terça-feira, 18 de novembro de 2008

O INGÉNUO SOARES


Mário Soares, num texto de sua autoria publicado hoje no “Diário de Notícias”, parece mostrar alguma surpresa por ter constatado que na recente Cimeira dos G20, onde compareceram 21 chefes de Estado ou de Governo de vários países, para além de outras figuras mundiais de relevo, como Durão Barroso, estiveram presentes vários dos apoiantes de George Bush enquanto este exerceu a funções como chefe supremo nos Estados Unidos da América e teve enorme influência e responsabilidade em muitos acontecimentos que ocorreram pelo mundo e cujas consequências ainda se arrastam. Claro que Bush, de resto como anfitrião, esteve presente nessa Cimeira, e, segundo o mesmo Soares, sacando da sua experiência política e da idade que também é um posto, não esconde que o referido encontro teve como objectivo tentar branquear o mau comportamento do presidente americano, como primeiro responsável pela crise financeira e económica que grassa pelo mundo e que teve origem, em grande parte, na invasão do Iraque e de tudo o que se tem seguido posteriormente.
Sublinho ainda o facto de Barak Obama não ter assistido à referida Cimeira, como mostra de prudência em não se envolver numa espécie de homenagem que não estará nos horizontes do Presidente americano eleito, e de referir também que do mesmo encontro não se pode dizer que terão saído medidas de importância para solucionar os problemas graves em que o mundo está envolvido.
Mas, o que pretendo neste blogue acentuar é a surpresa que Mário Soares demonstra pelo facto de constatar que antigos apoiantes internacionais de Bush tenham surgido agora a evidenciar louvaminhas ao Homem forte que toma posse em Janeiro de 2009. Diz Soares textualmente que “é chocante que os homens que acompanharam Bush no passado (Berlusconi, Brown, Sarkozy e Durão Barroso, salienta-os) se queiram agora agarrar a Obama, sem largar Bush”.
A mim o que me estranha, eu que sempre acompanhei Soares em toda a sua vida política – mesmo antes do 25 de Abril -, que até fiz dez viagens ao estrangeiro nas minhas funções de jornalista e ele como primeiro-Ministro, o que me deu um conhecimento apreciável das suas interpretações políticas, mesmo com desacordos pontuais, é que este profissional experiente daquelas funções não tenha entendido que o ser humano, seja qual for a actividade a que se dedique, é raramente fiel, estando sempre a espreitar a oportunidade que lhe pode dar mais vantagens e não deixando de se passar para outra cor clubista se verificar que tira vantagens com essa troca.
Nem deu por isso, mesmo ele que lhe sucedeu ter deparado com “incontestáveis” seguidores que, na primeira altura, deram o salto para o outro lado? Sábio, sim, mas ingénuo, também.

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