quinta-feira, 31 de março de 2011

CABEÇA PERFEITA

Ter cabeça instalada

e o corpo, num quase nada

com funcionamento sofrível

mostrar que está disponível

ter ou não ter crença

pois quem assim não pensa

é pior do que o contrário

não precisa de rosário

basta entender o que passa

aceitar ou não o que faça

mas reflectir

que é sentir

que nada já é igual

que o que ocorre está mal

que as pernas não obedecem

e que os músculos fenecem

a ligeireza perdeu-se

e a força varreu-se

agora só devagar

e a cabeça a pensar

a entender

a sofrer

a aceitar a velhice

bem longe da meninice

essa que foi e não volta

sem ser razão para revolta

antes tem de ser aceite

mesmo que sem deleite

e no fundo agradecer

por não ter acontecido perder

o que resta

e fazer até bela festa

pela cabeça que impera

e que, por isso, espera

o dia do adeus final

em que já não se sente o mal.

TARDE DEMAIS


ANTÓNIO BARRETO tem razão quando agora afirma que Portugal deveria ter pedido a entrada do FMI (ou da organização europeia que existe com idêntico fim) há mais de um ano. Foi o que eu escrevi neste blogue em idêntica altura, o que provocou um enxame de protestos que me chegaram especialmente de anónimos… é o costume! Quando já era mais do que claro que as finanças do Estado escasseavam e que se caminhava para uma situação que se degradaria cada vez mais se não tornássemos as medidas urgentes e necessárias por forma a evitar as corridas sucessivas que não pararam com os respectivos aumentos consequentes dos juros que nos têm sido aplicados – já nos encontramos, neste momento, na escala dos 9% -, se a teimosia do fulano que ainda por cá anda em afirmar, no auge da sua ignorância, que o nosso País não necessitava de ajudas externas, se existisse no meio daquela gente que se mantêm no Executivo, ainda que de saída, alguém que surgisse a público a demarcar-se de tal posição criminosa, mesmo que isso representasse a expulsão do “atrevido” que não seguia cegamente as orientações do chefe, pelo menos surgiria alguém no seio do gang socratiano que se libertaria das acusações que a História acabará por registar. Agora já é tarde para evitar o que se mostrava como inevitável. Após a entrada do novo Governo que aí tem de chegar e conhecidas que forem as contas reais que dizem estarem a ser escondidas do conhecimento público, de mãos na cabeça vamos todos assistir ao que não poderá ser mais ocultado e a realidade ainda surgirá muito mais terrível do que tem sido anunciado por alguns comentadores mais realistas. E então, com Cavaco Silva a actualizar-se com o espectáculo que tem sido guardado no fundo do cofre dos segredos, aí sim tomaremos consciência do que é deixado aos portugueses ainda com algumas esperanças e aos futuros cidadãos que, nesta altura, se têm ficado por proclamem que estão à rasca”… É por isso que eu deixei de acreditar no nosso País. Tal como ele é, evidentemente, e como ficará depois do “tsunami” que uns certos homens e não a Natureza provocaram, posto que só nos restará aguardar por alguma coisa que provoque uma transformação arrebatadora do que é este País, aqui colocado na ponta da Península Ibérica. E por Ibéria, por muito que isso custe a bastantes cidadãos que ainda mantêm na cabeça o que lhes foi incutido com a história de Aljubarrota, vamos a ver como se salva a Espanha da crise que também a atingiu, mas de que se está a sacudir, ainda que com dificuldade. E, com o tempo, com as necessidades, com a impossibilidade de voltarmos a ser um País com futuro entregue a si próprio, pode ser que se tome consciência de que a união faz a força e que uma Ibéria, como região autónoma ainda que constituída por povos diferentes, com características específicas, com línguas que divergem, mas com muita coisa em comum, sobretudo o interesse em formar um bloco económico forte, marque presença numa Europa que, como é visível, não consegue formar a Federação que se impunha. Lá estou eu a julgar que tenho razão antes de tempo. Mas o meu passado e a ideia que sempre tive para este meu País com o maior mar (inaproveitado) maior que qualquer nação europeia tanto inveja, ao ter de me convencer que nos falta capacidade para cumprir a obrigação que a nossa História impõe, tenho o direito, como cidadão, de imaginar uma saída para tamanha calamidade que nos caiu em cima. É forçoso esclarecer que a ideia não é a de passar a haver um só País neste canto em lugar dos dois que formam a Península. O Benelux é um bom exemplo, mesmo que tenham de se aplicar certas características que as circunstâncias impõem. Um grupo forte que mostre à Europa comunitária que há que dar a maior atenção a estes povos ibéricos que, para além do mais, até gozam da vantagem geográfica de estar voltados para o mundo, o passarmos a contribuir correctamente para o bem dos 27 ou dos que vierem a aderir, essa posição só será possível atingir se não se apresentarem estes dois vizinhos ibéricos sempre de barrete na mão. Claro que, constitucionalmente, há que mexer no texto e adaptá-lo ao que o novo modelo mostrará poder ser eficiente, mas não será por aí que tudo se manterá na mesma, ou seja de pés descalços a aguardar que sejam os outros a resolver os assuntos que nos pertencem. Fico-me por aqui. Tenho insistido tanto neste tema – na verdade desde há mais de 50 anos que defendo este tese -, que não vale a pena pôr mais na carta. Quem tiver melhor ideia para tirar-nos do fundo do poço, que saia à liça e diga de sua justiça.

quarta-feira, 30 de março de 2011

SEM SOLUÇÃO


INTERROMPI – E NEM SEI SE DEFINITIVAMENTE – estes meus desabafos diários que procuro largar para o exterior, sobretudo para me livrar da angústia que me envolve há já bastante tempo no que diz respeito à situação que atravessa o nosso País, mas não só isso, pois que o que ocorre por esse mundo fora, por culpa humana ou por inquietude da própria Natureza, também contribui para nem apetecer seguir os acontecimentos, não ouvir os telejornais, não ler a Imprensa e apenas voltar a reler todos os bons livros que, desde que me conheço, têm sido o consolo de estar vivo… entre outros. Pode ser considerado como uma desistência de lutar, mas, metendo a mão na minha consciência, considero que me cabe já uma enorme parte de intervenção – e que bem caro me custou noutros tempos – a que não me furtei e, nesta altura, que sejam os mais novos a dar mostras de que não se conformam com os erros que os homens praticam, todos, os nacionais e os estrangeiros. A Europa está como se sabe. A ilusão que sempre mantive d que o nosso Continente tinha encontrado uma maneira de se conviver em harmonia e de entreajuda que só fortaleceria todos, sobretudo a partir do momento em que deixou de existir a Europa de Leste a Ocidental, essa esperança está a desvanecer-se em cada dia que passa. E, no que diz respeito a Portugal, o que não conseguimos esconder é que somos incapazes, nós portugueses, quer a gente mais bem situada no panorama nacional quer o próprio povo em geral, esse comandado por grupos que só procuram beneficiar os que se colocam à frente para inchar os seus umbigos e, obviamente, os seus bolsos – e não excluo destes agrupamentos as próprias organizações sindicais -, face a tal panorama geral não consigo descortinar forças que sustentem aquilo que posso fazer. Embora sem resultados palpáveis. Já não me entusiasma o fazer o historial do que têm sido os últimos anos da governação portuguesa. Está mais do que conhecida a incompetência não de um mas de vários homens que chamaram a sai o comando das operações do Estado, ainda que o mais recente tenha excedido o que sereia admissível aceitar. E se o que importa a este pobre País é encontrar soluções para o futuro, há vista desarmada não vislumbro quem, só ou em grupo, seja capaz de dar a tal volta que é urgente e absolutamente imprescindível. Estamos, tudo indica, condenados a ficar colocados onde geograficamente já nos cabe: o de estarmos na ponta da Europa. Quem vier, os pobres descendentes, que fechem a porta ou arranjem ainda forma de acender a luz. É uma barbaridade que a nossa geração pratica. Mas alguém é capaz de encontrar outra esperança? Nesta altura, nem os meus poemas consigo apresentar de forma correcta, posto que a organização dos blogues não dá solução ao assunto a que me refiro atrás. Só desejo que me tenha equivocado nos panoramas a que me tenho referido em vários textos saídos neste espaço, sendo um deles que as reformas não acabem. É só que nos falta!...

O QUE SE PERDE

Há que ter sempre atenção com o que vai e não volta aquilo que se tem na mão e que deixamos à solta Uma pedra atirada depois de já ir no ar já não serve para nada gritar-lhe para voltar Não fales sem pensar bem naquilo que vais dizer palavra não se retém depois da boca romper A tal boa ocasião que surge na nossa vida é não a largar da mão não a dar como perdida A saúde, quando foge sem sinais de querer voltar aquela que temos hoje mesmo pouca é p’ra guardar Há quem garanta a sério que com todas estas danças ainda que sendo um mistério não se perdem esperanças Os amigos que se vão e os amores que já se foram podem ter sido ilusão no coração já não moram As saudades é que ficam às vezes nem sequer isso coisas que não se explicam resta p’ra trás tudo isso O que se perde no fundo d’importância ou sem valor é bem vulgar neste mundo q’ alguém tome a seu favor Se como disse alguém nada se perde e se cria se a vida é um vaivém p’ro que acha é alegria Há muita gente que perde mas o achar é mais raro o bem bom é que se herde sempre serve de amparo

INFORMAÇÃO AOS LEITORES

Consultado um técnico de computadores sobre este problema que se está a passar com o meu de não conseguir apresentar os poemas dentro do fromato normal dos mesmos, mas apenas em texto corrido, foi-me dito que o defeito é da empresa que comanda os blogues e que teria de aguardar até que desde alí detectam-se o erro. Mas verificou-se que colocando as peosias a dois espaços elas saem perfeitas, embora ocupem mais espaço. E asim vou proceder a aguardar que as coisas se componham. Se não der resultado, paciência.

