domingo, 30 de janeiro de 2011

ANDAR POR CÁ

Andar por cá a arrastar-se
sem que a idade ajude
vá lá a gente fiar-se
pois tudo nos desilude
e os dias vão passando
vem mais um aniversário
sem saber como e quando
acaba este calvário

O sofrer com a doença
ninguém quer mas tal sucede
lá se vai mantendo a crença
de vir o que bem se pede
p’ra não fugirmos à sina
de dar com o inesperado
situação que mofina
mesmo passando ao lado

Mas, p’ros novos ensinar
devem cá estar os mais velhos
se dizem não precisar
sempre metem os bedelhos
mesmo p’ra não repetir
os erros já praticados
para poder prosseguir
caminhos novos traçados

Ao menos que o sacrifício
que cada idoso suporta
preste algum benefício
e ajude a abrir a porta
qu’aos novos a vida oferece
com teoria sem prática
e a juventude merece

São assim as gerações
e os que ainda se movem
assumem obrigações
por isso não se comovem

SÓ POR CÁ!...


NÃO, NÃO ESTAMOS a passar por nenhum primeiro de Abril. Encontramo-nos mesmo em Janeiro de 2011. Mas a notícia que apareceu, muito timidamente, num rodapé de um diário foi clara: o submarino da esquadra portuguesa que se encontrava já retirado do serviço, de nome Albacora, atracado na Margueira, Almada, onde esperava destino (como tanta coisa que nós mantemos por cá), por falta de uso… afundou-se!
Se isto ocorresse noutro País seguramente que seria motivo para uma averiguação aprofundada e o responsável por tal acontecimento tão caricato seria chamado a explicar-se e a responder pelo desmazelo, pois que, precisamente por já não se encontrar em actividade, talvez pela antiguidade, é que já deveria ter levado um caminho, provavelmente de aproveitamento das partes que ainda pudessem servir para as oficinas náuticas ou outro fim de utilidade. Ma “apodrecer” encostado a um cais e acabar por se afundar, isso é que não sucederia seguramente.
São estes factos que tornam Portugal numa Nação de gente que deixa espantados todos os observadores estrangeiros que ainda se preocupam em acompanhar os acontecimentos que ocorrem entre as nossas portas e que, para países escrupulosos nas suas decisões, constituem factor de risota e de descrédito daquilo que se passa neste extremo ocidental da Europa.
Mudando de assunto, mas já que me refiro a um caso ligado aos submarinos, não posso deixar de salientar a atitude desse activo homem que não pára de se mostrar continuamente perante as câmaras televisivas, numa ânsia excessiva de ser sempre protagonista seja do que seja. Refiro-me a Paulo Portas que, adiantando-se ao que ocorre na complicada situação do Governo de Sócrates e fazendo já as malas com antecipação para um tão desejado regresso à zona ministerial, propôs, numa altura em que não estão à vista eleições legislativas, que se fizesse desde já uma aliança entre o “seu” partido e o PSD, dando de imediato os passos para que o seu substituto no comando do CDS ficasse escolhido a seu gosto, tudo isto numa antecipação que se adapta perfeitamente ao passo que também deu quando, no momento em que exercia as funções de ministro da Defesa – e foi, de facto, uma escolha adequada para aquele lugar de um civil sem a mais pequena experiência de que são as forças armadas! -, pôs a funcionar uma encomenda de submarinos sem que tivessem sido tomadas as precauções que se impunham para não se verificasse depois, como está a suceder, as contrapartidas de compras em igual valor de produtos portugueses (coisa, aliás, difícil de conseguir), o que provocou e irá ainda ocasionar um verdadeiro ataque ao erário público que se está a começar a pagar e deixa para os vindouros o resto que falta… se é que não nos conseguimos livrar do compromisso.
Quer dizer: por um lado não somos suficientemente precavidos para evitar os descalabros que ocorrem para nossa vergonha e, por outro, adiantamo-nos demasiado quando os interesses pessoais se colocam acima do que poderia constituir uma boa medida para o País.
E quando eu afirmo, sem receio de críticas, que, cada vez mais, me desconsola assistir às atitudes dos seres humanos e, se eles se colocam na área dos políticos, ainda maior é o meu desagrado, haverá quem não concorde comigo e está no seu direito. Mas o que não me é dado ver são acções que me façam mudar de opinião.
E então, por cá, a enormidade de maus exemplos que são oferecidos à contemplação dos portugueses, esse caminhar sobre lama que nos atola a todos, não deixa vontade de lutar ingloriamente. Com esta gente o futuro está mais do que definido. Um milagre ou um naufragar, os dois extremos, é o que deixamos aos vindouros. Coitados!...

sábado, 29 de janeiro de 2011

ENGANADO

A rua que m’ensinaram onde ir
a porta com o número que anotei
o caminho que teria de seguir
a difícil rota por onde andei
Tudo com esperança
Sem medrança
porque ali encontraria a felicidade
deixaria para trás a mesquinhez
onde seria pura a amizade
o gosto de viver vinha de vez
Perfeição
Ilusão
porém, depois de muito procurar
por becos e vielas me meter
de ter pensado em não continuar
face à perspectiva de me perder
Parei p’ra respirar
Precisava de m’animar
tinha sido por certo enganado
o que queria ver não existia
tinha tido todo aquele enfado
felicidade total não havia
Avisado fiquei
Mas já não parei
alguém me preveniu pelo caminho
que não valia a pena eu cansar-me
a vida tinha mais do que um espinho
pelo que era esse o conselho a dar-me

Fé que nos cega lá me empurrou
não queria ficar agarrado ao solo
já ninguém ao ouvido me sussurrou
pois era desmedido o desconsolo



ENGANADOS


ASSISTI ONTEM á sessão ocorrida na Assembleia da República e tive de chegar a uma conclusão: que, no que me diz respeito, ando completamente enganado quanto à análise da situação em que se encontra Portugal pois, afinal, segundo as afirmações feitas por José Sócrates, com aquele seu ar de convicção absoluta, encontramo-nos em perfeitas condições e, em muitas áreas, mesmo à frente do que ocorre na Europa!
O pior foi que, logo a seguir, as notícias davam conta da inauguração do novo hospital pediátrico de Coimbra e que, nos cinquenta e vários milhões que foram o seu custo, se tinha verificado um erro de cerca de oito milhões a mais, em relação ao orçamento feito antes, e o prazo também tinha sido excedido, pois tardou em ficar pronto mais três anos do que marcava o projecto. Este é o panorama que se contempla desgraçadamente em Portugal e nada do que esse José Sócrates imagina que ocorre por cá. E não há forma de o fazer entender que é ele que não faz a mais pequena ideia daquilo que somos e do que em vindo a piorar de há uns anos a esta parte. E, já agora e cabendo ainda neste espaço, a notícia ontem divulgado na televisão de que a maior parte de adjudicações de compras públicas são feitas sem concurso, o que é mais do que claro que, por essa via, existem sempre corrupções, luvas dadas por fora, interesses que beneficiam uns tantos, e, uma vez mais, é o Governo o grande culpado por não pôr cobro a tais malandrices.
Quer dizer, por um lado temos um primeiro-ministro que passa a vida a gabar-se tontamente daquilo que diz ser de bom o que fazemos por cá, e que o seu Executivo é o melhor de todo o mundo, e, por outro, aquilo que se verifica é que só nos defrontamos com asneiras de todas a espécie, de que nunca se encontram os responsáveis, sobretudo quando eles provêm da área da governação, como ainda no passado domingo, em plenas eleições, ocorreu aquela vergonha que, em qualquer lugar onde exista bom senso, o primeiro da fila de causadores de tal acontecimento, logo se perfilava para ir à sua vida… mas bem longe de qualquer posição de poder.
Quando até a chanceler Merkel fez saber a todo o mundo que a sua posição é a da solidariedade europeia, advertindo que as dívidas que os países estão a contrair, como é o nosso caso, são o pior passo que pode ser dado, comprometendo o futuro de cada situação dessas, ao mesmo tempo que os nossos vizinhos espanhóis não hesitaram em aumentar a idade da reforma para os 67 anos, ao contrário do que ocorre para cá das nossas fronteiras onde, não ligando aos 65 de idade, uma enorme parte de reformados sai do trabalho na casa dos cinquenta anos, logo ficando a pesar no erário público, o que se assiste por parte das resoluções do conjunto executivo de Sócrates é o não se darem passos que apontem para soluções, porque toda a atenção é dispensada às gabarolices de que somos exemplares.
Claro que, do aumento de desemprego não saímos nem sairemos com esta gente que nem sequer é capaz de entender que, no mínimo, havia que dar uma volta ao elenco nos vários ministérios que são ocupados por já mais do que assumidos incompetentes. E, com isto tudo, o homem de S. Bento não esconde a cara perante as altíssimas remunerações de que já saíram nos jornais os números atribuídos aos administradores de empresas publicas e de que ele, com a autoridade que lhe é conferida, deveria ter posto já ponto final em tais situações.
Não me apetece avançar com mais texto. Perante o triste espectáculo que nos dá sempre o José Sócrates quando surge descaradamente a fazer declarações de enorme competência, sua e do seu elenco, a apontar primeiros lugares a nós que olhamos em volta e só assistimos à pequenez em que fomos colocados por aqueles que só são gabarolas, face a isso, ou fazemos listas tão grandes dos disparates que nem caberiam no espaço que dedico neste blogue ou nos encafuamos na tristeza que nos move.
É o que estou a fazer agora. Amanhã logo se verá.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A ILUSÃO

Ter ilusão sempre ajuda
a vencer o dia-a-dia
ir pensando na taluda
provoca muita alegria

Viver uma vida inteira
a manter tais esperanças
é colocar feiticeira
num jardim só de crianças

