quinta-feira, 30 de abril de 2009

DESGOSTO

Como gosto de pintar
De trazer à tela em branco
O dom que sinto no ar
E da alma o arranco

Como ter papel à frente
À espera que o preencha
Com versos que estão na mente
A pedir que eu lhes mexa

Mas a música saltitante
Essa sim bem gostaria
De fazer dela uma amante

Mas aí é que eu não pego
Nem marcha nem sinfonia
Com desgosto, não lhe chego

O RETRATO


Eu que pinto, que me agarro aos pincéis e coloco diante de mim o cavalete, com a tela pronta a sofrer os mal tratos que eu lhe posso dar, com as cores que, de início, nunca sei bem quais serão, se resolvesse agora, mais uma vez, preencher o espaço em branco com a reprodução da minha imagem, que veria em mim que merecesse a pena reproduzir?
Nem sei bem. Não consigo, com o que escrevo, imaginar o que poderia sair.
Com a escrita é mais fácil. Quem, como eu, se dedica a esses dois atributos, que foram, há anos, simples entretenimentos e, quando chegou a altura, transformei em actividade permanente, perante a prosa, os poemas e a pintura tenho dificuldade em prever, antes de ter avançado alguma coisa no trabalho a que meti ombros, melhor dizendo as mãos, e não me sinto em condições de prever como vai ser o seu andamento e muito menos como o darei por concluído.
Na escrita, o computador ajuda muito, porque permite avanços e recuos, emendas de parágrafos inteiros, substituição de matéria antes pensada e concebida. Há sempre aalterações a fazer e só com um voltar de costas teimoso é possível substituir o que já estava escrito com aquilo que se desejaria ter executado.
Na poesia será um pouco diferente. É preciso pôr a funcionar a imaginação, a busca do tema, o profundo desejo de encontrar as palavras que melhor se adaptam à ideia e à cadência de um poema. E, claro que não são todas as que vêm no dicionário.
Na pintura, pelo menos comigo, não é fácil executar um quadro de cada vez. Começar e acabar o mesmo. A não ser se no retrato ou na reprodução de alguma modelo, quer vivo quer paisagístico, seja portanto ele qual for e em que existe o motivo à vista e então basta que se iguale o que se vê com a maior fidelidade possível – isso que eu já fiz, mas não pertence nesta altura aos meus propósitos pictóricos -, quando o artista coloca as bisnagas à vista, a dificuldade consiste em saber qual a primeira cor a colocar no espaço ainda em branco, aquela que vai constituir a base da obra que se procura desenvolver. Por isso, ao contrário da escrita, em que o autor não dá início à sua produção colocando palavras à solta no papel, a diferença com o pintar, especialmente nos primeiros passos de cada uma das artes, é enorme e não coabitam as duas actividades no mesmo espaço da imaginação.
Ao redigir tenho mais facilidade em retratar-me. Não existe tanto rigor na semelhança, os retoques literários permitem uma aproximação mais fiel do que eu possa ser de facto. E como a descrição do retratado não é física mas mais interior, com maior preocupação de descrever a maneira de ser, a actuação, o comportamento em todas as suas manifestações, humanas e intelectuais, se bem que se possa também escrever o aspecto exterior, aquele que se encontra mais à vista, ao fazer uma espécie de auto-retrato escrito, ainda que não revelando por completo um ou outro pormenor de maior intimidade, talvez consiga mostrar-me com uma certa fidelidade.
Voltando à pintura, não escondo que já tentei reproduzir-me na tela que tinha disposto para o efeito. E saíram várias demonstrações do esforço que empreguei para me aproximar daquilo que julgo ser a minha personalidade física. Passei por essa fase e a minha preocupação foi a mesma de me ver ao espelho. Pouco interessante. Daí que enveredei pela via da análise subjectiva da minha personalidade, utilizando cores que não se coadunavam com a realidade mas que se adaptavam ao estilo pictórico mais próprio da fase artística por que tinha enveredado.
Em qualquer das situações não fui capaz de me convencer que estava a ser fiel ao modelo.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

DIREITOS E DEVERES

O Homem tem seus direitos
os gregos foram primeiros
e a Demo com seus defeitos
teve aí os seus obreiros

Os romanos se seguiram
as Doze Tábuas criaram
mas os plebeus não se riram
longe dos nobres ficaram

A Revolução Francesa
fez algo p’lo cidadão
trouxe alguma firmeza
na sua Declaração

Mas só a França lucrou
a Europa estava fora
e o mundo nem se atinou
com tais sinais de aurora

Foi precisa uma guerra
que espalhou p’lo Universo
malefícios de quem erra
mostram o Homem perverso

No fim as Nações Unidas
lá do Homem se lembraram
p’ra tapar muitas feridas
a Declaração criaram