segunda-feira, 28 de março de 2011

DÚVIDAS


SE EU SEMPRE FUI um ser pleno de dúvidas, cada dia que fui acrescentando à minha vivência, cada vez que julguei estar a aumentar os meus conhecimentos foi sucessivamente crescendo em mim a convicção de que era cada vez maior a distância que me separava do saber e nessa área, mais ainda do que em qualquer outra, o descobrir o que é isso de alguma força super humana comandar o que ocorre neste nosso espaço terrestre e que justificações existem que convençam os de pouca fé de que aquilo que se pode chamar de Justiça Divina é aplicada com a certeza de que não são cometidos equívocos naquilo que se poderá classificar como sendo a concessão de benesses em vida aos que nada fazem para o merecerem. A História do mundo é pródiga em relatar situações dolorosas de gente que ofereceu grandes feitos à Humanidade e que, apesar disso, não conseguiu, pelo menos ao longo da sua existência, obter o reconhecimento por parte dos restante membros do nosso Globo, partindo para outros ares e só passados tempos, por vezes séculos, é que alguém os coloca no pedestal a quem tinha direito. No campo das ciências, das artes de todos os matizes e até mesmo de atitudes humanas dignas de reconhecimento pelo sacrifício que terão representado, muitos terão conseguido ver virar-se para si os olhares dos que se deram ao trabalho de valorizar o que significaram. Nesse aspecto, a Igreja Católica tem-se colocado em posição favorecida, posto que sempre vai descobrindo figuras que acabam por colocar nos altares da sua religião. Mas a generalidade dos acontecimentos não é isso que mostra. E a pergunta a fazer é de quantas sinfonias artísticas, na amálgama dispersa de artes a que o Homem poderá deitar mão, terão ficado encafuadas nos esconsos mais profundos, apenas porque não existiu a oportunidade de serem transpostas para o conhecimento geral. Venho este meu arrazoado a propósito de quê? Não se trata de qualquer novidade divulgar que grandes nomes mundiais de génios só passaram a ser adorados quando eles já não circulavam na crosta terrestre. Da mesma forma que o contrário, de personalidades que tão mal fizeram ao mundo mantêm os seus nomes gravados na memória histórica e até conseguem, passados tempos, obter admiradores que desejariam seguir as pisadas de tais figuras arrepiantes. Daí eu me interrogar e não obter resposta no que respeita a indivíduos que conseguem obter um tratamento favorecido da vida, sem que se lhes encontre o menor merecimento que não seja o do benefício próprio. E enquanto por um lado as misérias atingem multidões de viventes, por outro, este ou aquele, aqui e ali, gozam de umas recompensas, não se sabe vinda por ordem de quem, que provavelmente comande de um ambiente ultra terrestre, que parece querer desafiar até as crenças dos mais arreigados a uma determinada fé. Esta agora, ainda que já conhecida, de o tal Armando Vara, nome que tem circulado pela comunicação dadas as conversas escondidas com o saído José Sócrates, receber 822 mil euros pagos pelo banco BCP, pelo facto de ter exercido as funções de vice-presidente (2008/2010), tendo suspenso as suas funções em Novembro de 2009, pelo que lhe foi concedida aquela “esmola” correspondente aos salários que lhe eram atribuídos e ao longo dos meses em que já lá exercia actividade, e isso para cumprir a norma de não ir exercer idênticas funções noutro estabelecimento similar (!), sabendo-se que a saída de Vara da actividade bancária se deveu ao facto de ser constituído arguido no processo “Face Oculta”. E rezam as notícias que Armando Vara, tendo saído do BPN em Julho de 2010, logo em Setembro foi contratado por uma empresa de construção, como presidente de uma subsidiária em África… Não desisto de tentar entender aquilo a que o povo chama ingenuamente de “nascer com o rabinho virado para a Lua”. Eu, por mim, até que me convençam de outra coisa, trata-se de concessão de privilégios que uma força superior concede a quem lhe cai bem e que, por isso, tanta diferença faz entre os que são privilegiados e os que desde a nascença e até à morte só deparam com contrariedades. Que Diabos! Afinal que fez este Vara ao longo da sua existência que seja digno de merecer tanta sorte? E já agora, só para rematar, vale a pena referir o confronto que teve lugar no Sporting Clube de Portugal, por inconformismo de uma parte dos sócios em relação à vitória como Presidente de quem eles não apoiavam. Nem comento, e são tais comportamentos dos portugueses que provam que, ao cabo de 37 anos de Democracia, se está longe de estarmos preparados para praticar a menos má das políticas – como lhe chamava Churchill. Que se pode esperar das más educações entre os políticos que se guerreiam para conquistar a toda a força o poder que lhes dá tanto jeito! É um verdadeiro enjoo…

domingo, 27 de março de 2011

DEIXAR DE ESCREVER


Não consegui introduzír este poema senão como uma versão de texto corrido. Até descobrir como saio desta situação, assim me fico



Se eu não escrevesse o que faria? /Se não pudesse passar ao papel o que arde dentro e faz azia seria de mim próprio infiel estoirava acabava guardar só p’ra mim sem desabafar recalcar no fundo as amarguras já porque quem não gosta de falar nas letras se vinga e nas pinturas Quem escreve debita desalentos em texto simples ou mesmo poemas é uma forma d’abrir sentimentos e igualmente de quebrar algemas libertar-se superar-se no dia em que deixar de escrever quando vier a sentir-me incapaz é então a hora de perceber que o que resta nada me traz melhor é partir deixar de existir e quem cá ficar que faça as contas que julgue os que primeiro partiram e se conseguir que agarre as pontas dos que quiseram mas não conseguiram São assim os alcatruzes da vida sobem p’ra encher descem e despejam mesmo aqueles que passam de corrida sem tempo que chegue p’ra o qu’almejam mas génio mostram mais tarde gostam depois de cá não estarem p’ra ver e de não lhes chegar a admiração não tendo já por isso o prazer de merecer especial menção Enquanto por cá eu puder pensar e possa escolher o que mais gosto ao menos que não tenha de guardar p’ra mim e tenha de esconder o rosto envergonhado culpado por isso o qu’escrevo, o que pinto melhor ou pior é para mostrar porque o que deixo é bem o que sinto outros que guardem ou queiram queimar

sábado, 26 de março de 2011

O OPTIMISTA


Será bom ser optimista
ver as coisas cor do céu
para o mal não ter vista
e gostar do que Deus deu

Se está mau virá melhor
não há fel que sempre dure
que venha seja o que for
que as dores há quem as cure

A meia garrafa cheia
é coisa de mais valia
porque mesmo com areia
nunca está meio vazia

Sempre a sorrir bem contente
mesmo andando a tropeçar
o caminho é para a frente
não vale a pena chorar

Nascer e morrer feliz
é lema dos optimistas
quem o sabe é quem o diz
ouvindo doces harpistas

Para quê contrariar
os que andam tão contentes
o que fazem é gostar
do que pensam e são crentes

Desilusões não as têm
tudo vem graças a Deus
mesmo aquilo que não vêem
é por vontade dos Céus

Eu não sei se gostaria
de seguir por essa pista
nenhuma delas seria
nem isso nem pessimista

O mundo é o que é
pleno de baixos e altos
há que geri-lo de pé
andando às vezes aos saltos

E como ninguém pediu
para vir a este mundo
aceitá-lo sem fastio
é o que resta, no fundo

OLHAR PARA DENTRO


E QUANDO UTILIZO esta frase quero mesmo expressar em pleno o seu significado: não desviar a atenção para outra coisa que não seja o nosso próprio interior e fechar os olhos e os ouvidos ao que nos pretende ser mostrado por tudo o que nos envolve. Quer o que se encontra mais cerca, no nosso País, como o que estará mais distante, por esse mundo fora.
É que o panorama de todos os lados que nos é oferecido não é de molde a provocar-nos o mínimo de satisfação e vontade em nos mantermos nesta situação por muito mais tempo. Salvaguardadas as excepções, que as há, pois sempre vai existindo, ainda que com cada vez maior raridade, gente que se sente feliz e não vou enunciar agora quem são os tais protegidos pelos benefícios que a vida lhes proporciona, eu sou dos que estão convictos de que a maioria da população do mundo não era a situação com que se defronta que teria desejado na altura em que teve capacidade para pensar e escolher o seu futuro..
Eu não me ponho a ler o que tenho escrito pela minha vida fora e, particularmente, este meu blogue diário com já algum tempo de vida, porque não sou dos que se exaltam com o que dizem e fazem. Também, as previsões pessimistas – segundo alguns – que tenho transmitido não são agradáveis de digerir. Mas, com enorme pena, chego constantemente à conclusão que parece que sou bruxo…
As notícias saídas hoje nas primeiras páginas dos jornais de que o “Estado só tem dinheiro para dois meses”, isso de já não se procurar esconder a realidade que não é de hoje, posto que se não tivessem sido os permanentes empréstimos externos a que Portugal tem recorrido (e que haverá que pagar um dia…) já há muito que os cofres públicos tinham mostrado os fundos vazios, essa realidade tinha que cair em cima das cabeças dos portugueses e as consequências inevitáveis da “casa onde não há pão, em que todos ralham e ninguém tem razão” acabariam por fazer despertar os que não se convenceram, a seu tempo, de que isso dos milagres já foi chão que deu uvas…
O Sócrates foi-se e, inconsciente como sempre foi e de que cuja característica não se livra, em lugar de se esconder em cova bem funda, para que ninguém se lembre mais dele, ainda ameaça com um regresso para participar em eleições que se perfilam no horizonte perto. Pode haver loucura maior e falta de noção das realidades mais incontrolável?
Eu, por mim, recuso-me a voltar a falar no fulano que contribuiu em elevadíssima escala para a situação de miséria que atingiu o nosso País. E se o Partido Socialista, que já mereceu respeito dos portugueses, não é capaz de entender que, enquanto proteger aquele político de quinta categoria só caminhará sobre terra incultivável, então ainda mais complicado será encontrar-se no acto eleitoral que se perfila um conjunto que dê o mínimo de esperanças de alterarmos o percurso que, erradamente, tem sido seguido. É que um coligação de que o PS faça parte, será útil, mas com a figura em causa a participar… isso é que não vai servir de solucção.
A mim enfastia-me acompanhar as múltiplas declarações que são proferiras aos microfones de todas as estações, em que os ataques sucessivos de uns e de outros, os desacordos de opiniões – que a Democracia facilita, mas que não deve ser abusada -, as ofensas, as convicções de que verdade só se encontra de um lado, e também as greves que, nesta altura em particular, só servem para aumentar ainda mais as dificuldades, tudo isso encaminha o nosso País para o desespero, para a falência irremediável, para um futuro, quer imediato quer à distância, que apavora os que aí estão e os que ainda virão.
Não temos, de facto, remédio. E o mundo também não se mostra com tendências para acalmar os seus comportamentos, sendo cada vez maiores os desencontros e os ataques, a que não falta o uso das armas, com as consequências daí resultantes.
Ao olhar, pois, para dentro de mim e sem responsabilidade sobre aquilo que sustento no meu íntimo (e nesta altura em que escrevo estou a escutar a repetição de uma afirmação de há dias do tal Sócrates, em que afirma que o seu único interesse é em salvar Portugal!... e não posso deixar de ficar enjoado), concluo que, quando várias semanas antes deixei aqui expresso que não conseguiríamos sair da queda, para que nos tinha o Governo empurrado, sem o auxílio de uma FMI qualquer, não recorri a qualquer cartomante. Era o que se impunha aceitar antes que fosse tarde demais.
E quando, ainda mais para trás, face às desavenças, mais abertas ou menos claras, que se observavam e nesta altura são cada vez mais agressivas por esse mundo fora, tomando consciência do numero elevadíssimo de habitantes do bloco terrestre que se aproxima dos 7 mil milhões de criaturas, tive o desplante de expressar a minha opinião de que a Terra não suporta o tão exagerado numero de concorrentes em todos os aspectos, como são os seres humanos, nessa altura em que alvitrei que só uma guerra mundial é que poderia pôr cobro a grande número de conflitos que o Homem suporta, caiu sobre este meu blogue uma chuva de protestos, pois que as realidades custam sempre a serem aceites.
Então o desemprego, que grassa por todo o Globo, não se veria diminuído, face à reconstrução que seria necessária perante as destruições que resultassem dos eventuais ataques atómicos que surgissem de várias origens e em inúmeras zonas?
É penoso, eu sei, ter de prever um espectáculo deste tipo. Mas eu já estou como os partidos portugueses que, entre eles, fazem perguntas sobre qual teria sido a solução para evitar a crise política que ocorreu. Perguntas fizeram-se, respostas… nenhumas.
Já que o ser humano foi “construído” com as características que se conhecem, em que a inveja, o “chega para lá” é o que domina a paixão dos que se movimentam no seu espaço, não há que ter esperanças de que se verificará uma mudança de comportamento de todos, sejam quais forem as raças, as religiões, os locais onde residam.
Por isso, já lá vão muitos anos, escrevi uma peça de teatro (ainda por representar, como muita obra literária e de pintura de que sou autor e que nunca chegou às mãos do público… pelo menos durante a minha vida), com o título “E A TERRA, INDIFERENTE… CONTINUA RODANDO”, que descreve o fim do mundo, ficando apenas duas personagens, chamadas Adam e Eve, a residir numa ilha deserta. Foi há mais de 50 anos e, nessa altura, tínhamos acabado de sair do grande conflito mundial. Foi, de facto, uma antevisão excessiva!
Pode ser que um dia, quando for, apareçam à luz esta e outras obras que tenho mantido resguardadas. Porque não tenho feitio para bater à porta de editores e de produtores teatrais. Se eu não gosto do que faço, por que hão-de ser os outros a apreciar?
Mantenho-me, por isso, a olhar para dentro… Não faz mala nem bem!