Mas na falta de melhor
esperançoso ajuda
pois olhando ao redor

E vendo que nada muda
já serve seja o que for
esperança nos acuda

AS EXCEPÇÕES E A REGRA


QUE INTERESSA LÁ que a situação que o País atravessa seja um dos mais complicados e difíceis de solucionar que jamais a nossa História tenha suportado? Que diferença pode fazer que consigamos ou não sair deste atoleiro em que fomos metidos, por culpa da situação mundial mas também com enorme dose de irresponsabilidade do Governo que temos tido em Portugal desde há uns anos? Tudo isso pode ser atirado para trás das costas pois o assassinato de Carlos Castro nos E.U.A. ocupou as espaços da comunicação social portuguesa muito mais do que o problema de saber se o FMI sempre se vem instalar por cá ou não ou se, como sucede há dois dias, o assunto Casa Pia e o desmentido do principal arguido, Carlos Silvino, mais conhecido pelo Bibi, quanto a tudo que afirmou ao longo de nove anos e serviu para as condenações de diversos acusados de pedofilia, é agora desmentido.
É isto que ocorre neste nosso Portugal. E é com os diferentes “fait divers” que trazem sempre entretido os nossos cidadãos que se conseguem ir esquecendo os gravíssimos problemas que não se solucionam, com eleições ou sem elas.
É verdade? É mentira? Alguém pagou vai pagar ao homem que foi considerado pelo tribunal como o mais culpado desse crime horrendo que é aliciar crianças, sobretudo sem família por perto, asiladas, para entreter sexualmente umas tantas figuras que, por sinal, até são consideradas públicas?
Depois de nove anos de julgamento, como demonstração do estado em que se encontra a nossa Justiça, usando os advogados como elemento de atraso no prosseguimento normal dos julgamentos, a vergonha atinge o ponto máximo que uma Nação pode atingir. E cá fica toda uma população, já tão castigada pela desconfiança que transporta quanto a tudo que constitui acções provenientes das forças políticas e adjacentes que temos, com mais este caso que afasta sucessivamente os portugueses do andamento do seu próprio País.
Já tanto faz como fez! – é o que se houve sair de muitas bocas que se situam na nossas áreas de actuação. O desinteresse, como o que ocorreu no passado domingo, devido ao impedimento criado no acto de votação, com as dificuldades levantadas pelo facto de existir um mau serviço provocado pelos novos cartões de cidadão, até isso que, em qualquer País levantaria uma celeuma com graves consequências, pois cá, não fazendo com que o ministro da Administração Interna não queira pôr o seu lugar à disposição – pois custa muito ficar desempregado e não receber subsídio -, tudo vai cair no esquecimento e só os directores que se demitiram deram provas de que ainda há, felizmente, gente que, sendo nacional, mostram vergonha na cara. Mas são as excepções. A regra é bem outra!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

OPINIÃO

Entendi, já muito tarde
que o dar opiniões
nem sequer serve de alarde
só provoca confusões
faz-nos parecer importantes
e se há alguém que nos oiça
mesmo sendo bem falantes
só pode partir a loiça
em bem calmo ambiente
no meio de muita gente

Se ninguém faz a pergunta
é guardar bem lá no fundo
quanto mais coisas se junta
mais perto se está do mundo
próximo ficando longe
pois que o saber demais cansa
o mais feliz é o monge
que não lhe agrada a falança
o calado é o melhor
quem maça é o falador

Opinar, essa atitude
que há quem goste d’exercer
até faz com que alguém mude
a sua forma de ser
opinião que assente
em bases bem estudadas
pode até ser convincente
não provocando maçadas
tenhamos pontos de vista
sejamos ou não artista

Calado é que eu não fico
não dizer sempre o que penso
que me chamem mafarrico
não preciso de consenso
o que tenho é que dizer
tudo que me vai na alma
pois isso me dá prazer
embora me tire a calma
contrapor é o que importa
pois que a fala não está morta

Afinal o opinar
É só p’ra desagradar

EMENDAR A MÃO


É BONITO PODERMOS ASSISTIR a uma emenda dos erros cometidos. E se isso é proveniente de um político e, por cima, sendo ele português, maior é o prazer que nos pode causar um gesto desse tipo. E eu não sei se a tomada de posição do Presidente da República acabado de reeleger, em que claudicou do seu vencimento naquela funções, ficando a receber apenas as suas duas reformas, de professor jubilado e de antigo funcionário do Banco de Portugal (o que perfaz o montante de cerca de dez mil euros) se deve a um acto de penitência por ter proclamado aquele triste e despropositado discurso, logo após saber da sua vitória na corrida para Belém, o qual foi objecto das mais justificadas críticas e, neste blogue, também eu me insurgi, no dia seguinte, a tão mais pensadas palavras, se isso se deve a um castigo proporcionado a si próprio ou se, não levando em conta o referido acto, em qualquer dos casos teria já na cabeça dar tal passo. Seja como for, os portugueses devem aplaudir o gesto e ficarem satisfeitos pelo voto ter caído na repetição do mandato. seu rendimento Agora, só resta aguardar pelo comportamento de Cavaco Silva em relação ao andamento das operações do Governo de Sócrates – ou do que se seguir -, sendo enorme a ânsia para que não se trate de uma repetição do que sucedeu durante os últimos cinco anos. Ou seja, dentro dos limites que a Constituição impõe, o que não se pode é assistir a um mutismo vindo de Belém, pois que, apesar dos essenciais entendimentos em privado com o chefe do Executivo, se não resultarem as opiniões do Supremo Magistrado e se estas forem objecto de um estudo apurado, a afirmação pública da sua opinião é obrigatória, por muito mau ambiente que cause entre os dois poderes.
Porque a recessão que espreita à porta de Portugal e por muito que o ainda José Sócrates afirme que anda tudo “às mil maravilhas”, a realidade é bem outra e hoje, no dia a dia, os portugueses sentem profundamente nos seus bolsos os efeitos de uma falta de perspectiva que o Governo manteve ao longo dos últimos anos, deixando que os portugueses se precavessem, não criando dívidas, sobretudo junto dos bancos tão solícitos em emprestar, as quais resultaram naquilo a que se assiste hoje: aos créditos ditos mal parados.
O caso do BPN, que se revela agora que já estava falido logo que foi criado, a situação dos submarinos que, embora tenha nascido num Governo anterior e o mau passo dado ficou a dever-se ao então ministro da Defesa, Paulo Portas, mas que a Justiça, que tem vindo a actuar de mal a pior e o poder executivo não encontra maneiras de meter tudo na ordem – do tipo doa a quem doer, pois que não existe outra maneira que seja capaz de solucionar um problema da gravidade deste, que se pode situar no primeiro plano das situações pesadíssimas do nosso País -, agora o caso Casa Pia que, tendo demorado anos sem fim, depara neste momento com uma situação que envergonha os não envergonhados intervenientes na referida área, todos, juízes, advogados, serviços dos tribunais, etc.,ao ponto de se levantar a grande dúvida nacional sobre a forma de comportamento da diferentes instituições que intervêm no apuramento das culpas, assim como a corrupção que está instalada em tudo que é sítio, a grande mas também a pequena, a das luvas que se dão aos fiscais de toda a ordem e que impedem que as leis sejam cumpridas pelos cidadãos, pois que está estabelecido que os cumpridores não conseguem nunca levar a direito os seus direitos, tudo isso é que deveria constituir a preocupação número um de todos os responsáveis, os maiores e os mais pequenos, os que se sentam em cadeirões e em salas bem mobiladas como aqueles que se encontram por detrás dos guichets, e tudo o mais que se encontra na base da situação que atravessamos neste nosso País, com enorme desemprego mas também com um número elevadíssimo de gente disponível que prefere manter-se a receber o subsídio de desemprego do que ir ocupar postos de trabalho, com essa grandiosa lista de situações que deveriam constituir a preocupação número um de todos, desde o Presidente da República, passando pelo sector do Estado e chegando aos cidadãos, claro que o gesto agora demonstrado por Cavaco Silva é digno de ser apreciado. Mas, se me perguntasse, eu diria que achava preferível que aumentassem o rendimento mensal do locatário de Belém assim como o de todos os elementos que têm responsabilidades no caminho que o nosso País leva, do que mantermo-nos a ter de ouvir os “jamais” sucessivos que nos chegam através das demonstrações de incompetência que, pelo menos para os que estão atentos, provoca uma enorme vontade de mudar de nacionalidade. E deixem-me repetir o que afirmo acima: é preferível termos membros do Governo e das instituições do Estado uma boa remuneração, mas que sejam indiscutivelmente competentes, tenham bom senso e sejam sérios, do que pagarmos vencimentos, por muito pequenos que sejam, a gentinha que anda por ali só a coçar o rabo pelos cadeirões, a assistir às inaugurações, a porem-se a jeito para as entrevistas e apara as fotografias e, quanto a resultados, são só disparates…

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

APODRECER


Como ele passa, o grande atrevido
Nem nos dá descanso para pensar
O que fica p’ra trás cai no olvido
Tudo se conjuga no verbo amar

Mas esse tempo, o tão necessário
P’ra levar a vida que nos impõem
Acaba por ser enorme calvário
Da via que os outros nos dispõem

Tal como um verme, rói-nos e tortura
Vai corroendo a carne e a alma
Quase nos tira o que é bom de viver

E é do lado de cá da sepultura
Com o seu tempo e sem perder a calma
Que nós começamos a apodrecer

SER BRUXO


NÃO,EU NÃO SOU BRUXO. Se bem que algum proveito pudesse tirar se me calhasse esse privilégio. O que talvez me ocorra é estar muito atento aos acontecimentos que nos rodeiam e, aproveitando alguma experiência que a vida me concedeu, o que me obrigou a antecipar-me ao que previa que viesse pela frente, fui forçado a tentar evitar o pior, ainda que consciente de que o ter dúvidas e o não albergar certezas sempre ajuda a defendermo-nos melhor dos maus momentos que calham a todos.
Não se tratando de um elogio em boca própria, mas apenas uma observação em voz alta, que é como quem diz, de uma transcrição escrita do que considero ser uma característica que não é por isso que pode atribuir mais felicidade ao seu portador, pois o ter razão antes de tempo não é valorizado neste mundo em que nos movimentamos, apesar disso aqui deixo expresso que este meu blogue não será assim um tão pouco útil meio de ser acompanhado e, quanto isso, sim, sinto-me lisonjeado.
previsão que, na altura, provocou uns tantos comentários desfavoráveis, o facto de ter avisado de que as leis laborais necessitavam de ser revistas, por muito que isso fosse doloroso para quem trabalha por conta de outrem, pois o que estava e Mas vamos ao que importa: então não se tratou de uma continua em questão é o enorme desemprego que grassa no nosso País e tornava-se e mantém-se actual todo o esforço que seja feito para reduzir o número elevadíssimo de gente que não tem trabalho? E o primeiro passo já foi dado, posto que as noticias são de “despedir mais fácil e mais barato”, só restando que a fiscalização, como eu avisei na altura, não permita que sejam cometidos abusos por parte de empresários sem escrúpulos. Se as empresas com dificuldades forem forçadas a reduzir empregados, que o façam para não aumentarem as falências e os encerramentos, mas se voltarem a necessitar de aumentar o seu número de colaboradores, nessa ocasião que recebam um prémio na área dos encargos fiscais, esta a proposta que aqui deixo. Desta maneira, a luta contra o desemprego poderá ter algum resultado.
Mas também, noutra área, o que Mário Soares escreveu ontem, na sua habitual crónica no D.N., de que Sócrates cometeu o erro de dar apoio ao candidato presidencial Manuel Alegre, por evidente falta de visão política – o que nele é habitual -, o que fez foi dividir, isso digo eu agora, o voto dos socialistas entre o poeta e Fernando Nobre, tendo este beneficiado com o disparate, pois que colocou o PS em posição mais difícil para efeitos de uma votação, quando ela ocorrer, na área das legislativas, tendo ainda Mário Soares, nesse mesmo texto, criticado Cavaco Silva pelo seu discurso tão despropositado após este ter tido conhecimento da sua vitória presidencial, e tudo isso também aqui foi referido nesta blogue e logo em seguida a terem ocorrido os casos em questão. E se, até pessoalmente, porque mantenho com Mário Soares uma amizade que vem de longe e que provocou mesmo, durante as dez vez que o acompanhei nas suas visitas como primeiro-ministro e eu nas funções de jornalista, não o sigo em todos os seus pontos de vista e até, nessas ocasiões, trocámos opiniões que nem sempre eram coincidentes, nesta altura, que sigo atentamente essa figura da nossa Democracia e com idade superior à minha, tenho de o felicitar pela lucidez extraordinária que demonstra nos seus comentários e que, no momento difícil que atravessa Portugal, continua a ser uma referência que não deve ser posta de parte.
O facto de não se estar sempre de acordo com os pontos de vista de figuras que tiveram interferência na vida pública nacional, no momento em que foi alterado o sistema político que antes existia, não quer dizer que não se reconheça o valor das actuações que, em momentos concretos, pertenceram a esses seres humanos.
Todos nós, por muito perfeitos que pretendamos ser, praticamos sempre alguns erros. O essencial é que os reconheçamos quando, depois das ocorrências, nos convencemos ou sejamos convencidos de que deveria ter sido diferente o nosso procedimento. E é isso que não sucede com muita gente que, ocupando postos de responsabilidade pública, nunca se dão por vencidos. E nós bem sabemos quem são esses figurões!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A CHUVA


