segunda-feira, 31 de maio de 2010

COSTUME

Ao que nos acostumamos
o difícil é mudar
parece bem como estamos
para quê pois variar?
O costume é um vício
nem é preciso pensar
representa benefício
porquê portanto mudar?

O costume da leitura
de comprar no mesmo lado
de não alterar figura
de preferir estar calado
cada um tem seu costume
e às vezes bem estranho
como usar um perfume
que só sai depois do banho

No comer se impõe também
o que nos habituamos
há quem olhe com desdém
pr’aquilo que nós gostamos
cada um e cada qual
tem seu costume de anos
até mesmo num casal
não há comunhão de manos

Quando se perde um costume
sendo hábito antigo
é com algum azedume
como quem perde um amigo
são os outros normalmente
que nos forçam a mudar
pois nunca nasce da gente
um costume afastar

AGRICULTRURA Á PORTUGUESA


CAVACO SILVA, numa das suas visitas ao interior do País, em pleno Alentejo lançou um desafio para que os agricultores portugueses se entregassem com entusiasmo à sua actividade, posto que, no seu entender, a agricultura será uma via de peso de que nos poderemos servir para colocar no estrangeiro os produtos nacionais da terra. E, com isto, parece ter descoberto alguma coisa de que não tínhamos a menor ideia.
Com o respeito que tem de merecer o Supremo Magistrado da Nação, seja ele qual for, aquilo com que deparamos frequentemente é que as mais bem situadas personalidades na hierarquia do Estado andam frequentemente desfasados das realidades portuguesas e, de vez em quando, “descobrem” soluções para os problemas portugueses que, quem não anda distraído e tem alguma vivência no seio do panorama, já conhece há muito tempo.
Falemos então da agricultura nacional. E eu, que especificamente lidei com esta área quando fui director, durante alguns anos, de uma publicação que teve larga difusão nessa zona e que se chamava “o País Agrícola”, estou em condições de poder opinar quanto a um sector que já foi da certa importância no conjunto económico português. É o que vou fazer neste espaço.
Somos um País pequeno, todos sabem, e, por tal motivo, as propriedades destinadas à agricultura também são de tamanho reduzido, com excepção do Alentejo onde, desde tempos remotos, se encontram ainda os chamados grandes proprietários, atendendo às dimensões proporcionais do nosso espaço como Nação. Logo, os restantes habitantes que se dedicam a tal actividade, de Norte a Sul, não são mais do que limitados cultivadores de terras com características de utilizadores de ferramentas não mecanizadas e produtores de pequenas quantidades de géneros que são consumidos em família e o que sobra é posto à venda em mercados relativamente perto.
Lisboa, como consumidora de certo tamanho, recordo que desde os tempos da Praça da Figueira, onde as carroças, vindas das regiões do Oeste, se acumulavam toda a noite, pela rua dos Correeiros fora, à espera da abertura das portas de madrugada para descarregarem os vegetais que ali eram destinados, e, nos dias de hoje, já não utilizando o transporte muar ou com bois mas sim por via motriz, também continua a consumir o que os fornecedores de vegetais vão trazendo.
Só que actualmente, a concorrência com os produtos oriundos do estrangeiro, sobretudo as frutas, obriga a que os preços sejam estabelecidos por essa via e, ao invés, ou seja no que diz respeito a podarmos ser nós a exportar para fora das fronteiras, aí já nos faltam as capacidades para conquistarmos mercados que não estão à mão de semear.
Ora, é aí precisamente que os nossos governantes, os de hoje mas também os de sempre, não sabem nem aprendem as regras que são essenciais para podermos estar à altura de preços e qualidades que interessem os mercados mais longe, mesmo os europeus, mas menos ainda os de outros continentes. Eu, que tive oportunidade de trazer de Israel a possibilidade de nos ensinarem como se conquista o interesse de potenciais compradores estrangeiros de produtos agrícolas, não consegui interessar, na altura, dois ministros sucessivos detentores da respectiva pasta, pois não foram capazes de entender que seria um passos importante se o Governo de então tivesse apadrinhado a proposta.
É que nós, como pequenos agricultores que somos, não temos, a nível individual, capacidade de investimento e de produção suficientes para estudarmos quais os produtos que são susceptíveis de suportar a concorrência do exterior, que características devem ter e que preços é que são susceptíveis de interessar aos potenciais compradores. Só uma instituição que aglutine todo o sector nas múltiplas actividades que vão desde o cultivo e até à recolha e apresentação, é que estará em condições de enfrentar tamanha tarefa. E isso, tal como sucede em Israel – pequeno País que nem terrenos de qualidade possui -, é que seria útil termos colhido os ensinamentos e o apoio técnico, o que não sucedeu na altura a que me referi. Mas, um dia, num espaço mais oportuno, relatarei os acontecimentos que constituem a prova de que, quando não sabemos também não queremos dar mostras da nossa ignorância. E vem sempre aquela frase dos políticos que, a mim, me causa a maior das vergonhas: “não recebemos lições de ninguém!”
Este episódio não é do conhecimento de Cavaco Silva mesmo que, por sinal, o seu pai até tenha sido um dos participantes duma excursão de agricultores que “o País Agrícola” organizou a Israel… E bastante me felicitou pelo facto.

domingo, 30 de maio de 2010

DESCONSOLADO

Aqui estou eu, desconsolado
a ver passar o mundo
à minha volta
sem que nele interfira
sem que o melhore
mas também pouco
o piorando.
Sou mais um
dos milhares de milhões
que por cá andam
a consumir o ar,
a água, o ambiente,
o espaço
e que contribui para que o amanhã
seja muito pior,
mais escasso de tudo,
menos belo,
menos natural.

Aqui estou, enfastiado
já sem me importar
com o que vem a seguir,
com o que vai ser o futuro,
aquele que não me vai encontrar...
para me desconsolar

sábado, 29 de maio de 2010

AFINAL

Ao não estar pronto em seu dia
seja por bem ou por mal
quem procura a harmonia
só persegue o afinal
o mau assim
tem seu fim
porque isso do finalmente
leva tempo a conseguir
não é bem o que se sente
quer a sério ou a fingir

Afinal sempre vieste
é desabafo de amigo
a prova de que quiseste
trocar impressões comigo
se nos vemos
nos entendemos
assim acordo lá chega
e as mãos num bom aperto
põem fim a qualquer pega
afinal está tudo certo

Não era assim afinal
mas sim de outra maneira
é como no prato o sal
se é demais sai asneira
peso e medida
não causa ferida
está escrito no destino
há que ter um ideal
mas quando se perde o tino
não se chega ao afinal

Afinal tão simples era
afinal não custa nada
já chegou a primavera
do ar fresco, uma lufada
que delícia
tal carícia
impossível afinal
há muita coisa na vida
mas copiar tal e qual
faz-se mesmo de fugida

O fim de tudo lá chega
sem se alcançar ideal
vê-se muita gente grega
p’ra pôr o ponto final
o mortal
o fatal
e o que se diz nesse dia
como é regra geral
terminou a agonia
lá se foi o afinal


HÁ MUITO A FAZER!...


QUE ISTO POR CÁ anda verdadeiramente frustrante nem vale a pena repetir. É isso mesmo que eu tenho demonstrado neste meu blogue, ao ponto de me encontrar saturado de bater repetidamente na teimosa tecla. No panorama político, como é natural em Democracia, os detentores do poder e as oposições defendem pontos de vista diferentes, até antagónicos nos extremos, e, sobretudo porque a crise que serve também de enorme escusa não proporciona grandes alternativas. São mais as ameaças do que as posições com efeitos práticos. E a “massa falida”, para chamar-lhe alguma coisa, mantém-se num arrastamento a aguardar que se verifique uma porta de saída que não deixe demasiado mal vistos os contendores. O Presidente da República, com eleições já à vista, também não deseja correr excessivos riscos de ver os potenciais apoiantes mudarem de preferência ou, em derradeira atitude, optarem pelo voto em branco. Daí também, talvez, a sua anuência em relação aos casamentos “gays”, embora sendo nítida a sua opinião contrária.
Quer isto dizer, portanto, que não nos encontramos perante um clima que leve a enfrentar a situação dentro das regras democráticas, ou seja através de uma queda do Executivo, por via de qualquer sistema constitucionalmente aceitável. Também não se descortina a existência de uma frente, militar ou outra, que faça prever uma mudança forçada da situação nacional. De igual modo, perante a exposição externa que, nesta altura, é da maior importância que não dê mostras de fragilidade tanto política como social, já que a económica é do domínio de todos os observadores, para não se perder cada vez mais a possibilidade de recorrermos aos empréstimos do exterior, o mais prudente é mantermos a aparência, pelo menos essa, de que vamos conseguindo sustentar um esquema que, com os pesados apertos fiscais que surgiram agora, poderá conseguir equilibrar as contas públicas.
Por outro lado, ainda que sejam compreensíveis os protestos que se verificam na área laboral portuguesa, tanto as manifestações nas ruas como as greves que são propostas e efectuadas por iniciativa de organizações sindicais, com a CGTP em primeiro plano, todas essas demonstrações de frontalidade não têm outro resultado que não seja contribuir para aumentar a dureza do problema, com incómodos que se traduzem em mais gastos, quer do erário público quer da zona privada. Para não falar na diminuição de produtividade, que é um dos sectores que mais necessita de instigação aos portugueses para contribuírem, o melhor que for possível, para modificar, de forma drástica, o défice de produção que se arrasta há muitos anos no nosso País.
Perante este panorama, que é possível concluir de modo a encontrar uma solução para o drama que nos é apresentado e em que os aumentos, na área da fiscalidade, sobrecarregam cada vez mais os bolsos, já tão vazios, dos contribuintes de baixa valia? Todos os comentadores que, nesta fase, já não escondem o seu pessimismo, ainda que, há relativamente pouco tempo, ou não dessem claramente mostras da situação grave que já se vivia ou até enfileiravam no optimismo criminoso do Governo, esses não conseguem manter os pontos de vista, ditos positivos, e não se retraem quanto a lançar avisos em relação ao que se perfila para fazer sofrer ainda mais os nossos cidadãos.
O tema do corte nas despesas públicas tem sido, finalmente, o que mais salta da boca e da ponta das canetas dos mesmos comentadores. E, alguns deles, foram os críticos que enviaram comentários a este meu blogue, pois os que o lêem sabem que, desde há bastante tempo, clamo por esse via e aponto os items que merecem e mereciam a intervenção dos governantes. Só que, ainda há muita coisa para fazer na referida área. Nem entendo, por isso, o motivo por que José Sócrates, o tal dito homem de convicções fortes e, mesmo praticando a mentira sem complexos, não mete a mão de vez em todos os dispêndios excessivos que fazem empobrecer o já miserável tesouro público. Se é tão valente como quer fazer crer, atire-se de cabeça aos mais ricos, aplique regras que doam os poderosos – sobretudo os que vivem dos dinheiros do Estado – e, só então, embora excessivamente tarde, pois as medidas de poupança deveriam ter começado há cerca de dois anos, poderá dar mostras de que só peca pelo atraso.
Com tantos assessores ao seu serviço, haverá algum que talvez leia este blogue. E, mesmo sem indicar a origem das indicações que tenho aqui registado, siga os que considerar mais úteis.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

SEPARAR

Trabalhar são oito horas
e descansar outras oito
tudo tem suas demoras
sem precisar ser afoito

Cada coisa em sua altura
seja de noite ou de dia
até tempo de leitura
transmite certa harmonia

Cada coisa por seu lado
e nada de confusão
a mistura é um enfado

Há que fazer distinção
e ter o maior cuidado
trabalho e descanso não!