sexta-feira, 25 de março de 2011

SOMOS O QUE SOMOS

Somos o que somos
Fomos o que fomos
Nós os portugueses
Estamos onde estamos
Às vezes
Algo prestamos
Nem sempre !

Pouco confiantes
Agora e dantes
Somos assim
Algo descontentes
Até ao fim
Talvez crente
Nem todos

Já fomos enormes
Mesm’até disformes
Sem pulso p’ra tanto
A deixar fugir
Com espanto
O nosso porvir
Será ?

Podia ser pior
Ter’inda mais dor
Como diz o povo
Sempre paciente
Não movo
Daqui p’ra frente
E espero
Fé e esperança
Mas sem confiança
É o que nos resta
Com o que nós temos
Não nos falte a festa
Que sempre soubemos
Fingir

Valerá a pena
Cambiar a cena ?
Pergunta-se por fim
Há quem não duvide
Quem ficar assim
É que não progride
Eis-nos

E hoje, afinal
Neste Portugal
Em pleno apuro
Todos perguntamos
Que futuro ?
Se inda prestamos
P’ra quê ?

A ver a Europa
Com a melhor roupa
Comemos as unhas
Roídos d’inveja
E metemos cunhas
P’ra alguém que veja
Ao longe

Que grande distância
Dizemos com ânsia
Contando os tostões
Não há quem governe
E quem venha depois
Que sej’um alterne
Melhor

E o povo, enfim,
O que neste jardim
Aceita o qu’está
Temendo o pior
Que a muda trará
Tem sempre pavor
Do depois


Somos o que somos
E assim nos pomos
No fim da Europa
Fomos o que fomos
Já ninguém nos poupa
Assim como somos
Choramos !

PORTUGUESES QUE SOMOS


QUANDO SE CONTEMPLA, como me sucede neste momento, em que escrevo o presente texto (quinta-feira, dia 24 de Março, pelas 17 horas) e na televisão nos é dado observar os membros em boa cavaqueira e que se preparam para reunir em Conselho Europeu, a pergunta que nos salta à cabeça é se todos esses vários responsáveis dos diferentes países que formam o conjunto do nosso Continente têm a mais pequena ideia da forma como se comportam os portugueses, sobretudo nesta altura em que o primeiro ministro demissionário, José Sócrates, se apresenta nessa qualidade de político que, ainda que fosse pela sua própria vontade, não teria outra forma de sustentar o lugar que ocupava.
É certo que, da nossa parte, também não nos podemos arrogar do privilégio de sermos conhecedores profundos das formas de pensar dos diversos povos europeus ali representados, mas, fazendo o exame ao contrário, não podemos deixar de reconhecer que, no caso dos lusitanos, é bem mais difícil que os outros entendam perfeitamente quais são as nossas maneiras de actuar perante situações que exigem bom senso, tranquilidade, sentido apurado de defesa dos interesses que dizem respeito ao grupo populacional de que fazemos parte. Sobretudo na área da política, somos nós próprios cá de casa que não temos capacidade para prever as reacções dos parceiros de língua e de Pátria face a situações mais complicadas.
Posto este desabafo, que não adianta nem atrasa no capítulo de alterarmos a nossa maneira de ser, agora que nos encontramos já aliviados de um governante que, no decorrer do seu mandato, o que fez foi ter colocado Portugal numa posição de afundamento progressivo da sua já tão difícil situação de que a crise mundial foi grande contribuinte, perante a sua demissão de moto-próprio para se adiantar ao que lhe aconteceria por decisão alheia, o que faria bem, a todos nós portugueses que iremos deitar o nosso voto na altura em que isso for requerido, era reflectirmos um pouco sobre aquilo que temos sido e ainda somos, ou seja, metermos bem a mão na consciência e penitenciarmo-nos por este nosso feitio de passar a vida de mão estendida na pedincha de auxílio dos outros e, quando o obtemos, não o utilizar com o devido proveito o que nos chega.
Com excepção da altura em que, perante o Plano Marshall, a seguir à Grande Guerra, Salazar recusou o apoio que nos foi oferecido, com sucedeu a outros parceiros da Europa, alegando não necessitarmos de “esmolas”, mais recentemente, por via da nossa adesão à CEE, não deixámos nunca de participar das várias ofertas que nos foram proporcionadas. Mas, infelizmente, sem tirar todo o proveito que cabeças bem pensante não desperdiçariam.
Vamos a exemplos:
Quando, sendo Portugal o País com maior área marítima, logo que nos foi proposto reduzir a frota marítima, sobretudo a pesqueira, a troco da facilitação financeira que nos foi oferecida, de imediato nos pusemos de mãos estendidas e não hesitaram os governantes da altura em seguir o caminho mais fácil, mesmo que isso representasse, como sucedeu, a perca de uma actividade produtiva que, nesta altura, poderia e deveria fazer parte do sector de aumento de riqueza e de possibilidade de exportarmos o que nos sobrasse, numa altura como aquela o que interessou foi receber de fora e não houve quem reflectisse no sentido de prever o futuro.
Mas o mesmo sucedeu em relação à agricultura. Também, a troco de pararmos de cultivar e de aproveitar as características próprias da nossa temperatura propícia a anteciparmo-nos umas semanas da produção hortícola e frutícola do resto do Continente, meteu-se ao bolso o qu3e pareceu ser uma oferta dos deuses e os campos nacionais ficaram à mercê daqueles que, em vez de tractores e de maquinaria agrícola moderna, se regalaram com automóveis topo de gama e com viagens de milionários. Agora choram com a pouca produção que conseguimos, num período em que tanta falta nos faz o equilíbrio das contas nacionais.
Pois é a torcer a orelha que os portugueses tomam consciência de que a situação económica e financeira do País não encontrará equilíbrio sem o auxílio do estrangeiro e que serão necessárias várias décadas para podermos – se pudermos – não ser uma Nação, aqui na ponta da Europa, a assistir ao desenvolvimento de tantos povos que, esses sim, nunca voltaram as costas à produção e foram capazes de ultrapassar as crises que lhes surgiram.
Não venham agora deitar as culpas só a um Sócrates que, por péssimo e destruidor que tenha sido e foi, não pode ser acusado isoladamente do que se sofre actualmente e daquilo que vai ainda passar-se por este País. Somos todos nós, os que não gostamos de utilizar o tempo de que dispomos para, nos horários respectivos, não nos distrairmos com disfarces de produção, que é forçoso que tomemos consciência das diferenças de actividade produtiva que nos separam dos povos que se encontram já na senda do progresso, mesmo aqueles que estiveram submetidos às ditaduras de vária cores.
Por hoje, não me dedico a referir o que vai suceder, politicamente falando, neste nosso País à beira mar plantado. Já com a Primavera chegada. Pelo menos recebamos um pouco de optimismo, com ou sem acordo ortográfico que, como se vê, ainda não faz parte da minha semântica.

quinta-feira, 24 de março de 2011

IR PARA ONDE?

