quarta-feira, 19 de novembro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Viver toda uma existência com esperanças e, chegando a uma certa altura da vida, sentir que se está a perdê-las, que o tempo para a frente já não dá para grandes expectativas, que seria necessário começar tudo de novo e, provavelmente, de forma distinta, seguindo outro caminho, actuando de maneira diversa, concluir tal coisa não é entusiasmante. Porque, não usando já hoje a velha e amiga máquina de escrever – que ainda mantenho, bem guardadinha, num armário -, sendo o computador quem faz o trabalho, com maior limpeza é verdade, guardando simultaneamente no tal arquivo, produzindo quantas cópias sejam necessárias, e efectuando as emendas que nunca deixam de ser necessárias, apesar de tais perspectivas não me sinto capaz de enfrentar outra vez a luta com o talento, para tentar colocá-lo do meu lado e não contra mim. Mesmo com forças, falta-me o tempo.. E este, juntamente com o trabalho, é essencial para ir em busca do génio.
É por isso que me dedico apenas ao presente. O passado já foi. Relembrá-lo, para não cometer os mesmos erros, isso faço. O futuro será a soma do antes, do agora e do depois possível. Estará escrito nalgum estudo astronómico, mas, como não sou seguidor dessa prática, ciência ou o que quer que seja que se deva denominar, entrego-me ao consumo do dia-a-dia. E, assim, vou escrevendo e pintando. Faço o que posso.
Não escondo que, apesar de todo o conformismo que aqui mostro, no íntimo não posso deixar de manter a aspiração de que um milagre se produza. Imagine-se, um milagre! Um fenómeno que se encontra distante das minhas crenças. Será, então, uma entrega ao acaso. Produzir sem preocupação com o que vai passar-se com o que fica. E, se ficar, onde? Nas gavetas? No arquivo do computador? Provavelmente nunca chegará a sair daí, a menos que esta máquina diabólica vá parar às mãos de algum curioso que se lembre de vasculhar o tal arquivo, o que está guardado no seu interior.
O que for, será. Só que, pode muito bem acontecer, não venha a ser nada.


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