A chuva molha a cidade
Fica mais triste, escurece
É duro, mas é verdade
É assim, quando aparece

Tocada a vento, então,
Mais agreste fica ainda
Nela o Homem não tem mão
Mas por vezes é bem vinda

Sim, há gente que a deseja
Que tanto implora por ela
É o pão da sua boca

Ela é sua benfazeja
Desponta como uma estrela
Toda a chuva será pouca

ÁGUAS PASSADAS


AS ELEIÇÕES decorreram, por sinal mal e em virtude das deficiências tão naturais no nosso País em que, como me sucedeu, nem o bilhete de identidade novo nem o cartão do voto serviram para se exercer esse direito, e como foi tema que se esgotou no domingo, é assunto passado e, cada vez mais e eu não abdico desse comportamento, o que se torna absolutamente necessário é que nos preocupemos com o que está pela frente e não com o que faz parte do antes.
Cavaco Silva, como era esperado, venceu a reeleição e vai, portanto, repetir o mandato, só que temos de esperar que não seja, de facto, uma repetição de comportamento, pois que as circunstância não dão ocasião a que, no cumprimento escrupuloso da Constituição, a sua actuação não se limite a não intervir nem mesmo com um esclarecimento claro e sistemático, que nada o impede de fazer, por forma a marcar aos portugueses qual é a sua posição, ainda que ela não seja condizente com a actuação do Executivo.
Pondo de parte também a infeliz declaração do Presidente da República no CCB, em que não foi capaz e nem teve ninguém que lhe desse uma opinião – se é que ele aceita opiniões estranhas à sua -, pois mostrou recalcamento em vez de ter evidenciado uma posição humilde de ganhador, deixando isso para trás e esperando que as críticas que lhe foram feitas tenham servido para alguma coisa, o que os portugueses talvez aguardem é que os próximos cinco anos de presidência sejam preenchidos por uma actuação positiva, de interferência pública, obviamente sempre depois de esgotados os esforços para que o responsável número um do Governo reflicta profundamente sobre os resultados das medidas que terá em vista tomar.
E, dentro das regras que estabelece a Constituição, o direito de veto presidencial está consagrado e mesmo que as leis nessas circunstâncias venham a ser de novo aprovadas no Parlamento, os pontos de vista do Presidente devem ser tornados públicos, sujeitando-se este ao apoio ou ao desagrado que os portugueses entenderem dedicar-lhes. É esse o risco que os políticos, sejam eles quais forem, têm obrigação de correr, visto que é para isso que assumem os lugares que ocupam e que o dinheiro do Estado lhes paga.
Agora ficamos todos a aguardar que o novo período que temos pela frente se apresente, pelo lado de Belém, mais eficiente e, de acordo com as enormes dificuldades que Portugal vai enfrentar, desta vez não podendo existir desculpas, constitucionais ou outras, que sirvam para ir deixando andar o que está mal em vez de meter mão a fundo nos problemas e não deixando a população entregue às suas dúvidas e a assistir impávida aos erros pecaminosos que são praticados pelos serviços do Estado. Como foi esta, como exemplo, que ocorreu em diversas mesas de voto e de que, certamente, não sairão nunca os culpados.
Se Cavaco Silva foi tão capaz de acusar os restantes cinco candidatos de se terem portado mal durante a campanha, pois que use agora essa mesma actuação ao longo do mandato que cai reiniciar. Sendo que, nesse comportamento de utilidade nacional, aí terá utilidade nacional e não apenas amuo pessoal.
Fui severo com Cavaco Silva? Pois todos nós temos de o ser com ele e com todos os políticos que, se tudo fazem para atingir cargos e não são obrigados a seguir essa profissão, têm de se sujeitar à exposição pública.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

LUSOFONIA - canto quarto (XI I e XIII)

XII

Como somos e como nós falamos
sobretudo isso, a língua nossa
se de alguma coisa nos gabamos
e que não admitimos que façam troça
tudo que digamos e escrevamos
para que a lusofonia possa
ir mostrando o melhor que nós temos
também alguma coisa do que cremos

XIII

Cá no rectângulo poucos ficaram
os bastantes para poder manter
o que havia e não abdicaram
da sua obrigação de defender
pois este reino que alguns criaram
o que Afonso Henriques fez nascer
ainda que com agrura e castigo
no Continente foi então postigo

ESTE PAÍS, SE ASSIM SE PODE CHAMAR1...


NÃO, ISTO NÃO É UM PAÍS. É uma coisa parecida, algo que se assemelha. Mas não é, na verdade, o que se pode considerar como uma Nação com cabeça, tronco e membros. O Chefe do Estado ainda em funções e também candidato ao novo período, afirmou, à saída do acto eleitoral em que também participou, que não mandava nos portugueses. E isso é verdade em parte. Porque, pelo menos pode actuar no sentido de forçar, através da sua crítica pública, a forma deficiente como funcionam muitas e muitas das instituições públicas que existem, até em demasia, neste rectângulo que se chama Portugal.
Ora bem, melhor, ora mal, eu ontem não votei. Digo-o aqui publicamente. Mas desloquei-me ao local que, na minha freguesia, constitui o ponto onde me está indicado para exercer esse meu direito. Mas, com grande surpresa minha, ao apresentar o cartão de eleitor e o cartão de cidadão, foi-me dito que teria de me colocar numa fila longa que existia à entrada da escola onde decorria o acto, pois que os cadernos eleitorais não se encontravam actualizados e, portanto, havia que consultar a base de dados para se saber qual o número que me correspondia.
E o que se passou comigo, que me retirei sem votar, foi o que, segundo deram nota os noticiários, sucedeu a milhares de votantes, não se podendo saber quantos terão actuado dessa forma. E o que se ouviu também nas televisões foi que não se sabia a quem cabia a responsabilidade desta falha, o que não foi diferente do que, ao longo da nossa vida como Estado, desde que ele existe – penso eu -, sempre se verificou: ninguém neste espaço tem culpa de nada; são sempre os outros!
Não, meus caros compatriotas. Isso do patriotismo, que é sinónimo de não se revoltar contra o muito de anormal que se passa neste sítio – de gente mal comportada -, de olhar sempre para a nossa História e, por muito que nos satisfaça, não tem nada a ver com aquilo que deve ser o nosso futuro, que esse, pelo que tem vindo a acontecer desde já muitas dezenas de anos, não pode oferecer perspectivas aceitáveis, o tal patrioteirismo que alguns, sobretudo políticos, se arrogam, tem de ser vivamente condenado pelos efeitos maléficos que contemplamos.
Gostaria de saber o que é que esse homem que se chama José Sócrates e, portanto, o primeiro responsável pelas sucessivas escorregadelas que são frequentes onde vivemos, aqui, poderá explicar no que respeita a este verdadeiro naufrágio na pretensão de captar votos presidenciais. Se aparecerá com o seu estúpido optimismo, com as razões que só ele encontra em todas as situações ou se será capaz de se penitenciar, posto que tudo que sucede, de bom e de mau, a um Estado pertence, a culpa ou o elogio, a quem se encontra à frente de um Governo.
Cá ficamos nós, portugueses, nas mãos e ao sabor das incompetências de quem governa. Já não há paciência possível!
Mas, numa demonstração que julgo não ser necessário fazer, da minha intransigente independência quanto a apoiar uns e atacar outros, visto que só me interessa é o melhor para Portugal, no que se refere à candidatura de Cavaco Silva, que saiu vencedor, chamo agora a atenção para dois factos em que fixei a atenção e que, na circunstâncias actuais em que nada já altera o que foi o voto dos portugueses, se podem apontar no seguinte:
- Que, no decorrer da campanha do já vencedor, se viram os guarda-costas do candidato e que são, precisamente, os mesmos que se encontravam e se encontram de novo ao serviço de Belém, portanto pagos pelo erário público. Resta saber se os carros utilizados não seriam também os que pertencem ao serviço de Belém:
- Depois da eleição e da vitória de Cavaco Silva, o carro que transportou o casal ao CCB, um Mercedes luxuoso acabado de adquirir, tem razão de ser face às economias que se exige que sejam escrupulosamente cumpridas e cujo exemplo deveria vir precisamente do Presidente acabado de reeleger?
Pois é. Se pensarmos que o primeiro PR que Portugal teve logo após a implantação da República ia de eléctrico de sua casa para Belém - e também não é preciso tanto! -, que grande diferença existe nos nossos tempos em que as mordomias máximas não são postas de lado, antes são aproveitadas em pleno.
E já agora, depois de ter ouvido o vencedor Cavaco ter proferido aquele discurso no CCB em que, arrogantemente, se voltou contra os outros candidatos, os vencidos, em lugar de, modestamente, ter agradecido apenas os votos que lhe couberam e limitar-se à sua posição sem ofender os adversários, não posso deixar de criticar severamente quem deu mostras de falta de humildade, Foi uma pena! E, depois ao pretender falar para o público que se encontrava fora, lendo um papel que lhe tinha sido entregue na altura (como seu viu), utilizou a mesma linguagem, o que quer dizer que os seus assessores são os autores do que afirma o professor, mas a responsabilidade é toda de quem não é capaz de entender qual é o comportamento mais correcto de que não se pode afastar. Estou desolado!
Deixem-me lastimar a falta de compreensão e de bom senso por parte dos maiores deste local onde vivemos. Mas, independentemente dessa situação, temos de continuar a viver aqui. Pois façamo-lo…

domingo, 23 de janeiro de 2011

LUSOFONIA - canto sexto (XXXII - XXXIII)

XXXII

A pouco e pouco nasceram cidades
com nomes portugueses p’ra lembrar
que havia que pagar grandes saudades
do que p’ra trás ficara a chorar
não contando para isso as idades
o desejo só era d’avançar
as cidades nasceram pedra a pedra
o resto lá na terra também medra

XXXIII

A língua, sempre a língua que é a nossa
se ia então expandindo pouco a pouco
e antes dos motores era em carroça
que se levava tudo até o coco
e pr’aprendê-la se levava coça
que não dava para ser dorminhoco
e assim contra o tempo lutando
foi o bom português por lá ficando


VOTAR, VOTAR...