Ir a caminho e parar
não cumprir obrigação
ficar a gozar o ar
como outros também farão

Não quero
não me apetece
não entro em desespero
esperem que eu regresse
pode ser que algum dia
me salte a tal vontade
e por artes de magia
seja qual for a idade
lá prossiga
a caminhada
com mão amiga amarrada

Mas ficar onde estou
sentir a monotonia
mas sem saber p’ronde vou
metido com fantasia
nisso não sinto prazer
tal coisa não me alegra
não sei que deva fazer
preciso de certa regra

Vou andando
sem destino
e se paro não sei quando
num enorme desatino
julgando que era p’ro Norte
por isso cheguei aqui
só confiando na sorte
se foi para o que nasci
mais valia ter ficado
nas origens paternais
não atingiria o estado
de procurar ideais

Se em dada altura da vida
já não interessa o caminho
pois se está certa a partida
quando é que não adivinho
para trás ou para a frente
agora tanto me dá
se há quem comande a gente
ir p’raqui ou p’racolá
não quero
nem me apetece





INTERVALO NO DRAMA


FOI UM VERDADEIRO FARTUM o que ontem foi mostrado, através da televisão, com a Assembleia da República a evidenciar o que são os vários pontos de vista políticos que não coincidem nas soluções dos problemas que se apresentam. No ponto de vista do debate foi vasta a exposição, mas o País já não se compadece com queixas e com acusações. O que precisa é de encontrar o caminho que o desvie das constantes escorregadelas, políticas, económicas e sociais antes ocorridas e que, precisamente neste período concreto, não deixam margem para um recobro que o doente já aguenta mal.
Não importa relembrar agora as razões que cada uma das Oposições – e estas com motivos nem sempre comparáveis -, apresentaram para não votar favoravelmente o PEC 5 que o Governo, fora de prazos institucionais, teve de sujeitar ao veredicto do Parlamento. Já se esperava o resultado e o próprio José Sócrates, mostrando mesmo a sua falta de coragem para dar a cara às consequências, não aguentou manter-se presente no Hemiciclo e aproveitando a hora marcada, provavelmente de propósito, da sua entrevista com o Presidente da República, deixou o lugar vago na bancada do Governo. A história contará o sucedido.
Mas o momento é, de facto, de enorme preocupação. Acabado que está o “reinado” de Sócrates, pedida que foi a sua demissão ao Presidente da República, que podem esperar os portugueses do que vem aí a seguir? Nas circunstâncias em que se encontra Portugal, será que a Europa, por muito que tenha dado a impressão de que fazia muitos mimos ao primeiro ministro que era nítido estar de saída, vai dar mostras de que é capaz de dar a ajuda de que tanto necessitam os seus substitutos?
Não posso deixar de marcar posição no meu pouco feliz hábito de ter razão antes de tempo. Quando, tempos atrás, não fugi ao prognóstico no que respeita à vinda do FMI, se bem que por via do Fundo Europeu e ainda que não já amanhã, não era que fosse meu desejo essa chegada, mas havia que ser coerente e antever o que se tornava inevitável. E é isso que, inevitavelmente, irá suceder.
Agora, há que esperar pelas eleições que têm de decorrer entre 15 de Maio e 15 de Junho, data mais que garantida pelas circunstâncias, e em que os portugueses são obrigados a participar em grande número, posto que não se podem alhear da responsabilidade que lhes cabe na escolha. E, como Sócrates anunciou há dias, ele lá estará para discutir o lugar que pôs agora à disposição. Então veremos.
Foi pena que não tivesse sido apresentada ao País, por um acordo prévio dos partidos, pelos menos os que não se mostram muito radicais, uma possibilidade de ser constituído um Executivo de recurso proposto ao Presidente da República, de que fizessem parte membros do PS, PSD, CDS e até da própria Esquerda mais longínqua. Claro que a condição essencial seria a de que não fizesse parte desse Governo quem se encontrou sempre na berlinda, José Sócrates, mas, em qualquer dos casos, esta suposição, tenho de reconhecê-lo abertamente, não passa de uma fantasia que só seria viável num paraíso onde os seres humanos não participassem.
Claro que, da parte dos cidadãos portugueses, as exigências que o PEC transporta e que já foram negociadas em Bruxelas, sem autorização das instituições nacionais, essas serão aplicadas e resta ainda saber se o tão apetecido subsídio de férias ainda fará parte este ano do hábito português.
Fica-se agora à espera daquilo que Cavaco Silva virá dizer ao País, pois que não é de crer que se mantenha aquele mutismo que já enerva. Não é que as suas palavras acrescentem algo ao que já foi largamente proclamado pelos diferentes participantes no burburinho político que teve lugar hoje (ontem, parta quem me lê).
Ao fim de um dia que nem correu muito mal em Lisboa, a nível de Sol, a correr como sempre faço redijo este texto. Fica muita coisa para dizer, mas estarão fartos, creio, todos os que não se alheiam dos problemas do nosso País e já não suportam muita comentarice…

quarta-feira, 23 de março de 2011

COMENDADORES

Ilustres personagens elas são
fazem sempre lembrar as honrarias
convencem-se que não foi por bizarrias
que lhes coube na rifa tal brasão

Um rei, um presidente, tanto faz
acordou de manhã com tal lembrança
ou foi a consorte que com bonança
recomendou alguém como capaz

E assim nasce mais um premiado
é alguém que, de facto tem valor?
será ele quem vai ficar babado

Porque há quem mereça sem favor
que seja e muito bem condecorado,
mas a maior parte comendador?

OS AGOSTINHOS


NÃO É QUE SE POSSA CHAMAR de uma grande surpresa, não porque a figura que nos deixou se encontrasse em estado extremo de doença, mas porque a sua idade já era de molde a situá-lo numa barreira que não se encontraria assim tão longe da última, se bem que, cada vez mais, a caminhada humana se prolongue para lá do que antes era considerado impensável.
Morreu Artur Agostinho e aqui está mais um acontecimento que me leva a contar alguma coisa que se relaciona com os múltiplos contactos que eu tive com imensas personalidades, nacionais e estrangeiras, e, neste caso, com o antigo locutor português, especialmente depois da sua estadia no Brasil, consequência do mau tratamento que lhe foi dado por cá após a Revolução de 25 de Abril. É que antes disso, ainda que eu exercesse a profissão de jornalista, as nossas posições em relação ao sistema político então vigente, por razões entendíveis não proporcionavam a mesma confraternização que eu mantinha com outros colegas. Isso, para além de a sua área ser a desportiva, especialidade de que eu nunca fui grande sabedor.
Acompanhei, no entanto, o processo que o PREC lhe fez passar, com a prisão sem julgamento e, por isso, a sua decisão de partir para o Brasil, onde procurou, durante alguns anos, exercer uma profissão que lhe garantisse, a si e à sua família, o mínimo de subsistência. Mais ou menos na mesma altura, outro profissional da televisão, Henrique Mendes, partiu para o Canadá, também insatisfeito com o ambiente que lhe foi criado aqui em Portugal.
Como os dessa época se recordam – a memória é a sensibilidade mais traidora a que o ser humano tanto necessita recorrer - , o semanário “o País” que eu lancei e dirigi durante dez anos, pretendeu ser uma publicação indiscutivelmente independente de correntes politicas, pelo que incluía nas suas páginas uma coluna denominada “Coluna da Esquerda” e outra com o título de “Coluna da Esquerda”. E isso, precisamente porque, na primeira, tomavam posição semanal o Fernando Piteira Santos, Jaime Gama e Manuel Alegre e na contrária e dado que tinha recebido das duas figuras atrás referidas, Artur Agostinho e Henrique Mendes, pedidos seus para dizerem de sua justiça, posto que se consideravam mal tratados e sentiam saudades do contacto com os compatriotas a residirem em Portugal, pelo que foram mantendo, por isso, uma assiduidade de textos que vinham de onde se encontravam então.
E essa colaboração prolongou-se, com as características de se tratarem de pessoas obviamente magoadas com o sistema político que passou a ser seguido em Portugal.
Entretanto, na coluna contrária, os colaboradores ligados ao sistema revolucionário, comprovadamente de esquerda, ocupavam o espaço que lhes estava destinado e que se manteve ao longo de bastante tempo, dando possibilidade de comparar pontos de vista contrários que, segundo sempre defendi e defendo, é através da troca de opiniões que se pode e deve manter a busca pelas soluções mais apropriadas aos problemas que envolvem os seres humanos. O saber ouvir e, enquanto isso, manter-se calado e esperar pela sua oportunidade para contradizer o que considere errado, essa atitude está ainda por praticar em Portugal, razão pela qual tantas discussões, ofensas, agressões verbais se verificaram e se continuam a manter no nosso panorama político, o que conduz a que não consigamos encontrar a via para solucionar as situações complicadas que, sempre e progressivamente, se agravam cada dia mais na vida portuguesa.
Mas voltando ao Artur Agostinho, numa das minhas deslocações ao Brasil, nessa época plena de emigrantes portugueses saídos da camada empresarial que não tinha sido bem tratada pela nova vaga revolucionária que aqui se instalou e que dava mostras da sua revolta, sendo esse o local de língua portuguesa fora de portas onde o meu semanário “o País” gozava, depois do desportivo “A Bola”, do mais elevado número de vendas, nessas circunstâncias, tendo combinado com o antigo locutor um encontro no Rio de Janeiro, tive nessa altura ocasião de ouvir de viva voz as suas queixas em relação ao que lhe tinha ocorrido por cá e, naturalmente, a opinião que exprimia não tinha a menor semelhança com a euforia que, entretanto, aqui se vivia e que só perdeu força no momento em que Vasco Gonçalves começou a fazer das suas…
Mal podia prever o então destroçado com as ocorrências nacionais que, anos mais tarde, depois do seu regresso definitivo e da sua nova participação na vida artística, televisiva e outras, acabaria por receber novamente o aplauso do público e pudesse vir a ser até condecorado pelo Presidente da República, mostrando mesmo vaidade em exibir, na botoeira do casaco, o sinal de que tinha sido reconhecido como comendador.
Mas tudo isto obriga-me a incluir neste relato algo que ocorreu no intervalo de uma coisa e de outra: quando foi inaugurada a sede no largo do Rato do PS, realizando-se ali um copo de água, encontrava-me eu em conversa com Mário Soares em pleno salão principal quando, num vozeirão de grande poder, do fundo da sala se me dirigiu o seu portador, largando esta frase:
- Oh José Vacondeus! Ficas a saber que se continuas a publicar no teu Jornal os textos daqueles reaccionários, eu não escrevo mais na Coluna da Esquerda. Ou eles ou eu!...
Imagine-se o meu espanto. Olhei para o Mário Soares, que permaneceu calado, e a única coisa que me veio à fala foi o que não consegui impedir que saísse:
- Pois olha, Então eles!...
E fez-se um silêncio que até provocou no Mário Soares um certo espanto. E não se verificou mais conversa.
É que, de facto, não sendo eu um íntimo nem de Artur Agostinho nem de Henrique Mendes, provavelmente o que seria natural é que lhes tivesse dado a conhecer que terminariam ali os seus desabafos enviados de longe. Mas não consegui sujeitar-me a uma imposição idêntica a tantas outras que me tinham sido feitas ao longo do anterior regime político. E, nessa época, o único a fazer era obedecer.
Levando em conta os largos proveitos que tantos obtiveram e continuam a conseguir pela aceitação absoluta das linhas estabelecidas pelos patrões partidários que se situam no poder – e era nessa ocasião o caso -, os erros de cálculo e de não aproveitamento das circunstâncias favoráveis, sejam elas quais forem, que se apresentam… bem se pagam. Mas, em contrapartida, dorme-se mais tranquilo. Ainda que lutando contra todas as dificuldades que a vida coloca.
Morreu, pois, Artur Agostinho, pessoa que, eu reconheço, ao contrário de tantas outras que me proporcionaram ter podido deitar-lhes a mão como é natural entre os seres humanos, e passaram por cima e não deram mostras em qualquer ocasião do que lhes tinha sido proporcionado pelas circunstâncias, de terem usufruído de uma oportunidade – por acaso oferecida por mim -, no caso do agora falecido esse nunca deixou de, cada vez que me via, apertar-me fortemente a mão, como sinal de que tinha bem presente que, naquele dia no Rio de Janeiro, eu lhe fui oferecer a possibilidade de exercer uma actividade jornalística compensada, como era a de se passar a editar “o País” também no Brasil, sob a sua orientação, para o que existia ali um patrocinador disposto a apoiar a ideia. Infelizmente, essa oportunidade foi por ele aproveitada mas com outra iniciativa, pois lançou, isso sim, uma publicação desportiva, o que me desgostou na altura, mesmo que, no seu caso, por sinal não tenha resultado. Mas como não costumo manter pela vida fora angústias que só servem para provocar ainda maiores tristezas do que aquelas que somos obrigados a suportar pelas circunstâncias, acabei por deitar para trás das costas o que tinha ocorrido.
Houve mais tarde ocasião e por sua iniciativa, de ele se referir já aqui em Lisboa, ao facto, lastimando não ter correspondido ao meu gesto de confiança que lhe transmiti, anos atrás, naquele restaurante no “calçadão” do Rio. Eu, por mim, nunca me mostrei disposto a relembrar tal episódio. O que lá vai, lá vai…
Agora, mais uma vez, pois, atravessando um dia que marca uma situação de despedida, repete-se este hábito tão português de surgirem os “amigos de sempre”, os “feiticeiros do Oz” as figuras que nunca faltam nas imagens televisivas e outras, tirando partido em seu proveito do facto de uma personalidade que desaparece ter tido alguma coisa a ver com quem fala dele.
Chegou, pois, a tua vez Artur. Pelo menos, embora tenha sentido na pele, há 36 anos atrás, os efeitos de uma mudança do sistema político que se viveu e a que ele, por não sentir necessidade de tomar outro caminho, dando a impressão de se encontrar perfeitamente adaptado, conseguiu depois reaver os efeitos benéficos da mudança que se operou e acabou por receber uma comenda que o antigo regime não entendeu nunca proporcionar-lhe. As coisas que a vida oferece!
Quem ainda consegue ser reconhecido em vida, sejam quais forem os dissabores por que tenha passado, pelo menos parte com a sensação de que valeu a pena!
A tempo, registo a casualidade de, num dia, se verificar o falecimento do Artur Agostinho, para, no que se segue e em que se regista o seu funeral, ocorrer algo que marca também o anúncio de outras exéquias. As do Governo de Sócrates, seja qual for a maneira como tais ocorrerão.
A diferença entre os dois acontecimentos é que, se no íntimo de muitos dos portugueses se verificará, creio, uma manifestação de alegria, no exterior do conjunto o que formará um panorama generalizado é o pavor pelo que se vai passar a seguir e quais as consequências de um passo que, nesta altura, oferecem perigos enormes no ambiente do exterior e dos nossos credores, que já são muitos.
Pois que, tal como sucede nas famílias que ficam sempre a aguardar ansiosamente o que lhes caberá no testamento deixado pelo defunto, esperando ser alguns mais beneficiados do que outros, e, no caso nacional, os que já foram contemplados já há bastante tempo que se vêm servindo das mãos largas do que tiver desaparecido, porque os restantes têm de agarrar agora os problemas e procurar não serem piores administradores do que foi o que se escapou a tempo…
Perdoa-me Agostinho ter misturado alhos com bugalhos, mas não consegui resistir à oportunidade. Afinal, é a minha pequena vingança por me teres pregado a partida no Brasil e de que eu já me tinha esquecido!