ENTREVISTAS E ENTREVISTADORES


ESTE CASO já ocorreu há umas semanas, mas vale a pena voltar a ele. Trata-se do que se passou com o deputado socialista, Ricardo Rodrigues, que, numa entrevista que lhe estava a ser feita por dois jornalistas de uma publicação semanal portuguesa, antes desta terminar se levantou e meteu no bolso dois gravadores dos profissionais de Informação, abandonando o local, por sinal no interior da Assembleia da República, sem atender às reclamações dos entrevistadores. Esse episódio ficou gravado nas câmaras televisivas e, dado ser muito pouco corrente na actividade jornalística tamanho desaforo, deu ocasião a que constituísse um assunto de larga difusão, suscitando duas frentes opostos, os que defenderam o deputado e os que o acusaram fortemente por tal gesto.
Tive ensejo, como outra gente, de ler o conteúdo das perguntas e respostas que deram motivo a Ricardo Rodrigues para ter tido aquele gesto de meter no seu próprio bolso os equipamentos dos inquiridores e sair porta fora. E, como antigo jornalista, com muitos anos de profissão – interrompida, a certa altura, por razões políticas do antes do 25 de Abril, em que fui impedido de continuar a exercer a actividade -, recuperada após a Revolução, vou aqui expressar o meu ponto de vista acerca desta ocorrência que, há que dizê-lo, não deixa nenhuma das partes, entrevistadores e entrevistados, em boa posição.
Devo esclarecer as pessoas de hoje, sobretudo os que nunca tiveram relacionamento com a época que vem desde 1950, altura em que eu entrei na profissão com o nascimento de uma revista que se chamava “Mundo Ilustrado” – haverá pouca gente que se recorde do acontecimento -, que, naquela época, as limitações que eram impostas pela Censura, com o apoio da PIDE, polícia política, que controlava minuciosamente as actuações dos homens da Imprensa, não havia margem para grandes extravasamentos por parte dos que tinham como profissão a difícil arte/ciência do jornalismo. E eu, que tive a oportunidade de seguir instruções de um grande profissional que se chamou Norberto Lopes, aprendi um princípio que nunca abandonei, sobretudo depois da Revolução, em que a Liberdade tinha aberto as portas a um trabalho que só dependia e depende das capacidades de quem dispunha e dispõe de um órgão de Informação para registar as respostas dos entrevistados. E essa regra era e é a de que o jornalista nunca deve expressar uma opinião, por muito que não concorde com as afirmações do entrevistado, reservando-se sempre a pôr as questões e estas baseadas em casos concretos que merecem um esclarecimento por parte de quem se está a ouvir. Sugestões, hipóteses, “ses”, isso não tem de fazer parte do questionário, a menos que esse lado se prontifique a sujeitar-se a um interrogatório do tipo policial que, sobretudo em televisão, não é admissível.
Ora bem, as perguntas que, a certa altura da entrevista, começaram a ser feitas, entraram, verifiquei-o, em áreas melindrosas, as quais dó poderiam ser abordadas com o prévio consentimento do entrevistado e, neste caso, não havia motivo para as não aceitar. Mas, de qualquer forma, mesmo sucedendo que as questões não agradavam a quem se pretendia ouvir, a afirmação, registada em entrevista, de que “nessa área não estou disposto a responder” – o que, em qualquer caso, é já uma forma de contestar -, era motivo suficiente para ser o assunto arredado da conversa.
Mas, pegar nas cassetes que são propriedade dos jornalistas e a sua arma de trabalho e metê-las no bolso, esse acto só pode ter uma classificação: a de desvio de propriedade alheia, burla. E esse acto, sendo praticado por um deputado da Nação, não deveria constituir senão um grave gesto que merece ser denunciado e igualmente penalizado. Tudo o que for feito de forma diferente, só num País como o nosso se encontra e com uma Democracia que, na verdade, ainda se situa muito longe de ser seguida e respeitada, é que se aceita sem penalizações a um gesto como o que um deputado socialista, como poderia ter sido de outro qualquer partido, foi capaz de fazer.
Neste caso, o PS deveria actuar para remediar tamanha vergonha. Pode um dos seus membros não ter capacidade para cumprir a sua obrigação de bom comportamento, mas compete ao grupo político a que pertence interferir para defender aquilo que, por sinal, foram os socialistas que contribuíram para ser instalado em Portugal: a Democracia.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

ESPANTO

Esta vida é um espanto
Este mundo bem espanta
O humano desencanta
Seja por nada ou por tanto

Há quem abafe com manto
A dor que sai da garganta
Mas não há é quem garanta
Que o mundo muda em encanto

Quem acredita entretanto
Que ter fé algo adianta
Anda perto de ser santo

Porque isto não tem planta
Nenhuma em qualquer canto
Caiu e não se alevanta



O BACALHAU DO BASÍLIO


TANTO SE FALA - e alguma coisa, não muito acertada, tem sido feita, no sentido de procurar diminuir os gastos excessivos por parte do Estado -, e tanto tem sido este tema debatido sem que, na realidade, tenha sido “atacada” (esta é a expressão) a fundo a forma de reduzir drasticamente as despesas que bem poderiam ter sido já anuladas em ocasiões atrás, que nunca é demais aproveitar todas as formas de comunicação para acrescentar o que seja possível para incentivar os governantes a darem todos os passos essenciais, de forma a não ser somente pela via dos impostos que seremos capazes de equilibrar, quanto possível as nossas contas públicas.
Já aqui, neste blogue, por mais de uma vez, referi o sector dos transportes e das mordomias de que usufruem demasiados privilegiados que se situam na área do Estado. É que, quanto a usufruírem da comodidade de disporem de um automóvel ao seu serviço exclusivo, bem como de motorista, também ele fixo, essa situação só aceitável quando um país não atravessa um período de dificuldades financeiras, como é o nosso caso actual, já deveriam estas condições terem sido modificadas e, em vez disso, ser criado um departamento, com oficina própria de reparações e garagem para arrecadação das viaturas a aguardar requisição justificada, assim como, cada vez que fosse necessário utilizar tais serviços, o automóvel posto à disposição seria o que estivesse disponível, tal como o condutor que se encontrasse operacional. Só os ministros e secretários de Estado é que ainda poderiam dispor de serviços permanentes, mas todos os restantes, incluindo directores-gerais e lugares abaixo, só teriam direito aos serviços desde que os requisitassem, justificadamente, ao tal departamento, com poderes bastantes para negar a utilização se não se encontrasse devidamente regulado o pedido.
Mas, claro, não é apenas neste capítulo concreto da redução de dispêndios que devem limitar-se as medidas urgentes a tomar. Existem muitos sectores que merecem uma actuação pronta da Governação. Por exemplo, o caso do AICEP. Há vários anos que este Instituto, que até há pouco tempo se chamava apenas ICEP – nunca se compreende claramente o motivo por que se resolve, um belo dia, mudar os nomes para tudo ficar na mesma -, sempre teve e continua a ter como objectivo o de propagar no estrangeiro os produtos que poderemos exportar e, ao mesmo tempo, procurar interessar capitais de fora para virem instalar-se em Portugal com a abertura de novas iniciativas industriais, a fim de enriquecerem o activo nacional, ao mesmo tempo que podem proporcionar a criação de empregos. Ora bem, ao contrário do que eu sempre clamei e em que não fui ouvido pelos “sábios” que têm estado instalados nos postos de comando oficial, nunca se deu um passo que fosse no sentido de serem aglomerados, no mesmo Instituto, os intuitos de criar as condições essenciais para que as empresas exportadoras portugueses descobrissem novos mercados, ao mesmo tempo que se procederia ao fomento do nosso turismo fora de portas. E eu sou explícito.
Um exemplo que é bem visível para quem se desloca ao estrangeiro encontra-se, de forma clara, em Nova Iorque onde, a pouca distância e num bairro conhecido, se situa uma loja do AICEP, uma outra destinada ao turismo português e, um pouco adiante, a loja da TAP. Quer dizer, são três serviços, por sinal a pagarem rendas caríssimas, com diferentes directores e pessoal respectivo em cada função, quando o que seria admissível era apenas um local destinado aos três objectivos, com um só director e menos pessoal, mas este devidamente preparado para servir as respectivas missões. Podia ser até um estabelecimento de maior gabarito, com a designação de PORTUGAL bem saliente, o que constituiria até uma amostra poderosa da nossa existência. Isso, sobretudo porque nos E.U.A., um enorme número de habitantes não tem uma ideia bem formada da existência, até geográfica, do nosso País.
Mas esta ocorrência não é um exclusivo de Nova Iorque, pois verifica-se por muitas partes no exterior e as despesas que se suportam com o não conhecimento das realidades e também com a falta de imaginação daqueles que têm como função ir remodelando o que se encontra mal explorado, igualmente por preguiça de fazer bom serviço, tais gastos mal aproveitados vão-se mantendo e, como sucede agora, mesmo com as deficiências de orçamento no sector público, não se verificam os gestos e as propostas que alterem o que já se considerou tradicional.
Daqui lanço um desafio a Basílio Horta., actual presidente do AICEP: se lhe cabe a responsabilidade de desenvolver as exportações e de convencer investidores e grandes empresas do exterior para se instalarem na nossa Terra, convença o ministro que tem a seu cargo a Economia, logo também o turismo, certamente bem fora destes problemas, a ser o autor da modificação que proponho ou outra até mais apropriada. Mas não se deixe ficar sentadinho no seu gabinete e a aguardar pelo dia em que será colocado noutras funções, pois o despedimento está sempre fora de causa nos postos equivalentes ao que ocupa e a exigência de responsabilidades também é atitude que não se usa por cá.
Claro que eu escrevo isto e abordo outros assuntos mais sempre sem a menor esperança de que surja algum dia uma personalidade com poder, coragem, alguma humildade em reconhecer valor nas opiniões do outros e vontade de alterar o que não estará muito bem, que dê o passo decisivo para sair da rotina histórica que tanto gostamos de manter.
Mas, como estou vivo, já vivi bastante para ver muita coisa, não estou limitado por quaisquer compromissos que me atem a língua e as mãos, o que constituiu, aliás, sempre um princípio que me guiou pela vida fora, mesmo quando, como jornalista se pagavam caros tais atrevimentos, é neste blogue que dou largas ao que julgo útil ao meu País. E até agradeço os comentários, mesmo discordantes, que me chegam…
Quanto a Basílio Horta que, como pessoa respeito e reconheço a sua cordialidade, só tenho que voltar a pedir desculpa por lhe mostrar certa discordância que, como sucedeu quando exerceu as funções de ministro da Economia e por decisões erradas não existia bacalhau no nosso País e, por isso, tomei uma posição que não lhe agradou – o que provocou a sua ordem de ser retirada a publicidade ao Jornal que eu dirigia -, tendo, depois de sair do Governo, sido ele a fazer questão em cumprimentar-me, uma vez que nos encontrámos no Parlamento. E fomos almoçar, com o prato obrigatório de bacalhau…

quarta-feira, 26 de maio de 2010

CHORAR

Em tempo de magras vacas
só apetece é chorar
se são poucas as patacas
quem tem fé é só orar

É o que por cá se passa
já sem rumo este País
em que nem mesmo a chalaça
põe a maioria feliz

Afinal é a saída
já antiga e de agora
acalma qualquer ferida

Porque chorar não tem hora
sempre serve de guarida
e o palhaço também chora

DESEMPRGO - SOLUÇÃO?