A segunda, a que existe
extensiva a todo o mundo
mantendo o dedo em riste
mas pouco eficaz no fundo

Muçulmanos, por exemplo
tolerância não conhecem
e mesmo crentes no templo
as mulheres só obedecem

Respeitar opiniões
é coisa que não aceitam
provocando explosões
aos que o Islão rejeitam

Porém há tantos que tais
que aos outros não dão direitos
e mandando querem mais
julgando-se até perfeitos

Pois todas as ditaduras
de quaisquer ideologias
têm as mesmas posturas
de severas tutorias

Mas de direitos falando
úteis p’ra todos os seres
é bom não ir olvidando
que também há os deveres

Uns e outros são irmãos
até gémeos por sinal
e todos os cidadãos
devem ter esse ideal

Direitos têm de haver
essa regra é de ouro
mas deveres não esquecer
fazem parte do tesouro

APRENDER DEMOCRACIA



Se pensarmos bem, cada vez que a nossa boca pronuncia a palavra Democracia, no seu verdadeiro significado e naquilo que cada um de nós deve fazer para praticar essa modalidade política, se usássemos a referida expressão mas, por outro lado, a praticássemos melhor, seguramente que o seu uso no dia-a-dia seria bastante mais visível. E isso, particularmente, no que se refere ao português de gema.
É evidente que seguir com rigor os princípios democráticos não é tarefa fácil de executar. Obriga-nos a ter sempre presente a razão dos outros, a acatar as suas opiniões, mesmo que nos encontraremos no patamar contrário, não discutir pontos de vista aos gritos, gesticulando, impondo o nosso parecer sem consentir que os parceiros apresentem os seus. E isso, como é natural, custa a praticar. Sobretudo nós, portugueses, que vivemos embatocados durante praticamente toda a nossa existência - sim porque não foi apenas no longo período ditatorial que o povo não foi ouvido para opinar sobre a condução dos destinos da Nação -, que acordámos numa manhã com uma evolução na rua, em que nos foi dito que e passava a viver em Liberdade, nunca entendemos completamente o que isso significava na sua verdadeira pureza e passámos a julgar que já estava enraizado no nosso espírito aquilo que a Democracia representa na verdadeira acepção política.
Mas se observarmos, por exemplo, o que sucede na Grã Bretanha, onde a prática democrática – a tal que já Winston Churchill disse que era a menos má das políticas – existe há cerca de 300 anos, se tivermos oportunidade de conviver com súbditos ingleses do nosso nível intelectual, então poderemos constatar que existe uma enorme diferença entre a duas práticas do mesmo princípio, a deles e o nosso.
É que ouvir, mostrando a maior atenção, o que outro cidadão pretende dizer e, durante todo o discurso, sentir dentro de nós toda a contradição quanto aos pontos de vista que nos são apresentados e aguardarmos pela nossa vez de falarmos para, então, expormos o que consideramos ser a nossa verdade, essa atitude não constitui ainda a nossa forma de actuar.
Não há dúvida de que vão ser precisos vários anos de prática democrática, que é necessário o aparecimento de algumas novas gerações para que o hábito de saber ouvir os outros, para que os portugueses consigam, a pouco e pouco, embrenhar-se naturalmente no que hoje ainda constitui um esforço, dado que é característica nacional julgarmos que a razão está sempre do nosso lado e que os demais andam sempre enganados, será essencial praticarmos muitos para podermos chegar a uma situação parecida com o espírito democrático autêntico.
Essa, pois, a razão que me leva a manifestar a minha estranheza por não ter sido ainda introduzida no ensino escolar, até mesmo logo no primeiro ciclo, a disciplina que ensine aos miúdos o verdadeiro valor da Democracia. Surgiu uma preferência pela língua inglesa que, aliás já se aprendia antes, tem sido grande a propaganda em redor do computador Magalhães, tudo com o seu valor relativo, mas envolver as classes da primeira aprendizagem no estudo da prática democrática, com exemplos bem claros e fazendo com que a rapaziada se inicie na respectiva utilização, entre eles próprios, do que representa permitir que cada um pense da sua forma e possa expor aos parceiros o que a sua cabeça produz, sem impor, mesmo que esteja em desacordo, aquilo que constitui a sua própria opinião, o saber ouvir e expor, tudo em acalmia e com boa educação, isso não lembrou ainda a nenhum Governo pós 25 de Abril estabelecer na instrução dos homens de amanhã.
Essa atitude passiva não vai contribuir para que os cidadãos se vão habituando, o mais rapidamente que for possível, a essa norma tão salutar de conviver. E é pena. Quanto mais tempo levarmos por cá a não usar enfaticamente só a palavra sem a sabermos aplicar na prática em toda a sua extensão, mais longe se encontra o entendimento entre os que passam a vida a discutir e a não chegar facilmente a um entendimento.

