eu nunca renegarei
seja o que for
é suor
algum amor
muita dor

Mas a busca do talento
aquele que nunca fica
causa grande sofrimento
nem sempre se justifica
quem procura
com agrura
vive numa tortura
pode cair na loucura

Fatigado eu estou
mas se paro por momentos
já não sei p’ra onde vou
encontro outros tormentos
prossigo
castigo
afadigo
me obrigo

O que não quero é queixar-me
não vale já a lamúria
o que posso é castigar-me
rogar por génio com fúria
combater
querer vencer
e se perder
refazer

Chegado a esta altura
com tantos anos p’ra trás
este vício não tem cura
e mudar não sou capaz
aguentar
sem queixar
esperar
por outro ar

Cansado lá isso estou
p’ra isto não há remédio
eu sei bem p’ra onde vou
libertar-me deste tédio
então adeus
sonhos meus
enfiados nos seus breus
tapados por negros véus



ATÉ À PRÓXIMA!...


TENHO VINDO a ocupar este período de aproximação do final do ano de 2009 com uma série de textos que, valha a verdade, não se podem classificar como pertencendo ao grupo dos optimistas. Mas quem dá aquilo que leva dentro de si e não se esconde atrás de precisões que só servem para enganar, na minha opinião só merece elogio e não para ser alvo de crítica. Um não dito a tempo e sendo sincero é preferível a um sim enganoso até mesmo a um talvez que cria expectativas e +provoca depois um destruidor desengano. Quem já sabe com aquilo que conta tem tempo para se prevenir e procurar outro caminho, aquele que fica sempre à espera e não sai do mesmo sítio é normalmente a vítima que culpa os parceiros por não ter sido avisado com franqueza.
Daí eu despedir-me de um período que ocupou a nossa vida, que foi preenchido na maioria dos casos mundiais com sobressaltos e poucas notícias agradáveis e que, por isso, embora tenha gasto o espaço de um ano que poderia ter sido utilizado com outros acontecimentos que nos deixariam boas recordações, não creio que fique na História da Humanidade como algo a recordar, deixamo-lo e entramos no 2010 com naturais expectativas de coisa melhor.
Mas, enquanto caminhamos para as 0 horas do dia 31 de Dezembro, não podemos deixar de sublinhar as situações que, sendo as últimas que nos chegam através das notícias, por isso mesmo as colocamos no tapete da porta de saída.
Aquilo de que se falou tanto neste dia foi a da falta de carros para o serviço da Polícia que faz investigação e que, nesta altura, há uma falha de mais de 100 viaturas para atender às necessidades da população. Tomar conhecimento deste caso quando existem tantas viaturas que passam os dias estacionados ao serviço de altas e menos altas figuras da administração pública, grande número delas com motorista próprio a aguardar as ordens de suas excelências, assim como se sabe que, frequentemente, são confiscadas tantas viaturas pelos serviços fiscais e pelas autoridades que as confiscam por motivo de serem utilizados pelos não cumpridores das leis correntes (em assaltos, etc.) e de que não se sabe onde vão parar, se existisse uma organização capaz de dar seguimento às paralisações burocráticas (ou outras) e de suprir as necessidades com inteligência, sabendo-se que isto se passa e agora ficarmos a saber que as polícias andam com automóveis que já não cumprem o que deles se exige é coisa mesmo de um País como o nosso que não há forma de solucionar os seus próprios problemas.
Bem se compreende que se tome conhecimento de que alguns líderes partidários escolheram lugares no estrangeiro para passar as festas do fim do ano. José Sócrates, Paulo Portas e Francisco Louça, da Esquerda e da Direita, vão fugir de Portugal para ganhar forças que cheguem para enfrentar os múltiplos problemas que nos vão apoquentar em 2010.
Ao menos têm dinheiro para essa extravagância, se bem que, há que dizê-lo, não se trate de uma atitude muito patriótica. Mas lá isso, bem prega Frei Tomás…
E só uma coisinha para despedida: afinal, o Hot Club de Portugal, cujas instalações arderam e que a Câmara Municipal ofereceu um espaço no Cinema S. Jorge para poderem prosseguir com os seus concertos, acaba por ficar sem local. Um desentendimento à portuguesa não solucionou, por agora, o problema. Fiquei contente na altura e deixei de ficar!...

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

POUCA SAÚDE

A saúde é uma graça
que quem a tem agradece
porque quando ela é escassa
a vida não apetece

E que haja quem ajude
a quem lhe falta a saúde

Quando lá longe anda ela
é que se lhe dá valor
há quem lhe acenda uma vela
p’ra não sentir qualquer dor

Só p’ra fugir da doença
aceita-se qualquer crença

Quem não é de meias contas
e os extremos prefere
apenas agarra as pontas
e mostra algum saber

Sendo a saúde uma espuma
mais vale não ter nenhuma

NÃO SABEMOS VENDER



ANDO-ME A DESPEDIR de 2009 já há alguns dias. É que é grande a minha apetência de esquecer o que foi este período de más novas com que nos defrontámos sucessivamente. O que é mau é para esquecer. Por outro lado, também já estou farto de, ao longo dos anos, emitir uma opinião, quer no tempo em que a Censura não perdoava e me cortava as opiniões, mas também depois, em plena Democracia, em que tenho vindo a insistir com tal tese, mas com uma razão que pouco interessa aos que não estão dispostos a analisar as nossas características como portugueses que somos, habilidosos para umas coisas mas, para outras, de que não damos mostras de ter o menor jeito. E esta lamúria refere-se à antiga mas infeliz medida tomada pelo rei D. Manuel I, quando decidiu expulsar os judeus que não aderiram ao catolicismo, tendo partido grande parte deles para a Holanda, que muito ficou a ganhar com essa entrada de gente bem preparada e sabedora das artes de vender, não interessando para nada a religião que processavam.
Explico-me então: a partir daí, mesmo tendo sido grandes descobridores por esse mundo fora, nunca fomos capazes de tirar partido do que passámos a dominar, dos locais onde nos instalámos, das riquezas que por lá foram encontradas. E até os diamantes de Angola, por exemplo, foram fazer a riqueza de uma família judia, instalada em terras nórdicas da Europa, a qual, até hoje, conserva esse negócio e fá-lo com enorme competência.
Mas adiante. O que é verdade é que, mesmo com a desculpa de que nos encontramos situados geograficamente na ponta do Continente Europeu, longe dos centros de grande movimentação de muitas mercadorias, sobretudo as agrícolas, o certo é que não podemos negar a realidade. E esse é de que não nos sentimos vocacionados para introduzir junto dos potenciais compradores estrangeiros os produtos que, mesmo mal estudados no que se refere às suas características de se adaptarem às preferências dos potenciais interessados, ainda assim poderiam caber numa mancha de mercado que existirá se for convenientemente convencido.
Mas não é isso que se passa. Na área da agricultura, por exemplo, sendo o nosso clima propício a, no que diz respeito a novidades de estação, apareçam com algumas semanas de adiantamento, não somos capazes de usufruir dessa vantagem. E eu sei do que falo, já que fui director da revista “o País Agrícola” e lutei, na altura, pela introdução de uma genica actualizada por parte das cooperativas agrícolas que existem, em demasia, por esse País fora, e nunca consegui motivá-las. E nem ao Ministério respectivo, em que os nossos engenheiros agrónomos gostam mais de estar sentados e bem engravatados por detrás das secretárias, em lugar de sujarem os sapatos nas terras. Ao contrário, por exemplo, do que se passa em Israel!
Mas, só no fim deste texto é que me refiro à razão por que escolhi hoje este tema. É que Basílio Horta, actualmente presidente do AICEP (um organismos que deveria funcionar meticulosamente por forma a abrir portas no estrangeiros para os nossos produtos e consiga conquistar capitais de fora para serem aplicados entre nós), veio declarar publicamente que há investimentos estrangeiros em risco de desaparecerem, em virtude de um novo regime fiscal criado para atrair investimentos do exterior para serem canalizados para Portugal, em virtude de não ter o Governo definido ainda as actividades abrangidas por esse novo regime (publicado em 22 de Setembro e com efeitos retroactivos a 1 de Janeiro de 2009), existem vários projectos que estão em risco de serem desviados para outros países.
Para quê, pois, andarmos a discutir pequenos problemas que, às centenas nos rodeiam, se os grandes, aqueles que representam, na verdade, uma possibilidade de abrir portas ao relacionamento com empresas estrangeiras que podem vir criar trabalho no nosso País, esses, a burocracia, a mandriice nacional, a nossa estupidez crónica não permitem que consigamos sair desta molenguice em que vivemos?
E é assim. Nem fazemos nem criamos as condições para mudarmos de incapacidade de vender, de progredir, de sairmos da trampa (e não tenho medo da palavra) em que estamos atolados.
Que o ano que vai ficar para trás não nos deixe muita marcas de molde a ficarmos agarrados a métodos que não servem para o futuro é o que me resta desejar nesta altura.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

DESPEDIDA


Dizer adeus sempre é pena
ver partir os que gostamos
nunca se esquece tal cena
mesmo passados os anos

Por mais longe que eles vão
p’ro Além ou cá na Terra
os queridos partirão
a dor em nós se encerra

Por muito que seja dura
e grande a nossa dor
na hora de despedida

O tempo os males cura
diz o povo sabedor
que conhece bem a vida



ADEUS!...