EU JÁ SEI que me vai cair em cima uma imensidão de comentários descompondo-me por escrever hoje esta opinião que, por sinal, não é a primeira vez que a expresso. Mas é que eu, defendendo nesta altura um princípio que não estaria nos meus horizontes anos atrás – e, evidentemente, antes do 25 de Abril -, perante as circunstâncias que se vivem em Portugal na actualidade, com mais de 700 mil desempregados e com perspectivas de não se ficar por aqui, não se descortinam saídas muito diferentes desta que exponho agora.
A CGTP, o PCP, o BE e a própria UGT, para além de muitas outras organizações ligadas ao sindicalismo, como é óbvio e embora não tenham soluções para o grave problema que atormenta centenas de milhar de famílias nacionais, tais grupos vão enraivecer-se face a esta realidade e, se não for encontrada outra saída que não seja a que aponto agora – e não sou só eu que recorro a este derradeiro caminho, só que não dão mostras do mínimo de coragem para divulgarem o que admitem -, acabando por, dentro de normas legais, o Estado optar por tal via, bem pode vir a casa abaixo mas, desde que devidamente explicada à população a vantagem de tal medida, não haverá outro meio de tentar diminuir o desemprego. E, acima de todos os enfileiramentos políticos, o que é preciso que se enraíze na cabeça dos portugueses é que, nesta altura, não se trata de ser de direita ou de esquerda, mas apenas de tudo fazer para salvar a pele, para evitar os males maiores que espreitam e que não há qualquer greve que os evite.
Vamos, então a isso e expliquemos o que pretendo colocar neste blogue: nos Estados Unidos da América (e não só neste País), desde sempre que a liberalização nos empregos foi a forma de criar enorme ligeireza no mercado de trabalho. Quer dizer, tanto empresários como trabalhadores nunca estiveram confrangidos por contratos que ligavam uns e outros, por tempos definidos ou para todo o sempre, pelo que a manutenção de lugares e a mudança para outras actividades consideradas mais interessantes pelos dependentes dos salários não forçou a que, de um lado e do outro, ainda que contra as suas vontades, permanecessem com os mesmos relacionamentos.
Claro que os chamados patrões, perante funcionários que demonstravam grande capacidade para exercerem os seus trabalhos, só desejavam mantê-los nos seus lugares e até compensá-los com melhores condições, para não perderem a sua colaboração. Era e é a lei da oferta e da procura. Quem tem consciência de que se aplica com rigor, honestidade e profissionalismo nas funções que exerce, também tem a garantia de que o emprego onde actua está garantido. E tudo faz para que os resultados da empresa sejam alcançados, pois que isso é também uma garantia de que não existe o risco de o encerramento por falência ou diminuição de proventos.
Todos nós por cá temos a consciência de que a garantia de um emprego para toda a vida, através das leis que não permitem os despedimentos, a menos que se tratem de faltas gravíssimas que, mesmo essas, necessitam da intervenção dos Tribunais de Trabalho que, como sabemos, raramente tiram razão ao chamado trabalhador, e o resultado dessa actuação é a de que um enorme número de funcionários, públicos ou privados, depois de se encontrarem comodamente instalados nas suas funções, o menos por que se preocupam é com o serem produtivos e cumpridores das regras que deviam ser seguidas em qualquer função por conta de outrem.
Dai também, os nossos emigrantes serem tão respeitados nos trabalhos no estrangeiro e, dentro das nossas portas, portarem-se de maneira verdadeiramente criticável. É que a protecção do trabalho na nossa Terra retira-lhes o receio de serem dispensados. E daí, Portugal ser um País de tão baixa produção e não conseguir suprir o mercado nacional, obrigando às importações que provocam, como nos encontramos agora, com tão grande défice entre o que consumimos e o que produzimos. E, no que respeita às exportações, esse mesmo efeito é o da balança de pagamentos se apresentar com tão grande desequilíbrio em nosso desfavor. Claro, que a deficiência na área dos gestores também contribui, e muito, para o baixo rendimento do trabalho. Mas esse é outro mal português e aí igualmente há que fazer muito. O terem terminado as escolas técnicas, que muito ensinavam na prática comercial e industrial, tem dado mostras do mau caminho que tem sido percorrido há bastantes anos.
A questão que se pode pôr é se, levando por diante a medida de emergência que aqui deixo vincada, o cancro do desemprego, em tão alta escala como agora se encontra, se manterá ou se, pelo contrário, face à abertura dos empregadores de não serem obrigados a manter os lugares ocupados sem serem necessários, ainda que constituam prejuízo para as suas empresas, se verificaria uma grande facilidade de fazer entrar nas fábricas, escritórios e todo o tipo de actividades muita gente que se encontra desocupada. É natural que não se verificasse uma mudança radical de um dia para o outro, mas se o Executivo incentivasse tal oportunidade, estou convencido que seria uma forma de provocar um substancial aumento de gente a trabalhar. O problema é que, tal como as coisas se encontram, não se pode continuar, em que as duas situações que mais pesam na vida impossível que cá se instalou, a do desemprego e o da baixa produtividade, logo da impossibilidade de colocarmos no estrangeiro o que cá podemos produzirr, na indústria, na agricultura e nas mais pequenas empresas, isso, se se mantiver, será o fim do nosso País e, não havendo um Portugal de cabeça levantada, também não terão lugar todos os Carvalhos da Silva que apareçam.
Não vou acrescentar mais ao que está exposto. Nem é preciso ser génio da economia para entender o que acaba de ser exposto. Todos os senhores Maneis e as senhoras Marias do nosso País entendem o que acabou de ser escrito. E era com uma simplicidade equivalente que os governantes que temos deveriam ser explícitos com os portugueses. Mas não. Não são capazes. E quando resolvem botar faladura fazem-no com uma linguagem que ninguém entende, nem eles…
Eu sei o que me espera. Vá lá. Venham esses comentários a chamar-me nomes. Eu sofri antes do 25 de Abril e a PIDE bem me fez pagar duramente por discordar com o que ocorria politicamente por cá… agora, não tenho de me esconder de ninguém.

terça-feira, 25 de maio de 2010

DESMISTIFICAÇÃO

Não quero que quem me observa
Acabe com má ideia
Que a poesia conserva
De tristeza uma mão cheia

Não senhor, não é verdade
Que o pessimismo impere
E que se incuta a vontade
De só ver o mal que fere

Alguma angústia, é certo
Invade a poesia
Nem de longe, nem de perto
Constitui a maioria

Cá por mim posso falar
Faço esforço quando escrevo
Ficarei no limiar
Da desgraça e do enlevo

Por vezes me escapa a mão
P’ra lágrima e suspiro
Se é assim peço perdão
Tudo que disse retiro

No fundo há sempre fé
Que o amanhã seja melhor
A vida é o que é
Antes assim que pior

Afinal o que é verdade
É que os poemas chorados
Dão mais ar de piedade
Levam mais longe os recados

Ao reler o que está escrito
O triste encontro mais
Pois perdura no que é dito
E lido em jogos florais

Quero que fique bem claro
Não sendo um contentinho
Também não sou tão amaro
Com a mente em desalinho

Basta de falar de mim
O que importa é o mundo
Com seu princípio e fim
E coisas belas em fundo