terça-feira, 28 de abril de 2009

FUNDO DE DESEMPREGO



Tanto se queixa José Sócrates de que não consegue que lhe cheguem às mãos, para além das críticas dos seus opositores, propostas que se destinem a encontrar soluções para resolver a crise e que sirvam também para ajudar o Governo a caminhar por vias positivas que proporcionem melhorar o estado degradado em que se debate o povo português, perante esta lástima que, até certo ponto, tem alguma veracidade, pois os partidos políticos opositores do PS só se têm interessado pelo dizer mal do que vem sendo feito – e tem sido muito, também há que dizê-lo -, faltando surgirem planos concretos, de que os cidadãos tenham conhecimento, que possam ser aproveitados pelos governantes actuais, atrevo-me a apresentar neste blogue uma ideia que, nas minhas fugas ao noticiário de televisões estrangeiras, neste caso a Rai Uno, italiana, tive ocasião de recolher, como tratando-se de algo que está a ser posto em prática pelo Executivo de Berlusconi. E é tão simples como o que passo a expor:
Dado que as pequenas e médias empresas são lá, como sucede entre nós, as mais sacrificadas, pois a Banca, assustada com os créditos mal parados, não lhes facilita os empréstimos para fazer face à evolução dos seus negócios, isso, apesar de serem elas as que proporcionam maior número de empregos, no total de posições que oferecem em todo o território - o que também se verifica entre nós -, a medida tomada foi a de conceder facilidades fiscais a esses pequenos contribuintes desde que os mesmos não despeçam trabalhadores e mesmo se abrirem a possibilidade de aumentar o número de colaboradores fixos que possuam. E esse auxílio consta da diminuição de impostos, o que, em muitos casos, representa um apoio bastante significativo.
Por outro lado, feitas as contas, o Estado deixa de pagar o auxílio do desemprego, que cá também se verifica, o que quer dizer que, em termos de dispêndio com dinheiros públicos proveniente da redução de impostos aos que beneficiem dessa participação, haverá alguma compensação com a redução de valores do Fundo de Desemprego.
Não sei se os serviços ao dispor do gabinete do primeiro-ministro acompanham o que se passa neste nosso País e se também se se ocupam de ler os blogues que vão saindo, porque se sim haverá possibilidade de tomarem conhecimento desta proposta. Se isso não acontece, então apenas outros cidadãos que não têm poder para actuar ficam ao corrente do que aqui deixo expresso.
Cada um faz o que pode.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

CEGO

Aquilo que eu vejo hoje
o que gosto e o que detesto
as flores, as árvores, a Natureza
e as maldades dos homens
só é possível porque os meus olhos
ainda funcionam
e é com eles que o meu cérebro
raciocina
se alegra e se revolta
se sensibiliza
me obriga a olhar para trás e para a frente
a parar para ver melhor
a espantar-me com o belo
e com o desprezível

Mas penso se um dia
deixo de ver
se terminam as minhas contemplações
se se fecha a janela da vida
se só poderei
ouvir, apalpar, falar
e só com isso serei capaz de decifrar
o que se planta diante de mim,
então o cérebro trabalhará a dobrar
penso eu, mas talvez a falta de visão
descanse mais o pensamento
o que não se vê
se não mostra a beleza
também não revolta
quando é isso mesmo:
repugnante

O pior é a leitura
o breille ajuda, dizem os invisuais
mas não se anda tão ao par
do que vai saindo
e que valha a pena
embora, por outro lado,
não se tenha de assistir
à enormidade de lixo literário
que as editoras atiram para a rua.

É melhor ou pior ser cego?
o ideal é não se conhecer nunca
a resposta
ficar na dúvida
a questionar-se até ao fim.
Por enquanto, já que vejo
deixem-me ficar assim!...


SE EU MANDASSE!