O ACTO da despedida é, de uma forma geral, algo que provoca tristeza, que causa um sentimento de pré-saudade, de desejo que não suceda muitas vezes. Desta vez, porém, verifica-se uma partida e a sensação que nos deixa a quase todos – isto sou eu que o digo, por me parecer que se trata de uma opinião bastante generalizada – é a de que nos causa alguma sensação de alívio. Pois que vá e não volte!
Dizer isto a dois dias de acabar o ano de 2009 pode parecer um gesto de mau agradecimento à Providência, pois que se vivemos até aqui, nós os que nos conservamos vivos, é caso para estarmos já gratos. Isto é o que pensam também muitos, os que dão sempre graças a Deus pelo que ocorreu e olham para o futuro com o sentimento de seja o que Deus quiser…
Sendo assim, esses que se despeçam dos doze meses ocorridos com conformismo e olhem com expectativa para os que estão a chegar. Cada um…
Mas já nem me quero referir as ocorrências pelo mundo fora, que, de uma maneira generalizada, também não foram passando de forma a marcarem um período de satisfação que deixe vincado na História como tendo sido algo de desejar ser relembrado. Fico-me apenas pelo território que é o nosso, este pequeno rectângulo, na ponta Oeste da Europa, dá pelo nome de Portugal. E sobre isso me fico neste pequeno apontamento quase a fechar a porta de um período que os homens resolveram, muito tempo atrás, estabelecer como tratando-se um ano completo.
Pois paro para recordar, com esforço, este longo trecho de 365 dias e noites e, relendo até os meus blogues, que são diários, não consigo deparar com motivos para me regozijar por ter sido também um participante da cena que nos envolveu a todos.
A crise mundial, de que os culpados principais não terão sofrido tanto as consequências como os pobres cidadãos que acreditaram na segurança dos bancos, esse desmoronamento económico, financeiro e social que tem feito a vida negra aos mais débeis chegou fortemente às casas dos portugueses e o desemprego foi e ainda é uma das razões mais fortes para que desejemos ardentemente que o 2010 chegue com cores bem menos tristes do que aquelas que pintaram o cenário que nos foi oferecido.
Não sabemos o que outro Governo, diferente daquele que nos conduziu ao longo dos mais de quatro anos, teria sido capaz de fazer melhor, mas o que sim sabemos é que o de José Sócrates não deixou saudades e, ainda por cima, temo-lo presente nesta altura em que o panorama político nacional não dá mostras de serenidade e de compreensão entre as várias forças que se digladiam para subir na escada do poder.
Seja como for, a despedida de 2009 não deixa saudades. E também, quanto a mim, as portas que se abrem no 2010 que está a chegar não oferecem razões para se respirar de alívio.
Mas, cá estamos e enquanto houver dinheiro para pagar as reformas, mesmo ridículos que sejam os montantes da maioria, que os felizardos dos protegidos pelo regime, esses ainda podem ir pondo de parte alguma coisa para fazer face aos piores tempos que estarão aí para vir.




domingo, 27 de dezembro de 2009

CONTRADIÇÕES


As contradições existem
estão do outro e deste lado
e as duas lá resistem
enfrentando-se com enfado
a verdade e a mentira
são exemplos bem patentes
por vezes causam a ira
de muitas das nossas gentes

O valente e o cobarde
fazem parte da História
o primeiro causa alarde
o outro perde a memória
mas os dois são grande parte
deste mundo em que vivemos
um é porta-estandarte
o segundo nós tememos

Ser nesta vida sincero
traz por vezes dissabor
causa certo desespero
a quem tem esse valor
porque usar a falsidade
uma forma de fingir
com tamanha habilidade
leva-se a vida a sorrir

E isso de ser honrado
dos outros não querer nada
será sempre um coitado
sem conseguir vida airada
porque o roubo se é bem feito
tenha o nome que tiver
não é chamado defeito
pode levar ao poder

Daqui há que concluir
que o defeito é ciência?
Não há que por aí ir
que ceder a tal tendência
cada um tem seu perfil
não muda só porque sim
mantém-se no seu carril
e assim vai até ao fim

VIDA VELHA



O ANO de 2009 está de partida. Mais um, depois de todos os que passámos e quanto mais idade nós temos maior é o número de passagens de ano que já comemorámos, sendo que as perspectivas de que o período novo que se aproxima terá de ser melhor do que os que ficaram para trás. Para isso cumprimos a tradição e subimos, à meia-noite, a uma cadeira e metemos na boca as doze passas ou bagas de uva e fazemos os nossos pedidos íntimos. Depois, acreditando ou não no resultado, quedamo-nos na expectativa quanto ao que vai suceder. O Homem é um animal de crenças, por muito que pretenda mostrar que a sua superioridade não se coaduna com esses caprichos de “gente menor”.
De facto, tratam-se, de uma forma geral, de hábitos de cariz religioso ou místico, cada um com as suas preces íntimas See em especial o Natal é encarado com mais sentido de que se trata de uma comemoração do nascimento de Cristo, personagem esta que, tendo historicamente existido, escolheu uma época apropriada para se mostrar ao Mundo, porque, se fosse hoje que tal acontecesse, seguramente que se depararia com uma imensidão de inimigos que não o deixariam nem sequer abrir a boca, por muito que utilizasse os mais modernos meios de comunicação que o Homem, entretanto, criou.
Claro que os não crentes têm sempre motivos para dar mostras do seu afastamento das linhas religiosas. E este ano, com as intempéries que se têm visto por tantos lados, a questão que mais salta à ideia é a de que se não seria natural que, ao menos nesta época, a mão divina impedisse que houvesse tantas desgraças provocadas pelas “zangas” da Natureza.
Mas o tempo passa, os anos surgem novos, os homens recomeçam as suas tarefas, os problemas não param e as discórdias entre os seres que não abandonam as suas características egoístas, tudo isso, juntamente com a velocidade da ânsia das descobertas de modernidades que se sucedem sem quase dar tempo para serem gozadas com a tranquilidade mínima, parece não contribuir para aquilo que, ao fim e ao cabo, seria a que mais interessava aos que andam por este mundo: a felicidade.
E a extensão dos anos de vida contribui também para que os problemas humanos se arrastem. Se repitam. Se compliquem.
Vem aí, pois, o ano 2010. São mais doze meses, outros 365 dias e uma crise em que não existe ninguém que diga se este será o período em que entraremos na tranquilidade dos espíritos e em que os cidadãos, sobretudo os mais responsáveis, os que dispõem de maior possibilidade de interferir dão mostras de ter aprendida a lição e tomarão juízo, indo recomeçar uma vida já de paz e de comunhão de interesses, afastando o desejo de que os benefícios sejam exclusivamente para si próprios.
Vai ser desta vez? Acabarão os terrorismos que não há religião que possa explicar? Entrarão na linha os detentores do poder económico e financeiro e que, no fundo, estiveram na origem dos problemas mundiais que levaram ao terror que tem sido defrontado? Os afeganistãos, os iraques e os Irões, assim como as palestinas, os israeis e todas as questiúnculas africanas, bem como as dissidências em várias partes do Globo, tudo isso passará a ser memória triste do passado?
Haja quem acredite. Dizem que o querer é poder. Agora o “crer”, isso já é outra posse.

sábado, 26 de dezembro de 2009

AMA OS OUTROS

Se a ti não te amas
nem sequer o teu umbigo
se não te interessam as famas
se não és teu próprio abrigo
nem se calhar tens paixão
por tudo aquilo que fazes
se és tua oposição
e não gostas do que trazes
se é isso mesmo que sentes
um permanente desgosto
esse nem sequer tu mentes
sobre qual é o teu gosto
então está tudo sabido
p’ra sentires alguma flama
e não ficares esquecido
ao menos os outros ama

ESPERANÇA?



COMO GOSTARIA que, apesar da situação de crise que somos forçados a enfrentar, mantivéssemos um mínimo de confiança na franqueza e na competência, na honestidade de procedimentos daqueles que se encontram com a responsabilidade de evidenciar todos os esforços para que Portugal não se veja envolvido, cada vez mais, no charco económico, financeiro e de dívidas que já nos colocou nos fins da tabela dos países mais débeis da Europa.
Mas uma coisa é o que se deseja e outra, quase sempre bem diferente, é a realidade que se vive. E, por muito que José Sócrates surja, com frequência, a propósito de inaugurações quase sempre despropositadas, a cantar hossanas a situações que ele se convence que são dignas de merecer louvores públicas ao Governo que comanda, por mais que não seja possível convencer o chefe do actual Executivo de que o importante seria que da sua boca saísse verdades, transparências, até mesmo arrependimentos, quando fosse o caso, por não terem resultado, como seria esperado, as medidas que o seu grupo político entendeu levar a cabo, por excessivo convencimento das suas razões que o primeiro-ministro não consegue esconder, não é por aí que os cidadãos portugueses mudam do descontentamento em relação ao chefe do Governo e passam a apreciá-lo em absoluto.
Porém, o que também se tem que sublinhar como uma realidade é que, na altura das eleições, como sucedeu no último escrutínio, a maioria dos portugueses colocou o seu voto no grupo partidário a que Sócrates está ligado, o PS, e, por esse motivo conseguiu situar-se no comando de um Governo. Quando se repetiu a situação eleitoral, por sinal a mais recente, apesar de não ser de grande entusiasmo popular a escolha de novo de Sócrates, quis o destino que o outro partido que poderia ter aspirações a substituir o PS na frente da escolha, o PSD, se encontrasse em luta intestina e não transmitisse o mínimo de confiança para que essa opção fosse a vencedora.
Esta realidade nem é preciso transmiti-la. É do conhecimento geral. E a posição nacional neste altura também não constitui qualquer novidade para os cidadãos deste País.
Só nos resta fazer as contas no que diz respeito ao ano que se aproxima, ao 2010 que entre daqui a dias, e, não fazendo caso das “discursatas” de Sócrates, sermos todos nós, os que, ao fim e ao cabo, pagamos sempre as favas, e aguardar pelo que os ditos responsáveis, Governo, Oposições e Chefe do Estado, acabarão por decidir, se num arrastamento de uma situação que não tem condições para resistir muito mais tempo ou se, numa tomada de posição radical, nova experiência eleitoral será levada a cabo, não se sabendo bem se será desta vez que as coisas entram no bom caminho.
Um presságio deste em pleno dia 26 de Dezembro, ainda com o sabor das filhoses e do bolo-rei na boca, não se pode considerar como sendo um voto de Feliz Ano Novo. Estou de acordo. Mas haverá outro vaticínio que seja minimamente crível?