SOCRATIANOS


CHEGÁMOS a um ponto em que, já sem nenhum tipo de cerimónias, acusamos, por tudo e por nada, José Sócrates de estar a ser o pior político de todos os tempos. Tudo que corre mal no nosso País, sem muitas excepções – atrevo-me a dizer, sem andar muito longe da verdade -, faz com que a maioria dos portugueses logo atira a flecha contra o engenheiro, pois tem de ser ele o autor dos erros, das desculpas não apresentadas, das faltas à responsabilidade que devia, sempre ser aplicadas a alguém. Não se safa dessa o pobre homem!..
E, quanto a esta afirmação, não escondo a minha dúvida, de entre as milhentas que assaltam o meu pensamento, se realmente, nós, portugueses, nos conhecemos verdadeiramente ou se alguma vez nos preocupamos conscientemente em fazer um exame, a cada passo em que somos forçados a analisar os nossos actos, para podermos chegar à conclusão de que o passo dado foi o mais correcto. E, tenho de confessá-lo, sinto-me muito mais inclinado para concluir que a nossa propensão não é essa de nos vermos correctamente ao espelho e de ver nele reflectida a imagem dos nossos procedimentos.
Em muitas ocasiões da minha vida e, particularmente, da minha profissão, tendo sido forçado a ouvir e transcrever o que me afirmavam inúmeros entrevistados, e não pude deixar de constatar que um enorme número de compatriotas, especialmente aqueles que exercem funções de alguma responsabilidade, não dão mostras de estar dispostos a reconhecer os seus erros e mesmo quando são apontados por alguma deficiência de que os cidadãos se queixam, encontram sempre razões para se desvincular dos eventuais erros e, na maioria dos casos, “passam a bola” para um parceiro mais próximo. Não tem forçosamente, por se ocupar o cargo de primeiro-ministro, de se arcar com todas as culpas do que ocorre de errado em Portugal. É verdade que é nessas funções que cabe efectuar as mudanças dos tais responsáveis, mudando-os de lugar ou simplesmente dispensando-os de continuarem a exercer funções públicas. Temos de admitir que, se essa tarefa lhe coubesse, na largueza de acontecimentos errados que se praticam por cá, o chefe do Executivo não teria tempo para fazer mais nada e, no caso do actual, não poderia fazer os seus exercícios diários de corrida e de estar presente em todas as cerimónias de inauguração que constituem um “vício” que, de modo nenhum, dispensa.
Mas, atendendo ao assunto propriamente dito, todos aqueles funcionários públicos nacionais que têm a seu cargo funções que são analisadas por todos os cidadãos, merecendo a crítica e a indignação dos que andam atentos ao que se passa no nosso País, os inúmeros disparates com que se depara não são praticados propriamente por José Sócrates. Dou apenas um exemplo, entre milhentos, de quem, nas estradas portuguesas, depara com os sinais identificativos de direcções e de nomes de povoações, se interroga sobre se será o próprio primeiro-ministro quem, em vez de colocar tais informações a pelo menos 100 metros antes da mudança de condução, os fixa já sobre o local de viragem, é evidente que não chega tão longe e antes acusa o funcionário de uma instituição pública que não executa bem o seu trabalho. Só que não é um caso, são inúmeros. E, já agora que ando pelas estradas e ruas, também me indigno contra os outros “engenheiros” dos diferentes municípios, mas sobretudo os de Lisboa, que têm a seu cargo a manutenção condizente dos semáforos da capital – por exemplo na rua Ferreira Borges, entre muitas outras – e que, muito bem sentadinhos nos seus gabinetes, o que os preocupa apenas é o recebimento dos seus salários e o chegar o mais tarde possível ao seu “trabalho”. E venham lá desmentir-me esses fulanos. Isto, para não referir as obras particulares em muitos prédios de Lisboa, que se prolongam por imensos meses e até anos, sem se verificarem alterações, o que demonstra claramente como funcionam os serviços respectivos onde, digo eu, actuam inúmeros “sócrates” que, se actuassem nas funções do verdadeiro, bem nos poderíamos queixar quanto ao seu procedimento.
E é igualmente nas mais variadas repartições públicas, nos próprios ministérios, e mesmo nas Juntas de Freguesia que nos estão cerca, que deparamos, a cada passo, com funcionários, tanto de baixa categoria como os seus chefes, que ali se encontram somente para ir esperando pelo dia da reforma, por mais longínqua que ela esteja (e, na actualidade, nem já representam qualquer garantia da sua manutenção). Lá serem responsáveis, assumirem as suas obrigações, terem consciência dos seus próprios actos e entenderem que o País que é o de todos nós não pode igualar os outros mais adiantados se, cada um não pensar e estudar a fundo antes de actuar e de deixar sair pela boca fora o que lhe vem à cabeça, ter esse cuidado é coisa que não está nos nossos costumes. Não somos diferentes do Homem em causa.
E, dito isto, não retiro da crítica um enorme número dos chamados “trabalhadores” privados portugueses que, atirando-se contra o actual primeiro-ministro por este ser tão mau governante, no fundo o do que eles fazem parte é de um clube que, não estando oficialmente constituído, se poderá chamar de “Clube dos Socratianos”, pois todos se consideram como sendo os possuidores exclusivos das suas razões, os que falam de dedo levantado e que, mesmo actuando mal em relação à sua família, consideram sempre que as dos outros se encontram em piores condições de atenção do que a sua.
Um Sócrates não podia sair do vazio. Veio dos dez milhões que fazem parte da nossa portugalidade. É um deles. Com os mesmos defeitos e com algumas virtudes das que também temos. É um convencido. Um dos que lhe saem sempre os cálculos errados. Que nunca cumpre as datas e os orçamentos. Que tem sempre uma desculpa para os resultados não serem os que previa, pois que as circunstâncias é que mudaram de repente. Que, como os alunos, só estuda mesmo em cima dos exames. E cola com cuspo o que está nas sebentas.
Eu disse sebentas? Isso era antes. Agora, nem isso. O “logo se vê” é que está na moda. E os resultados no nosso País, estão aí para o demonstrar.
Só falta mudarmos de nome. Em lugar de portugueses, o que temos de passar a chamarmo-nos é: socratianos.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

COMO, QUANDO, PORQUÊ

Nós, que apenas povo somos
que só nos cabe aceitar
do País só nos dão gomos
e bastantes de amargar
há também quem descrê
e bem pergunta porquê

Sempre aguardando resposta
e nunca ninguém lha dando
sabe quem perdeu a aposta
conformado vai ficando
em nada e em ninguém crê
para saber para quê

Neste mundo foi cá posto
e não deu opinião
e agora a contragosto
bem pode gritar que não
mesmo com certo assomo
se interroga: e como?

Se há que seguir em frente
pois parado é morrer
tem de fazer de inocente
dar mostras de não saber
esperar por quem responde
e lhe diga para onde

E não serve qualquer hora
há momentos ideais
quando se quer ir embora
nem todas são mesmo iguais
há que ir até andando
a questão é saber quando

Ir sozinho é um dilema
sempre é bom ter companhia
para defrontar problema
mesmo o do dia-a-dia
mas p’ra pedir a alguém
tem sempre de saber quem



CONFUSÃO TOTAL


JÁ PERDEMOS COMPLETAMENTE o Norte. Os indivíduos que se encontram no Governo, da mesma maneira que muitos dos que lá não estão, não sabem bem o que dizem, muito embora, dentro das nossas características, não sejamos capazes de dar o braço a torcer e confessar que, de facto, andamos bastante às avessas do que seria normal que nos encontrássemos, para tentar conseguir dar a volta ao estado lastimoso a que chegámos em Portugal. Se, na televisão e na rádio, como também nas repostas que são dadas aos entrevistadores, só com grande dificuldade conseguimos atinar com uma fala que seja considerada como tratando-se de alguém que tem todos seus neurónios no seu lugar, a conclusão a que se deve chegar é a de que alastra pelo nosso País uma onda de pouca irreflexão e que os enganos, as “gaffes”, os pés pelas mãos tomaram assento na nossa Terra.
E, se não é assim, como se explica que o próprio ministro das Finanças com a ordem de publicação no “D.R.” das novas tabelas de retenção na fonte do IRS, não tenha tido o cuidado de estabelecer a data de entrada em vigor, em 1 de Junho, pois não o tendo feito a Lei tem de ser cumprida quando determina que o dia a seguir a uma publicação é o que marca o início do efeito do diploma. Mas, tal é o desvario com que andam estes homens públicos que, dizendo e desdizendo, enganando-se continuamente, mas não sendo capazes de pedir desculpa a seguir, o seu comportamento é o de manter o erro e fazendo todos de parvos, com o maior desplante.
Afinal, essa maneira de pretenderem manter-se intocáveis, não se verifica apenas no actual Executivo. Uma certa protecção quanto ao que se passou para trás, de não atacar muito pois alguma coisa pode sobrar para os actuais ditos responsáveis, verifica-se igualmente, por exemplo, em relação ao chamado caso do submarinos, tanto que já está decidido que os 1.050 milhões de euros que constituem o seu custo, apenas em 2.012 é que serão inscritos nas contas do Estado, pois, segundo argumentos apresentados pelo actual ministro da Defesa, o que tem o “pepino”na mão, não se falando já no mal tratado acordo de fazer pagar parte do valor dos dois submersíveis com a contrapartida de compra, por parte dos alemães, de produtos nacionais, o que, segundo se apurou, não ficou devida e juridicamente explícito no contrato. De quem foi a culpa, primeiro de uma compra que não podia ser considerada necessária e, depois, da má operação legal para concretizá-la? Disso ninguém se mostra disposto a esclarecer e é até na Alemanha que se verificam actuações policiais para punir prováveis interferentes corruptos. E do nosso lado, ninguém beneficiou pessoalmente com tal asneira da compra? Para já, o que está apurado é que o Estado português já perdeu com esta negociata 32 milhões de euros. Isso, por enquanto.
Um pouco à pressa e com um atraso que não se explica, soube-se ontem que o Governo tem intenções de conhecer os pormenores desse caso das compras submarinas. Por enquanto é só isto, o que não quer dizer que se consiga aclarar toda a matéria. Alguém tem a certeza de que, alguma vez, se chegue a uma conclusão?
De facto, numa altura em que já é do conhecimento público que o Estado se declara incapaz de satisfazer os gastos nas Forças Armadas, em todos os ramos, incluindo por isso a Marinha, deparamos com a melhor oportunidade para nos metermos em enrascadas de compra de submarinos e o não ter apetecido aos “responsáveis” da altura encomendar um porta aviões já foi uma sorte. A mim, o que me confunde também muito é assistir às intervenções de Paulo Portas nas suas intervenções populares em que, com toda a razão, se indigna pelos gastos que o Estado, em todas as suas estâncias, e não teve ainda uma palavra de esclarecimento público no que diz respeito à sua actuação de compra dos “tais”, isto na altura em que ocupava o lugar de ministro da Defesa e do Mar. Custa-me escrever isto, mas não posso permanecer calado!
Que fiquem registadas nas páginas da nossa História que, se tivemos a coragem de navegar, séculos atrás, em naus para descobrir o mundo e até foi numa frágil avioneta que Gago Coutinho e Sacadura Cabral fizeram a primeira viagem aérea para o Brasil, também, passados anos, quisemos ter o orgulho de poder ir a Cacilhas debaixo de água. Se bem que, para vigiar toda a costa, não contemos com os barcos ultra-rápidos que são essenciais para impedir o contrabando.
Nós, portugueses, fazemos o melhor e o pior – mas com grande separação de anos!

domingo, 23 de maio de 2010

PESSIMISMO



Se morrer é um dormir mais profundo
Quando chegar a minha vez um dia
Deixem-me bem tranquilo nesse mundo
Digam de mim só o que merecia

Não quero ouvir, não quero saber
Resisto em crer em almas penadas
Andar por aí depois de morrer
É sofrer outra vez águas passadas

Desaparecer dos vivos, sair
Deixar uma vaga que alguém ocupa
É a lei da vida, é repartir
Fazer com que o mundo não entupa

Estando o planeta já tão cheio
Aumentando sempre a gente nele
É natural que cresça o receio
De ir sentir tamanho mal na pele

O meu prognóstico é então este
Saindo, a um outro dou lugar
Pode ser que quem vier até preste
E não faça este mundo piorar

Por mim, seja onde for que esteja
Ou reste tão-somente cinza e pó
Onde estiver a contemplar veja
Só o que espero é não sentir dó

Mais do que aquele que tenho hoje
Do mundo em que me calhou viver
Em que há gente que bate e foge
Sem dar mostras de se arrepender

O pior, digo eu tão pessimista
É que o porvir não é de melhoras
O homem ficará mais egoísta
E sufocará a todas as horas

Mas que forma há de o mundo mudar
De fazê-lo entender que não vai bem?
Só s’ Universo vier ajudar
E um planeta se descubra além

Planeta esse que receba a gente
Que não cabe já no que é a Terra
E que consiga fazer de suplente
Onde não seja permitida a guerra

Mais do que aquele que tenho hoje
Do mundo em que me calhou viver
Em que há gente que bate e foge
Sem dar mostras de se arrepender

O pior, digo eu tão pessimista
É que o porvir não é de melhoras
O homem ficará mais egoísta
E sufocará a todas as horas

Mas que forma há de o mundo mudar
De fazê-lo entender que não vai bem?
Só se o Universo vier ajudar
E bom planeta se descubra além

Planeta esse que receba a gente
Que não cabe já no que é a Terra
E que consiga fazer de suplente
Onde não seja permitida a guerra

É um sonho, mas sonhar não faz mal
Na poesia tudo é permitido
Por muito longe que esteja o real
Os desejos podem fazer sentido

Mas é bem outra a realidade
Pessimismo pode ser a verdade

PESSIMISMO (MAS PODE HAVER OUTRO?)