Se me tivesse calhado a mim a incumbência de ter entrevistado na SIC, como ocorreu recentemente, o político José Sócrates, talvez tivesse incluído nas perguntas apresentadas alguma coisa que se relacionasse com o que exponho abaixo e teria ocasião de o envolver na questão que está agora na boca de muitos portugueses: “Se fosse eu que mandasse, o que é que fazia?” Mas fica apenas a ideia da reacção do primeiro-ministro perante o problema que lhe fosse posto desta maneira. O resto é com a imaginação de cada um. Também não faço ideia da sensação que provocaria se, no discurso do 25 de Abril do Presidente da República, a questão posta a seguir tivesse feito parte das suas palavras.
“Se fosse eu que mandasse”
A esta pergunta que é feita ao público desprevenido na rua, que é apanhado pelas câmaras da SIC, num programa intitulado “Nós por cá”, se me calhasse a mim responder claro que não o faria sem deixar bem explícito que não é apenas um simples ponto, aquele que nos interessa a título pessoal, o que merece ser posto aos membros de um Executivo que, como sucede agora, se encontram ocasionalmente a comandar as várias pastas que lhes estão distribuídas.
Posto este ponto de vista, vale a pena acrescentar que o que eu faria logo à partida era convocar um Conselho de Ministros para comunicar a todos os membros que, a partir daquele momento, seria exigida a maior responsabilidade a cada um dos detentores da diferentes pastas, sendo que igual posição deveriam tomar os ministros em relação aos seus subordinados. Acabariam ali as desculpas quanto a demoras na execução das obrigações de cada um, demonstrações de incompetência, desculpas de mau pagador no que dissesse respeito a chamadas de atenção por acções, atitudes e declarações proferidas fora de propósito e todos, na sua escala respectiva, ficariam, portanto, sujeitos a uma avaliação permanente e a ter de assumir a respectiva responsabilidade para efeitos de encontrar os culpados, se os houvesse.
Para além disso, cada Ministério deveria criar um departamento para atender as reclamações dos cidadãos que dissessem respeito ao seu pelouro e, ao mesmo tempo, passaria a existir um cuidado particular no que se referisse ao tempo que levassem as respostas respectivas a cada caso. Teria de ser uma secção com um certo poder de requerer a urgência no seguimento dos assuntos, devendo ter acesso ao Ministro respectivo no caso de se verificar mau atendimento dos temas reclamados. Mas, esta medida teria de ser comunicada de seguida aos portugueses, para estes tomares conhecimento de que os sues problemas, desde que transmitidos às instâncias respectivas, teriam tido andamento no mais curto espaço de tempo possível, com o objectivo de criar confiança aos cidadãos que, desde sempre e até agora, se queixam e com razão de que o Poder não cuida de manter os naturais do nosso País informados do que se passa e não respondem às suas queixas.
Ora aí está o que eu faria em primeiro lugar. Porque, dizer em meia dúzia de palavras aquilo que me competia executar se mandasse, com a vastidão de assuntos que aguardam que os poderes públicos olhem para eles e se envergonhem das más actuações que a cada passo se detectam, isso não será possível.
E era a partir desta medida que todo o resto seria desbobinado, se bem que, tanta e tanta coisa que está a pedir que os que têm obrigação de tratar bem deste País lhes dediquem a atenção necessária, não seria, logicamente, de um dia para o outro que se poderia assistir a uma mudança radical do sistema e, com isso, se passasse a ver tudo solucionado, mas era um começo para dar a volta por que se espera há imenso tempo.
É óbvio que uma atitude deste tipo impunha que, da parte do principal responsável pelo Governo, se verificasse uma absoluta coragem e a disposição para enfrentar imensas contestações, mas é para isso que existe o lugar de primeiro-ministro, e não para se manifestar permanentemente como um sacrificado e um perseguido.

domingo, 26 de abril de 2009

OLHA EM FRENTE

Caíste no barranco da desgraça ?
Levanta-te, sacode o pó da estrada
Deixa que com o tempo tudo passa
‘Inda podes jogar nova cartada

Coragem homem e olha em frente
O que p’ra trás ficou, atrás está
Faz-te falta seres indiferente
Não julgues que ânimo alguém te dá

Força é preciso p’ra ter a cabeça
Bem alto sem que ela desfaleça
E não deixe de ter o seu querer

Olha p’ros outros, vê o que se passa
Que neste mundo nada é de graça
O mais difícil na vida é viver

O DISCURSO


O Presidente da República foi prudente. Sabia, seguramente, que as palavras que ia pronunciar no Parlamento eram aguardadas com enorme ansiedade, estando a ser previsto que iria aproveitar a ocasião para deixar bem clara a sua posição de demarcação do Governo que tem estado a ser alvo de críticas muito alargadas. Compreende-se, por isso, que, cautelosamente, tenha preparado um discurso que não servisse de motivo para que as Oposições, as políticas e as outras, surgissem de unhas afiadas e que o ambiente que se vive hoje, já por si de grande contestação, não aumentasse ainda mais, sobretudo neste período de pré-eleições em que as tentações são de não haver contenção nas acusações e de se praticar uma guerrilha do bota-abaixo que, sob o ponto de vista da ética e dos bons modos, não proporciona um ambiente calmo e ponderado.
Havia, isso sim, que apelar para os perigos da abstenção que, face ao que se pode avaliar no dia-a-dia e no contacto com a população corrente, constitui um perigo quanto a avaliação correcta de um resultado eleitoral. E tal alerta foi lançado por Cavaco Silva, no que, a nível colectivo, só merece a concordância de todos.
Face ao que eu escrevi no meu blogue de anteontem, é nítido que a expectativa que existia e que eu mantinha era a de que o primeiro Magistrado da Nação não se conteria quanto a deixar recados claros de desacordo com a prática política que José Sócrates tem vindo a praticar, sobretudo na fixação de que há que investir e muito, neste período difícil da vida portuguesa, por parte do Estado, deixando para os vindouros encargos que, até bastante tarde no futuro, vão constituir pesadas dificuldades, por muito que se beneficie alguma coisa antes com as modernizações que, provavelmente, não serão as opções mais sensatas nesta altura que atravessamos. Isto, no concreto, não saiu das palavras do Presidente, mas, com atenção e alguma boa vontade pode-se deduzir que se subentendeu tal preocupação no discurso presidencial.
Em conclusão: não ficariam os arreigados inimigos do partido do Governo completamente satisfeitos com o que ficou dito por Cavaco Silva. Esperavam muito mais e que não deixasse dúvidas quanto ao acatamento por parte de Belém dos passos que vão saindo de S. Bento.
Talvez tenha sido melhor assim. Já bem bastam as consequências de uma crise que estamos a viver, para acrescentar agora uma tensão institucional. E daí, apesar de Sócrates ter afirmado que estava de acordo com o que foi dito pelo Presidente, lá no seu íntimo não poderá sustentar um aplauso tão entusiástico.
No fundo, andam todos a fingir que não há razões para andarmos tão preocupados. E nós cá vamos indo também a criar a ilusão de que somos capazes de aguentar. São os portugueses, nus e crus!...