PODE PARECER não vir nada a propósito mas, em meu entender, tudo está ligado à nossa condição de sermos naturais de um País que, no que se refere aos seus governantes, quando se trata de solicitar para que não deixem de participar no acto do voto, nesse aspecto é grande a lista de propostas e até de promessas que saem das bocas dos políticos, mas, por outro lado, o prestar os apoios e os serviços que necessitam os portugueses, aí já a situação muda completamente de figura.
Porquê este arrazoado num dia em que são chamados às urnas todos os nacionais, com a ideia, que se entende, de que se trata de uma obrigação cívica? Pois está aí bem à vista: E tem a ver com o acontecimento que foi e está a ser ainda objecto de tanta divulgação pública, o assassinato de Carlos Castro em Nova Iorque, e de que o rapaz que foi protagonista do acto, não se conhecendo ainda os pormenores que levaram a tão brutal morte, mas em que, a família do participante na tragédia, um jovem de Cantanhede que acompanhava o assassinado, preso e possivelmente sujeito a pena pesada que pode ir até à prisão perpétua, necessitando de auxílio por parte do Consulado do nosso País situado na cidade americana, se encontra perante um desinteresse infeliz que nos leva a pensar o que se passaria se o caso fosse ao contrário, isto é, se o preso americano estivesse na cadeia portuguesa. E não é necessário ter grande imaginação, conhecidas que são as actuações da diplomacia ianque para acudir aos seus naturais em situações fora do seu país.
Mas, chamada que foi ao texto esta tristeza dos nossos procedimentos, vem agora a propósito deste domingo de eleições presidenciais, recordar o que é recordado aos cidadãos portugueses para que façam o que dizem ser o seu dever – e é - , quando, em contrapartida, cá, pelo nosso País, não existem deveres, muito menos obrigações, de os responsáveis que ocupam os lugares de serviço público, de cumprirem as tarefas que lhes correspondem e para o que são pagos pelos impostos, no nosso caso bem pesados, que os contribuintes têm de suportar.
Votar, escolher hoje o Presidente da República que vai instalar-se em Belém e que, muito seguramente, será o que lá passou o último período, isso é largamente recomendado. Mas garantir que as obrigações que cabem aos locatários dos deferentes postos da administração pública têm de ser cumpridas, isso é assunto que nem sequer foi focado nas diversas campanhas que ocuparam, também com o nosso dinheiro, uns largos dias e, a partir da eleição, nem será tema que interesse ser debatido, porque a população tem mais com que se preocupar e os dirigentes não querem igualmente chamar o assunto à discussão.
Votamos, os que lá forem colocar o seu papel, e pronto. Os que ficam em casa – e fazem mal – esses riem-se e, a partir desta altura, não deixam de criticar os actos dos que não foram eles que lá os colocaram.
E é este o panorama que nos oferece a nossa querida Democracia que, digam lá o que disserem, ainda é a menos má das políticas. E, ao não haver outra que não permite as ocorrências que os seres humanos, pois que são eles que criam as religiões e as políticas, provocam, seguiremos assim e não vislumbramos, no horizonte que nos é proporcionado, qualquer alternativa que nos leve a preferi-la.
Bem gostaria, mas não tenho perspectivas optimistas para incluir neste meu blogue.

sábado, 22 de janeiro de 2011

LUSOFONIA - INTRODUÇÃO


Aquilo que até hoje nossa história
tem mostrado do que fomos capazes
com alguns desenganos também glória
pondo lado a lado tolos e ases
não tendo conseguido só vitórias
mas deixando alguma obra por fases
merece ser deixada pr’ó futuro
com o génio que houver e com apuro

Os Lusíadas serviram de guia
cantando feitos antes e depois
suspirando pela lusofonia
como tocado por todos os sois
mesmo sem ter génio em demasia
ainda que aspirando sermos dois
daqui eu parto para a caminhada
sabendo qu’é tarefa esforçada

Do princípio se deve começar
percorrendo a via conhecida
com intenção de fazer meditar
sem esquecer rima e a medida
tempos modernos não podem faltar
contando o que tem sido a nossa vida
para que mais nossos vindouros
reconheçam os erros e tesouros

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS (3)


INTERROMPI ONTEM e ainda bem o meu comentário de todos os dias e, naturalmente, nesta altura sobre as eleições presidenciais. O motivo foi indicado, mas também não me encontrava disposto a opinar no que se refere à preferência da escolha. É que, com a maior das franquezas, só poderia referir o menos mau de todos os proponentes, porque, nas circunstâncias actuais que o nosso País atravessa, não deposito absoluta confiança em qualquer das personalidades que se propõem ocupar o lugar, se bem que, como será óbvio, exclua logo à partida alguns que considero completamente fora das perspectivas mínimas que são exigidas.
Mas, sendo hoje véspera do dia em que se verifica a chamada às urnas, também não será o momento para fazer qualquer recomendação dentro da minha óptica, falível como todas. Não deixo de afirmar que dúvidas, essas mantenho-as. Mas como o pior em democracia é não exercer o direito que assiste a todos os cidadãos, mesmo sem certezas há que ir depositar o papelinho na urna para isso montada.
A pesar de tudo, o que julgo poder afirmar nesta altura e mesmo levando em conta que as sondagens já apontam para a personagem que parece ser a que não vai mesmo permitir a passagem a uma segunda volta, o que me leva a escrever este texto é a lástima de não ter assistido, nas passagens que as televisões transmitiram, a nenhuma referência aos inúmeros actos e incompetência que ocorreram nos anos mais próximos de governação e que, se se repetirem ou forem praticados outros de género idêntico, qual a atitude do Presidente eleito.
Vou enumerar uns tantos:
- Já não se põe e hipótese de serem construídos mais campos de futebol por Portugal fora, mas se outra alternativa semelhante se verificar, qual a atitude do então locatário de Belém?
- No capítulo da fiscalização que tem de ser severa em relação aos gastos que, só agora nesta altura se anuncia que o ministro das Finanças vai ter que levar a peito, que medidas tomará o PR, mesmo sabendo-se que não lhe competem constitucionalmente essas funções, para interromper as perdas de cabeça do primeiro-ministro que tiver a seu cargo o Executivo que estiver no poder?
- Algum candidato se referiu ao problema do desemprego, em termos de ser encontrada forma de o diminuir, sabendo-se, como se sabe, que existem dificuldades, por parte de certos empresários, em conseguir interessados em trabalhar, mas que o subsídio de desemprego não motiva a que sejam aceites as propostas que pequenas empresas fazem, pelo que preferem em manter-se naquelas condições e não sofrem, por isso, qualquer eliminação das listas dos protegidos por aquele auxílio?
- Será preferível evitar que se verifiquem conflitos políticos entre Belém e S. Bento, ou, em face do enterro que se estiver a verificar do nosso País, pôr de parte essa precaução e dar aos portugueses conhecimento da opinião do Supremo Magistrado da Nação, isso acompanhado de medidas de última alternativa?
- E, no que se refere ao excesso de viaturas ao serviço de uma enormidade de funcionários públicos considerados merecedores de benesses especiais, qual a opinião da personagem que vier a assumir o referido lugar?
- Claro que, em primeiro lugar, se impõem as conversas privadas com o primeiro ministro que estiver a exercer, mas, face à eventual teimosia deste em não mudar de estratégia, o comunicar aos portugueses qual a posição de Belém, isso é que é preciso ter em conta. O mutismo, nunca!
Por agora não adianto mais e muito haveria a referir e, como todos os cidadãos nacionais, fico na expectativa. Mas sem grande confiança no que aí virá.
A volta a dar a tudo isto é de tal grandeza que não sei se esse “milagre” se operará. E como a situação avançou, no mau sentido, com excessiva velocidade, agora há tudo a aguardar. E as esperanças, se bem que se devam manter dentro do possível, não constituem uma arma de que se disponha por aí perto.
E é tudo o que tenho a dizer nesta véspera da escolha que saia das mãos dos portugueses. E só desejo que não se atinja um número considerado recorde na classe das abstenções!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

LUSOFONIA canto dez (XI I e XIII)

XII

A lusofonia é a riqueza
que nos resta de toda a existência
para nós constitui uma beleza
mas só resiste se houver competência
devemos confessar nossa tristeza
por termos revelado tanta ausência
de uma dura luta ser mantida
por muito que custasse ser parida

XIII

Mais espalhá-la já não é possível
visto que o falar muitos o conseguem
mas não basta, não fica aí o nível
pois é aquilo que os que escrevem
desejariam que fosse possível
e o que não descobridores conseguem
não se admite que não seja crível
não mostrar como português é belo
que terá jus a merecer desvelo
ANDO, DE FACTO, BEM DESILUDIDO em relação aos candidatos que se apresentam para serem julgados no próximo domingo, aguardando, cada um deles, que seja o escolhido e, se não na primeira volta, pelo menos na segunda, como alguns afirmam ir conseguir.
Eu peço desculpa, mas como tiver de ser sujeito a uma colonescopia, não me encontro em condições de acrescentar, como tinha previsto, o ponto de vista que vou mantendo em relação ao que se passa neste nosso País.
Vou ver se arrebito e se, mais tarde, acrescento alguma coisa que valha a pena…
Saudações

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

LUSOFONIA canto dez (VIII e VIII)

VII

Todo o mundo se viu envolvido
pelo bicho medonho qu’abocanhou
tudo que mexia, já sem sentido
e sempre que podia devorou
mas Portugal sendo mais desvalido
a boa solução não encontrou
sofreram muito também alguns ricos
tendo ficado empresas em fanicos

VIII

Mas que fazer porém contra tal mal
se todo o mundo estava a sofrer
disso não se livrava Portugal
ao globo era sina pertencer
aqui governantes deram sinal
de mal cumprir nos fi
zeram ver
desenganos e lutas partidárias
deram ocupação a alguns párias

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS ( 2)