ESTE MOMENTO já nenhum comentador, daqueles que, ainda há pouco tempo atrás, se refugiavam com meias tintas para não dizer claramente que a situação económica e social, para não dizer política, que essa já se encontra em segundo plano, era das mais aflitivas e perigosas com que, alguma vez, o nosso País se deparou, face à impossibilidade de continuarem a fazer esse papel de optimistas de serviço não escondem que, sem dúvida, a situação actual e, sobretudo, a que está ai a aparecer e que se vai arrastar pelos anos seguintes, vai fazer sofrer de forma intensa a população nacional. E dizem e escrevem isso com todo o aspecto de que, da mesma forma que é uma das desculpas de José Sócrates, o “mundo mudou nuns poucos dias”, fazendo crer que se trata de uma surpresa, pois nada indicava que a crise evoluísse no sentido que tomou, e não tendo a humildade de reconhecer que, quem não se dispôs a dizer a verdade, sobretudo tratando-se de economistas (as excepções, poucas, são louváveis), não fez mais do que temer desagradar ao primeiro-ministro, provavelmente por razões profissionais ou seja de retiradas de mordomias em empresas públicas onde se encontrarão a exercer as suas tarefas.
Mas, adiante. Eu não pretendo colocar-me nos bicos dos pés, mas quem tem acompanhado este meu blogue há já um certo tempo, meses até, e especialmente os que me enviaram comentários açudando-se de estar a assustar a população com as chamadas “desgraças” que eu anunciava, esses, se forem honestos, embora essa posição não ajude em nada para a resolução do problema, terão que reconhecer que teria sido útil aos portugueses se, com tempo, tivessem começado a usar uma outra política nos gastos – os que dispõem de meios para o fazer, é claro -, e refiro-me, como tem de ser notório, não aos pobres que lutam há muito tempo com dificuldades e/ou se encontram no desemprego, evitando endividar-se para adquirir casas, carros, férias, etc., que bem poderiam aguardar para outra altura mais oportuna.
Mas eu não sou nem chefe de um Governo, nem ministro das finanças. E, apesar de ser denominado várias vezes, no meu círculo de relacionamento, como tendo frequentemente razão antes de tempo, não se trata de uma regra infalível e eu mesmo me interrogo sobre a validade desta característica que, com frequência, só me faz sentir mal por não ter podido interferir para evitar o pior em situações que me podem também atingir ou não.
Perante as dívidas que já se conhecem, quer do Estado quer dos bancos e também da população portuguesa em geral, em nome próprio ou de empresas, face à consciência que não nos pode faltar sobre a maneira de podermos liquidar nas datas estabelecidas, não disfarçando quanto à pesada herança que deixamos aos nossos vindouros, o que é que se pode dizer daquele “orgulho” – palavra que eu abomino – que tanto se usa por cá por tudo e por nada, de nós, portugueses, sabermos solucionar os problemas, ainda que seja através da característica do desenrasca. Só que, neste caso, não parece ser uma forma concreta de termos um bom jogo de cintura.
Quem cá estiver, que pague… e não refile. Se a China, o Brasil e até a Índia, são exemplos de prosperidade, contrariando a generalidade das situações por esse mundo fora, pode ser que as emigrações, que estão tanto no nosso sangue, se orientem para tais paragens, então não como descobertas mas como praias de salvação.
Quem cá estiver que se desenrasque!

sábado, 22 de maio de 2010

AQUILO QUE EU VEJO

Aquilo que vejo
que atrai meus olhos
que me causa ensejo
mesmo sendo aos molhos
eu acredito?
É verdade pura?
Não será um mito?
Uma desventura?
Mas vejo e pergunto:
poderei eu crer
constitui assunto
para eu ver
e aquilo que é dado
algo como queixa
será um recado
que a vida me deixa
uma prevenção
com certa importância
chama-me a atenção
provoca-me ânsia
abre-me o sentido
mas olho parando
e o despercebido
agora pensando
com calma observo
a ideia apurada
por fim lá conservo
a vista do nada
e aquilo que eu via
e que os olhos liam
tinha mais valia
e todos deviam
cá por este mundo
ter algum rigor
olhar sempre a fundo
que tudo tem valor

Por isso m’interrogo
procuro resposta
faço-o como um jogo
é quase uma aposta
tudo por que passo
e atrai minha vista
se causa embaraço
constitui uma pista?
Como em tanto assunto
não sei responder
até ser defunto
terei de aprender




QUE NOS IMPORTA O FIM DO EURO?


ANDAMOS TODOS justamente muito preocupados com a situação económica e social que ocorre em Portugal, e talvez por isso não estejamos tão atentos ao que se passa na Europa, mais concretamente na União a que pertencemos, e naquilo que se considera ser um ataque ao euro e, por arrasto, na desagregação de um projecto político-económico de grande alcance e enorme imaginação do seu criador, como é o de uma Europa unida e coesa, funcionando como um todo, e em que 27 países (ou aqueles que aderiram na totalidade, incluindo o uso da moeda única), se têm de mostrar completamente abertos a uma política de concórdia e de entreajuda, por forma a que possa vir a concretizar-se aquilo que, em meu entender e também de muitos observadores, consiste em podermos assistir ainda ao surgimento dos Estados Unidos da Europa. Vivemos, pois, num período de perigo que aponta para o fim do euro? Será que, apesar da moeda única ter conseguido proteger melhor os países que mais sofreram com a crise mundial, do que se conservassem os seus anteriores dinheiros locais e, no caso português, o termos conseguido uma inegável confiança dos credores que não teria sido atingida se o escudo ainda vigorasse, mesmo assim a dúvida sobre a manutenção de uma divisa utilizada pela maioria das nações do nosso Continente continuará a levantar-se com alguma insistência?
É que os homens andam permanentemente a criar dificuldades à sua própria vida e não são assim tão poucos os que mostram saudosismo das suas anteriores moedas próprias, como se tal atitude representasse uma defesa contra o afogamento de uma crise que alastrou com grande rapidez.
O caso da Grécia, que assusta outro países situados no nosso Continente e que tem o nosso deveras apreensivo no que se refere a tocar-lhe à porta idêntica situação, a ajuda que foi acordada para, com o euro, acudir à quebra absoluta de crédito, motivado por excessivos empréstimos que lhe foram concedidos, porque os gastos, lá como por cá, embora menos, e que ultrapassaram a possibilidade de serem suportados, esse desequilíbrio financeiro ainda pôde contar com a ajuda, renitente é certo, sobretudo por parte da Alemanha, dos restantes países europeus que, da mesma forma que calhou, no nosso caso a vez de participar com um montante que bastante falta nos faz, se tratou de um “empréstimo” que foi concretizado em euros. Por outro lado, está apurado que cada português deve cerca de 20 mil milhões de euros aos bancos estrangeiros e com esta nota podemos ficar esclarecidos no que se refere ao respeito que tem de nos merecer esta moeda e quem a criou.
É por isso que, do mal o menor. Bem à portuguesa. Os que avisam as hostes de que a moeda europeia está em perigo e que já foram maiores as garantias de que se conservasse a sua utilização pela maioria dos 27, esses sustos que correm o Continente talvez não passem disso mesmo, de um sobressalto. É o que se espera.
Mas, na fase em que vive actualmente o mundo, já tudo é de admitir. E a nós, essa de voltarmos ao escudo antigo, depois da experiência, boa ou má, mas concretizada, de aderirmos ao dinheiro de uma maioria europeia, representaria o ficarmos aqui “albanizados”, a olhar para um umbigo que, por demais conhecido, já não constitui o mínimo de esperança nem aos mais optimistas.
E é isto que se passa por cá. “Albanizados” já andamos nós há muito tempo. Atarefados com situações que não têm a menor utilidade no sentido de servir para nos livrarmos daquilo que se encontra já cá dentro da nossa porta. Apenas conversas de pátio. Assuntos de comadres. E o que nos vale é assistir a Sócrates a “falar” castelhano nas reuniões que tem com os parceiros do lado de lá da fronteira. Porque lá que tem graça, lá isso tem. Não só porque se trata de tentar expressar-se num idioma que não é de cá nem de lá, e mesmo que, quando os vizinhos nos visitam não usam o nosso idioma, pois nem é preciso, nós – o Sócrates – queremos mostrar que somos muito aptos em línguas estrangeiras. E, de facto, lá isso até somos, mas para pouco mais temos uma capacidade que valha a pena sublinhar, isso no que se refere a actuar no seio do nosso País, porque quando saímos, para além da facilidade de adaptação à língua que encontramos, também damos mostra da nossa capacidade de trabalho. Já cá dentro!...
Por outro lado e mesmo que não venha a propósito tem lugar neste, desabafo acabando com esta consideração: se tivermos a paciência de fazer como eu ainda procedo – não sei até quando – de passar, mesmo rapidamente que seja, os olhos pelos jornais diários e alguns semanários, e ir tomando conta dos títulos que procuram criar o interesse dos potenciais leitores, verificarão que, na esmagadora maioria dos casos, se tratam de assuntos que não merecem cansar minimamente os nossos cérebros. E, face à minha experiência de longas épocas passadas a seguir as instruções dos mestres da altura, gente sabedora, tenho de concluir que, ou estou completamente desfasado dos métodos que servem hoje para fazer chegar aos potenciais compradores da Informação os jornais que têm esse objectivo ou são os profissionais desta época que não são capazes de entender o que se espera deles. E, sendo assim, até se compreende o motivo por que as vendas de periódicos tem caído tanto desde há uns anos para cá!
As “notícias” publicadas seguidamente sobre as mudanças de namorados de gente que mal se conhece, lá porque se pavoneiam por aqui e ali ou desfilam acolá, ou cantam o que conseguem e que elas vão ser mães, de rapazes ou de raparigas, estas ou aquelas, o que nos é completamente indiferente, e, também essa “bronca”, fabricada recentemente, de que uma professora primária se prontificou a ser fotografada nua para uma revista da especialidade e que, devido a esse facto, foi dispensada pela escola - o que, ao que parece, acabou por ser anulada tal decisão –, tendo provocado que esse acontecimento (por sinal, algo que merece perfeitamente ser divulgado, pois que de gente feia está este País farto) se tivesse repetido dias a fio, todos esses espaços nas colunas e até nas capas dos ditos “jornais”, tal moda dos nossos tempos só quererá dizer que, de notícias que, de facto, o sejam, sobretudo agradáveis, de temas que nos animem, para disfarçar, de certo modo, os inúmeros engulhos que nos chegam ao conhecimento, os que vêm a lume já só provocam um ainda maior mau modo que nos é tão peculiar e se enraizou neste Portugal desconsolado.
Qual fim do euro! Quais dramas internos que nos fazem diminuir drasticamente o já tão baixo nível de vida dos milhões que somos nestas condições! Qual primeiro-ministro que temos de suportar, pois que não é altura de se pensar em eleições legislativas! Qual desemprego que atingiu já os 700 mil e que não se encontra disposto a diminuir de intensidade! Qual incapacidade para desenvolvermos a nossa produção e qual forma de colocarmos os produtos que poderíamos fabricar nos mercados estrangeiros! Qual tudo isso e muito mais! O que importa é ir assistindo às fofoquices, não só do intolerável “jet set”, mas também no ambiente político, pois que somos todos feitos da mesma massa e a projecção da nossa imagem bem maquilhada é uma preocupação que nos acompanha em todas as situações.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A CORJA

A Terra está cheia dessa gente
que se julga melhor e dominante
que atropela todos pela frente
e olha o mundo, altivo, o mirante

Não ouve, não pára, não se importa
com caminhos que outros lhes indicam
dos princípios faz sempre letra morta
e galhofa quando alguns criticam

Será a maioria? Pois que seja
nem por isso lhes devem dar razão
o preciso é apagar essa forja

Por mim não lhes tenho qualquer inveja
nem me apetece apertar a mão
dessa gentinha que é uma corja

COMO SAÍMOS DESTA?