sábado, 25 de abril de 2009

REVOLUÇÃO

25 de Abril

Quem está perto dos quarenta
nascido à volta da data
que por cá se aguenta
nesta vida tão ingrata
tem este tempo na mente
e dele nunca se esquece
porque no fundo bem sente
que o festejar merece

Mas não viveu na altura
o efeito da diferença
não estava já na moldura
dos que sofreram doença
da ditadura teimosa
do come e cala e mais nada
de uma vida medrosa
que assim tinha sido herdada

Aprendeu tudo a seguir
do passado conhecia
só que podia ouvir
e era o que percebia
como tinha sido antes
mesmo que mal contado
por antigos apoiantes
do que foi o triste fado
pois que na volta da folha
do calendário fiel
não havia outra escolha
que pegar-se bem ao mel

E assim naquele dia
a maioria aderiu
agarrou sua fasquia
convencida aplaudiu
era algo que chegava
pior não podia ser
do que então acabava
e que estava a apodrecer
por isso bem vinda a nós
a boa Revolução
porque o que vem após
há que agarrar em festão
e seja o que Deus quiser
logo se vê o que passa
como mudar de mulher
e retirar a mordaça

E passada a confusão
daqueles meses de início
em que muito aldrabão
quis tirar seu benefício
parecia que lá íamos
conquistando a alforria
e que assim conseguíamos
chegar à Democracia

Mas não é em trinta anos
que se aprende a assumir
que causar aos outros danos
pode ser o destruir
da igualdade total
aceitar opiniões
ser-se em tudo liberal
mesmo nas religiões
faz falta à juventude
crescer e isso aceitar
e mostrar tal atitude
já no primeiro falar

E com caminhar dos anos
entender a liberdade
mesmo com uns desenganos
vai mostrando a verdade
de que como alguém dizia
ao olhar para os sistemas
de que a Democracia
é menos mau dos esquemas

Porque o Homem esse ser
não deixa haver melhor
está dentro do seu qur’er
nunca perder o pendor
de ficar só com o bom
ao próximo não deixar
mais do que um simples som
que reste do seu bem-estar
e o tal não dividir
e só p’ra si tudo querer
não deixa poder cumprir
nem chegar a entender
o bem da igualdade
de não haver diferenças
em toda a Humanidade
sejam quais forem as crenças

Ao terem por fim passado
três décadas do Abril
teremos aproximado
do verdadeiro perfil
que a Revolução sonhara
um Portugal vaidoso
que para trás deixara
o que era pavoroso?

Se isso se alcançou
os que antes conheceram
vêem bem o que mudou
e aos que depois nasceram
alguma coisa explicam
mas sem poder comparar
na dúvida sempre ficam
custa-lhes a acreditar
que era essa a nossa vida
no meio de tanto mal
não havendo outra saída
para o nosso Portugal

O que resta é saber
se o dia-a-dia de agora
tem alguma coisa a ver
com o que naquela hora
os da revolta queriam
dar felicidade ao povo
nem sei se eles sabiam
o que saia do ovo
o estado a que chegaríamos
com ou sem crise que há
sim ou não conseguiríamos
estar melhor do que está.