ATÉ AO DIA DA ESCOLHA DO PRESIDENTE continuarei a focar este tema, pois que, ainda que a atenção dos portugueses ande ocupada com as preocupações que abundam no que diz respeito às condições de vida que todos nós sentimos, sempre se reveste de importância grande o analisar qual será o comportamento do homem que vier a ocupar a cadeira de Belém.
Se for o mesmo que vem de trás, Cavaco Silva, será natural que se mantenha a dúvida sobre se se vai tratar de uma repetição de maneira de actuar, ou seja quase nada interveniente em termos práticos, conformado com as limitações que são atribuídas ao PR e permitindo que se pratiquem barbaridades executivas sem uma palavra pública que mostre aos cidadãos que não se trata de um lugar de enfeite político, ainda que as consequências de uma intervenção mais eficaz corra o perigo da desestabilização. Mas sempre será preferível isso do que assistir-se ao afundamento do nosso País, como aconteceu ao longo do período que teve Sócrates como protagonista.
No caso, pouco provável, de assentar em Belém outro protagonista que tem andado a fazer a sua própria propaganda, infelizmente não apareceu uma personalidade que tivesse a capacidade de convencer que algo de novo surgiria com condições para fazer um trabalho que se adapte às circunstância que são as que vivemos neste época.
Falo de Manuel Alegre, por exemplo, dado ter a experiencia destas andanças e ter feito parte de uma posição adversa ao regime salazarista, ainda que a maior parte do tempo o retivesse na Argélia e, portanto, sem intervenção directa no confronto. Mas a demonstração que tem dado, nas intervenções públicas que são transmitidas, da falta de conhecimento das realidades actuais do mundo em que vivemos, também o ataque ineficaz que tem feito a Cavaco Silva, memo sendo este merecedor em certos aspectos, em lugar de ser portador de um discurso que mostre, de forma concreta, qual seria a sua actuação ao estar instalado no lugar que tanto pretende ocupar, tal posição não lhe terá trazido possibilidade de conquistar votos. No caso de se manter o Partido Socialista no poder ou se for outro o grupo político que possa substituir o que ocupa esse lugar, em nenhum dos casos a linguagem de Alegre não me deu a ideia que tenha sido bastante para vir a ser preferido e, provavelmente, nem chegará para que se realize uma segunda volta. E isto digo eu que, por conhecimento antigo do poeta, bem me agradaria que ele tivesse condições para atingir o lugar por que se encontra a bater, mas seria fundamental que mudasse de discurso e usasse a sua boa voz para fazer chegar até aos portugueses casos realistas e explicações concretas da maneira de fugirmos a sete pés da aflição em que nos encontrarmos e de que não há quem diga até que ano, lá muito para diante, os nossos descendentes terão de aguentar. Mas fico-me pelo desejo, posto que as realidades são bem mais duras do que aquilo que gostaríamos de ter.
Quanto aos restantes, a pouca esperança que se vê existir em poderem atingir o primeiro lugar na escala das hipóteses, julgo não ser necessário fazerem-se grandes conjecturas. Há que ser realista e, por muito que possa custar a alguns que têm mantido o desejo de ser outro o panorama, não será desta vez que alcançarão tal propósito.
Mas há que ir votar. E isso para que não venham depois aqueles que não passaram a barreira, sejam eles quais forem, a querer convencer os portugueses de que as abstenções ficaram cheias de intenções de voto nos seus nomes.
Depois disso, perante os resultados, o que nos resta a todos nós é aguardar pelo que virá a seguir. Ou seja, verificar se o Governo que temos se mantém ou se as circunstâncias apontarão para uma alteração profunda do panorama político, que se espera e bem se necessita que conduza Portugal na direcção adequada ao viver melhor, saindo da mediocridade em que temos estado metidos.
Mas eu, neste blogue, vou acrescentando, até ao dia das eleições, aquilo que julgo ser uma opinião fundamentada em anos de vida e de profissão que sempre exerci de um jornalismo que, na época em que a comecei, exigia o cumprimento de regras e, como havia que fugir à garra da censura, obrigava a um estudo profundo da situação política e que, com a transição pós 25 de Abril, que também me apanhou em plena actividade, mais capacidade teve de existir de estar atento à evolução que se operava e de acompanhar a comparação do nosso sistema com o dos outros países democráticos que nos rodeiam por esse mundo fora.
Ninguém me convenceu ainda de que a experiência dos que vêm do regime anterior e continuaram a funcionar na situação nova, essa transição não serviu para nada e que os profissionais do jornalismo que só contactaram com o depois, esses podem emitir opiniões abalizadas servindo-se apenas dos conhecimentos históricos do que foi a época deixada para trás.
Estas eleições, assim como a situação que se vive na época actual têm de provocar maior angústia a quem não deseja, nem por sombras, que se repita o que se passou em Portugal, porque a conheceu, do que aos que só têm uma ideia contada do que foi.
Mas isso é pouco aceite agora.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

LUSOFONIA canto dez (XXI I e XXIII)

XXII

Ter mostrado tanta incapacidade
é desmazelo que me atormenta
é prova de uma enorme maldade
de atitude tornada odienta
pode-se perder tudo mas vontade
especialmente a que não se tenta
essa de não espalhar com destreza
a lusofonia, a nossa riqueza

XXIII

É malvadez que não perdoaremos
todos os que sua língua adoram
dado que p’ro futuro ficaremos
a saber que os vindouros choram
o precioso tempo que perdemos
que todos os lusófonos deploram
mas essa tinha que ser nossa sina
nem nos vale intervenção divina

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS (1)


APROXIMADOS QUE ESTAMOS do dia em que vão realizar-se as eleições presidenciais, já no próximo domingo, dia 23, será altura de todos nós, portugueses, começarmos a dispor de espaço no nosso pensamento para escolhermos quem vamos preferir para exercer as funções que, neste regime semi-presidencialista, correspondem à de acompanhar, com a distância imposta pela Constituição da República, as actuações dos Governos que estiverem eleitos e que lhes caiba a obrigação de serem competentes e honestos de modo a proteger toda uma Nação que está dependente da eficiência de uma porção de indivíduos.
Consciência deste problema por certo que existirá em grande parte dos cidadãos nacionais – não todos, porque, infelizmente, um número considerável de gente aqui nascida e a viver no solo português, não se sente ligada aos problemas que, como sempre foi forma de dizer entre nós, “é a eles que compete tomar conta disto” - , mas repito, um número apreciável de compatriotas não deixa de se inquietar em relação à escolha que for feita pela generalidade.
Acontecem, porém, duas situações que não ajudam a que a população se entregue, com o entusiasmo que deveria existir, à discussão sobre quem se encontrará em melhores condições para ocupar o palácio de Belém. A primeira é que as difíceis condições de resistência do povo, de uma forma geral, às imposições consequentes da crise que nos atacou e à má defesa que o Executivo de Sócrates nos proporcionou, não deixam margem para que se dedique uma grande importância ao acto que se aproxima; e a segunda deve-se ao facto de todos os concorrentes, uns mais e outros menos, mas nenhum a merecer elogio pela sua actuação, terem ocupado o período eleitoral com ataques de ordem pessoal e a perderem tempo com temas de importância secundária, não salientando o que de mais urgente e preocupante deve estar na primeira linha das actuações, por forma a que os portugueses fiquem com a convicção de que a actuação do próximo Magistrado será revestida de uma utilidade inegável.
Um por um, todos merecem uma observação cuidada em relação àquilo que disseram e também ao seu comportamento ao longo do período eleitoral. Não vou aqui comentar aquilo que não contribuiu para que, pelo menos no meu ponto de vista, se possa afirmar que todos os participantes estiveram à altura do lugar a que aspiram. É um facto que existem grandes distâncias entre todos os concorrentes, assistindo-se até a casos que nem merecem ser referidos, não indo eu indicar quais, mas, de uma forma geral, não me tranquilizou o que me foi dado assistir neste ou naquele pormenor.
Seja como for, por agora e faltando ainda uns dias para o acontecimento, deixo expresso que não me sinto satisfeito com o que foi amplamente mostrado nas televisões. E isso preocupa-me.
Mas os políticos não conseguem perceber que não é por se porem a atacar os outros concorrentes – a imitar os confrontos que se passam entre alguns clubes de futebol e em que a má educação de certos dirigentes afasta até os amadores da modalidade desportiva -, que conseguem atrair votos para as suas causas. Se surgisse um ao menos que se apresentasse com ideias concretas (e não apenas teorias) para que Portugal consiga sair do lamaçal em que se encontra, mesmo sabendo-se que é na actuação governativa que essa função tem lugar, isso não se viu nem ouviu com a franqueza que se impõe.
Um Presidente da República não pode exercer o que cabe aos Governos fazerem, mas ninguém proíbe que mostre claramente qual é a sua opinião e, em vez de se manter calado para não criar conflitos políticos, depois de fazer ver ao primeiro-ministro no activo e em privado o seu desacordo em relação a algo que esteja para ser planeado ou já o tenha sido, se não obtiver um acordo pode e deve dizer aos cidadãos que a sua posição não condiz com o que se está a passar. E a Assembleia da República deve estar plenamente ao corrente desse desencontro de pontos de vista, pois que é a ela que cabe tomar posição, sabendo-se como se sabe, que quando existe maioria parlamentar, o Governo se encontra protegido… até certo ponto!
Numa altura em que os juros que se referem à dívida pública se anunciam que não pararem de subir, sendo já superiores a 7% e em que, encontrando-se no mercado internacional a nossa oferta, é cada vez mais assustadora a “herança” que deixamos para o futuro, essa função de Presidente de uma República, que não encontra cura, só pode ser entregue a quem dê o mínimo de garantias de que não vai choramingar ofensas pelas críticas que lhe possam ser feitas, dentro das regras democráticas.
Mas, no que se refere ao Presidente que está ainda em Belém, nesta altura temos de estar preocupados quanto a saber se Cavaco Silva, se repetir as funções, como tudo indica, irá mudar de atitude e puxará a si a responsabilidade, que também lhe cabe e muito, de tudo fazer para não deixar que o nosso País caminhe ainda mais para a derrocada.
E se for outro o vencedor – coisa que parece não estar assim tão garantida -, esta recomendação aplica-se-lhe igualmente. Não é esta a ocasião que permita enganos na escolha. E até será um horror se concluirmos depois que “do mal o menor”!...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

DIREITOS E DEVERES

O Homem tem seus direitos
os gregos foram primeiros
e a Demo com seus defeitos
teve aí os seus obreiros

Os romanos se seguiram
as Doze Tábuas criaram
mas os plebeus não se riram
longe dos nobres ficaram

A Revolução Francesa
fez algo p’lo cidadão
trouxe alguma firmeza
na sua Declaração

Mas só a França lucrou
a Europa estava fora
e o mundo nem se atinou
com tais sinais de aurora

Foi precisa uma guerra
que espalhou p’lo Universo
malefícios de quem erra
mostram o Homem perverso

No fim as Nações Unidas
lá do Homem se lembraram
p’ra tapar muitas feridas
a Declaração criaram

A segunda, a que existe
extensiva a todo o mundo
mantendo o dedo em riste
mas pouco eficaz no fundo

