quinta-feira, 20 de novembro de 2008

LILI ACTRIZ!




Vivemos uns tempos, pelo menos em Portugal que é o que conheço melhor por aqui viver, em que o que interessa mais não é cultivar, desenvolver e dar oportunidade ao valor do reconhecido mas sim, aproveitar as oportunidades que surjam para ganhar mais facilmente, de tirar proveito económico e de forma mais rápida das acções que se praticam.
Eu explico melhor o que quero dizer com isto: vem a propósito o facto do tão conhecido elemento do chamado "jatset", Lili Caneças, vir a participar numa peça de teatro que ainda está nos primeiros passos de ensaios e já está a usufruir de uma publicidade que, obviamente, consegue despertar a curiosidade do público, o que, só por isso, irá seguramente levar à referida casa de espectáculos bastante público, só para ser constatado se a pessoa em causa tem habilidade para a eventual actividade que lhe foi proporcionada. E provavelmente o lucro vai ser de monta.
O primeiro caso a justificar este blogue é o de sublinhar a circunstância de se saber que existem inúmeros actores profissionais de teatro que atravessam períodos de paragem, de desemprego, de dificuldades financeiras que os levam a ter de aceitar actividades que, quase sempre, não têm nada em comum com a arte de representar. Recordo-me de, muitos anos atrás, ter encontrado Eunice Muñoz a trabalhar numa loja de venda de cortiças, porque, nessa altura, o teatro tinha fechado as suas portas para um valor como é o da actriz que, felizmente, conseguiu ultrapassar essa fase. E, por muito que a publicidade e a televisão ainda dêem, neste período, uma ajuda monetária a esses parados actores e actrizes, a verdade é que não existem suficientes casas de espectáculo capazes de acolher quem se entregou, de alma e coração, à arte de Talma e só isso aceita fazer. E, quanto a produtores teatrais, também é rara a sua existência.
Claro que eu não posso criticar as Lilis, as Carolinas, os jogadores de futebol e outras figuras que são conhecidas pela sua actividade em funções que nada têm a ver com qualquer arte, de representar, de escrever, de cantar (ah, aí então!), pois toda a gente é livre de procurar aquilo que lhe dá mais projecção, mas que os realizadores animem essas pessoas a desempenhar papeis que outros, os verdadeiros profissionais, necessitam e merecem que sejam aceites para dar largas ao seu talento, contra isso, de facto, indigno-me, revolto-me, fico ainda mais zangado com o mundo, embora saiba que o ser humano é assim mesmo.
Os editores são, quanto a mim, os maiores culpados de a literatura em Portugal estar tão pouco acarinhada pela população, ao ponto de até ter falido há dias um estabelecimento em Lisboa que nem tinha um ano de vida e que se apresentou como sendo um centro comercial do livro. Causou-me pena. Com os editores tão afadigados em lançar tanto lixo literário e a não cuidarem de acarinhar os escritores que merecem alguma atenção entre nós, para mostrarem o que valem, não admira que a crise atinja também um sector que, a morrer, será dos que mais falta fazem no progresso intelectual de uma Nação. Mas eu fico-me por aqui, para não me acusarem de estar a querer defender um tema em causa própria.

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