Pode ser que o futuro
se apresente noutro tom
e que caia enfim o muro
que não deixa ouvir o som
que outras democracias
mais antigas e seguras
nos mostrem as mais valias
de políticas mais puras
com mais anos de vivência
mais gerações assumidas
não pequem pela ausência
de posições bem paridas

E se a nossa juventude
souber assumir o bem
e com vera atitude
apreciar o que tem
então talvez o futuro
se apresente melhor
e que todo aquele apuro
que hoje é um horror
se transforme em oração
e que os que não viveram
a época da Revolução
bendigam os que fizeram
o golpe da nossa História
e eles que não nós
cantam bem alto a vitória

Sim, porque há que bem dizê-lo
nós os que vivemos hoje
apanhámos o farelo
os restos para quem foge
sofremos o que foi antes
sentimos todo o depois
e mesmo sendo amantes
somando os dois com dois
apanhámos com dois males
um que acaba de partir
e outro a pedir embales
sem saber bem onde ir

Cá estamos, pois, a aguardar
a melhor consolação
não vale a pena chorar
que viva a Revolução!






sexta-feira, 24 de abril de 2009

UM DISCURSO AGUARDADO





Era só o que faltava agora. É que, por via de recados, indirectas de um e de outro lado e razões que se reflectem nas opiniões dos cidadãos portugueses, surgisse agora um conflito institucional que envolvesse o Presidente da República e o primeiro-ministro, contrariando uma postura que se vinha a observar desde que o Executivo actual tomou posse.
As afirmações de que se tomaram conhecimento nos últimos tempos é que, mesmo sem indicação expressa do destinatário, existe um indício de que as coisas não estão agora a correr como antes. Durou algum tempo o anterior “namoro”, mas era inevitável que o escurecimento das actuações políticas de José Sócrates acabariam por provocar um afastamento do responsável de Belém. E isso, no discurso presidencial que é aguardado com grande expectativa na comemoração do 25 de Abril, marcando os 35 anos decorridos desde 1974, espera-se que fique aclarado amanhã. Na verdade, tem de chegar a altura em que também Cavaco Silva dará mostras de que não se pode conformar com o tratamento que tem sido dado aos problemas que afligem o nosso País e que, mais vezes do que seria desejável, não têm sido encarados com a lucidez política, económica e social que se impõem.
Se uma Revolução, pelo facto de representar uma alteração do sistema de governação de um país, não é natural que surja com a pacificação desejada, pois há sempre quem concorde e quem discorde, no caso português provocou algum trauma de comportamento, pois a Liberdade não é logo entendida e a libertinagem é aproveitada pelos oportunistas, que os há sempre em todas as situações. No caso nacional, impôs-se aguardar algum tempo, fazer acalmar os que apanham sempre os comboios em andamento, nada tendo feito para os pôr a andar, e, especialmente no caso do chamado ultramar português, por culpa primeiro do último chefe do Governo, Marcello Caetano, que se deixou vencer pelas forças reaccionárias que tinham ficado no “reinado” salazarista, e, depois, porque os militares revolucionários não tiveram capacidade para entender que era indispensável acomodar a viragem política produzida ao que os países europeus já democratizados seguiam, tudo isso fez com que o respirar ar puro e fresco no ambiente nacional não se tivesse imposto com a facilidade que seria desejada.
Estamos nesta altura numa fase, pré-eleitoral, que aponta para dificuldades de governação que se aproximam. E isso, depois de termos atravessado um período em que o Executivo de Sócrates, por nítida falta de saber ouvir o que outros poderiam e ainda poderão contribuir para solucionar certos problemas, essa atitude democrato-totalitária foi causadora de um excessivo descontentamento popular, se bem que, verdade seja dita, da parte das oposições não se tem descortinado nenhuma opção totalmente satisfatória.
Estamos, pois, na expectativa de verificar o que amanhã vai Cavaco Silva dizer ao País. Eu, por mim, aguardo com impaciência. E bastante preocupado.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

OS LIVROS


Vê-los na estante e atafulhados
de pé, como homens de coragem
por mais que pareçam arrumados
estão prontos para uma viagem

Tenho sempre de levar uns comigo
quando saio de casa por uns dias
podia deixá-los mas não consigo
fazem parte das minhas fantasias

É claro que eu tenho os preferidos
dia-a-dia o seu número aumenta
ainda que pareçam esquecidos

Quando partir para a outra tormenta
e passe ao mundo dos desvalidos
deixo o que o meu coração sustenta