Muçulmanos, por exemplo
tolerância não conhecem
e mesmo crentes no templo
as mulheres só obedecem

Respeitar opiniões
é coisa que não aceitam
provocando explosões
aos que no Islão rejeitam

Porém há tantos que tais
que aos outros não dão direitos
e mandando querem mais
julgando-se até perfeitos

Pois todas as ditaduras
de quaisquer ideologias
têm as mesmas posturas
de severas tutorias

Mas de direitos falando
úteis p’ra todos os seres
é bom não ir olvidando
que também há os deveres

Uns e outros são irmãos
até gémeos por sinal
e todos os cidadãos
devem ter esse ideal

Direitos têm de haver
essa regra é de ouro
mas deveres não esquecer
fazem parte do tesouro

Nunca é demais lembrar
quem os direitos quer ter
que os deveres têm de estar
ao lado de cada ser

TER RAZÃO ANTES DE TEMPO


NÃO É MEU COSTUME falar de mim próprio. Não me considero como exemplo para nada nem para ninguém. E o facto de manter este blogue é apenas devido à necessidade que sinto de escrever, expondo para o exterior aquilo que me atormenta no pensamento. É uma maneira de pensar em voz alta. Seguramente, a minha longa actividade como jornalista deixou-me este hábito e, para além da actividade literária que mantenho, guardando para o futuro o aparecimento do que tenho produzido, quer em prosa quer em poemas, este exercício de comentar o que mais me toca no campo dos acontecimentos liberta-me de uma espécie de retenção íntima do que considero merecedor de ser apreciado.
Digo isto porque não me julgo suficientemente convencido de que, em relação aos que me lêem, este meu blogue diário tenha interesse suficiente para ser largamente divulgado e se existem alguns que são tidos como de grane popularidade, atrevo-me a admitir que este não se situe assim em tão baixa escala, mas se é isso que sucede, então pratica-se uma grande injustiça em relação à minha produção diária. Sou levado, pois, a crer que a falta será porque não me mostro capaz de fazer a divulgação suficiente para atingir o grau maior da escala. E muita gente não tem ainda conhecimento da sua existência.
Mas não é isso que interessa. O importante agora é pegar na notícia divulgada nesta altura de que José Sócrates, por recomendação de Bruxelas e se ainda se mantiver no lugar, vai ver-se obrigado a tomar a decisão de flexibilizar as leis laborais, alterando as dificuldades que se têm mantido para que as empresas dispensem os trabalhadores, sem terem de enfrentar a cláusula confusa da “justa causa” que, sempre que os recursos dos empregadores não suportam os encargos provenientes do número de colaboradores com que contam e têm absoluta necessidade de reduzir o seu número, não o podem fazer e acabam por fechar portas e, dessa forma, representa maior o prejuízo para o País, pois que, em tais condições, ninguém pode obstar a que vão encerrando definitivamente muitos escritórios e lojas, tanto de grandes como de pequenas e médias empresas.
Afinal, o que eu pretendo referir neste texto é que, sem tirar proveito de ter, muitas vezes, razão antes de tempo, aqui deixo expresso que já há bastantes meses aludi, neste espaço, à necessidade de, mais dia menos dia, se deitar mão a esta medida que, sendo inegavelmente, uma atitude só de extremo recurso, pois ninguém pode garantir que não se pratiquem abusos e que, à sombra de uma facilidade, muitos empresários não dispensem pessoal por razões bem diferentes do excesso de gente em cada caso, não obstante isso tratar-se de uma medida a que será inevitável acudir. Mas com inspecção rigorosa.
Neste momento ainda não existem elementos seguros no que respeita a pormenores da flexibilização para que Bruxelas aponta, mas que Sócrates terá de seguir essa via, nem que venha a surgir por imposição do FMI, disso já não haverá grandes dúvidas, pois que as conversações que já ocorreram e que irão ainda inevitavelmente passar-se com as entidades sindicais, obviamente a lutar para que se não siga o recomenda, daí não sairá nada que contrarie o inevitável.
Justifica-se, pois, que deva deixar aqui a alusão que eu fiz, tempos passados, a este mesmo tema, antecipando-me ao que era de prever, muito embora desejasse que não fosse necessário ir tão longe.
Seja como for, as circunstâncias que ocasionam o aumento sucessivo de portugueses sem trabalho e a necessidade de serem tomadas providências para que se vá solucionando esta desgraça, tal imperiosidade tem, parece, que levar os governantes, sejam eles quais forem os que se situem no poder, a encarar a situação e, antes que seja a agitação social sobrecarregada a ter de intervir com os meios que não serão os mais desejáveis, e os exemplos de que temos conhecimento vindos de fora, fará com que tudo acabe por acontecer, mas à força. O que é pena é que, como sempre tem sucedido, não se actue nunca a tempo para evitar o pior e só quando nos encontramos afogados com os problemas é que, em desespero de causa, lá se tem de claudicar. Mas sempre tarde.
Volto a referir aquilo que sugeri no início deste blogue de hoje: se lerem com algum interesse os que venho a apontar há muito tempo, talvez acabem por me dar razão em alguns temas que defendo. Só que acertar antes de ocorrerem as situações é quase tão mau como actuar depois deles terem aparecido.
Sou, por isso, um Sócrates ao contrário!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

EUROPA

Essa Europa de que tanto se fala
e de que muitos querem fazer parte
não encontrou ainda o caminho
anda confusa
anda perdida
está a consumir tempo
corre o risco de ficar pelo caminho.
A Europa das Nações é um sonho
ter esse objectivo comum
uma Constituição para todos
um governo geral
uma moeda igual (que só tem quase)
com línguas diferentes
costumes desiguais
bandeiras distintas
regiões autónomas
conseguir tal objectivo, não é fácil.
E porquê
se todos desejam fazer parte do grupo?
A resposta é simples:
é que a Europa é constituída por seres humanos
também ela
como o resto do mundo
e é por isso que o entendimento
a comunhão de ideias
e de interesses
a capacidade de não exigir o comando
o desprezar interesses pessoais
o atender ao bem geral
o não ser invejoso
tudo isso falta ao Homem.
Querer ser o chefe
o que manda
desejar a melhor parte
é isso que destrói as comunidades
é por aí que s partem as uniões.
A Europa chegou até onde está
Conseguirá avançar mais um pouco?
Mas quando?
E a que preço?
Até que ponto assistirá pacificamente às discordâncias?
Restará um mito?
Abdicarão os Homens do mau pelo pouco bom?
E as regiões que, por essa Europa,
lutam por independência
estão a passar de moda? Já eram?
Que isso de querer ser dono da sua rua
deixou de ter razão de ser?
Pois não parece…

E a emigração de que este Continente
está a atrair tantas populações
os milhões de pessoas não europeias
que já se instalaram
e os que virão a caminho
acomodando-se
tendo filhos
muitos
o dobro
o triplo
o quádruplo
dos naturais europeus
que mudanças irão provocar
nos hábitos
costumes
língua
cor de pele
da tradição europeia?
Daqui a cinquenta anos
quem cá estiver ainda
e os que nasçam
descendentes dos actuais europeus
de origens várias
de
Paris
Londres
Madrid
Berlim
Lisboa
de
todas as grandes cidades
deste Continente
não encontrarão nada igual ao que existe hoje.
Os que tenham a capacidade
de ler no futuro
que sejam capazes de desvendar
o que aí virá,
poderão começar a fazer uma ideia.
embora talvez seja preferível
não se ficar a saber já…

Contemplando todos os Homens de hoje
não será difícil
fazer um exercício de reflexão.
A pergunta impõe-se:
Como é possível continuar a existir
uma Europa
com este material humano?
Essa Europa de todos por um
e de um por todos
é um desejo
um mito
mas toda a realidade dos dias de hoje
é outra.
Podemos ainda ter esperança?
Será preferível persistir numa Europa
ideal
unida
amiga
sonhada para ser diferente
do que se conseguiu até hoje
capaz de juntar vontades
interesses
forças?

Deixo aqui a pergunta
esta e outras.
e sei que há duas respostas possíveis
antagónicas
divergentes.

Existe fé de que os Homens
acreditam no êxito?
Há esperança que os Homens
apesar das suas características
encontrem o bom senso
mas outros?
Talvez, mas a maioria
perdeu a vontade de acreditar.

Europa unida?
Um bloco?
Vivendo todos os europeus
em comunhão
Que sonho mais lindo!



EUROPA, ONDE ESTÁS?


NÓS FALAMOS, REVOLTAMO-NOS, não aceitamos as posições que muitas vezes são tomadas e, se temos razão, ainda bem que o fazemos. Não devemos ficar conformados. Quando as atitudes que são assumidas não são consideradas como sendo as mais aconselháveis, obviamente, dentro das regras democráticas, cabe-nos usar da nossa prerrogativa de evidenciar descontentamento. E, se com essa atitude, não provocamos prejuízo ao próximo e, muito menos, causamos custos à Nação, ainda mais valor terá a demonstração de chamar a atenção aos senhores do Poder. Ao longo da minha vida de jornalista, antes e depois do Abril, sempre actuei desta forma. Mas aceito que haja quem não concorde comigo.
Porém, o que se passa por cá não representa uma característica exclusiva portuguesa, pois que grande parte das causas da crise que todos sofremos é proveniente dos países incluídos no grupo europeu, na área do euro e na Comunidade, dado que não dão mostras de saberem entender-se no mínimo que lhes deve ser exigido e de que os maiores beneficiários com tal atitude seriam os próprios participantes.
Se, dentro das características para que foi criada a então CEE, se verificasse aquela ajuda colectiva, dando-se as mãos aos mais fracos e fazendo com que a moeda única – que deveria ser obrigatória para a totalidade dos membros – se fosse fortificando, é evidente que muitos dos problemas que se verificam seriam remediados. Mas não é isso que sucede e, pelo contrário, as lutas, as atitudes de superioridade, as invejas e os desejos de benefícios próprios em detrimento dos que os alcançam, tudo isso representa o afastamento em lugar da união que colocaria a Europa em plano de igualdade em relação aos países mais evoluídos de todo o mundo.
Não sei se poderemos manter algumas esperanças de que, depois de tantos anos da criação da Comunidade e face aos inúmeros sobressaltos que se têm verificado no decorrer da sua existência, já com tempo suficiente para ter sido fortificada uma ideia que merecia melhor compreensão, alguma vez se alcançará o bom entendimento entre os homens, ainda que seja em seu próprio benefício.
Confesso que já mantive mais fé nesse objectivo do que aquele que ainda conservo hoje. E, especialmente, o que considero poder ser a vitória máxima deste conjunto, que seria a criação dos Estados Unidos da Europa, aí cada vez observo maior afastamento da maioria dos parceiros.
A ideia que mantenho há anos – ainda muito antes de existir a CEE – de que obteríamos grandes vantagens de diversa ordem, e servindo até de exemplo a toda a Europa, se estabelecêssemos um forte acordo com a vizinha Espanha, no sentido de formar um bloco económico, sobretudo de produção agrícola mas não só, em que uníssemos esforços que serviriam para os melhores momentos, mas em particular para enfrentar os piores, os resultados e a força que se conseguiria junto da Comunidade e, em particular, perante o actual bloco franco-alemão, dar-nos-ia enormes vantagens por deixarmos de ser este pequeno território na ponta do Continente, que quase não conta quando lutamos pelos nossos direitos e obrigar os parceiros a ouvir os nossos pontos de vista.
Mas, por cá, é escasso o sentido de união e paira permanentemente o receio tonto de sermos absorvidos pela Espanha (!), como se isso pudesse alguma vez ter lugar e representar qualquer subjugação e não um aumento de importância mútua para a solução dos nossos problemas. Mas, quanto a isto, já expus demasiadas vezes esta tese e só tempo indicará onde se encontra a razão. O ideal é que não surja excessivamente tarde.
O grave, nesta altura, é que a Europa não consegue unir-se para fazer face ao problema que atingiu tantos países do seu conjunto. E nós, aqui neste cantinho, também não alcançamos tal fim apenas pelos nossos meios, tendo de ser objecto de grande sofrimento e, segundo há que aceitar, com a intervenção do tal FMI, pela falta de capacidade, da nossa parte, em actuar com a coragem que se necessita sempre que as situações são desagradáveis.
Será que, alguma vez, a Ibéria – tal como o Benelux – virá a ser uma realidade? O futuro, e não próximo, dará resposta a isso. Mas, para tal, teremos que todos, os que ocupamos este espaço para cá dos Pirinéus, unir as mãos e, sem complexos de ocupações falsas, bater o pé à Europa que, como se verifica, também não consegue formar o coro afinado que, seguindo escrupulosamente as regras da Democracia, se deixe de superioridades de alguns e não queira ficar na História como um mau momento desde a sua constituição.
Falta de patriotismo é nada fazer para manter Portugal na senda da sua existência de cabeça levantada, em vez de nos irmos arrastando neste espaço de terra, sob o olhar desprezível dos companheiros continentais e até do mundo.
É isso que me faz sentir revolta, pois que essa coisa do amor e de uma cabana, nem para os sonhadores já é argumento.