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

ALENTEJANOS

Debaixo de um chaparro
é bem bom pensar na vida
não tendo outra saída
se não fumar um cigarro

Alentejano de um raio
não é igual a ninguém
é sua forma também
de não olhar de soslaio

Se no Inverno faz frio
e o capote o protege
há sempre quem o inveje
e recuse o elogio

Recorrendo à anedota
julgando que o ofende
mas se é isso que pretende
faz papel de idiota

O Alentejo isso tem
muita paz, um bem-estar
pode-se tal procurar
noutro sítio, mas porém…

…por cá não se vê aonde
outras belezas existem
mas por mais que se registem
se as há bem se escondem

Sem pressas p’ra responder
lá vão saindo as sentenças
sem certezas e sem crenças
pois têm mais que fazer

Compadres há-os bem perto
sentados não há que ver
porque as horas de lazer
não se perdem e está certo

Boa gente, muito pura
as migas, o ensopado
têm o pão como fado
de fome passada e dura

Por tal, na Revolução
aderiram tão depressa
pois tinham bem na cabeça
o sofrido até então

Têm direito ao que for
porque são bons lá no fundo
e olhando para o mundo
não se vê quem pode opor

Alentejanos queridos
sempre que posso vou vê-los
não falam p’los cotovelos
nem são gentes de alaridos

Não sendo como formigas
não enchem o Alentejo
agrada-me quando os vejo
sem me mandar às urtigas

Agora que se fedeu
o 25 de Abril
estão vendo por funil
o que julgavam ser seu

Ilusões nem muitos têm
vida melhor quem lhes dera
porque aí estão os que vêm
comprar o que de outros era

São os outrora vizinhos
espanhóis, nossos irmãos
que apontam seus caminhos
à procura de outros chãos

Conformados já estão
os nossos alentejanos
pois outra Revolução
não trazem “nuestros hermanos”

O chaparro seguirá
no mesmo sítio quieto
sua sombra que lá está
deu ao avô, hoje ao neto






AGRICULTURA Á PORTUGUESA



AO APROXIMAR-SE o início de um novo ano, ao dar razão àqueles que gostam das datas fixadas para realizar qualquer iniciativa, pois eu sigo esse caminho e sublinho as mágoas que são costumadas no nosso País, provavelmente desde que ele existe, no respeitante aos problemas com a agricultura que temos.
O péssimo tempo que tem feito nestes últimos dias veio acrescentar dificuldades às gentes dos campos que, muitas delas por descendência familiar vão suportando o seu sustento através daquilo que as terras produzem. E, na maioria dos casos, tratam-se de pequenas parcelas que, por isso mesmo, não permitem que as explorações sigam sistemas modernos e mecanizados que fazem reduzir substancialmente os custos na lavoura.
Mas isto que vem de séculos passados, pois sempre fomos uma Nação reduzida ao espaço que nos coube na ponta oeste da Europa, o que fez que se arrastasse pela nossa História fora a exploração da pequena propriedade. E como não temos sido dados à criação de grupos localizados que fizessem aumentar as áreas agrícolas, muito embora contemplemos o que ocorre por essa Europa fora, em que, até aqui ao lado em Espanha os preços das produções ficam muito reduzidos pelo facto de tanto as culturas como depois as operações de colocação nos mercados serem resultado de quantidades que justificam os investimentos em todas as áreas, dada a nossa paralisação nos tempos cada vez mais nos afastamos das possibilidades de competirmos em preços com a concorrência internacional.
Quando dirigi uma revista que deu brado na altura, “o País Agrícola”, como jornalista vi-me na necessidade de estudar o problema que era motivo de desânimo de uma grande parte dos agricultores nacionais. E a conclusão a que cheguei, mesmo não sendo agrónomo ou talvez por isso mesmo, foi de que se tornava necessário mudar a mentalidade não só dos homens dos campos como também do próprio Ministério que, agarrado a princípios burocráticos e de secretária, com os seus engenheiros engravatados e com deficiência de contacto com os principais interessados em desenvolver os métodos tradicionais de cultura, não eram dados os passos absolutamente imperiosos para que o panorama se alterasse.
E chagámos aos dias de hoje tal como nos encontrávamos bastantes anos atrás.
Nessa altura de “o País Agrícola”, em que era ministro respectivo Álvaro Barreto, feliz os possíveis para tentar convencer aquele Ministério de que era importante aproveitar uma oferta que obtive por parte das autoridades de Israel que se ofereceram para transmitir os seus saberes aos agricultores portugueses interessados. Bastava que o Governo da altura quisesse colaborar na proposta. Mas nada foi conseguido!” E a única possibilidade que poderia ser aproveitada era a de organizar visitas semanais ao País dos israelitas e efectuar visitas aos “kibbutz” onde a exploração agrícola é feita com grandes avanços tecnológicos, bastando recordar a invenção da “rega gota a gota” que de lá surgiu há anos.
E foi assim que foram efectuadas mais de uma dezena de viagens a preços reduzíssemos e em que participaram umas centenas largas de agricultores portugueses. Até o pai de Cavaco Silva foi um dos viajantes.
Refiro-me a este caso, nesta altura, porque se trata de uma espécie de prenda de Natal. Prenda que se oferece ao actual e novo ministro da Agricultura que, ao entrar no ano de 2010, sendo novo naquele lugar, poderia pegar na ideia e querer, definitivamente, alterar o panorama que se vive por cá de uma agricultura familiar e incomportável com a união que se impõe, sobretudo quando somos pequenos e não conseguimos sair da nossa menoridade de tamanho e de saber.
Não consegui nada anos atrás. Vou conseguir agora?

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

NATAL

A data chega, infalível
cada ano, sem faltar
com festejos, consumível
dizem ser tempo de amar
sem ser com amor carnal
distribuir amizade
pelo menos no Natal
porque s’afasta a maldade
como manda o calendário
25 de Dezembro
como se fosse um notário
se tu t’esqueces eu lembro
boas-festas p’ro vizinho
seja amigo ou nem isso
há que parecer bonzinho
para depois dar sumiço.
Antes da data festiva
às compras se tem de ir
gastar pouco é missiva
faz falta é iludir.

Mas se no dia seguinte
for preciso fazer mal
com o máximo requinte
já se esquece o ideal
isto de ser comandado
pela folha da agenda
cumprindo sempre o feriado
como sendo uma encomenda
é caso p’ra perguntar
s’aquilo que está marcado
é que tem de se levar
até estar realizado

Cumpramos o estabelecido
façamo-lo tal e qual
será ele parecido
com todo e qualquer Natal

HOT CLUB E NATAL



NÃO HÁ COINCIDÊNCIAS, segundo alguns fazem questão em afirmar. Eu, que não sei nada, prefiro optar pela tese das circunstâncias, talvez por ter convivido, durante um ano, com o filósofo Ortega y Gasset, quando ele aqui se refugiou, amuado com o que estava a ocorrer no seu País pela mão do Franco. Mas isto vem a propósito do fogo ocorrido na madrugada de anteontem que destruiu a cave onde, durante mais de sessenta anos, esteve instalado o Hot-Club de Portugal.
Mas eu explico: nessa altura, conforme também aqui deixei expresso, por ser amigo do dono do Maxime, na praça da Alegria, em Lisboa, ali ia com frequência e, uma noite, assisti a uma limpeza que ocorria numa cave ao lado da referida casa de espectáculos. E, ao aproximar-me para matar a curiosidade, entrei e deparei com um espaço numa cave que me deu logo a ideia de ser algo que se adaptava perfeitamente ao que o meu amigo Luís Villas Boas dizia que precisava para instalar o “seu” clube de jazz. Ele, que tinha sido meu colega de escola primária e a sua mãe até era professora e que morava perto da casa da minha família, foi de seguida informado e, no dia seguinte, fomos ambos bater à porta para, de dia, nos certificarmos de que o sítio servia para o que se prensava. E era. Foi assim, portanto, que ali ficou instalado o local onde passaram tantos amantes daquele tipo de música, portugueses e estrangeiros. E a circunstância de eu ter sido apenas quem descobriu o sítio não influenciou em nada o êxito que o clube obteve ao longo de todos os anos de existência.
Nesta altura de Natal, uma tristeza foi substituída por um contentamento. É que, tendo o fogo acabado com umas instalações que guardavam história, pelo menos já foi anunciado que a Câmara Municipal de Lisboa disponibilizou a sala 3 do Cinema S. Jorge para ali se instalar o que não deve ser mais uma coisa a desaparecer do nosso convívio, sobretudo porque se trata de algo que sempre foi cuidada com enorme carinho e inteiro desapego de lucros por pessoas que se entregarem à causa da música de jazz, seguindo o exemplo do meu querido amigo Luís Villas Boas, que se entregou de alma e coração a uma obra que teve depois muitos seguidores.
Ora aí está um acontecimento que devo considerar como uma prenda de Natal. Foram as tais circunstâncias que me vieram trazer esta alegria que, de seguida, tapou o desgosto de ver morrer o que eu ajudei a criar. Julgo que só o Luís, se fosse vivo, poderia testemunhar este facto, mas também não faço questão de marcar a passagem como acontecimento de grande valia. A outra testemunha e também amigo de muitos anos, o Luís Sangareau, deixou-nos há pouco tempo. Se calhar vão ficando os piores!...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

ATRASADO

Estou de facto atrasado
já não vou chegar a tempo
se é que alguém está parado
por qualquer contratempo
eu que fui toda a vida
pontual, cumpridor
não era nesta corrida
que ia ser fautor.
Tenho ânsias de partir
porque aqui não faço nada
o que me resta é sair
pois já passou a minha vez
de ser útil
de acabar com o talvez
não quero mais parecer fútil
e de já não ter valor
pois agora só me resta
sem pavor
ver terminar a festa
sentar-me e contemplar
que isto de ir embora
é com paciência esperar
pelo dia e pela hora
e se não foi antes, então
é porque era esse o destino
e ninguém tem na própria mão
o fim de ser peregrino

Pelo comboio eu aguardo
bem sentado na estação
não vale a pena ir-me embora
assim fico mais à mão
e como o que eu não quero
é lugar sentado, marcado
o que pedi e espero
é que o lume seja ateado
p’ra nada de mim restar
nem ninguém por mim chorar

Estou atrasado, é tarde
bem queria antes partir
sempre sem fazer alarde
é o caminho a seguir
andei de relógio em punho
p’ra cumprir a minha sina
não preparei nem rascunho
porque morrer é rotina
o próprio não manda nela
como também p’ra nascer
pertence tudo à novela
do fazer e desfazer

Tudo tem a sua altura
mesmo sem nos conformarmos
ter cumprido a aventura
de esperar por abalarmos
é o preço que se paga
até chegar ao fim da praga!