OUTRA PERGUNTA A SÓCRATES


Cá está o que eu teria perguntado ao primeiro-ministro na entrevista que ele concedeu na televisão: e tratava-se de uma questão que, sem dúvida, interessaria a um elevadíssimo número de telespectadores, pois é uma infinidade de portugueses que sentem nos bolsos o preço dos combustíveis que, tendo subido assustadoramente em face do custo na origem, verificando-se essa ascensão logo a seguir a tomar-se conhecimento dos aumentos, sem dar tempo quase a que se tratassem de novas aquisições pelas companhias que, obviamente, bem aproveitaram as notícias para tirarem partido lucrativo com a marcação de novos preços sobre gasolina já guardada nos depósitos e adquirida com cotações anteriores e mais baixas.
Isto, poderá a Autoridade da Concorrência fazer afirmações como entender em defesa das companhias petrolíferas, que o público em geral não pode aceitar tais argumentos e, quando o presidente daquela instituição responde aos deputados da Assembleia da República dizendo que a “situação nacional é boa e que é difícil conseguir ter preços muito melhores do que os que temos”, isso no capítulo dos combustíveis, e, ainda por cima, garantir que não se verifica uma concertação entre as várias companhias no que se refere a ajustamento de tarifas, como é bom de ver, ninguém acredita e fica-se até bastante surpreendido com esta defesa atabalhoada de empresas que, como é sabido, ganham fortunas e estas evoluções de preços até ajudam a aumentar os lucros. A GALP, sobretudo, por se tratar de uma companhia nacional e dominada pelo Estado, tinha obrigação de contribuir para que os portugueses fossem aliviados deste sacrifício, para mais tendo ao lado um País onde se podem encher os depósitos dos carros por valores muito inferiores.
Repito, pois, aqui está um tema que bem poderia e deveria ter sido posto ao primeiro-ministro na entrevista que só serviu para ele dizer coisas que só lhe interessavam a ele, como propaganda em boca própria e até a abespinhar-se perante certas interrogações que lhe foram apresentadas. Como seria delicioso ouvir Sócrates explicar o que se passa neste particular!
Mas, quando o ser humano está convencido de que tem sempre razão e não admite que os outros não pensem da mesma forma que a sua – e é exactamente esse o comportamento dos ditadores ou até dos potenciais amantes do comando absoluto -, não há maneira de os fazer ouvir opiniões que não condigam com as suas e até não aceitam que lhes façam perguntas que consideram insultuosas, só porque podem fazer supor acusações – e vide também o que a presidente do PSD “atirou” a uma jornalista perante uma questão que lhe foi apresentada. Eles, afinal, são todos iguais!...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O QUE SÓCRATES NÃO DISSE


A entrevista que, ontem, o primeiro-ministro concedeu na SIC poderia dar motivo para que, neste primeiro blogue logo a seguir, eu me referisse ao que foi mostrado aos portugueses. Mas, assim de repente, aquilo a que todos nós assistimos foi a um sem à-vontade para contestar às perguntas que lhe foram feitas e, pelo contrário, a utilizar o tempo disponível para fazer propaganda dos seus feitos políticos e a não dar aos portugueses uma ideia do que vai ser a sua luta contra a crise. Voltarei, pois, a este tema nos blogues que se seguirem nos dias à frente. Por agora, trato de um assunto que, nem Sócrates nem nenhum dos governantes, são capazes de referir. E trata-se de um caso concreto, não de uma divagação.
A TAP apresentou no final de 2008, um prejuízo de 280 milhões de euros e, segundo informações correntes, não está a correr melhor a vida financeira da nossa empresa de aviação. Não sendo para admirar esta situação, pois outras companhias similares e de enorme dimensão – sobretudo em comparação com a nossa, que se pode considerar uma companhia aérea de pequena grandeza -, atravessam um período de dificuldades, por um lado devido ao custo do combustível que, estando agora a descer, durante um largo período “afogou” o negócio e, por outro, a crise que está a atacar todo o mundo afugenta os passageiros que estavam a habituar-se a deslocações por tudo e por nada e que, actualmente, fazem contas à vida antes de se meterem em extravagâncias.
Sendo esta uma realidade, no que diz respeito à nossa empresa de aviação vem a talho de foice recordar o que já escrevi várias vezes ao longo de muitos anos e que também este blogue foi testemunha dessa mesma opinião: que se encontra por fazer o acordo que deveria ter sido pensado e realizado há já demasiado tempo e que consiste numa sociedade entre a TAP e a Ibéria, juntando até os dois nomes que soam bem (TAP/IBERIA), por forma a encaminhar os viajantes de diferentes partes do mundo para o nosso território, a Ibéria, e, com isso, também fazendo uma enorme economia numa outra área, que é a das instalações de turismo que, os dois Países, possuem espalhados pelo mundo.
Eu explico melhor, para aqueles que não tenham tomado conhecimento deste meu ponto de vista tão antigo. O nosso País mantém, com elevados custos, escritórios e lojas de turismo em diferentes cidades estrangeiras, Nova Iorque, Londres, Paris, Franckfurt,. Bruxelas, etc., etc., isso, para além de escritórios também dedicados à propagação dos produtos nacionais que procuram exportação e que são mantidos pelo AICEP. Ora, essa manutenção custa muito dinheiro que o erário público suporta.
Por outro lado, os espanhóis, da Ibéria e do Turismo, têm, em estilo de concorrência connosco, igualmente locais onde o espírito de conduzir os interesses estrangeiros para esta área ibérica também se faz notar.
Pergunta-se, então: se a TAP e a IBÉRIA estivessem fundidas numa só empresa, fazendo o trabalho de canalizar para os nossos dois países todos os viajantes que viessem e que saíssem, com voos devidamente estudados para servir as intenções comuns, não se evitaria o gasto acima enunciado? E, de igual modo, ao porem-se de acordo, Portugal e Espanha, no sentido de fazerem em união os esforços para interessar os turistas a visitar este conjunto de belezas, até mesmo com propaganda mantida em sociedade, não constituiria uma economia e um aumento de produtividade nos resultados?
E, já agora, também seria caso para pensar na questão dos aeroportos. Um acolhimento na aerogare de Lisboa e/ ou na de Madrid, com um bom serviço, aí sim, de TGV nas duas direcções, poderia representar um acréscimo de oferta aos turistas que, por um preço limitado, poderiam visitar dois países.
Mas, já estou a ver que haverá por aí uns tantos ”sábios” que estão a chamar louco, visionário e outros atributos que lhes venham à mente. São aqueles que não apresentam nunca soluções e que só se interessam em dizer mal.
Também, claro, um Governo do nosso lado que desse o mais pequeno passo no sentido de entabular conversações com Espanha para tentar encontrar acordos que se resumiam no objectivo de juntar forças, isso também serviria para saltarem de seguida as oposições a acusar com a frase habitual de que “estavam a querer vender Portugal”.
Preso por ter cão e por não fazer nada!
Então não vale a pena que dediquemos algum tempo a pensar nesta possibilidade? Uma TAP/IBERIA assusta assim tanto ou, pelo contrário, a sua execução contribui para economizarmos bastaes fundos?