domingo, 16 de janeiro de 2011

AMIGOS NOSSOS

Ter amigos nos humanos
quem não tem esse desejo?
Melhor ainda que manos
que nem sempre dão ensejo
ambição
é uma sorte encontrar
tamanha felicidade
porque sempre pode dar
prova de fidelidade
comoção
Mas nos homens é seguro
encontrar até demais
o que quero é com apuro
ter amigos animais
são seguros
que não pedem nada em troca
dão-nos inteiro amor
chega-lhes uma beijoca
para sermos seu tutor
como muros
O pior é quando humano
sem o mesmo sentimento
sem temer de fazer dano
não cuida do seu sustento
se desleixa
deixando de ser patrono
já não sendo novidade
o gesto é o abandono
mas que grande crueldade
sem queixa
Isso mostra afinal
que o homem é bem pior
do que qualquer animal
seja ele o que for
perverso
por isso prefiro até
amigo de quatro patas
tê-lo aqui bem ao pé
passando horas pacatas
e converso

EXAGEROS


QUEM SE ARRISCA A ESCREVER tem de se sujeitar às críticas dos que não mostram concordância com o que se apresenta como opinião. É o direito que têm uns e outros. Mas aquilo que se considera merecer ser exposto, por pouca razão que assista ao autor, é justo que receba consideração pelo facto de ser corrido o risco de enfrentar os comentários adversos.
Este preâmbulo não pretende, de maneira alguma, preparar o terreno para o texto que se segue e que, pelo que se tem visto ao longo da semana, se trata de um tema que tem ocupado a atenção de uma mancha enorme de gente que, por curiosidade ou por ser algo estranho ou também por piedade em relação ao ofendido, ultrapassou o que é normal na área da comunicação nacional. Estou preparado para isso.
De facto, muito embora seja um hábito bem português considerar que um defunto, na hora do adeus, por muito má pessoa que tenha sido ao longo da sua vida, receber o epíteto de que “no fundo até nem era má pessoa”, mesmo assim, não se tratando, no caso de Carlos Castro, de um cidadão que não seja merecedor das saudades que deixa no número dos seus relacionamentos e amizades, há que reconhecer que ocorreu – e ainda não terminou – um excesso de atenção dedicada ao acontecimento ocorrido em Nova Iorque, ao ponto de todos os assuntos que se revestem da maior importância quanto à situação difícil que Portugal atravessa, terem sido colocados em posição secundária e apenas e só o assassinato do dito cronista social ter merecido contínuas demonstrações de gente que, não hesito em afirmá-lo, até aproveitou a ocasião para sobressair e mostrar que existe.
Se se tratasse de uma personalidade que, no plano nacional, representasse um papel de grande importância em muitos dos campos que têm direito a fazer ressaltar o valor dos visados, um artista de nomeada, uma figura política de reconhecido mérito, um cientista que tenha descoberto algo de novo em qualquer das áreas que marcam uma posição relevante, se assim fosse até se entenderia o clamor que tem sido provocado no marasmo português. Mesmo se se tratasse de um jornalista, mas desses que exercem a profissão com absoluta competência, de um escritor que deixasse obra de mérito, de um poeta que realmente o fosse, de alguém que utilizasse a língua lusitana com absoluto respeito pelas regras gramaticais – e refiro-me apenas a estas áreas que, por pouco cuidado nas referências que lhe têm sido feita, pretendem colocar o Carlos Castro dentro de tais estatutos -, ainda que a vítima de um assassinato em circunstâncias que não estão de todo esclarecidas tenha desempenhado o papel que lhe coube na vida com rectidão, insisto em perguntar a quem saiba esclarecer-me pelo motivo que terá levado tanta gente (mas que gente?) a manifestar tamanha piedade pelo que sucedeu.
E, sem pretender estabelecer comparações, quando, por acaso, na mesma altura faleceu um homem que interveio no 25 e Abril e mostrou um comportamento digno de apreço, refiro-me a Vítor Alves, que nem foi nomeado general, e que não foi alvo de mais de um espaço reduzido na informação jornalística, não posso deixar de manifestar o meu espanto perante as gratidões dos cidadãos portugueses. Mas adiante…
Já o afirmei aqui, logo a seguir à notícia do acontecimento, que, da minha parte até contribui para ajudar um rapaz que, na altura em eu se encontrava em muito más condições de subsistência, lhe dei uma ocupação de uma coluna no jornal que dirigia. Fiz o que me foi possível e ele, no último aniversário que comemorou, referiu-se de passagem a esse facto. Vá lá!...
Ao ler alguns dos textos que foram publicados nas várias revistas que dedicaram largo espaço ao acontecimento e puseram a imagem de Carlos Castro a um nível de grande superioridade, constatei que foram enormes os elogios que marcaram o decorrer de uma passagem do cronista pela vida. E ainda bem que não foram parcos os elogios. O mérito que tivesse mostrado nos relacionamentos que manteve não tinha porquê ser omitido nos comentários. Mas isso, as qualidades humanas que possuísse e que, no meu caso, não tive oportunidade de avaliar, não têm nada a ver com as características que lhe fossem atribuídas no capítulo da actividade que lhe coube. Nisso – e é apenas aí que me quero referir – tenho de opinar que não encontro motivo para tanto espaço dispensado na comunicação. E isso, quando, ao mesmo tempo, por exemplo, morriam centenas de pessoas nos desastres ecológicos nos arredores do Rio de Janeiro e também noutro locais enxurradas monstruosas deixaram famílias inteiras em completa miséria.
O mundo, de facto, é muito egoísta. Só leva em consideração o que lhe passa ao pé da porta e, mesmo aí, selecciona os assuntos conforme eles lhe despertam maior curiosidade… não caridade.
Morreu Carlos Castro, foi vítima de um acto relacionado com a homossexualidade, como poderia ter sido por atropelamento na 5.ª avenida. É triste, Tratou-se de um português que viu a morte no estrangeiro. E as circunstâncias foram dramáticas. E é tudo.
Agora, transformar-se esse triste acontecimento num desastre nacional, por muito que cada um de nós também gostasse de receber tamanhas deferências após a morte- eu, por exemplo, nem me passa pela cabeça que tal me suceda, pois que nem razão para isso existe -, manda a verdade e o bom senso, que tanto nos falta por cá, mesmo nas piores circunstâncias, como é o que ocorre nesta altura aos viventes no nosso País, que sejamos comedidos e não ultrapassemos as medidas que cabem a cada coisa… e no seu lugar.

sábado, 15 de janeiro de 2011

ANDAR POR CÁ

Andar por cá a arrastar-se
sem que a idade ajude
vá lá a gente fiar-se
pois tudo nos desilude
e os dias vão passando
vem mais um aniversário
sem saber como e quando
acaba este calvário

O sofrer com a doença
ninguém quer mas tal sucede
lá se vai mantendo a crença
de vir o que bem se pede
p’ra não fugirmos à sina
de dar com o inesperado
situação que mofina
mesmo passando ao lado

Mas, p’ros novos ensinar
devem cá estar os mais velhos
se dizem não precisar
sempre metem os bedelhos
mesmo p’ra não repetir
os erros já praticados
para poder prosseguir
caminhos novos traçados

Ao menos que o sacrifício
que cada idoso suporta
preste algum benefício
e ajude a abrir a porta
qu’aos novos a vida oferece
com teoria sem prática
e a juventude merece

São assim as gerações
e os que ainda se movem
assumem obrigações
por isso não se comovem