SEMPRE ATRASADO



Já todos sabemos que José Sócrates não tem o culto da pontualidade. Os portugueses que, valha a verdade, não são, na sua grande maioria, cumpridores desse princípio de, pelo menos boa educação, mesmo assim, por se tratar do comportamento de um responsável principal pela condução do Governo, não há dúvida que os atrasos horários as múltiplas manifestações, mais ou menos festivas, que resultam de inaugurações, a maior parte delas claramente evitáveis ou, no mínimo, não merecendo a deslocação de comitivas de apaniguados que aproveitam todas as circunstância para besuntar José Sócrates, essas procissões também são alvo do relógio atrasado do residente em S. Bento.
A questão agora é saber se, perdendo o chefe do Governo tanto tempo com essas passeatas excessivamente frequentes, lhe restará alguma disponibilidade para, como isso, sim, lhe compete mais do que tudo, no seu gabinete dar seguimento a múltiplos assuntos que se encontram por solucionar e bastaria ter assistido ontem ao debate quinzenal que teve lugar na Assembleia da República para se tirar uma pálida ideia daquilo que é forçoso e urgente fazer para não continuamos a assistir à paralisação do nosso País, sem darmos mostras de sermos capazes de mostrar coragem e saber para não ficarmos sempre no mesmo sítio, que é, como e sabe, o da estagnação.
O ar sempre de riso de gozo que põe quando os deputados das oposições expõem as suas discordâncias e a crítica aberta que faz sempre que os mesmos deputados acrescentam algum comentário, exigindo um respeito de que ele não dá mostra de praticar, tal posição é prova de que José Sócrates se considera encontrar-se numa posição superior a todas s outras áreas partidárias.
Mas a este atrasado José Sócrates, não é só na falta de respeito pelas horas a que deve chegar aos locais onde ele é guardado que se nota tal incumprimento. É, sobretudo e com enorme gravidade, no que se refere à lentidão em fazer andar o País e em mudar as medidas que já deram vastas provas de que não são as mais indicadas, é no atraso em que nos encontramos em relação à maioria dos nossos parceiros europeus, é face a isso que o não cumprimento de horários estabelecidos que dizem respeito ao tão desejado melhor estar dos portugueses merece a crítica severa dos cidadãos deste País.
Eu, que não tolero os teimosamente atrasados que, na maioria dos casos, até usam relógios de marca afamada e de alto preço. Embora, não seja isso que transmite aos desrespeitadores da pontualidade a obrigação de não fazer os outros esperarem.
E nós, no caso de José Sócrates, andamos a esperar demasiado. E já agora, como o período que se atravessa, apesar de ser de Natal nem por isso se mostra festivo nos corações mesmo dos mais confiantes, como é de imaginar que o Natal para o primeiro-ministro que temos seja para desejar que as coisas por cá se mantenham dentro das perspectivas que ele teimosamente persegue, sem condições para dar uma volta à sua presunção de que sabe tudo e de que os outros é que andam enganados, os desejos que se lhe devem enviar é de que nada corra de acordo com o seu espírito muito pessoal.
A menos, claro, que, entretanto, se verifique uma mudança radical no seu comportamento.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

COMO SEREI?

Gostava de me conhecer bem por dentro
fazer como se faz a qualquer fato
esmiuçar
desencantar
abrir as bainhas
tirar as linhas
ir fundo avançar até ao centro
não deixar qualquer coisa ao desbarato

Tudo aquilo que mostro cá por fora
o que está à vista vêem todos
É bonito?
É esquisito?
Será que agrada?
É só fachada?
é apenas o que eu tenho agora
o que não quero é causar engodos

Porém, as minhas dúvidas persistem
eu próprio como sou não saberei
pergunto-me
consulto-me
bisbilhoto as entranhas
p’ra descobrir coisas estranhas
todas as portas fechadas resistem
e respondo a mim mesmo que não sei

No entanto, há dias em que acerto
será quando não ando angustiado
aceito-me melhor
dou-me mais valor
pareço-me normal
nada encontro mal
e sobretudo quando eu desperto
não sinto ânsias de olhar p’ro lado

Mas nada disto assim me dá resposta
fico sem saber o que tanto quero
conhecer-me
entender-me
saber tudo sobre mim
não ter dúvidas assim
saber se existe alguma proposta
que me tire todo este desespero

Para ser o juiz de própria causa
sendo muito suspeito no apreço
não serei eu
a tirar o véu
não será honesto
pois darei pretexto
a que esse gesto provoque náusea
e não tenha jus a qualquer sucesso

Que gostava de me conhecer fundo
lá isso dúvidas não oferece
não desanimo
por isso primo
enquanto cá ando
não perco o mando
já que faço questão de neste mundo
perseguir tudo que tem interesse

Se não o que me resta é esperar
espreitando de lá do outro lado
onde estiver
hoje sem crer
se vê depois
lá direi pois, pois
aceitando o real e tolerar
seja ou não seja do meu agrado





NATAL


ESTE PERIÍODO que está, uma vez mais, a preencher a atenção de uma esmagadora quantidade de seres humanos, uns porque a sua tradição religiosa conduz a que se sigam normas que, desde há milhares de anos, levam a que se sigam hábitos de veneração do Presépio, isso numas zonas mais tradicionais, que, por influência dos povos do norte europeu, o Pai Natal tomou o lugar do Menino nas Palhinhas.
Isso, claro, seguindo o Calendário Gregoriano, posto que outras culturas e crenças diversas não cultivam o hábito mais ocidental de entender este momento, que se repete anualmente, como sendo a altura de todos quererem dar mostras de fraternidade universal, de evidenciar generosidade em relação aos próximos.
Isso o que consta dos costumes, o dar as Boas Festas a torto e a direito, empregados aos patrões (pelo menos até há pouco tempo atrás era assim), pedintes que aproveitam a altura para tentar recolher algum benefício da eventual generosidade alheia, ministros que dão ares de enorme reverência perante o seu Chefe, enfim, um despejar de salamaleques que podem ter o seu efeito benéfico algum tempo depois.
Eu já o referi neste blogue do ano passado. Não tenho pelo período do Natal uma veneração que me leve a encontrar no meu interior uma grande felicidade. Não sou partidário de festividades com data certa, esta e outras, e muito menos me conformo com a ideia de que é no Natal que temos de ser bonzinhos, de dar esmola aos pobres e de nos incomodarmos com os maus momentos que estejam a passar outros cidadãos. E, particularmente neste momento, em que exitem centenas de milhar de famílias portugueses – e não só – que lutam com os problemas que o desemprego provoca, toda essa avalancha de gente que não faz parte das nossas relações, não será com os votos de Boas Festas e de um Ano Feliz que lhes traz o mínimo de consolo e de ajuda para que a mesa da consoada tenha alguma coisa para calar os estômagos.
Sou assim. Nu e cru. E é por tal motivo que encolho os ombros às falsidades que o Homem utiliza para esconder a sua indiferença em relação ao que se passa da sua porta para fora.
E, apesar de manter essa posição de afastamento em relação aos votos que circulam por aí, neta altura, agora através dos meios lectrónicos, o que rouba muita receita aos Correios, mesmo assim limito-me a responder aos que são dirigidos, pois não quero passar por mal educado.
Por aqui me fico. E como gostaria de ter escrito um texto de contentamento pelo Natal que está aí a chegar.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

TER AMIGOS

Ter amigos nos humanos
quem não tem esse desejo?
Melhor ainda que manos
que nem sempre dão ensejo
ambição
é uma sorte encontrar
tamanha felicidade
porque sempre pode dar
prova de fidelidade
comoção

Mas nos homens é seguro
encontrar até demais
o que quero é com apuro
ter amigos animais
são seguros
que não pedem nada em troca
dão-nos inteiro amor
chega-lhes uma beijoca
para sermos seu tutor
como muros

O pior é quando humano
sem o mesmo sentimento
sem temer de fazer dano
não cuida do seu sustento
se desleixa
deixando de ser patrono
já não sendo novidade
o gesto é o abandono
mas que grande crueldade
sem queixa
Isso mostra afinal
que o homem é bem pior
do que qualquer animal
seja ele o que for
perverso
por isso prefiro até
amigo de quatro patas
tê-lo aqui bem ao pé
passando horas pacatas
e converso

É ROUBAR ATÉ FARTAR!!