terça-feira, 22 de março de 2011

FELIZES E INFELIZES

Quando nós bramamos aos quatro ventos
infelicidade que nos calhou
não podemos esconder os lamentos
a que a má vida nos obrigou
queremos que saiba a maioria
o muito que sofremos nesta vida
o que é isso da grande agonia
o que nos coube na grande corrida

Só posso dizer num breve poema
que esse mal da infelicidade
que consideramos grave dilema
seria a maior felicidade
para os mais infelizes ainda
aqueles que não tendo mesmo nada
considerariam mudança linda
chamando a isso obra de fada

Não sejamos então grandes chorões
aceitemos aquilo que nos fez
sofrer constantemente abanões
e desfazendo as rugas da tez
chegar a este ponto cá da vida
trocar a nossa infelicidade
com tanta boa gente mais sofrida
p’ra eles seria felicidade

TRISTEZA


POIS É, A CULPA É SEMPRE DOS OUTROS! Esta maneira tão portuguesa de julgar os acontecimentos e de empurrar para alguém as faltas de cumprimento correcto de qualquer coisa que nos atinja, numa altura como esta em que o nosso País se encontra perante mais um dilema que compromete tragicamente o futuro imediato toma foros de grande loucura, pois é de um lado e de outro que se assiste a este tipo de acusações e quem assiste aos dedos espetados dos acusadores, que somos todos nós portugueses, a vontade que tem é a de não continuar a assistir a esse espectáculo desolador e de fugir para horizontes longínquos onde tais cenas de pátio não tenham lugar.
Sendo isso a que se assiste em Portugal sempre que partes antagónicas resolvem discutir em público as suas convictas razões, neste momento concreto em que o Governo, por um lado, defende a sua actuações e acusa as oposições de falta de sentido de Estado – uma das frases feitas que se usam -, do lado antagónico os argumentos utilizados assentam precisamente em pontos de vista que contradizem as afirmações da outra parte.
Não vale a pena entrar aqui em pormenores, por demais conhecidos, do que leva a que a situação política nacional tenha atingido pontos tão baixos e recursos a mentiras que não servem já para justificar as decisões que vão ser tomadas esta semana na Assembleia da República. O que não haverá já ninguém por cá que tenha dúvidas é que não se acabou por chegar a um ponto final na situação tão periclitante em que o nosso País tem vindo a arrastar-se ao longo dos últimos tempos. Resta apenas saber qual a forma como o novo conjunto de governantes será composto e, depois disso, que tipo de actuação terá que se distinga longinquamente da que foi utilizada pelo grupo de José Sócrates.
Deixo na imaginação dos pacientes seguidores deste meu blogue o irem-se entretendo com as suas perspectivas, naturalmente fruto das vontades ideológicas que mantiverem. Posto que, no campo prático, a situação difícil que há que enfrentar não será de molde a trazer-nos uma tão grande felicidade que nos deixe descansados, a nós próprios e aos nossos descendentes.
O filme que nos é colocado para podermos assistir não é propriamente uma comédia. E o drama situa-se na escala dos mais pesados que nos será proporcionado.
Mudarão os actores, é certo, e isso já anima um pouco. Resta saber se as suas representações serão do agrado de quem tem de pagar os bilhetes, ainda que não presencie as cenas de boa vontade.
Vamos lá, pois, para o espectáculo, a chorar até antes de começarem a actuações no palco ou no écran. E já sabemos que esta semana será bastante preenchida de declamações de todos os que estão bem ensaiados para proceder às acusações dos colegas de ofício.
Haja paciência!

segunda-feira, 21 de março de 2011

AMANHÃ

Chegado aqui
a esta hora da vida
já percebi
como foi triste a corrida
desenfreada
cheia de baixos e altos
desencantada
não faltaram sobressaltos
só compensada
pelo intercalar de sonhos
na busca imensa
da fuga dos enfadonhos
e com descrença
contemplo esta vida chã
e no escuro
não me censuro:
pois bem temo o amanhã!...