DOOUTORES E ENGENHEIROS


JÁ ME REFERI A ESTE TEMA em blogue anterior, mas considero que vale a pena voltar ao assunto, já que nós, portugueses, estamos a necessitar de reflectir sobre o nossos comportamento e de procurarmos alterar os pontos que não têm constituído base para melhorarmos a actuação que nos cabe no conjunto de um mundo que, tendo gente melhor e pior, é natural que, os que não se encontram nas primeiras filas, tentem inflectir para emendar as piores procedimentos.
E evidente que os costumes e usos da cada povo, quando são constituídos por actuações que não interferem para mal nos resultados conseguidos no conjunto de um país, esses devem ser conservados e até apoiados. As regiões distinguem-se pelos seus hábitos de várias espécies, os gastronómicos, os folclóricos, mesmo os religiosos, tal como o artesanato e certas formas próprias de vestuário. Tudo isso serve para marcar as diferenças e é importante que seja conservado historicamente.
Mas as que constituem práticas que não devem ser elogiadas, antes marcam características que colocam os lusitanos como merecedores de serem apontados com aves raras e, no seu próprio interior, não obtêm resultados positivos, então devemos ser nós mesmos a reconhecer essas características e a fazer todos os esforços para nos emendarmos. Serem os de fora a rirem-se das nossas falhas é que, naturalmente, não podemos gostar, mas se saírem de nós todos, do seio da nossa intimidade, esse apontar de falhas, então, não aceitando que cheguem os habituais conformados a lambuzarem-se naquilo que consideram doentiamente como patriotismo, aí, é minha opinião, só terá bastante utilidade se não ficarmos calados e procurarmos que a situação evolua.
Qual o motivo por que, neste momento concreto em que se encontram à vista mais umas eleições, desta vez para a Presidência da República, embora o assunto que vou focar não tenha nada a ver directamente com o acto em si, sempre poderá ocasionar um raciocínio cuidado no que respeita à análise daquilo que somos? Já verão em seguida.
Ainda que pareça descabido, o certo é que me saltou este raciocínio ao analisar a página dos jornais onde, normalmente, são publicados os anúncios das mortes de cidadãos cujas famílias podem e consideram dever dar a conhecer a partida de seus parentes. E foi aí mesmo que me tocou de novo a imagem das nossas características que, neste particular, se diferenciam grandemente do que ocorre, por exemplo, nos nossos vizinhos e na maioria dos países mundiais, ainda que alguma coisa se assemelhe, por exemplo, aos alemães: trata-se de fazermos gala aos títulos académicos - ou quase isso – que se exibem, vaidosamente, nos cidadãos vivos mas, e nesse particular com certa incompreensão, nos comunicados dos seus passamentos.
Dar a conhecer que um corpo depositado na sua última morada ou simplesmente a caminho da cremação recebe ainda a classificação de “dr.” ou “eng.”, só os portugueses é que têm essa preocupação, aparentemente como forma respeitosa de despedida de quem partiu para outra morada de onde não se volta.
Que se levantem conflitos enquanto por cá andam os que fazem grande questão em colocar nos cartões de visita aquilo que fazem questão em ser amplamente reconhecido, ou seja o título obtido pelo facto de terem cursado universitariamente umas disciplinas que passaram a constituir a sua profissão – ou não -, como sucede com o primeiro-ministro, José Sócrates, que sente os efeitos de nem sempre lhe ser dado o prazer de o considerarem engenheiro, como se se tratasse de uma espécie de Prémio Nobel ou coisa parecida, que isso suceda é bem a demonstração de que, entre nós, não é o mais importante desempenharmos as nossas funções, sejam elas quais forem, com total competência e contribuindo para o desenvolvimento de Portugal, mas sim, e acima de tudo, o título, académico ou nem por isso, que não quer dizer que se seja muito sabedor do que se estudou (ou não), mas sim o que se pretende recordar aos outros de que deve existir uma determinada reverência em relação que se apresenta como sendo o “senhor dr. ou o sr. eng.”.
Eu sou do tempo em que, o jornalismo, era uma profissão que acolhia – pelo menos antes – gente que dispunha de uma cultura geral mínima que era essencial para se poderem exercer as funções que lhes cabiam, e que, mesmo tendo frequentado e completado carreiras académicas, nunca puxavam pelos galões nem era tratados com qualquer título daqueles atrás referidos. Tratava-se de um excepção à regra nacional.
Mas, enfim, também não vem mal ao mundo que a rapaziada com cursos que, na sua maioria, nem se sabe bem o que são, se pavoneiem com os sues títulos que são a única demonstração que podem fazer da sua “superioridade” em relação aos seus compatriotas, a maioria deles ainda oriunda de uma classe que dispõe apenas da frequência na universidade da vida que, verdade seja dita, em muitas circunstâncias ainda é a melhor escola que, sobretudo no interior do País, serviu para caminhar nas funções que desempenharam.
Saudemos então esses doutorados, não sendo por extenso, que, não sendo médicos, a única atribuição que é considerada no estrangeiro como indicadora da profissão que exercem, mesmo assim precisam de ser entusiasmados para que façam todos os possíveis para ajudar a levar Portugal no caminho o mais certo possível.
O que é pena é que, como me sucedeu recentemente, quando se necessita de um canalizador ou de um electricista, se ande à procura e não seja fácil encontrar quem preste o seu serviço. Isto, num País com tanto desemprego, é que deveria ser clamado bem alto pelos homens que procuram colocação na área política. Mas não, o que interessa é porem-se em bicos de pés e discutirem assuntos que não atrasam nem adiantam no que se refere ao juízo que deles se pode fazer quanto à sua capacidade de ter a seu cargo a governação de uma País.
Será por isso também que, cada vez mais, a abstenção dos potenciais votantes cresce… e cresce!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

BOM SENSO

O que tanta falta faz
p’ra que o mund’ande melhor
e que não acabe a paz
e se propague o amor
é só preciso bom senso
em todos gestos humanos
e na busca do consenso
procurar não fazer danos

Pensar sempre antes de agir
estudar consequências
evitar o agredir
aceitar certas cedências
isso é da vida um modo
de quem tem compreensão
se tem a dar dar-se todo
e fazê-lo com paixão

Se há na vida ideal
para manter o convívio
procurando o menos mal
e sentindo certo alívio
o bom senso lá faz falta
para fazer amizades
com toda e qualquer malta
de poucas e mais idades

Numa palavra por isso
o Homem bem necessita
assumir o compromisso
de uma atitude bonita
só o bom senso indica
comportamento perfeito
e por isso bem lhe fica
utilizá-lo a seu jeito

TRAPALHADA

OS LEITORES DESTE BLOGUE estão já avisados. Daqui a 72 anos terão o encargo de acabar de liquidar a dívida que tem vindo a ser contraída pelo Estado, neste “estado” a que chegámos. Eu, por mim, começo já a fazer pôr de parte o muito que me sobra todos os meses, de modo a que, nessa altura, ter já arrecadado os milhões que me cabem, como cidadão!
Só com o mau gosto de brincar com estas coisas tão sérias é que poderemos ainda largar larachas em relação ao panorama que nos é oferecido. Nós portugueses que, como eu, terão sofrido as agruras da situação ditatorial de antes do 25 de Abril, depois, na altura do PREC, apanharam com as consequências da acção de uma camada de “revolucionários” de pacotilha, que fizeram o País passar por um período de completa anarquia política e, depois disso, com a intervenção de um FMI que aqui impôs as suas normas, terem sido sentidas as restrições que eram inevitáveis, até à situação actual que é a mais negra de todos os tempos, resultado de uma absoluta incompetência por parte dos governantes que, ninguém nega, foram os escolhidos eleitoralmente pelo povo que se sente muito enganado, todos nós pouco mais poderemos fazer que não seja conformarmo-nos com as circunstâncias, a menos que, através da acção do próximo Presidente da República, ainda que seja a repetição do mandato anterior, se verifique algum acção positiva que incite toda a população a seguir recomendações práticas e o Governo que estiver a actuar dê mostras de comportamento bem diferentes das que foram, durante estes últimos anos, as que foram usadas pelo culpado número de tudo que se passa: José Sócrates.
Quando, mesmo nesta altura, temos de suportar as afirmações ridículas, digo até criminosas, do primeiro-ministro que, com um optimismo doentio, faz afirmações do tipo “estamos de parabéns”, “vamos cumprir as contas previstas”, “subimos em relações às previsões” e outras do estilo, que esperanças podem existir de que não é necessário que o Fundo Monetário Internacional venha exercer as suas directrizes, na área económica e financeira, quando não podem subsistir expectativas de que o actual conjunto governativo tenha capacidade para fazer, no mínimo, cumprir o que está previsto no Orçamento Geral do Estado para 2011? Isso, caso essas normas sejam suficientes.
Num pequeno resumo, aqui deixo alguns dos problemas que saem constantemente nos jornais e que não podem ser ignorados pelos portugueses comuns:
- Cada cidadão terá de pagar 4.512 euros para financiar todas as parcerias público/privadas, cujo montante ascende a 48 mil milhões de euros.
- O crédito mal parado, ou seja os calotes das famílias e empresas à banca atingiram, em Novembro passado, quase 11 milhares de milhões de euros, sendo enorme a cobrança duvidosa, chegando o seu crescimento aos 200 milhões mensais.
- No caso do BPN, as suas perdas ascendem já a 1,8 mil milhões de euros, isto enquanto o seu presidente, nomeado pelo actual Executivo, mantém um salário anual bruto de 63 mil euros.
- No que se refere aos juros dos empréstimos externos, ainda que estes sejam cada vez mais difíceis de conseguir, já chegaram a ultrapassar os 7 por cento, o que não é possível suportar e, também por isso, há quem mantenha a tese de que não existe outra alternativa que não seja, por muito que uns digam que não, que não seja o ter de recorrer à vinda do FMI, sendo que os mercados estão a pressionar Portugal para que aceite um resgate na ordem dos 80 mil milhões.
- Portugal necessita este ano de 46 mil milhões de euros de financiamento para fazer face às responsabilidades assumidas.
- Por outro lado, os chineses, como aqui neste blogue foi assunto semanas atrás, mostraram-se disponíveis para ajudar o nosso País com um empréstimo de mil milhões de euros.
Esta relação dá bem ideia do panorama que se apresenta pela nossa frente. E isto, enquanto os candidatos à Presidência da República, cada um à sua maneira, andam a garantir que, com a sua actuação se forem eleitos para esse cargo, o nosso País resolve todos os problemas. Que maravilha!
O que vale é que o povo, tendo sempre alguma coisa que o faça distrair das dificuldades autênticas que já sente e as que se vão apresentar, depara com alguma coisa que o faz olhar para o lado. Neste momento é a situação ocorrida em Nova Iorque com o assassinato do cronista Carlos Castro. Os noticiários ocuparam mais espaço com este assunto, que tem o seu quê de tristeza, mas que não existem motivos para constituir a notícia chave que ofusca todas as outras do nosso País, só que, ao sermos como somos, com consideramos que a negrura da situação nacional não atinge a importância de um caso que está ligado a um relacionamento do chamado “gayismo”, enquanto se puder prolongar a referida questão, nada mais parece importar!...
Ao mesmo tempo que tudo isto ocorreu, no leilão efectuado para a venda da dívida pública e em que a procura suplantou a oferta, com juros de 6,4% (há um ano eram de 4,8%), que se encontram um pouquinho abaixo dos fatídicos sete por cento que já aceitámos antes, com este acontecimento vamos ter de assistir ao Sócrates a embandeirar em arco e a afirmar de novo que o FMI não é preciso e que não vai ser pedida a sua intervenção em Portugal. O Ministro das Finanças, porta-voz do seu chefe, já veio dizer que não vamos precisar da ajuda exterior, pelo que nos resta aguardar pelos próximos dias, que não vão ser muitos, para assistirmos à realidade dos acontecimentos. E oxalá esses “reis do optimismo” tenham razão.
Não me venham cá dizer que este nosso Portugal não é um País com comportamentos muito típicos e que não podemos ser apelidados dos contentinhos da silva…