SE EU AINDQ FOSSE director de um jornal, como aconteceu durante muitos anos, eu não perdoaria a esta gente que nos governa, os de hoje como os que estiveram antes neste período pós-25 de Abril – pois que, no tempo da Ditadura, a Censura e a PIDE não permitiam que, abertamente, se criticassem os “patrões” deste País -, eu dava-lhes para baixo em relação à incompetência, à falta de senso, ao desmazelo e ao interesse único que demonstram possuir de zelar pelo seu próprio bem-estar e não cuidar de cumprir minimamente a obrigação de levar Portugal pelo melhor caminho que nos equivalha aos parceiros europeus. Disso podem estar certos os que não tiveram ocasião de ser leitores do semanário “o País”, entre outras publicações, um Jornal absolutamente independente, sem ligação a qualquer partido político e apenas respeitando os princípios da Democracia, isto é, permitindo que todas as correntes evidenciassem as suas opiniões.
Este preâmbulo serve para me insurgir contra a onda de assaltos à mão armada que se estão a realizar e cada vez em maior número, atacando estabelecimentos de todos os géneros e chegando até ao ponto de serem objecto desses roubos casas comerciais de pouco vulto. Mas, sobretudo ourivesarias, bancos e até carrinhas de transporte de valores, esses alvos constituem agora o dia-a-dia dos gatunos que, de uma forma organizada, não se intimidam e levam avante os mais sofisticados meios de actuação, até utilizando explosivos, como foi o caso de duas carrinhas que foram vítimas desses intentos.
Mas, o estranho é que, embora sem grandes explicações por parte da autoridades policiais – que utilizam o meio de que mais gosta também o Governo, de não dar satisfações aos cidadãos -, consta que os autores de tais vilanias serão gente com origem de países de Leste e, num e noutro caso, de gangs brasileiros. Quer dizer, não nos chegavam já os roubos ditos caseiros, para sermos alvos também de malfeitores vindos de fora que, para além dos prejuízos materiais que causam, ainda contribuem para que a imagem nacional sofra as consequências que se reflectem no turismo que, para acumulação com situações como as das crianças estrangeiras que são extorquidas das suas famílias, como sucedeu no Algarve e nunca foi descoberto o autor, só fazem criar um pavor daqueles que nos pretendem visitar mas que mudam de destino por começarem a considerar que Portugal é um “País perigoso”.
E o Governo, através dos meios de que dispõe – que não é o ministro do pelouro respectivo que, vindo do anterior grupo, só dá mostras de petulância e de pouca ou nenhuma capacidade de enfrentar os problemas com autoridade e saber –, é o Governo que tem obrigação de aparecer em público e falar das medidas que está disposto a tomar para que situações deste tipo não se repitam. E, claro, a pôr em ordem a Justiça que temos (ou não temos), para que os julgamentos, quando os haja, sejam céleres e de mão pesada, para dissuadir os potenciais bandidos a meterem-se em aventuras semelhantes.
O que é forçoso é que os governantes não permaneçam de bico calado e que vão dando contas aos portugueses das medidas que vão sendo tomadas, assim como o próprio Presidente da República, ainda que não lhe compita interferir na acção governativa, deve evidenciar o seu interesse para que a evolução da vida portuguesa corra da melhor maneira que for possível e, por isso, não permaneça sem dar mostras públicas de que também não se encontra satisfeito com as medidas que estejam a ser tomadas, isso por mais que as oposições se insurjam com afirmações de que o Chefe do Estado está a tomar partido, como têm feito cada vez que se nota uma afirmação de Cavaco Silva que pareça ser de inclinação para uma das partes.
O Presidente não pode, como já afirmei, é manter-se mudo quando é mais do que evidente de que os que têm nas mãos a condução das medidas que se devem tomar não estão a dar mostras de pretender solucionar os problemas.”Cada macacão no seu galho”, muito bem, mas se um dos galhos está a funcionar mal, então o outro deve arrepelar-se para que não continuem os erros.
Poderá parecer uma graça e até de mau gosto, mas os cidadãos deste País estão já tão fartos de burrices em série, que, à falta de outras medidas, pelo menos que se riam.

domingo, 20 de dezembro de 2009

ANDAR POR CÁ

Andar por cá a arrastar-se
sem que a idade ajude
vá lá a gente fiar-se
pois tudo nos desilude
e os dias vão passando
vem mais um aniversário
sem saber como e quando
acaba este calvário

O sofrer com a doença
ninguém quer mas tal sucede
lá se vai mantendo a crença
de vir o que bem se pede
p’ra não fugirmos à sina
de dar com o inesperado
situação que mofina
mesmo passando ao lado

Mas, p’ros novos ensinar
devem cá estar os mais velhos
se dizem não precisar
sempre metem os bedelhos
mesmo p’ra não repetir
os erros já praticados
para poder prosseguir
caminhos novos traçados

Ao menos que o sacrifício
que cada idoso suporta
preste algum benefício
e ajude a abrir a porta
qu’aos novos a vida of’rece
com teoria sem prática
e a juventude merece

São assim as gerações
e os que ainda se movem
assumem obrigações
por isso não se comovem

DESENTENDIMENTOS



ESTE SÉCULO que está a decorrer e que constitui o segundo que nos apanha em pleno, a nós que começámos a nossa vivência no decorrer de 1900, não se pode dizer que nos seus primórdios tenha trazido um bom ambiente de felicidade à maioria das populações da Terra. Esta crise que nos apanhou em cheio e que se mantém ainda por um tempo que não se sabe quando chegará ao fim faz recordar, a quem é desse tempo, o que se passou também por volta de 1929 e que, segundo dizem, também constituiu uma verdadeira atrapalhação para os habitantes terrestres que sofreram as consequências da escorregadela económica de então. Até parece que os inícios dos séculos não trazem a quem os aguarda um sinal de esperança e vontade de prosseguir nessa caminhada pelos anos fora.
Só que, nesta altura em que se beneficia (!?) das vantagens dos avanços tecnológicos que eliminam as distâncias e em que as comunicações se realizam num curtíssimo espaço de tempo, qualquer notícia, boa ou má, atravessa o Planeta de ponta a ponta e o que antes levava um certo tempo a chegar longe, agora é em fracção de segundos que se toma conta de que uma crise financeira começada noutro continente nos vai bater à porta logo de seguida. E o mesmo se passa com as epidemias, como está a ocorrer com a gripe A, que nem dá tempo para serem tomadas as medidas de precaução porque a notícia nos avisa ao mesmo tempo em que a doença se instala.
O que, porém, não decorre com a mesma ligeireza são os entendimentos entre os responsáveis maiores dos diferentes países que, mesmo reunindo-se temporariamente em congressos e outros tipos de encontros, dando abraços e distribuindo sorrisos, fazendo as fotografias clássicas que chamam de família”, apesar disso tudo e das boas almoçaradas partem depois para os seus pontos de origem e não dão garantias de prosseguirem afincadamente no que deveria constituir a principal preocupação de todos os humanos, os que mandam e os que obedecem, e que é o fazerem todos força para o mesmo lado, sobretudo neste período em que não se esconde mais o que vai constituir um risco grande para o Globo terrestre, o aquecimento da Terra e as mudanças radicais de temperaturas e das subidas das águas dos oceanos e dos mares, assim como, isso digo eu, o esgotamento da água doce e as alterações fulcrais que se verificarão na agricultura, alterando profundamente as gastronomias de todos os seres.
O resultado saído da Cimeira de Copenhaga é bem a prova de que não são de grande optimismo as perspectivas que se apresentam às gerações de hoje e às que surgem a seguir. Um acordo global que era essencial sair da referida reunião dos 119 líderes de 193 países que estiveram presentes na Dinamarca durante um recorde de 13 dias, isso só vagamente ocorreu. A China, actualmente uma das mais importantes economias mundiais, deu mostras de não admitir que lhe imponham regras que provoquem um travão no seu desenvolvimento. Os E.U.A. foram claros ao declarar que necessitam de mais um ano para se adaptarem às normas das alterações climáticas e a Europa não conseguiu a força negocial bastante para fazer frete aos E.U.A. à China e à Índia. E as expectativas quanto ao que poderá surgir em Fevereiro próximo e depois em Outubro de 2010, nos dois encontros programados, constituem uma derradeira esperança de que o que não se conseguiu agora em Copenhaga venha a encontrar um caminho mais satisfatório. A derradeira esperança só reside na eventualidade de, em Dezembro de 2010, ser assinado um compromisso que fixe a redução, em todo o mundo, da temperatura que será admissível para que a vida seja sustentável no globo em que existimos.
Ao fim e ao cabo, parece que se justifica a tarefa daqueles que, no mínimo, têm o mérito de procurar avisar com antecedência, de molde a que não cause surpresa aquilo que possa ocorrer num futuro neste mundo de Cristo. Esses, que chamam a atenção para situações possíveis, e que, por isso, são apelidados de “profetas da desgraça”, não estarão a contribuir para que se evitem as euforias perigosas que terminarão com desmedidas desilusões? Por agora, basta-nos aproveitar as consequências do susto que todo o mundo apanhou e ainda está a sentir, com a tal crise e com os seus resultados, sendo um deles, bem grave, o do alto nível de desemprego por todo o lado, tirando-se daí as lições que pudermos reter na memória. Isso, se o Homem for capaz de se emendar com os erros que pratica e de se precaver a tempo!
Mas o resultado obtido com a Cimeira de Copenhaga não veio, infelizmente, trazer, para já, razões para alimentarmos esperanças de que se pode contar com a sensatez dos homens dos diversos países para que se venha verificar, a curto e até a médio prazo, uma mudança radical que torne a vida aceitável da maioria dos muitos mil milhões de habitantes da Terra.
Bem gostaria eu de, após o encontro de tanta gente com poder de inúmeros países, constatar que o panorama é de melhoria indiscutível e que existem razões para começarmos a cultivar o optimismo. Mas é isso sério?

sábado, 19 de dezembro de 2009

ACORDAR MORTO

Não tenho medo da morte
é coisa que temos certa
não é por falta de sorte
disso ninguém se liberta

Passam Natais passam férias
a vida corre depressa
se alguns passam misérias
Nã a outros nada aconteça

À espera por cá se anda
de algo que vem depois
há quem leve vida branda
não precise de outros sois

A todos esses contemplo
e as minhas contas faço
há os servem d’exemplo
e provocam embaraço

A morte tem várias formas
por vezes é traiçoeira
não tem regras e nem normas
muito menos tem fronteiras

Porque mais cedo ou mais tarde
ter connosco lá vem ela
e sem fazer grande alarde
sempre provoca mazela

Com franqueza não invejo
dos outros o seu conforto
a coisa que eu mais desejo
é um dia acordar morto

BELÉM FUNCIONA?