AMBIÇÕES


UMA DAS CARACTERÍSTICAS do ser humano, sejam quais forem as circunstâncias que atravesse na vida, é a de manter, desde muito tenra idade, uma ou mais ambições em atingir determinados objectivos que irá desenvolvendo na caminhada que tem de percorrer.
As crianças, com a maior ingenuidade, começam por ter apetites de, quando forem crescidos, desempenharem profissões que mais os atraem durante esse período de sonhos, tais como serem polícias, bombeiros ou também de seguirem as actividades dos seus pais. Mas, com o correr dos tempos, à medida que vão avançando nos estudos – e isso na época actual e na mais próxima dos dias de hoje, porque antes essa perspectiva era mais rara -, as ambições vão-se fortificando no espírito de cada um, dependendo os fins em vista de muitas circunstâncias de que, naturalmente e mais ainda no período que atravessamos em Portugal, a ansiedade em dar continuidade profissional proveitosa aos cursos seguidos, enfrentando o dramático desemprego, é que pesará mais nas decisões que têm de tomar em momento apropriado.
Mas, tendo sob observação os homens de hoje e tomando por exemplo mais concreto alguns que se exibem voluntariosamente perante os panoramas televisivos – que é a grande atracção que movimenta essa classe de gente que surgiu com vida no período da Revolução de 74 -, pode-se nessa camada constatar que a actividade política é a que atrai inegavelmente uma boa porção de homens e mulheres que se aproveitam de tal via para atingir os objectivos que têm em mente e que, se seguissem as carreiras que os seus estudos lhes poderiam proporcionar, nem de perto nem de longe se aproximariam de algo que lhes pudesse proporcionar as regalias que uma entrega bem calculada a um partido que esteja situado razoavelmente na tabela ou, no mínimo, em condições de poder subir no seu escalão, lhes poderá proporcionar.
É evidente que esta observação se aplica a muita gente que, ao longo dos últimos 36 anos e sobretudo nas épocas mais recentes, tem andado atenta às oportunidades que as circunstâncias lhes oferecem e, não excluindo os indivíduos que alinham em partidos por única convicção ideológica, que os haverá, embora poucos, uma grande parte só tem ido entregar a sua inscrição partidária após um estudo cuidadoso das possibilidades de utilizar essa escolha como trampolim para, não só obterem, por exemplo, um lugar bem guloso de deputado na Assembleia da República, como o poder esgueirar-se por entre os muitos concorrentes aos múltiplos objectivos possíveis, de maneira a conseguirem um apoio dos já instalados em tais agências de empregos e, sobretudo, o caírem nas boas graças do chefe principal que lhes poderá deitar uma mão se derem mostras de serem fieis seguidores dos passos, sejam eles quais forem, que os “patrões” partidários considerarem como sendo os fundamentais para mostrarem fidelidade.
Foi sempre assim. Antes do 25 e depois. Nada mudou nesse particular. Logo após a Revolução, quando surgiram os que eu chamei sempre de “revolucionários de pacotilha” e de “democratas à pressa”, e até na época actual, em que os “salvadores da Pátria” surgem por todos os lados, posto que têm podido contar com um ambiente propício criado pelo desastrado José Sócrates, nesta altura concreta, tudo se propicia para abrir largas portas aos que se considerem nas condições ideais para gritar aos portugueses que reside neles a salvação de Portugal.
A queda anunciada de um Governo que se encontra em estado moribundo e as razões que se observam nas derradeiras gaffes cometidas pelo ainda primeiro-ministro, para além do descontentamento nacional que é bastante generalizado em relação ao Executivo, tudo isso, com o principal partido da oposição a declarar-se preparado para substituir o actualmente em funções, havendo dúvidas de que, em eleições antecipadas que venham a ser efectuadas, a maioria absoluta possa caber ao PSD, era mais do que óbvio que o grupo político, situado na linha da direita e que se encontra mais interessado em prestar a ajuda necessária para juntar votos, não iria perder a oportunidade de se oferecer para tal e é aí que o seu presidente actual, Paulo Portas, aparece para levar a cabo uma ambição que se lhe nota e que, provavelmente, desde o primeiro dia em que anuiu à actividade política, ainda que subalterna, constitui uma meta que desejava atingir.
E como, tempos antes, foi o escolhido para exercer umas funções que não lhe estavam, de todo, adaptadas às suas características, as de ministro da Defesa (imagine-se…), nas quais não deixou boas recordações e em que a história dos submarinos ficará gravada no seu “curriculum”, a meta agora idealizada está mesmo a ver-se qual é: a de poder vir a conseguir as funções de primeiro-ministro, eleito por um CDS para quem, na reunião partidária que aconteceu neste fim-de-semana em Viseu, não mostrou o mínimo pejo em declarar abertamente que a sua ambição é de a ver os portugueses votarem em massa no grupo que chefia, mesmo que, até agora, a percentagens de aderência dos portugueses tenha sido bem diminuta.
É evidente que a liberdade política que nos rege não permite que nada nem ninguém possa obstar a que um cidadão nacional se proponha a ocupar, mediante a escolha popular, um posto que deposite nas suas mãos os maiores poderes que um Estado democrático oferece. Isso deixo claro.
E como eu não sou o português mais indicado para opinar nestas circunstâncias, haverá seguramente quem se encontre em melhor posição para o fazer, no que diz respeito à disponibilidade demonstrada por Paulo Portas. Eu, por mim, que o conheci quando foi pedir emprego ao semanário de que eu era sub-director, “o Tempo”, tinha ele então os seus 18 anos, fiquei logo com a convicção de que se tratava de um jovem pleno de ambições, pois já se classificava ele próprio, ainda que sem a menor experiência, com condições para ser um excepcional jornalista. E, a partir daí, fui acompanhando o seu trajecto.
Todavia, contemplando o que constituiu a obra de José Sócrates, tendo assistido a todo o mar de equívocos, de erros, de convicções ruinosas que colocaram Portugal no estado em que se encontra, sou levado a imaginar que, tratando-se o presidente actual do CDS de uma personalidade também permanentemente utilizadora do “eu”, falando sempre em nome pessoal, não obstante dever fazê-lo como um conjunto de pessoas, com a convicção plena de que ele é tudo e os outros pouca coisa, de que a verdade está sempre do seu lado e de que nunca erra e nem precisa de ouvir os parceiros para depois aparecer a comunicar os resultados, não utilizando o “nós” mas sempre o “eu”, não dando a ideia de que terá alguma vez coragem para se confessar publicamente enganado, ao pôr as duas figuras lado a lado e utilizando todas as possibilidades que a comparação pode permitir e que seja aceitável nestes casos, eu, por mim e aqui neste texto sem ambições, só pode dizer que, claro que Sócrates nunca…, mas quanto a Portas não escondo que tenho as minhas dúvidas. E cada vez que o oiço falar em público e contemplo os seus modos… interrogo-me.
Menos-mal que as possibilidades caem sobre um homem, Pedro Passos Coelho, de que não existem ainda razões para apontar grandes falhas, por muito que haja quem o culpe de o PSD ter deixado passar Orçamento e PECs que talvez pudessem ter ficado pelo caminho. Não me resta outro refúgio que não seja depositar o mínimo de esperança de que, por muito mau que seja o panorama, pelo menos vimo-nos livres da figura que tem de ser julgada, pelo menos pela História. Oxalá não me engane.
Já que a dúvida é o que nos envolve nesta fase periclitante do futuro imediato nacional, pois ao menos que nos refugiemos nesse ténue chapéu de chuva, à espera de que não venha aí nenhum tsunami ou coisa parecida, pois que nessas circunstâncias não haverá quem nos salve!...

domingo, 20 de março de 2011

ESQUECIMENTO

Esqueço-me de tudo e de nada
do importante e do singelo
e de forma desvairada
já não sei se vou fazê-lo
e até o que eu prometi
e do que nunca esqueci
o olvido é constante
o puxar pela memória
é acção de cada instante
dava p’ra longa história
pôr em ordem todo o drama
a lista dos esquecimentos
que arde como uma chama
e que voa com os ventos

Este esquecer sem fim
me faz olvidar de mim

O QUE INTERESSA


QUE INTERESSE PODE TER, aos que por cá se vêem envoltos no problema principal que nos aflige, que o mundo se encontre nesta altura a enfrentar um número enorme de problemas que, pela sua periculosidade e dadas as consequências que se antevêem no horizonte, o mais próximo mas também que surgirá a um prazo que nos atingirá a todos, que razões existem para que os portugueses se incomodem excessivamente se, as situações que ocorrem entre as nossas portas, o termos de encontrar forma de solucionar o maior imbróglio que por cá existe e que se chama Sócrates é isso que nos atinge directamente e o resto é lá com os que se defrontam com berbicachos que os obrigam a solucionar cada um em sua casa?
Na verdade, ao seguirmos os noticiários televisivos e as crónicas que ocupam todos os espaços escritos quer pelas redacções quer pelos colaboradores avulso – e, claro, não excluo os “blogues” -, constatamos que os motivos base de tais escritos e de imagens se filiam no que ocorre nesta fase que se classifica como sendo de uma crise política com que o País se encontra confrontado. A continuação do Governo chefiado por José Sócrates situa-se, no período que estamos a atravessar, o maior acidente que poderia ter chegado até nós e a solução desse fantasma é o que ocupa toda a atenção dos portugueses.
Ao redigir este texto tenho também de concordar que, dentro do princípio de que cada um cuida de si e que com o mal dos outros podemos nós bem – frase bem portuguesa e que se encontra enraizada no espírito bem nacional -, realmente não há desgraças no mundo que possam sobrepor-se àquela de que andamos a sofrer as consequências na pele há, pelo menos, dez anos. Mas, ao parar para reflectir com absoluta independência, não posso deixar de contemplar todo o panorama que o mundo nos está a mostrar desde há já algum tempo e resignar-me a considerar que temos todos nós por cá a sorte de não terem ocorrido neste nosso rectângulo os dramas que fazem sofrer populações e países que se encontram na fase de deitar mãos à obra e de reconstruir tudo, desde o princípio, aquilo que forças da Natureza ou forças humanas deixaram em absoluta destruição material, moral, política e social. Cada caso com as suas causas.
Bem sei que também é uma forma de comportamento lusitano actuar de forma totalmente ao contrário, ou seja não se lastimar quando se quebra uma perna, pois muito pior seria se tivessem sido as duas…, mas há que recorrer sempre a um mínimo de bom senso e de saber medir as dimensões das desgraças e de estabelecer paralelos entre o que ocorre connosco e o que vitima os outros.
Em resumo: as lutas fratricidas que se instalaram no Médio Oriente e que provocaram – e ainda não estão solucionadas – as quedas de alguns governantes de todo o poder e as mortes de muita população que entendeu chegar a altura de terminar com tais situações, sendo que, no caso da Líbia, a recusa de um Kadafi em largar o poder, tem provocado a luta contra o próprio povo líbio e a intervenção em ultimo extremo de países estranhos ao facto interno, provocando ainda maiores aumentos do preço do petróleo, igualmente a falta de entendimento no ambiente dos países reunidos em redor do interesse europeu e da defesa de uma comunidade que se devia apoiar mutuamente, com a mesma moeda mas sem conseguir formar a tal federação que se impõe para que o euro não acabe por se diluir, bem como – e com um verdadeiro sublinhado que deve ser feito - a tão recente e dramática catástrofe ocorrida no Japão e que ninguém garante que não se venha a alastrar, por via da mancha nuclear, a outras zonas do mundo, provocada por terramotos e por tsunamis que o homem não pode controlar, tudo isso, a nós portugueses, mesmo assistindo às descrições de tais acontecimentos, não representa uma aflição tão merecedora da maior atenção do que o caso que podemos resumir chamando-lhe Sócrates, pois, há uns tempos para cá, é esse o motivo de toda a nossa atenção e que consegue reunir o maior número de intervenientes que põem de lado todos os outros enormes casos aflitivos que ocorrem no nosso Planeta.
As manifestações dos “à rasca”, num sábado, a outra ocorrida ontem e organizada pela CGTP, as greves dos camiões, os desfiles dos professores, tudo isso faz deslocar pessoal para, de braço no ar, com cartazes preparados com frases feitas e os chefes desses grupos, que por sinal não são desempregados, tudo isso faz considerar os tão graves problemas que ocorrem no mundo como sendo de somenos importância.
Mas o que nesta altura ocupa todo o espírito lusitano, dos que são a favor dos que são contra, é, sem dúvida, a grande questão de saber se, na semana que vai entrar, o Governo de Sócrates continua agarrado ao poder ou se outra solução surgirá, por via de eleições ou outra, mesmo que a fé em que as coisas melhorem não seja a que domina os que conhecem melhor a situação política, económica, financeira e social do nosso País. Porque esses, entre os quais me situo, não alimentam grandes esperanças de que se encontre à vista uma alternativa que dê garantias de que os que se sentarem no poder tragam as receitas mais adequadas para pôr a funcionar aquilo que se impõe e que é o atacar o desemprego, o aumentar a produção nacional, o acabar drasticamente com as despesas desnecessárias e meter na cabeça dos portugueses que é forçoso que cada um cumpra, com o seu trabalho afincado, a obrigação que lhe cabe de não aguardar que seja o Estado que tem de fazer tudo.
Que existem políticos à espreita para se sentarem nos lugares nos gabinetes, isso está bem à vista. O PSD há já bastante tempo que o demonstra. E o CDS de Portas, hoje até com uma reunião em Viseu em que não foi escondida a sua ânsia em voltar a ocupar um ministério (oxalá não seja de novo a Defesa e não se verifiquem mais compras de submarinos) e em que os seus sequazes apelaram para que lhe fosse dado o posto de primeiro ministro, tudo isso dá mostras de que o ser humano e os portugueses em particular não perdem tempo em demonstrar que são sempre os melhores e que nuca se enganam.
Mas que temos de não ficar parados, lá isso é verdade. E os jovens de hoje, que se dizem que estão agora “à rasca” o que será que vão dizer quando tiverem de fazer dos bolsos os pagamentos dos milhares de milhões das dívidas que têm sido feitas até hoje.
Pessimista? Nem por isso. Quem cá estiver lá para diante, quando tudo isso ocorrer, se houver quem leia blogues antigos que me faça a estátua ou me dê um nome de rua, o que nem será caso para admiração, dado que, segundo parece, estão a preparar uma cerimónia para encontrar uma parede onde surja o nome de Carlos Castro!...