EU ANDEI muito tempo, lá bastante para trás neste mesmo blogue, com uma determinada prudência em expor, com a maior clareza – para não dizer rudeza -, na prevenção que entendia dever ser transmitida aos portugueses e que, no meu caso, não passava do número limitado de seguidores daquilo que eu ia escrevendo. Sempre escolhia as palavras e procurei não ir ao ponto de poder assustar aqueles que confiavam, como é bastante do nosso hábito, nas melhorias que poderiam chegar e que, com a ajuda fosse de que Santo fosse, não atingiríamos nunca um estado de pesadelo que se anunciava já lá por fora.
Mas, essa prudência não podia resistir à convicção que ia aumentando no meu espírito de observador, tanto mais que, embora a contragosto, tinha andado pelo antigo Instituto Superior de Ciências Económica e Financeiras, e essa aprendizagem não podia, agora nesta fase e a tantos anos de distância, colocar-me apenas na posição de jornalista convicto, sem relacionar-me com o que vou lendo e reflectindo na área da economia.
Para além disso, tendo surgido, também com uma nítida relutância inicial da maior parte dos interventores nas televisões relacionados com o sector em causa, as revelações, em forma progressiva, dos perigos que estávamos a correr em Portugal, deixei de ficar isolado em tal preocupação e, ainda que recebendo comentários que me classificavam de excessivo pessimista, mantive e até fui aumentando os avisos que considerava e considero essenciais para que os meus compatriotas que me seguem neste blogue – e têm sido cada vez mais, segundo os elementos que vou recebendo -, se vão preparando para o aumento das dificuldades de toda a espécie que vêm aí a caminho.
Pronto, agora, com esta confissão sinto-me mais descansado. E tendo assistido a uma entrevista na SIC, feita a um economista que teve o à-vontade para pôr em pratos limpos todo o panorama que se vive e aquele, de grande negritude, que ainda vamos ter de suportar, entendi que, a partir desta altura, gostem ou não gostem os esperançosos em dias melhores, a minha conduta vai continuar a ser, cada vez mais, de realidade.
Há que encarar o que nos aguarda e mentalizarmo-nos para que o13.º mês e o subsídio de Natal se encontram em risco de, primeiro sofrer um corte percentual, mas, depois, quem sabe se não serão riscados do mapa dos pagamentos. Já nãos se esconde tal atitude que eu venho a avisar há um verto tempo.
E as pensões, as reformas que, na maioria esmagadora dos casos correspondem a importâncias bem baixas, será que dos dinheiros públicos se manterá a sua liquidação mensal? É mais do que certo que não. E o ministro das Finanças que, também ele, tem de ser acusado de não ter falado já bastante para trás, alto e bom som aos portugueses, ameaçando memo Sócrates da sua demissão se o “chefe” não resolvesse mudar de atitude, já não se retrai, ainda que a medo, de expor a situação do tesouro público. Por isso, Teixeira dos Santos, que não é capaz de falar numa linguagem que seja acessível ao entendimento da maioria esmagadora dos portugueses, surgiu perante os jornalistas, metendo os pés pelas mãos, e querendo encontrar razões para as mudanças que se verificam agora, de um dia para o outro, nas medidas que estão a ser implementadas para se conseguir ir arrecadando dinheiro nos cofres do Estado, para fazer face aos inúmeros compromissos já assumidos, sendo que um deles, finalmente, vai ser o de suspender imediatamente as grandes obras, até mesmo aquela que tinha sido declarado recentemente e que não pararia – a do TGV.
Os empréstimos que temos recebido do estrangeiro, com os juros que não param de subir, esses são cada vez mais difíceis de conseguir, devido a que a política despesista de Sócrates tem vindo a retirar confiança que, até uma certa altura, ainda tínhamos conservado de outras épocas anteriores. E os próprios bancos privados nacionais, que recorriam igualmente a créditos externos para emprestar no nosso interior – pois foi assim que se compraram os milhares de andares,
que não existiam há muito tempo casas para arrendar, e também as extravagâncias beneficiaram dessas facilidades bancárias -, lutam agora com negativas que os impedem de manter a oferta que se verificava até pouco. Essa negociata de as instituições bancárias nacionais pagarem lá fora um juro inferior ao que cobravam aos seus clientes portugueses, e daí obterem grandes proventos, tal facilidade de lucro já não é como era antes.
Mas, com a fartura de temas que tenho para abordar, não deixo passar a ocasião sem referir, com espanto e indignação, que, para preparar a visita oficial próxima do Presidente da República a Cabo Verde, seguiram para aquele País 14 elementos do protocolo, que ali ficarão até 23 deste mês, data da chegada de Cavaco Silva à antiga colónia nacional, tudo à custa do Orçamento do Estado. A despesa com esses quatro dias, calcula-se, atingirá os 15 mil euros, o que sendo insignificante, é uma amostra de como se gastam os nossos cada vez menos dinheiros públicos e dos exemplos que somos capazes de dar na altura em que se pedem sacrifícios aos cidadãos.
E como se não bastassem as dificuldades generalizadas, o termos atingido o ponto de as Forças Armadas, como veio agora a público, se encontrarem à beira da ruptura, tanto mais que se verificou este ano um aumento orçamental de 5,6%, o que se traduz em “não haver dinheiro para nada”, pois a insuficiência de verbas já chegou aos 80 milhões de euros, a pergunta a fazer é qual será o panorama que se segue e que tipo de optimismo mostrará ainda José Sócrates, nos suas patéticas aparições públicas.
Não acham então que me tenho que encontrar (e, evidentemente muita agente por cá) numa posição de quase enraivecido por não poder apontar o dedo a um português, desses que se situam em posições de ter de dar o exemplo, que me mereça o mínimo de consideração e respeito?
E, ao assistir na televisão, hoje – razão por que escrevo este blogue já a meio da manhã – à censura ao Governo apresentada pelo PCP na Assembleia, tendo de ouvir uma proposta que não iria criar melhores condições de governação numa altura de tão difícil conjuntura, e também à resposta de Sócrates, ainda mais preocupado fico. Não temos Executivo e não temos uma oposição que mereça ser escolhida. É isto que temos!
Fico-me hoje por aqui. Já basta de sustos. Mas não posso afinar por aqueles que, mesmo encontrando-se com a responsabilidade da governação, não são capazes de falar verdade aos portugueses.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

ESTÁ PROIBIDO


A ENTREVISTA que o primeiro-ministro concedeu à RTP e em que, embora com poucas esperanças, alguns portugueses aguardariam que alguma coisa de novo viesse a ser apresentada, afinal, como os já convencidos da inoperância de Sócrates puderam confirmar, não serviu para mais nada que não fosse aumentar o desconsolo no que se refere à actuação de uma personagem que, ao longo dos anos que tem estado à frente de dois Governos, não conseguiu fazer aquilo que se lhe impunha e que era o de, avisado como se estava da crise que veio caminhando também na nossa direcção, fossem tomadas as medidas essenciais para, em vez de ter gasto desalmada e loucamente os nossos parcos recursos, conseguisse que nos fôssemos precavendo para evitar a situação drástica de que agora não podemos fugir.
Sim, porque não serve de nada colocarmo-nos agora na posição de enraivecidos pelo facto de terem sido apresentadas medidas que, de uma vazada, nos atingem drasticamente no nível, já tão baixo, que temos em Portugal. Todas as atitudes que os sindicatos, a CGTP, e todos os movimentos tidos como “defensores” dos chamados trabalhadores – expressão que eu abomino, porque todos nós temos de trabalhar, seja no que for, e não apenas os que estão colocados em fábricas e similares -, não importa o tipo de manifestações que façam, incluindo (e sobretudo essas) as inúteis greves. O que está, está. Já não nos podemos libertar deste martírio que o Governo, até por imposição de Bruxelas, queira ou não José Sócrates admiti-lo, foi forçado a inclui-lo nas obrigações fiscais que o Estado português, a partir do próximo dia 1 de Julho, não perdoará.
Tudo o que se queira agora dizer ao Homem que exerce as funções de chefe do Executivo nacional, por muito que estejamos – e estamos – completamente enfurecidos com a sua actuação ao longo dos anos em que foi, pelos vistos, mal escolhido pelos votos dos portugueses – em dois escrutínios que ocorreram, há que sublinhá-lo -, essa atitude não alivia o sacrifício que nos é exigido. Para trás já ninguém remedeia. E, para a frente, o único que nos assiste é ir aguentando e são palavras como as que nos dirigiu ontem o presidente da Caixa Geral de Depósitos, declarando que ”o momento é sério”, que podem servir, ainda que tarde demais – como eu tenho proclamado variadas vezes neste meu blogue que clamou pelo esclarecimento do Povo através da verdade -, para preparar os portugueses para o que nos aguarda de negro no próximo futuro.
Mudar de Governo, “correr” com o Sócrates do lugar que ocupa, numa altura, como esta, em que as mudanças políticas só servem para sobrecarregar ainda mais de gastos do pouco que se encontra nos cofres quase vazios do Estado, e isso para além de criarem ainda uma maior desconfiança nos, embora já poucos, eventuais emprestadores de fundos a Portugal.
É preciso ir repetindo até à exaustão que é nas despesas que se tem de cortar drasticamente. Tudo que não represente um benefício imediata para o nosso País, que não dê emprego real – e não fictício -, que não reverta em lucros à vista, que não sirva para a balança de pagamentos beneficiar com o que for investido, mas pouco, se não forem esses os resultados é forçoso que se diga a José Sócrates que ESTÁ PROIBIDO de empreender. Já se sabe que o Homem é lunático. Que está plenamente convencido de que tudo que faz é o melhor. Que não há ninguém mais capacitado do que aquilo que resulta das suas iniciativas. Que só tem certezas e que nunca se engana (já houve outro que também disse isso). A essas afirmações ridiculamente teimosas já nem vale a pena responder. Que fale sozinho. Mas não o podemos deixar que continue a desbaratar o pouco que sobra.
Esta agora, de ter contratado 12 motoristas ao sector privado para o seu gabinete, em lugar, como eu tenho aqui largamento lançado a ideia, de criar um serviço de atendimento dos pedidos de carro e motorista, com o automóvel que fosse e o condutor que estivesse disponível, essa mordomia prova bem como os exemplos não vêm de cima e as excelências não claudicam dos seus confortos, muito embora ao Povo sejam exigidos os maiores sacrifícios.
Não convém correr agora com esse perdulário, mas, logo que isso seja possível, haverá que pô-lo a andar e não consentir em que se lha arranje outro lugar onde vá auferir grandes e chorudos benefícios. Pelo contrário: que se lhe desconte no ordenado uma percentagem para ir descontando nas “burrices”.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