ATÉ TEM RAZÃO Carlos Cruz quando, através do seu advogado Sá Fernandes, requereu ao tribunal que dissesse, uma vez por todas, no processo de pedofilia que já leva mais de cinco anos de julgamento, se é culpado ou inocente.
Claro que inocente é difícil que seja o veredicto, pois, neste caso, depois de ter estado sob prisão uma larga temporada, seguramente que iria exigir uma indemnização do Estado e esta não seria de pouca monta. Mas, se é culpado, ele e os outros envolvidos, então que não se prolongue por mais tempo o que já ultrapassou as 449 sessões e 1725 horas de tribunal, num caso em que são 32 as vítimas, muitas delas que passaram entretanto da juventude à maioridade.
Eu sei que estamos em Democracia e que, por esse facto, a política e a justiça situam-se em campos separados e uma não pode interferir na outra. Se vivêssemos um regime ditatorial, claro que já teria um Governo exercido pressão sobre os juízes que têm estado envolvidos no julgamento e o assunto teria sido resolvido num abrir e fechar de olhos. Mas, felizmente não é o caso. Mas, também nem tanto ao mar nem tanto à terra. Então, um Presidente da República, embora sem poder para intervir, não poderia ter já dado a cara e aparecer em público a expor com clareza a sua posição que, creio eu, não poderá ser de acordo com esta vergonha jurídica?
Permito-me opinar no que diz respeito à actuação do Chefe do Estado que, embora com poderes definidos na Constituição, não está proibido de expor os seus pareceres e de se colocar, pelo menos perante a opinião pública, ao lado de uma das partes, quando estão em causa situações que requerem tudo menos o mutismo da figura máxima da nossa República.
É verdade que, ao actuar desta maneira, o Homem grande de Belém se expõe a que surjam defensores da sua posição e adversários da mesma, mas essa tem de ser a penalização de quem não se situa naquele lugar apenas para presidir a inaugurações e a manifestações de qualquer ordem. Ficar mudo e quedo para defender a sua imagem pode ser muito prudente, mas não tem a menor utilidade. Assiste ao descalabro muito recolhido no seu palácio e os cidadãos que aguentem as vilanias que ocorrem!...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

REI INFELIZ


Todos nós temos histórias para contar
só que nem todos o sabemos fazer
e se temos pretensões
de ser poetas
então ainda mais difícil
se torna levar a cabo essa tarefa
Pois aqui vai:

Era uma vez um rei
que vivia infeliz
e que queria encontrar na sua grei
alguém com cariz
que lhe pudesse transmitir
alguma felicidade
que quisesse dividir
nem que fosse só metade
do prazer de estar vivo
e de transmitir aos demais
algo de positivo
como jogos florais

Mas havia um problema
é que um sábio do seu reino
transmitiu-lhe um esquema
que não se tratava de um treino:
pois o rei tinha de usar
do súbdito sua camisa
e com ela até suar
para resultar a pesquisa

Correram o território
na busca de um felizardo
deu até um falatório
podia ser um bastardo
mas tinha por força de ser
quem mais feliz fosse
que mesmo sem compreender
desse aos outros um ar doce

Tanto correram na busca
que por fim lá encontraram
a coisa mais patusca
que nem mesmo imaginaram:
foi lá no alto um pastor
que, com as suas ovelhas,
dava e recebia amor
quer das novas quer das velhas
passava o dia a rir
feliz com a sua vida
dali não queria sair
pois tinha cama e comida

Houve que lhe contar
a razão dessa visita
que era do rei precisar
de pôr fim a uma desdita
de feliz não conseguir
obter esse condão
por isso ter de pedir
com toda a compaixão
que do reino o mais feliz
lhe desse a sua camisa
para servir de chamariz
para quem a utiliza
pois só dessa maneira
o rei podia atingir
o alto da barreira
e a felicidade conseguir

Um problema então surgiu
e tal não era esperado
pois a todos confundiu
fez passar um mau bocado
é que o generoso pastor
o do reino, o mais feliz
o tal do grande amor
ficou então infeliz
pois a camisa para o rei
a que lhe tinha sido pedida
ele respondeu: eu não sei
como sarar essa ferida
pois desde o dia em que nasci
sabe quem comigo convive
eu camisas só as vi
eu camisa nunca tive!

CONSCIÊNCIA TRANQUILA


A CONSCIÊNCIA tranquila nem sempre reverte em benefícios para quem a tem. E hoje, eu só continuo a perguntar se este nosso País não terá forma de encontrar, no vasto ambiente governamental, o actual e nos que passaram recentemente, gente capaz de tomar consciência de que, nas alturas de maiores dificuldades financeiras, é exigido que se verifique uma actuação condizente com a necessidade de economizar nos gastos que podem e devem ser deixados para alturas de visível fartura. É que, apesar da situação que se vive, dá a impressão que, com frequência, os governantes não são capazes de, explicando-se claramente aos portugueses, eliminar certas resoluções que seriam perfeitamente compreendidas e até aplaudidas pelos cidadãos, apesar dos seus hábitos e de algumas tradições.
Explico o que acabo de referir. Não seria natural que, este ano, e dadas as circunstâncias bem conhecidas e sofridas da maioria dos naturais deste País, se pudessem ultrapassar algumas posições que constituem prosseguimento do que te acontecido em épocas anteriores. As iluminações das ruas da maioria das cidades portuguesas, motivadas pela época natalícia que se atravessa, dado o gasto que provocam e, ainda por cima, contrariando o que ficou acordado na recente Cimeira e Copenhaga, deixariam alguém revoltado, sobretudo se fossem claramente explicadas as razões dessa medida? E, conforme essa, outras atitudes do mesmo cariz seriam bem recebidas e teriam efeitos positivos na conjuntura actual.
Anda-se já a preparar o Centenário da Comemoração da República, isso no próximo ano e em 5 de Outubro. A Comissão que foi criada para o efeito conta com um orçamento, proveniente de dinheiros públicos, de dez milhões de euros, sendo que já foi contratada a construção de um site cujo design custou 99.500 euros e está também estabelecida uma Comissão Consultiva que conta com 17 pessoas, a qual provavelmente terá um pagamento não conhecido. Quer dizer, são tudo gastos que, sem discutir se as intenções das manifestações são justas ou não – e o caso da comemoração do centenário da República é-o certamente -, mesmo assim deveriam ser encontradas formas de haver prudência nos dispêndios.
Mas, posta esta questão sobre a qual não me adianto mais, refiro-me agora à notícia de que o antigo presidente dos CTT, Horta e Costa, juntamente com mais dezasseis arguidos, foi acusado o Ministério Público de dois crimes, de participação económica em negócio e administração danosa, que o mesmo declara não terem fundamento, mas em que os prejuízos causados à empresa dos correios se cifra em 13 milhões de euros.
A corrupção passiva e activa, o branqueamento de capitais, a participação económica em negócios, a administração danosa e a fraude fiscal, entre 2002 e 2005, tudo isso faz parte de uma série de danos de que os CTT terão sido vítimas, faltando assim conhecer, no final do processo, o que os Tribunais decidirão.
E estamos assim. Por um lado os gastos exagerados e perfeitamente evitáveis por parte do Estado, e, por outro, as roubalheiras de que o mesmo Portugal é vítima. Tudo isso à custa dos cidadãos que, arrastando-se com as dificuldades, só tomam conhecimento – quando tomam! – do que lhes sai dos bolsos.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

HÁBITOS

O hábito é fazer sempre igual
repetir o conhecido
o homem, tal ser mortal
perde por vezes sentido
e o não ter que inventar
mudar de jeito e de forma
até dá para descansar
e com isso se conforma

O hábito faz o monge
diz o popular ditado
que já vem de muito longe
o dia em que foi criado
p’ra quê hábito mudar
se aquilo que vestir
é que parece indicar
a forma de seduzir

Há hábitos que são bons
e outros que são bem maus
tal e qual como os sons
que têm diferentes graus
eu costumo fazer isto
a isso não me acostumo
actuar como previsto
é um vício como o fumo

Assim é que me dá jeito
não me obriguem a mudar
não pretendo ser perfeito
só para a’lguém agradar
o seguir por um caminho
que eu há muito conheço
como cantar um fadinho
e conseguir o sucesso

UNS SOFREM, OUTROS RIEM-SE...



NÃO VALE A PENA insistir no assunto que eu costumo debater? É, como se diz normalmente, chover no molhado? Trata-se apenas de uma choramingueira que não leva a lado nenhum? Mas então, se ninguém levantar a voz, nem que seja escrevendo no computador, tudo continua na mesma ou caminha ainda para pior? Pois que seja, mas, mesmo tratando-se da época do Natal, em que a maioria das pessoas mete a viola no saco e dedica-se apenas a dar mostras do seu cinismo com os desejos de “boas festas” a torto e a direito, apesar disso não sigo esse caminho e não contenho dentro de mim toda a revolta que, como português e cidadão, não aceita o desleixo em que nos deixámos cair.
O drama que se generalizou pela maioria esmagadora da população portuguesa, o de não ter dinheiro mínimo que chegue para fazer face às despesas correntes de uma família e de, por isso, se irem acumulando dívidas que, em círculo vicioso, se transmitem em cadeia, esse panorama tornou-se uma vulgaridade na vida portuguesa, mas, completamente ao contrário, há por aí certa gente que, cada mês, vê acumularem-se fartos dinheiros pois que os seus vencimentos nos lugares que têm a sorte de ocupar são de tal maneira chorudos que não há crise que lhes chegue.
Já aqui tenho referido casos que têm de provocar revolta por parte dos que sofrem as consequências de baixos salários e sobretudo do desemprego, e esses casos correspondem aos altos cargos que são exercidos em múltiplas empresas públicas, onde as regalias de salários pomposos e de acréscimos com benesses sumptuosas originam o encher os bolsos de uns tantos privilegiados que, de uma forma geral, são constituídos por familiares ou amigos de governantes ou até de membros de partidos que, na altura, se encontram bem situados na escala política. Esta verdade ninguém está interessado em desmentir, sobretudo para não levantar ondas e procurar que o assunto passe o mais despercebido possível.
Mas não são apenas as empresas com intervenção do Estado que praticam tais exageros salariais. Veio agora à tona a notícia de que também os Bancos seguem a mesma norma e foi mesmo mais longe ao esclarecer que, no ano de 2008, período em que varais instituições bancárias abriram falência em todo o mundo (e por cá foi o que se conhece), cada gestor da banca portuguesa ganhou, em média, 698.081 euros, ou seja mais 13,7% do que no ano anterior.
E, para deixar bem claro o que serviu de informação ao público leitor, foi esclarecido que, por exemplo o presidente da Caixa Geral de Depósitos, Faria de Oliveira, só ele levou para casa, no final de 2008, 362.630 euros. Isto, claro, sem referir os pagamentos de despesas que terão sido consideradas como correspondendo ao cargo que exerce.
Mas, há ainda mais. Na área das reformas que, na maioria esmagadora dos cidadãos comuns da nossa Terra, andam por umas escassas centenas de euros mensais, no sector financeiro os administradores executivos, juntando o que lhes corresponde pela cessação de emprego a pagamentos baseados em acções e outras responsabilidades, auferem qualquer coisa como 20,5 milhões de euros.
Como lhes deve afligir o aumento para o próximo ano, e que está já autorizado, do custo do consumo de electricidade de 2,9% ! E que diferença lhes provoca que o poder de compra de Portugal seja inferior em 27% ao da nossa vizinha Espanha e seja só ultrapassado pela Polónia, Bulgária e Albânia, numa escala em que o Luxemburgo, esse pequeno País, se situa à cabeça no capítulo do tal poder de compra.
Repito, pois, o que afirmo acima: tem alguma utilidade, para além de transmitir a quem ler este meu blogue o que não pode passar desconhecido dos cidadãos deste País, fazer este como outros registos que, pelo menos graças à informática, pode ser divulgado. Mas só isso!...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