sábado, 19 de março de 2011

CAMINHANDO

Caminhante, caminhante
eu sou
e por uma vida errante
nem eu sei para onde vou
sem destino
embora com fim marcado
e porque também desafino
prefiro ficar calado

Pois se falo não me ouvem
é melhor
à volta as sentenças chovem
que horror
nem sequer deixam espaço
e o meu silêncio impõem
não tem valor o que faço
elas não matem mas moem

Mesmo assim lá vou andando
sempre hirto e de pé
às vezes sou eu que mando
outras nem sei quem é
as circunstâncias
são elas que me comandam
grandes ânsias
mesmo mal por vezes mandam

Ficar parado não cansa
as pernas
mas cabeça sempre dança
aceita coisas modernas
ir em frente é preciso
sem hesitar
porque o triste indeciso
morre a olhar para o ar

A pergunta aqui fica
à espera
e a qualquer se aplica
sincera
é melhor sempre correndo
ou não ter pressa em chegar
pois o que se vai fazendo
não pode nunca parar?

Devagar ou em corrida
chega um dia o fim da vida


ESTAFADOS


O TRISTE ESPECTÁCULO QUE FOI oferecido aos portugueses, nesta última sexta-feira, em que o primeiro-ministro, já sem mostrar preocupação em tentar transmitir a ideia de que está seguro na sua verdade, pois que já não conseguiu esconder frases entre dentes que não foram próprias de quem ocupa um lugar como o de chefe de um Governo, essa amostra da qualidade que temos como cidadãos não deixou quaisquer dúvidas de que, com uma crise ou sem ela, não é possível admitir por mais tempo suportar uma figura como aquela que já entrou no descalabro de atitudes e que, a continuar no lugar, ainda provocará mais estragos neste nosso País tão afundado como Sócrates o deixa.
Quer o Governo caia do poleiro ou não – posto que, para além da possibilidade de ser apresentada uma moção de censura ou a votação do PEC seja negativa é de admitir ainda que o próprio Governo apresente o seu propósito de abandonar as funções -, tudo ainda é de levar em consideração. Mas uma coisa é mais do que certa: continuarem as coisas como estão é que não haverá muitos portugueses que consigam aguentar.
E, para não repetir muito o que foi ontem largamente divulgado em toda a comunicação social, fixo-me apenas num ponto que constituiu uma notícia que ocupava um cantinho de um diário: rezava a notícia que o antigo ministro Jorge Coelho, ao sair do lugar que ocupou nas Obras Públicas, foi ocupar o lugar de vice-presidente da empresa Mota-Engil e que, entre salários e prémios, a sua remuneração anual é de 700 mil euros.
Não considero valer a pena aumentar este espaço com mais considerações e perder tempo com apreciações sobre essa figura política que só desejo saber o que é que lhe vai suceder no dia em que for despedido do cargo que tão mal para Portugal tem desempenhado.
Como nós todos ficamos, isso não é preciso que me digam. Agora ele!...

sexta-feira, 18 de março de 2011

DISCUTIR

Falem, falem por aí
e gritem tudo bem alto
não ouvi tudo, sai
fui ficando em sobressalto

As mãos não têm descanso
a cara acompanha os gestos
o corpo toma balanço
e sai um mar de protestos

Outros não têm razão
estes só dizem verdades
será jactância ou não

Mas são só as liberdades
em que nesta geração
se discutem pluralidades

FALASAR


JÁ NEM VALE A PENA escrever muito sobre o que se passa neste nosso País, pois as declarações que são feitas repetidamente, tanto pelos que se situam ainda na área da governação como os que, de fora, não se cansam de apontar erros, tudo isso já sobeja de ler e de ouvir, dado que o que interessa é que o estado a que isto chegou já não vai lá com conversas, escritas ou faladas.
Da parte do socratismo, enquanto ainda agoniza no seu lugar e não é corrido seja qual for a forma que possa ser utilizada, não se aguenta mais escutar que o fulano que nos colocou na situação degradante em que Portugal se encontra repete cansativamente que “fez o seu melhor” e que a culpa de tudo isto é daqueles que provocam a crise no seio lusistano que poderia ser bem evitada. Do lado dos opositores não se ouvem outras afirmações que não sejam as de apresentar todos os argumentos que difundem a ideia de que o grande culpado de tudo isto só tem um nome: José Sócrates.
Depois da substituição já indiscutível que ocorrerá do primeiro-ministro e do seu conjunto ministerial, os que tomarem posse vão passar os primeiros tempos a demonstrar os elementos de que passam a dispor e que demonstram a dificuldade (para não dizer impossibilidade) que encontram para poder desempenhar as suas funções que o resultado eleitoral lhes proporcionará e que, face a elas, são forçados a tornar ainda mais difícil a vida dos portugueses, pelo que, perante isso, o pedido de ajuda aos FMIs e outros terá de ser inevitável.
Este é o panorama, por esta ordem ou com outra, para que os portugueses têm de estar preparados para enfrentar e não vale a pena andarmos, uns e outros, a inventar discursatas que só fazem perder tempo, que é o que temos cada vez menos, pois que aquele que se desperdiçou desde há uns dez anos para trás acabou por nos colocar agora perante uma situação que não se compadece mais com ilusões e histórias para apontar os heróis e os vilões.
Claro que o TGV, a ponte nova sobre o Tejo e todas as fantasias que ainda continuam a ser, descaradamente, propagadas pelo actual Executivo, tudo isso será metido na gaveta, para não dizer que irá parar ao caixote do lixo. Mas, entretanto e enquanto o passo da substituição governamental não se der, dado que há que cumprir normas e prazos que, nesta conjuntura que se apresentam, será nessa altura que se tomará consciência do dramático problema que se acrescenta ao já existente. E como os empréstimos externos se reduzirão drasticamente, pois que a desconfiança dos credores, os actuais e os potenciais, fará com que se terá de encarar o enorme perigo de faltar o dinheiro nos cofres do Estado para enfrentar as despesas correntes e aí em todas as áreas de compromissos – os salários públicos, os pagamentos dos juros que caem todos os dias, as reformas, etc. – e será então que a população em geral se revoltará ainda mais perante o verdadeiro estado de “à rasquinha” que não será fácil solucionar.
E, em cada dia que vai passando, o que poderia parecer um mistério toda a embrulhada que resultou da apresentação de um PEC em Bruxelas, sem que por cá não se tivesse verificado um anúncio prévio e sem conhecimento sequer do Presidente da República, nesta altura está mais do que esclarecido: tratou-se de um golpe baixo de Sócrates para provocar que, no Parlamento, a não passagem do documento lhe desse motivo para apresentar a demissão, passando as culpas do facto aos adversários políticos que quererá apontar como os maus da fita!...
Está claramente escrito o nosso destino imediato. Da minha parte, há já bastante tempo que venho a prever um desfecho deste tipo ou de outro que tivesse as mesmas consequências. E aqueles que me acusaram de pessimismo que metam agora a mão na consciência e que tratem de arregaçar as mangas e de enfrentar o que aí vem. E torna-se forçoso dizer aos portugueses que só depende deles o poder, com os anos que isso levará, dar a volta ao panorama. Na agricultura, nas pescas, nas sus empresas e aqueles que trabalham por conta de outros, têm todos os portugueses que convencer-se de que lhes é imposto que deixem de passar o dia agarrados aos telefonemas não profissionais e, mesmo esses, sendo rápidos e práticos. Mas, para isso, os governantes de então, terão que ser os primeiros a dar o exemplo, deixando-se de falasar e não gastando nem um centavo que não seja rigorosamente necessário.
Se os portugueses, aqueles que ainda não estão reformados – cuja percentagem em idades, que não se aceita bem que já o sejam, é elevadíssima -, cumprirem correctamente as funções a que são obrigados essa ajuda servirá de alguma maneira para que a produção nacional se passe a aproximar da que se verifica nos restantes países europeus.
Porque dos políticos pouco há a esperar. Os que ainda não saíram, já se sabe, mas os que vierem não se conhece ainda se serão capazes…
E é esta a futurologia que se pode fazer.

quinta-feira, 17 de março de 2011

GERAÇÃO SOFRIDA

Que esperanças tinha que houvesse Abril
o que eu ansiava por fim do inferno
bem dentro guardava sonhos mil
e que apodrecesse o que era governo

Levou tempo, tempo demais, demais
vivi o antes até muito tarde
passei por excessivos vendavais
tropecei em muita gente cobarde

Até que chegou, não era sem tempo
veio com armas, não era o ideal
para tantos terá sido contratempo
não estava no programa esse funeral

Foi a euforia, a loucura nas ruas
tirou-se o tampão da garrafa fechada
tal como quem tira por fim as gazuas
do portão de uma quinta trancada

Uns quantos tinham razão de estar felizes
terão sofrido muito até então
não tiveram conta por quantas crises
passaram, apenas por dizerem não

Mas terá sido assim com a maioria,
toda essa gente que se mascarou
vestiu a farda do revolucionário, seria,
por dentro aquilo que mostrou ?