UM DIA SERÁ

Um dia farei tal cousa
não partirei sem cumprir
quem não fizer não repousa
nem merece prosseguir
nesta viagem da vida
que um dia terminará
com a missão cumprida
p’ra ver Deus ou Allah

Um dia também eu provo
esse petisco bonito
porque daqui eu me movo
e se for bom eu repito
comer do bom e do mau
para ter opinião
ser lagosta ou bacalhau
o que estiver mais à mão

Um dia se for possível
vou conhecer tal lugar
para que se tiver nível
poder do mesmo falar
gosto de tudo qu’é belo
no ambiente em redor
e faço sempre apelo
a um mínimo de amor

Um dia, um dia destes
tenho esse livro de ler
a obra que vós fizestes
porque é sempre com prazer
que vejo o esforço d’amigos
em produzir o que valha
e se precisam d’abrigos
eu cá estou mesmo na calha

Um dia, tempos atrás
saiu-me fácil da pena
uma crítica tenaz
sobre uma lusa cena
daquelas que tanto enjoam
o comum do cidadão
mas que em muito ressoam
em qualquer opinião

Pois foi mesmo nesse dia
que acabei por entender
que não é por essa via
que alguém pode aprender
que fez mal e se assume
da responsabilidade
pois nunca virá a lume
o culpado da maldade

Um dia, talvez bem perto
o País entenderá
que o que tem como certo
é que isto mudará
não podem continuar
todas as grandes maldades
e quando isso acabar
outro Portugal será

UM NÃO E UM SIM


CADA um por seu lado, é desta forma que cá vamos andando nesta Terra dos desentendimentos. É assim. E a nós só nos resta observar e ter paciência.
Enquanto o Homem que tanto contribuiu para que Portugal, sofrendo os efeitos de uma crise mundial, não tivesse sido resguardado, dentro do algo que ainda fosse possível, do mal que nos atingiu, disparou 87 “nãos” às perguntas por escrito que a Comissão de Inquérito, que tem andado aí a tentar inquirir nem se sabe bem o quê, lhe enviou para o Governo, enquanto isso e quase simultaneamente o Presidente da República, numa explicação que entendeu dar ao País - e ainda bem que o fez, tendo-se entendido perfeitamente a sua preocupação relacionada com a próxima reeleição a Belém -, dizia “sim” ao diploma que lhe tinha sido enviado pelo Parlamento e que o Tribunal Constitucional não reprovou, aquele que estabelece o casamento entre seres humanos do mesmo sexo.
Eis, pois, como um “não” de um lado e um “sim” do outro, cada qual referido a assuntos diferentes, mas ambos provenientes de figuras de topo da condução do País, têm a possibilidade de constituir faltas à verdade, o que, nos seres humanos comuns, é tão natural, pois que as realidades são, com frequência, difíceis de admitir. Não quero chegar ao extremo de afirmar que as duas afirmações se possam apelidar exactamente de mentiras, no entanto, com um sentido de abertura que faz tanta falta no nosso País, deixo apenas um rasto de dúvida. Cada qual que interprete como quiser.
Eu entendo assim: José Sócrates, que sempre disse, até àquela data que tanto foi divulgada, que não tinha conhecimento da negociação que estava em curso e de que, essa é a verdade, muita gente estava ao corrente, não podia esperar que, ao ser interrogado na Assembleia da República, fosse acreditado por mostrar a sua ignorância. Tinha de ser, realmente, no mínimo pouco crível que o chefe do Executivo, com todo o batalhão de assessores, não tivesse sido informado que a PT, a empresa onde o Estado detém uma posição maioritária, estava na altura a negociar a compra da televisão, dominada pelos espanhóis, a TVI, por sinal a mesma a que ele tinha já dado largas mostras de ser um adversário a ferro e fogo, iniciada essa má disposição através dos programas informativos de Sextas-feiras, com Manuela Moura Guedes a exercer o papel de crítica feroz da sua actuação governativa.
Isso, no que diz respeito a Sócrates. Já no caso do “sim” do Presidente da República, aí o motivo é claramente outro. Não é necessário conhecer-se pessoalmente Cavaco Silva para deduzir que, tanto por si como na qualidade de detentor daquele lugar cimeiro do Estado, será antagónico quanto a concordar com o chamado casamento dos “gays”. Se não tivesse sido nesta altura, relativamente próxima do acto eleitoral que vai realizar-se para Belém, provavelmente que o Chefe Supremo da Nação não teria hesitado em devolver ao Parlamento o diploma que ganhou a maioria dos seus deputados para ter chegado às suas mãos. Estava no seu direito e, ainda que voltasse de novo para ser votado e passasse dessa segunda vez, Cavaco Silva libertar-se-ia de ter contribuído para que os homens e as mulheres portugueses unissem legalmente, dentro do mesmo sexo, os seus destinos.
Aos portugueses, que ainda se encontram embaraçados pelas medidas anunciadas e que vão entrar em vigor no próximo dia 1 de Julho, estes “não” e “sim” declarados pelas duas figuras só lhes provocará um rápido encolher de ombros. “Quero lá saber”, será a frase que as tias Marias e os senhores Naneis do nosso País, de Norte a Sul e, em particular, na aldeias e vilas, deixarão sair, isto se se derem conta das posições tomadas pelos “chefões”. Porque são outras as preocupações que envolvem os milhões de compatriotas, dos reformados, dos que ganham pouco e, sobretudo dos desempregados.
Mas, como não se enquadram em nenhuma destas situações os que entenderam ser negativos e afirmativos na situação que é aqui tratada, logo as suas preocupações são de tipo mais pessoal do que condizentes com o Portugal que é o nosso e do que necessita é de que sejam enfrentados os graves problemas que aí estão e os que estão em vias de lhe bater à porta.

terça-feira, 18 de maio de 2010

MUNDO

Oh tu, que és Mãe de todos
mas tratada com desprezo
por aqueles, os teus filhos
que te despejam os lodos
para aliviar o peso
e entregar-te sarilhos

É altura de vingança
de chamares a atenção
dos milhões que por cá andam
que é o fim de toda a dança
ou encontram a razão
ou do planeta desandam

Uns abanões p’ra mostrar
que não há sítio seguro
e fazer revolto o mar
com uns ventos a assoprar
com força a pôr tudo escuro
com casas a desabar

Os vulcões de boca aberta
a vomitar labaredas
queimando tudo à volta
já não há certeza certa
são muitas todas as perdas
anda a loucura à solta

Isso é só p’ra s’aprender
que quem manda cá na Terra
não é o Homem, coitado
se não soube obedecer
ao ter declarado a guerra
perde sem ser perdoado

És tu Mãe Natureza
que não te deixas vencer
p’lo Homem, suas maldades
se respondes de surpresa
tens de fazê-lo aprender
que se pagam ruindades

O pior é se uma guerra
de um lado e doutro afinal
faz com que vá tudo ao fundo
e o que restar desta Terra
seja por bem ou por mal
represente o fim do Mundo

HÁ PROBLEMAS POR CÁ? E NA EUROPA?


ANDAMOS, ou teremos de andar todos, preocupados com a situação económica e social que ocorre em Portugal, e talvez por isso não estejamos tão atentos ao que se passa na Europa, mais concretamente na União a que pertencemos, e naquilo que se considera ser um ataque ao euro e, por arrasto, na desagregação de um projecto político-económico de grande alcance e enorme imaginação do seu criador, como é o de uma Europa unida e coesa, funcionando como um todo, e em que 27 países (ou aqueles que aderiram na totalidade, incluindo o uso da moeda única), se têm de mostrar completamente abertos a uma política de concórdia e de entreajuda, por forma a que possa vir a concretizar-se aquilo que, em meu entender e também de muitos observadores, consiste em podermos assistir ainda ao surgimento dos Estados Unidos da Europa.
Vivemos, pois, num período de perigo que aponta para o fim do euro? Será que, apesar da moeda única ter conseguido proteger melhor os países que mais sofreram coma crise mundial, do que se conservassem os seus anteriores dinheiros locais e, no caso português, o termos conseguido uma inegável confiança dos credores que não teria sido atingida se o escudo ainda vigorasse, mesmo assim a dúvida sobre a manutenção de uma divisa utilizada pela maioria das nações do nosso Continente continuará a levantar-se com alguma insistência?
É que os homens andam permanentemente a criar dificuldades à sua própria vida e não são assim tão poucos os que mostram saudosismo das suas anteriores moedas próprias, como se tal atitude representasse uma defesa contra o afogamento de uma crise que alastrou com grande rapidez.
O caso da Grécia, que assusta outro países situados no nosso Continente e que tem o nosso deveras apreensivo no que se refere a tocar-lhe à porta idêntica situação, a ajuda que foi acordada para, com o euro, acudir à quebra absoluta de crédito, motivado por excessivos empréstimos que lhe foram concedidos, porque os gastos, lá como por cá, embora menos, e que ultrapassaram a possibilidade de serem suportados, esse desequilíbrio financeiro ainda pôde contar com a ajuda, renitente é certo, sobretudo por parte da Alemanha, dos restantes países europeus que, da mesma forma que calhou, no nosso caso a vez de participar com um montante que bastante falta nos faz, se tratou de um “empréstimo” que foi concretizado em euros. Por outro lado, está apurado que cada português deve cerca de 20 mil milhões de euros aos bancos estrangeiros e com esta nota podemos ficar esclarecidos no que se refere ao respeito que tem de nos merecer esta moeda e quem a criou.
É por isso que, do mal o menor. Bem à portuguesa. Os que avisam as hostes de que a moeda europeia está em perigo e que já foram maiores as garantias de que se conservasse a sua utilização pela maior dias 27, esses sustos que correm o Continente talvez não passem disso mesmo, de um sobressalto. É o que se espera.
Mas, na fase em que vive actualmente o mundo, já tudo é de esperar. E a nós, essa de voltarmos ao escudo antigo, depois da experiência, boa ou má, mas concretizada, de aderirmos ao dinheiro de uma maioria europeia, representaria o ficarmos aqui “albanizados”, a olhar para um umbigo que, por demais conhecido, já não constitui o mínimo de esperança nem aos mais optimistas.
Mas, afinal e mesmo a fechar este texto, tomo conhecimento de que José Sócrates respondeu às 74 perguntas que lhe foram feitas pela Comissão de Inquérito, começando por afirmar que não mentiu ao Parlamento quando disse que não tinha conhecimento, no dia 24 de Junho, do caso das negociações em curso da PT em relação à TVI. E é isto. No meio das múltiplas preocupações que deviam ocupar todo o tempo e as capacidades de solucionar os problemas, o que leva os governantes a utilizar todas as suas capacidades são situações que não adiantam nem atrasam no que se refere a libertarmo-nos da crise e, ainda que com grande atraso, atacarmos a fundo a redução do despesismo público.
Por outro lado, o Presidente da República, que mostrou na sua intervenção transmitida pela TV não estar de acordo com os casamentos dos homossexuais, teve o bom senso de se referir à inutilidade de não homologar o diploma recebido da Assembleia, pois que a sua devolução faria com que os partidos que o aprovaram voltassem, de acordo com a Constituição, a recambiá-lo para Belém, o que representaria uma perda de tempo e, portanto, um gasto inútil. Cavaco Silva actuou de forma a não prejudicar a sua candidatura na altura própria e teve o cuidado de explicar aos portugueses o motivo do seu gesto.
E é isto que se passa por cá. “Albanizados” já andamos nós há muito tempo. Atarefados com situações que não têm a menor utilidade no sentido de servir para nos livrarmos daquilo que se encontra a bater à nossa porta. Apenas conversas de pátio. Assuntos de comadres. E o que nos vale é assistir a Sócrates a “falar” castelhano nas reuniões que tem com os parceiros do lado de lá da fronteira. Porque lá que tem graça, lá isso tem. Não só porque se trata de tentar expressar-se num idioma que não é de cá nem de lá, e mesmo que, quando os vizinhos nos visitam não usam o nosso idioma, pois nem é preciso, nós – o Sócrates – queremos mostrar que somos muito aptos em línguas estrangeiras. Enfim, não façamos comentários!...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O PAÍS DO POUCOCHINHO