UM GÉNIO

Quem sou eu?
Que ando cá a fazer?
Pouca coisa, mas com grandes desejos
algumas esperanças
uns dias mais do que outros.
Daqui, da vitrina do meu café
sou um mais
só me distingo porque venho sempre
para escrever.
De vez em quando paro para pensar
para apelar à imaginação
a procurar uma palavra
um sinónimo
às vezes uma rima
a tentar não ouvir o que dizem
nas outras mesas
por vezes rindo
falando alto
dizendo coisas
e eu, quedo e mudo,
preocupado com o tempo
que me pode restar ainda com cabeça.
E escrevo, escrevo,
mas para quê?
Para quem?
Quem encontrará valor no que ponho no papel?
Procuro convencer-me que
para alguma coisa servirá
o que me dita a cabeça
.Mas toda essa gente que entra no café,
que se senta,
pede um café
assim como toda aquela
que salpica lá fora a rua,
nenhum desse povo
me parece
vir a interessar-se por aquilo que
me esforço para que mereça
algum apreço.
Apetece-me pôr uma placa sobre a mesa
AQUI ESTÁ UM GÉNIO
porque qualquer produto
precisa de publicidade

GASTAR DEMASIADO


E CÁ VOLTO EU ao tema que me desperta permanentemente a atenção, dado o panorama político, económico e social que atravessamos e de que não se vislumbra um volte-face tão depressa. Trata-se de encarar com firmeza uma atitude de suprimir os gastos desnecessários no imediato e isso, naturalmente, compete aos governantes, que são os responsáveis principais pelo desequilíbrio nas contas públicas e pelas dívidas astronómicas que já suportamos todos, sobretudo os que são mal governados.
É claro que os optimistas que existem por cá, sendo eles, de uma forma geral, pertencentes a classes que não sofrem mensalmente os efeitos dos apertos na carteira, esses insurgem-se contra os que, como afirmam, “só dizem mal” e não apontam formas de se mudar deste mal-estar. Não me podem dizer isso a mim, pois, quer neste blogue quer sempre na minha profissão de jornalista, fiz sempre questão de apontar erros mas nunca deixando de indicar os caminhos que eu considero como sensatos. Mário Soares, de quem eu não escondo o meu apreço e até uma certa amizade, num texto saído no “Diário de Notícias” veio, como sempre faz, defender a actuação de Sócrates e atacar os “pessimistas profissionais”, mas também ele não indica uma actuação clara que altere o que tem sido feito. Bonacheirão como é, nunca poderá Soares entender a má vida que a maioria esmagadora dos portugueses sofre, e ainda menos porque a sua reforma, aliada à de Maria Barroso, permitem ao casal um fim de vida agradável.
Mas eu aponto erros e indico aquilo que o Governo, este agora e os anteriores, deveria fazer e até já ter feito tempos atrás. Por exemplo, será que existe consciência das rendas que paga o Estado por espaços que estão desocupados de repartições públicas? Eu conheço vários, um mesmo na minha rua que se encontra fechado há mais de sete anos e que até o lugar de estacionamento da viatura do director, marcado por placas avisadoras, ali se encontra sem que ninguém o retire? E idênticos espaços que foram adquiridos por dinheiros públicos e que, nesta altura, não têm a mais pequena serventia? Claro que não é só em Lisboa, mas por esse Portugal fora. A notícia agora surgida de que o Ministério da Justiça gastou 15 mil euros por mês, durante quatro anos, por ter arrendado um andar em Castelo Branco, que custava 15 mil euros por mês, num imóvel degradado e muito antigo, num contrato com validade até 2005, e que nunca foi utilizado, essa asneirada (que, claro, não tem nenhum responsável!), é apenas um exemplo dos muitos que haverá que descobrir do Norte a Sul de Portugal. E, quem sabe, tudo isso talvez para “ajudar” uns amigos…
Aliás, as coisas estranhas que, no capítulo de alugueres, têm de deixar os portugueses de boca aberta, como o que foi divulgado pelo programa “Nós por cá”, da RTP1, em que o dispêndio de 2.400 milhões de euros por mês, com a utilização do novo Campus jurídico na zona da antiga Expo, nesse particular o Ministério da Justiça parece ser exímio em disparates. Então não se sabe onde poupar? Ninguém é capaz de meter mão no desvario que ataca muita gente que só faz asneiras neste País e tem nas mãos tanto poder?
Mas há mais, muito mais a assinalar. O caso dos tais submarinos que um Executivo atrasado, com Portas na pasta da Defesa, adquiriu, embora com contrapartidas que, afinal, não podem ser executadas, não se deveria anular, de imediato, esse encargo e tentar reaver o que já foi entregue? É que o próprio chefe do Estado-Maior das Forças Armadas já levantou publicamente dúvidas sobre a utilidade desse gasto de 1000 milhões de euros!
Não vou aqui, como é natural, fazer uma relação exaustiva de tudo o que poderia fazer parte de uma política de “economização” de dinheiros públicos, pois bastaria que um chefe do Governo metesse ombros ao assunto e, sem necessidade de criar mais uma comissão (isso, não!) que, com responsabilidade, se dedicasse com afinco à busca de casos concretos. E até, se fosse pedida a participação dos portugueses, através de indicações que seriam depois analisadas, por aí se encontrariam situações que poderiam ser resolvidas.
Como vê Mário Soares, como eu sempre lhe mostrei nas longas conversas que tivemos nas viagens que fizemos quando trocámos opiniões sobre o caso português, às vezes, o saber ouvir traz os seus benefícios. Mesmo que eles já não venham a tempo…

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

VOLTAR PARA TRÁS


Dizem: depois é melhor
que há perdão complacência
que do mal venha o menor
que não falte a paciência
porque p’ra trás ninguém volta

Que os que ficam, se aguentem
se tolerem aos demais
que chorem os que mais sentem
a falta de outros mortais
que p’ra trás não há quem volte

Sem perder a esperança
uns com fé outros sem ela
com ilusão de criança
se entra nessa viela
já que p’ra trás ninguém volta

Por cá já todos sabemos
o que é isso de estar vivo
e há razões quando tememos
o que há de mais nocivo
só que p’ra trás não se volta

E por muito mau que seja
mais vale ir suportando
e não há que ter inveja
daqueles que vão ficando
pois que p’tra trás ninguém volta

GENTE CONTENTE




POR MAIS que os contentinhos da silva se arrepelem e considerem que a nossa geração – porque é agora que nós vivemos – tem de andar satisfeita, eu sou dos muitos que entendem que a verdade é bem outra, pois que ela se defronta com uma bem difícil situação que os cidadãos do mundo poucas vezes terão suportado tão intensamente. É certo que as condições em que se vive actualmente, dentro das novas tecnologias e com a rapidez de conhecimentos que atravessa num segundo todo o Planeta, em que essas características permitem tanto dar as boas notícias como transmitir as desgraças e as crises, tal condição dá azo a que, como sucede actualmente, tanto uma gripe A como uma peste financeira se transmite com um simples espirro. E não vale a pena bater mais nesta tese, pois já não haverá muita gente que ainda se encontre longe da realidade da vida de hoje. Só os demasiado optimistas, que persistem em querer enganar-se com a esperança de que a felicidade se encontra basta apenas a desejarmos, são só esses que se iludem. Deixemo-los, pois, viver nessa fantasia.
Porém, quem pretende lutar, com todas as suas forças e, se bem que limitado ao poder que tiver, não esconde as realidades, esses preferem enfrentá-las, procurando ter conhecimento dos motivos que criam as dificuldades que nos envolvem. E falo pelo que se passa em todo o mundo e não apenas em Portugal. Por mim, nestes blogues tenho procurado prestar o contributo para não deixar na ignorância os que não se mostram muito dispostos a andar ao corrente do que se passa.
Nós vivemos neste País que, valha-nos pelo menos isso, tem uma História longa e que coloca o rectângulo mais a Ocidente da Europa numa posição histórica honrosa. Não nos podemos cansar de lançar aos quatro ventos tal verdade. Mas só isso não basta. Não temos apenas de nos conformar com um passado longínquo, é forçoso que demos mostras ao mundo actual que ainda somos capazes de sobressair das dificuldades que vão aparecendo e que não estamos dispostos a continuar a figurar nos lugares inferiores da escala das competências mais importantes. E é isso que, de há bastantes anos para cá, tem sucedido, quer no decorrer do regime ditatorial que tivemos quer após o 25 de Abril, em que não demos mostra de saber tirar proveito da Democracia mas de que enchemos a boca a propósito de tudo e de nada. E sobre isso nem faz falta fazer aqui uma lista dos desconsolos que enchem a memória dos que assinalam os acontecimentos.
Só nestes últimos dias se podem apontar muitas situações que têm de provocar o desânimo de todos nós, portugueses. Por exemplo, que Portugal está, cada vez mais, na mira das redes internacionais do crime, exactamente porque a Justiça por cá é coisa que até faz rir os que são hábeis no tráfico de drogas, no furto e no roubo, nas corrupções que se tornaram na coisa banal que dá fortunas a gente bem colocada e uma enormidade de comportamentos que se instalaram no nosso seio e de que não se assiste a uma maneira eficaz de lhes pôr cobro.
A política nacional, como é sabido, caiu num ciclo vicioso que nos faz a todos não confiar nos homens que se situam nos lugares cimeiros e até surgiu agora José Sócrates, ele mesmo a afirmar que “Portugal é ingovernável”, agora que não tem nas mãos o poder completo com uma maioria absoluta.
Há então razão para passarmos esta época natalícia a fazer pedidos ao Pai Natal, outros que não sejam o de fazer chegar ao nosso País um pouco de bom senso político, de entendimento entre todos os que tomam assento no Parlamento – PS e oposições - e que, por terem opções diferentes, perante o estado em que nos encontramos deveriam procurar não aumentar as dificuldades?
José Sócrates, ele de novo, fez ontem o aviso de que, se continuar a falta de acordos entre os vários partidos políticos, a renúncia a prosseguir na chefia do Governo é atitude que não será posta de lado. Poderá ser uma forma de se vitimizar, pois não quererá dar o braço a torcer e, perante a realmente difícil maneira de conduzir o Executivo sem ter na sua mão o mando absoluto, preferirá o caminho mais fácil para ele, mas bastante grandemente perigoso para o País!...
Devemos, então, andar contentinhos com tudo isto?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A MALA