Quantos apanhada a carruagem em giro,
não foram os que ganharam com a troca ?
Fizeram tal e qual como o vampiro
e puseram-se, matreiros, bem à coca

Como ganharam com isso os aproveitas
chorudo futuro festejaram
valeu a pena a troca, largas colheitas
tiraram do campo que outros lavraram

Aqueles que tinham idade para tanto
e passado que sangrava em ferida
quase que foram postos a um canto
tratava-se, afinal, da geração sofrida

Sofrer antes e sofrer depois é muito
não é justo, há que reconhecer
poderá não ter sido esse o intuito
mas é algo que dá para entristecer

Geração sofrida, tem que se dizer,
ela existe, obscura e triste,
a juventude nem pode agradecer
ninguém mostrou e disse em que consiste

E assim se vai escrevendo a História
com lacunas, esquecimentos, inverdades
a geração sofrida escapa à memória
quem não sabe não alimenta saudades

Geração sofrida,
o que não pode estar é arrependida

FMI OU O QUE QUER QUE SEJA!...


ESTA PERGUNTA que constitui uma razão para que o Executivo de Sócrates tudo faça para se manter no poder e ameaçar com a crise política que, segundo ele, será provocada pelos outros e que ele “dá o seu melhor” – frase que pronunciou vezes sem conta na última entrevista que concedeu à televisão – para evitar que cá chegue o que diz ser um mal para o País, mas a questão que divide bastantes opiniões e que não se sabe se será, de facto, uma catástrofe ou uma inevitabilidade, tem, obviamente, que colocar a dúvida em muitos portugueses, pelo menos aqueles que seguem mais atentamente a evolução dos acontecimentos, pois que sofrer no bolso os efeitos das medidas que têm sido progressivamente tomadas isso não passa despercebido.
Mas, a final, o termos de requerer a intervenção do FMI para fazer face ao interminável pedido de empréstimos, com juros cada vez mais elevados, é inevitável ou haverá outra forma de sairmos deste atoleiro em que nos fizeram cair?
E quem é capaz de responder, com total idoneidade e absoluta confiança na sua opinião, a este problema de tão grande importância?
A opinião do que se mantém no lugar de primeiro-ministro de Portugal, essa já se conhece e, honestamente, temos de colocar dúvidas no que nos diz. E os que afirmam que será preferível que as medidas que há que tomar para terminarmos, o mais depressa possível, com a corrida aos empréstimos e se ataque a fundo no corte das despesas que podem ser anuladas, será que tais pontos de vista nos favorecem?
Bem, não vou aqui colocar-me em nenhum dos dois lados. Porque o que é indiscutível é que, se tivesse o Governo feito os cortes que se impunham em tudo que constituiu um vida à grande e à francesa – para usar a nossa expressão antiga -, medidas essas que, aqui neste blogue e lá muito para trás eu apontei em diferentes ocasiões, talvez agora o afogamento não fosse tão profundo, se bem que o problema principal que é de não produzirmos, logo exportarmos, aquilo que consumimos e sermos obrigados a adquirir fora uma larga margem de produtos, se o “sabedor absoluto” Sócrates não fosse o casmurro que tem mostrado ser a sua especialidade, é evidente que não nos encontraríamos tão no fundo como estamos.
Logo, também como o mandão do PS já reconheceu que se os planos que mantém como os mais adequados não forem aprovados na A.R. o seu Executivo se demitirá e ele próprio se colocará à frente do Partido para discutir novas eleições, isso quer dizer que está à vista a tal crise política e que um panorama diferente surgirá neste nosso tão castigado País.
Agora, o que ele não pode é fugir das culpas das consequências de tudo isso. E nem vale a pena entrar em discussão quanto ao passado, por mais recente que ele seja, pois que o que nos tem de preocupar é o futuro e o que caberá aos vindouros ter de suportar, devido à má actuação dos actuais, o enorme “embrulho” de problemas que lhes deixamos.
Com FMI ou sem ele, o destino já está marcado. E a História descreverá, daqui a anos, todos os episódios e apontando as culpas a quem as tiver. Só que já estarão todos mortos e, provavelmente, com nomes postos em ruas e avenidas.
Alguém duvida?

quarta-feira, 16 de março de 2011

A REALIDADE

Ilusão é de facto uma virtude
o sonho também ajuda a vencer
pensar no que é belo dá saúde
é só ver na vida o que é prazer

Imaginar agrada, as coisas boas
deixar para trás tudo que não presta
não atender às popas só às proas
seguir no mundo levantando a testa

Os desejos, mesmo não conseguidos
não serão no todo fatalidade
ainda que acabem nos olvidos

No fundo existe alguma crueldade
ao pôr em uso todos os sentidos
vendo ser outra a realidade

CONVERSAS FIADAS


NO DIA EM QUE FOR POSSÍVEL, neste nosso País, não nos incomodarmos com o que um primeiro-ministro diz ou deixa de dizer, o que não sucede no momento que atravessamos, nessa altura, ainda que a situação económica, financeira e social não se tenha ainda recomposto do estado em que se encontra agora, pelo menos não nos atormentaremos perante aquilo que somos forçados a suportar e que é o que sai da boca de um fulano que dá toda a ideia de viver noutro planeta e de não ter a menor ideia da realidade que o rodeia a ele a todo o País onde existimos.
Este sentimento não constitui uma raridade em Portugal. Basta andar por todos os sítios por onde passamos ao longo deste nosso território e o que se escuta com mais vulgaridade é a adversidade quanto ao governante que está instalado e que se encontra protegido pelo receio de todas as partes com possibilidades em ocupar o lugar que lhe tem cabido, mas que não se atrevem a tomar a decisão. É que dar a volta de 180 graus aos procedimentos que sejam capazes de colocar o nosso País numa plataforma que possa ser considerada como a possível e minimamente certeira, isso quando conscientemente, a situação atingiu aquela considerada como a de não ter ponta por onde se lhe pegue, tal pavor em pegar num País que atingiu o fundo do poço e que nem um milagre o consegue fazer subir à superfície apenas pelos seus próprios meios, é esse grau de debilidade que assusta qualquer provável sucessor nas funções de chefe de um novo Governo e que o faz reter-se apenas como comentador e maldizente.
Mas que as coisas não podem permanecer durante mais tempo como estão, que, por mais difíceis que tenham de ser as soluções para repor Portugal no caminho que lhe pertence por direito e como Nação europeia a cumprir o papel que a História lhe reserva, tem forçosamente que surgir alguma solução, ainda que se mantenha a ideia de que a dependência dos restantes modos que, do exterior, lá têm vindo a fazer aumentar a enorme dívida que já está assente na pipa e que algum dia haverá que liquidar, o que entrou mais os elevadíssimos juros que sobrecarregam os vindouros nacionais.
Da Europa, a que aderimos com a esperança de que se tratava de uma comunidade que iria funcionar como uma federação, até talvez uns futuros estados unidos, verifica-se que a promessa feita nos primórdios da sua constituição como CEE est5á cada vez mais longe de se verificar. Cada um por si e ninguém por todos é o panorama que se apresenta para os que, como Mário Soares, tanto aspiravam que se concretizasse um dia.
A ideia que eu defendo há muitos anos de se formar, com a vizinha Espanha, uma espécie do Benelux, a Ibéria, para lhe dar um nome, em que esta Península daria mostras da sua força no compromissos que fossem firmados no conjunto das nações que aderiram à Comunidade europeia, discutindo, lado a lado, com a Alemanha e a França, as formas de levar por diante a unidade que tem faltado neste nosso Continente, tal proposta encontra-se muito longe de vir a ser concretizada, posto que, sobretudo do lado de cá da fronteira, não se viu nunca e também agora uma iniciativa governamental e parlamentar que conduza a tal passo.
Daí que estamos entregues a nós mesmos. E como não há razão para crer que a actual conjectura do Executivo seja capaz de enfrentar abertamente a difícil situação em que nos encontramos, pois que a teimosa convicção de Sócrates de que ele é único com razão e senhor da verdade absoluta, a saída possível reside apenas na queda forçada do Gabinete governamental e desejar que, no seu lugar, os portugueses tenham capacidade para escolher razoavelmente o substituto, um partido ou uma coligação, que, em derradeira causa, pegue no doente chamado Portugal e consiga libertá-lo da morte anunciada.
A todos nós, que ainda estamos vivos, só nos resta assistir ao espernear do defunto e tudo fazer para que consigamos, através da produção, que é o que sempre nos faltou, suportar o consumo interno e conquistar até mercados externos. Não há outra maneira de podermos subsistir. E isso quer dizer que cada um de nós se deve compenetrar de que o trabalho é isso mesmo: o não passarmos o tempo na conversa, nas fugas ao café, nos telefonemas a torto e a direito, e sim utilizar todo o período de actividade apenas agarrados ao que devemos fazer e a produzir.
É isto que compete a todos os que se situam nos lugares de comando, começando pelo Presidente da República e incluindo todos os lugares de chefia, incluindo o Parlamento, dando o exemplo de arregaçar as mangas, de restringir ao máximo as despesas inúteis e de recomendar aos portugueses aquilo que é forçoso que lhes seja dito, sem tibiezas e sem complexos.
A morte anunciada do nosso País só será evitada se acabarmos de vez com as conversas fiadas dos políticos, sejam eles quais forem, e se passe dos discursos à acção.
Não vejo outra forma.
P.S. – Acabo de seguir com a maior atenção a entrevista que José Sócrates deu à SIC e, em primeiro lugar, só tenho que lastimar que continuemos a não dispor de jornalistas com capacidade para apresentar um questionário – e não a fazer afirmações que não lhes competem – que obrigue os entrevistados a não se repetirem nos pontos que lhes interessam e a deixar em claro respostas que os obriguem a não fugir às questões. E foi isso que sucedeu ontem.
Mas, quanto a poder ainda existir alguma expectativa no que respeita a declarações que ajudassem a esclarecer a forma de fazer política do que ainda se mantém como primeiro-ministro e, pelos vistos, face a uma eventual crise politica (que Sócrates referiu 23 vezes), declarou-se disponível para concorrer a outras eleições. Logo, agarrado ao poder ele está. Mas há que voltar ao assunto. Depois…