NUNCA FOMOS, não somos e não sei se algum dia conseguiremos ser uma Nação de grandezas. É, como se costuma dizer, a nossa sina. Nascemos com este tamanho e, embora tivéssemos ampliado, graças à valentia de uma dúzia de antigos compatriotas, o espaço que considerámos nosso, isso foi sempre longe, o que não deu a oportunidade de alargar o passo para o que estava ao redor. Os nossos vizinhos castelhanos, por mais de uma vez tentaram comungar do soberbo espaço marítimo do nosso lado ocidental que nós tão mal aproveitamos, mas não o conseguiram concretizar e tiveram de se consolar com o que lhes é proporcionado na Galiza.
Assim, pois, encaixados neste extremo europeu que outros países tanto gostariam de possuir, insatisfeitos por nos encontrarmos reduzidos ao que nos foi historicamente concedido, embora tivéssemos sido um dos primeiros países formalmente constituídos, nunca alargámos o espaço que conseguimos arrancar dos mouros, já lá vão uns tantos séculos, pelo que fomos forçados a fazer, honra nos seja, com que as nossas naus partissem para atravessar oceanos desconhecidos, permitindo que enviássemos gentes nossas para as ilhas mais perto que ainda se mantêm nacionais, e depois para as áfricas, as índias e os brasis, para além de outras zonas, como o Japão, uma delas entre muitas, onde fomos os primeiros ocidentais a tomar contacto, aqueles locais descobertos que, com o decorrer dos tempos, acabaram por criar as suas próprias identidades e estabelecer soberanias, não que sem antes, umas tantas tenham sido ocupadas pelos espertos ingleses e holandeses que de lá extirparam, o que puderam.
Menos mal que, no mínimo, numa parte desses territórios, lá conseguimos instalar a nossa língua que, mesmo com a mistura de pronúncias locais, ainda se vai conservando razoavelmente. Também bastantes dos nossos hábitos foram aproveitados pelos naturais de cada zona. A gastronomia lusitana, por exemplo, conseguiu conquistar o paladar dos nativos.
E cá ficámos nós na Terra dos poucochinhos. Tudo sem grandes dimensões, porque conformamo-nos com aquilo que somos, embora sempre tenhamos mantido o desejo de atingir patamares mais altos, mas que as circunstâncias não nos proporcionaram.
E a culpa terá sido nossa, talvez porque a situação geográfica que nos coube na ponta oeste da Europa não deixou que conseguíssemos saltar os Pirinéus, que parece terem sido ali colocados de propósito para desanimar aqueles que tendo, épocas antes, conseguido atravessar os oceanos misteriosos, por terra deparámos sempre com a dificuldade de fazer passar os nossos produtos para lá da Península Ibérica.
Para além disso, ao longo da existência na sucessão de monarcas que se contentavam em dominar um pequeno País e em ir colhendo notícias de súbditos espalhados pelos ultramares, os quais nenhum se interessou em visitar, o que também não era fácil dada as distâncias, por aqui nos fomos mantendo, com a costa dedicada aos aproveitamentos possíveis do mar e o interior entregue a uma população que não mostrava ambição de ser mais evoluída, condição essa que, ao fim e ao cabo, também não era muito do conhecimento de um povo que se encontrava agarrado à enxada e com isso se satisfazia. Mesmo rodeados abundantemente de mar, uma grande percentagem de cidadãos nunca chegou a contemplá-lo, pois os interiores bastavam para preencher as suas imaginações.
Chegada que foi a República, desentendimentos que provocaram o recurso extremo de conceder o poder um homem, Salazar, também ele vindo do interior e ignorante do que era o mundo que nos envolvia, pelo que foi forçado a instalar um regime de força que, por sinal, lhe serviu para desejar que os portugueses soubessem relativamente pouco para não serem assaltados por desejos de melhoria de vida, assim nos arrastámos com os poucochinhos que eram distribuídos com parcimónia, tudo para ir mantendo um Portugal que não aspirava por algo melhor e os que conseguiam esse sonho, o único que lhes bastou foi agarrar as trouxas e passar “a salto” para o desconhecido, com excepção dos que, com “carta de chamada”, lá conseguiam atravessar o Atlântico e iniciar nova vida em terras de Vera Cruz.
Mas o País do Poucochinho cá ia ficando, conseguindo, mesmo assim, que algumas figuras, seguindo o exemplo de Luís de Camões, conhecedor do que era o Oriente, e, mais tarde, impulsionados por um génio que também ele tinha vindo de terras distantes, Fernando Pessoa, fossem enriquecendo a nossa limitada literatura e uma certa arte pictórica que, saltando do normal e corrente, também foi arrancada de Paris, criando o Manuelino, tudo isso deixou ainda uma demonstração de que os salientes são capazes de saltar do anonimato, mesmo quando o ambiente que os rodeia é de pobreza de todas as índoles.
Amargurados ao longo dos anos com o que era dado a conhecer por cá, despedidos que fomos da Índia e sofrendo as consequência de uma guerra africana, chegada que foi a revolta de uns tantos militares, insatisfeitos com as condições profissionais em que se movimentavam no pesadelo africano,, não havia que esperar outra coisa que não a queda de uma Ditadura que, perante a evolução democrática que se notava na Europa, não teria, mesmo sem o 25 de Abril, possibilidades de subsistir. E assim, também cá arrimou, nos primeiros tempos, uma amostra de Liberdade, que, face a um poucochinho, que não teve a largueza de ideias que era de esperar pelos mais optimistas, especialmente por aqueles que não estavam muito ao corrente do que é a ambição do ser humano e do que ele é capaz para tirar partido das circunstâncias que surgem, sobretudo no nosso caso em que o “apanhar o comboio em andamento” desse que foram outros a pôr a máquina a trabalhar, se trata de uma característica bem portuguesa, fomos suportando o que tinha sido instalado ingenuamente. Talvez nem seja só por cá que tal aconteça, que a esperteza do Homem, seja onde for que ele se encontre, faz com que os autores de proezas históricas nem sempre sejam eles a tirar proveito dos seus actos.
Para resumir todo este historial, basta que contemplemos a situação em que se encontra o nosso País neste momento. Mais uma vez não conseguimos sair do poucochinho a que estamos condenados, do fado que nos foi deixado pelos mouros que expulsámos desta Terra. De Democracia só uma pequena dose fomos capazes de absorver. Não porque os políticos que atingiram o poder ignorassem completamente os passos que deviam ser dados, mas, porque as conveniências impostas pelos interesses pessoais de alguns e que procuraram salvaguardar, e pelas vias sectárias da política que uns tantos quiseram implantar, importadas de zonas longínquas, por isso mas também porque os cidadãos que temos – e de onde saem os governantes – não conseguem entender este princípio tão fundamental de que a nossa Liberdade só termina quando briga com a Liberdade dos outros, devido a tudo não foi com inteira destreza que se implantou o regime que era esperado por muitos. E, até hoje, continuamos nesta luta interior de cada português para aplicar na prática o regime que, como disse Churchill, é o menos mau de todos os existentes.
E para termos consciência do estado em que estamos neste ano de 2010, do grau de maturidade que conseguimos alcançar, basta determo-nos a observar as auscultações feitas aos habitantes de Portugal e
mostradas sem reservas, seja quando transmitem desafios de futebol ou noutra qualquer ocasião, em que as perguntas dos jornalistas de rua e as respostas dos inquiridos nos deixam numa profunda amargura, e dessa forma tiramos todas as dúvidas no que respeita ao diminuto tamanho intelectual deste Povo. De todos nós. Não nos deixando margem para ficarmos surpreendidos com o atraso em que vivemos, se fizermos a comparação com outras populações que deveriam servir de bitola às nossas aspirações.
E assim vivemos com Governos e com cidadãos que só entendem um poucochinho de Democracia, isto é, quando ela se adapta a servir os nossos interesses pessoais, incluindo os políticos, e consideramos inimigos todos os que não comungam das nossas ideias e expressam opiniões diferentes das que nós mantemos.
E ainda acrescento um outro aspecto que serve para fortalecer a má impressão que não consigo afastar do meu pensamento: tive a paciência de assistir à maior parte dos interrogatórios que a Comissão de Inquérito, formada por alguns deputados do Parlamento, tem efectuou para tentar apurar o caso da PT e do canal de televisão TVI; pois a qualidade das perguntas efectuadas, o comportamento daquelas figuras públicas que deixaram a impressão que a única coisa que lhes interessa é surgir perante as câmaras, tal postura de uns e de outros é indicativa da dimensão das cabeças menores que fazem parte deste poucochinho que nos abarca a todos. E quem não dá mostras de uma grande tristeza face a esta conclusão é porque se conforma com a realidade.
A questão está agora em saber se conseguimos todos, dentro da nossa pequenez, ombrear com o mundo que, em grande parte, lá se vai desenvolvendo, muito embora também as controvérsias contribuam para que se apresente muito difícil chegar a um entendimento que tem de ser o essencial para que, por exemplo o que ocorre na chamada União Europeia, não venha a constituir um descalabro e um autêntico salve-se quem puder, ou se, pelo contrário, somos capazes de tudo para fazer para ultrapassar tal situação. Se assim não for, então é porque não somos dó nós os “poucochinhos”. É, ao fim e ao cabo, uma característica de todos. Temos, por isso, companhia.
Admito, no entanto, que perante as enormes dificuldades em mudarmos a nossa postura, haja quem prefira que sejamos poucochinhos, mas “porreiros”, em lugar de vastos e maldosos.
Ao fim deste longo texto, concluo que nem sei o que é, finalmente, o ideal. Mas olhem, dei largas ao meu desconsolo e aqui me fico, também eu poucochinho, na minha ânsia de querer ser maior.