Ter sempre a mala pronta para a viagem
não ser apanhado de surpresa,
sem bagagem
com destreza
com a roupa bem arrumada
isso ajuda a não perder a oportunidade
e a jogar essa cartada
não sei se com felicidade
não é fácil encontrar uma boleia
e adiar o que já estava determinado
sem ter nada de especial na ideia
e ficando bastantes assuntos de lado
e seguramente alguma coisa esquecida
não é por aí que se falta ao compromisso
e como não se pode recusar a ida
pois foi o destino que a estabeleceu
não nos competindo a nós alterar
e havendo sempre a esperança de ser o Céu

Não me escondam a mala já fechada
preparada para a viagem que for
basta apenas descer a escada
afastando todo e qualquer pavor
não sei quem irei encontrar à chegada
se será alguém conhecido
que também fez troca de morada
o que causou na altura alarido
que partiu antes e nem se despediu
numa linda tarde de primavera
houve gente que muito sentiu
mas se por mim não há ninguém à espera?

Seja como for a mala está pronta
não é por aí que chego atrasado
e é forçoso levar bem em conta
que não faço isto com completo agrado
nem importa se vou de boa vontade
vou, e pronto!
todo e não metade
meio tonto
é como tantas mais
é outra viagem
todas desiguais

Agora que estou cansado de viver
de aturar uma fatigante malta
só espero não ter de andar a correr
tranquilidade é o que me faz falta

Haja até quem me desfaça a mala
que arrume as roupas em bom local
que me conduza a bonita sala
tudo feito com ar informal
e me indique o local onde vou restar
não sei se será longa a estadia
porque bem preciso de descansar
e não me causará grande alegria
se for o mesmo que passei por cá
mas seja o que for
onde for
como for
terei sempre presente um oxalá
de que seja muito melhor do que aqui
de onde parto
e de cujo bem-estar sempre descri
por isso fiquei farto
mas de onde, apesar de tudo, levo saudades
das pessoas que me despertaram aonde fiz algumas amizades
e onde a luta me transmitiu calor
e que, mesmo com desenganos
que ocuparam uma parte da minha vida
houve sempre tempo para planos
Pode ser que um dia
seja eu à espera e a desfazer a mala
de quem terminou a correria
e me caiba a mim conduzir à sala
e a ajudar as malas arrumar
e a acompanhar para o lugar do sossego
a quem tenha chegado a hora de arrimar
e mereça também seu aconchego

Se cá fica algo são papéis
Mas também não valem cinco réis

MAROCAS!....



JÁ TIVE, NESTE ESPAÇO, ocasião para me referir a esse homem público que, ao ter passado, há dias, o seu 85.º aniversário, deu ocasião a que fosse referido, por esse motivo, nalguma comunicação social portuguesa. E, da minha parte, devido ao facto de ter sempre acompanhado, relativamente de perto, a caminhada de quem, apesar da idade a que já chegou, ainda dá mostras de estar em plena forma e de ter para dar ainda bastante da sua aptidão para, pelo menos, aconselhar os mais novos, não lhe recuso o reconhecimento de que, aprecie-se ou não a sua actuação política, se trata de alguém que foi de enorme utilidade na salvação do fundamental desse movimento militar contra a Ditadura, dado que foi graças à sua intervenção que a Democracia, então perigosamente ameaçada, conseguiu ser implantada em Portugal. A juventude de hoje e os que não assistiram ao descalabro que esteve para ocorrer nessa altura, não podem comungar do respeito que é devido a Mário Soares, dado que não é apenas pela sua actuação como Presidente da República e na posição de chefe de um Governo que se pode avalisar devidamente a sua enorme importância como pedra fundamental para ter sido dada a volta ao período ditatorial que se viveu por largo tempo no nosso País. A História, daqui a alguns anos, liberta de tendências, contará a verdade. Assim espero.
No que me diz respeito, por ter idade para isso e ainda porque a minha profissão de jornalista me deram oportunidade para andar atento às ocorrências que se foram desenvolvendo, antes e depois da Revolução, e também porque acompanhei Mário Soares em dez viagens que fez ao estrangeiro, na altura em que era fundamental obter o apoio de vários países para a nossa adesão ao Mercado Comum Europeu, tive oportunidade de constatar como o nosso político era favorecido com a consideração e respeito por parte de inúmeras figuras gradas de governos estrangeiros, facto que na altura não era tão corrente como hoje sucede. Sobre estas viagens tenho para contar muitas facetas que bem demonstram a maneira descontraída e natural como o nosso representante solucionava os problemas, mesmo os mais bicudos, com a maior naturalidade e simpatia.
Como director que fui do semanário “o País”, não pude deixar de levar em consideração a opinião que mantinha e conservo sobre o nosso político e por isso, nas alturas mais difíceis da sua actuação como chefe de um Governo, contra uma opinião que começou a correr por cá que dava mostras de não apoiar as medidas que eram tomadas na época, nunca deixei de encontrar motivos para justificar os passos que eram dados em S. Bento e isso porque não vislumbrava no ambiente político da altura quem pudesse prestar melhor contributo em relação aos problemas que, já então, existiam no nosso País.
Como sempre, tive razão antes de tempo, mas isso não obstou que tivesse passado um mau bocado, pois as vendas de “o País” ressentiram-se de tal facto. Só que eu nunca fui de torcer e sempre preferir quebrar, sobretudo se a causa que defendo me parece ser a perfeita. E, nessa altura, estava em causa preocuparmo-nos com a situação do nosso Portugal e havia que tomar uma posição em vez de procurar apenas seguir a corrente para vender mais Jornal. Não me arrependo.

domingo, 13 de dezembro de 2009

VELHICE

Que fazes aqui tu velho
sentado neste jardim
aguardas acaso o fim
farto de te veres ao espelho?

Olha que o tempo passado
bom ou mau, seja qual for
deves guardar com amor
e não apartá-lo ao lado

O que viveste foi vida
ninguém t’a pode tirar
o que se pode guardar
é sempre antes da partida

Há quem fosse mais feliz
que a sorte lhe não faltasse
mas talvez a quem amasse
vivesse noutro país

Conforma-te, pois, meu velho
que chorar não vale a pena
se a vida não foi pequena
deixo-te aqui um conselho


GASTEM, GASTEM!...



EU SÓ CONTINUO a perguntar se este nosso País não terá forma de encontrar, no vasto ambiente governamental, o actual e nos que passaram recentemente, gente capaz de tomar consciência de que, nas alturas de maiores dificuldades financeiras, é exigido que se verifique uma actuação condizente com a necessidade de economizar nos gastos que podem e devem ser deixados para alturas de visível fartura. É que, apesar da situação que se vive, dá a impressão que, com frequência, os governantes não são capazes de, explicando-se claramente aos portugueses, eliminar certas resoluções que seriam perfeitamente compreendidas e até aplaudidas pelos cidadãos, apesar dos seus hábitos e de algumas tradições.
Explico o que acabo de referir. Não seria natural que, este ano, e dadas as circunstâncias bem conhecidas e sofridas da maioria dos naturais deste País, se pudessem ultrapassar algumas posições que constituem prosseguimento do que te acontecido em épocas anteriores. As iluminações das ruas da maioria das cidades portuguesas, motivadas pela época natalícia que se atravessa, dado o gasto que provocam e, ainda por cima, contrariando o que ficou acordado na recente Cimeira e Copenhaga, deixariam alguém revoltado, sobretudo se fossem claramente explicadas as razões dessa medida? E, conforme essa, outras atitudes do mesmo cariz seriam bem recebidas e teriam efeitos positivos na conjuntura actual.
Anda-se já a preparar o Centenário da Comemoração da República, isso no próximo ano e em 5 de Outubro. A Comissão que foi criada para o efeito conta com um orçamento, proveniente de dinheiros públicos, de dez milhões de euros, sendo que já foi contratada a construção de um site cujo design custou 99.500 euros e está também estabelecida uma Comissão Consultiva que conta com 17 pessoas, a qual provavelmente terá um pagamento não conhecido. Quer dizer, são tudo gastos que, sem discutir se as intenções das manifestações são justas ou não – e o caso da comemoração do centenário da República é-o certamente -, mesmo assim deveriam ser encontradas formas de haver prudência nos dispêndios.
Mas, posta esta questão sobre a qual não me adianto mais, refiro-me agora à notícia de que o antigo presidente dos CTT, Horta e Costa, juntamente com mais dezasseis arguidos, foi acusado o Ministério Público de dois crimes, de participação económica em negócio e administração danosa, que o mesmo declara não terem fundamento, mas em que os prejuízos causados à empresa dos correios se cifra em 13 milhões de euros.
A corrupção passiva e activa, o branqueamento de capitais, a participação económica em negócios, a administração danosa e a fraude fiscal, entre 2002 e 2005, tudo isso faz parte de uma série de danos de que os CTT terão sido vítimas, faltando assim conhecer, no final do processo, o que os Tribunais decidirão.
E estamos assim. Por um lado os gastos exagerados e perfeitamente evitáveis por parte do Estado, e, por outro, as roubalheiras de que o mesmo Portugal é vítima. Tudo isso à custa dos cidadãos que, arrastando-se com as dificuldades, só tomam conhecimento – quando tomam! – do que lhes sai dos bolsos.