terça-feira, 21 de abril de 2009

DESPERCEBIDO


Passar na vida sem nada acontecer
desde que saiu da mãe e até morrer
é algo de no túmulo se gravar
mas não é raridade, antes vulgar

Passar despercebido, ser boa gente
ser alguém entre muitos que ninguém sente
falar, falar às vezes e não ser ouvido
passar entre os homens e não ser sentido

Após morrer, chamarem boa pessoa
incapaz de ser alguém que atraiçoa
ninguém aponta um único defeito
mas também não se conhece qualquer feito

Eis o modelo de gente entre milhões
igual aos que não saíram dos padrões
mas a dúvida é ficar sem saber
se aquilo foi viver ou apodrecer

Quem não consegue viver em plenitude
anda por cá e não faz que algo mude

QUIOSQUES DE LISBOA



Enquanto se vai vivendo, pelo menos pode-se ir gozando do enorme prazer de assistir a algumas, não todas, ideias que, gente como eu, teve ocasião de divulgar tempos atrás. É o caso dos três quiosques que Catarina Portas, filha do arquitecto com o mesmo apelido e irmã, por parte do pai, dos dois Portas que dão tanto nas vistas, o Miguel e o Paulo, conseguiu ganhar num concurso que a Câmara Municipal de Lisboa entendeu lançar, no sentido de animar a nossa capital, “guerra” que eu tenho mantido, ao longo de muitos anos de jornalista, em diferentes órgãos de Informação, no início, já lá vão mais de 50 anos, no velho “Jornal do Comércio” e depois pela vida profissional fora, entre os quais no conceituado semanário “o País”, de que fui director. Mais recentemente, neste blogue que mantenho está perto de completar um ano.
Esta minha luta para que Lisboa deixe de ser esta lúgubre cidade tristonha, aproveitando as belezas naturais que ela possui, especialmente por se encontrar situada à beira de um rio esplendoroso, tem caído em saco roto e até levou a que alguns presidentes municipais se tivessem indisposto comigo perante a minha teimosia.
Fico, pois, muito contente por verificar que, pouco a pouco, com excessiva lentidão, lá vão surgindo cidadãos que, ou porque leram o que escrevi ou só porque tiveram a mesma ideia, conseguem ir dando passos que contribuem para que a capital do nosso País mude satisfatoriamente de aspecto. E, pelo que se verifica, nem é preciso fazer uso de verbas verdadeiramente elevadas, pois que, neste momento que atravessamos, há que ter em conta a economia de meios. E, este exemplo dos quiosques, até porque se utilizaram instalações que já existiam e que estavam guardadas, é bem a demonstração do que se pode fazer sem desatender ao cuidado com os gastos.
Mas há tanto para fazer em Lisboa, sempre dentro do espírito da máxima atenção aos dispêndios excessivos, que eu só espero que os responsáveis camarários não se fiquem por aqui. Com mais Catarinas Portas ou sem elas, o que importa é que exista o espírito dentro do Município de contribuir para que todos nós, alfacinhas de gema, nos envaideçamos por viver numa cidade que mostra alegria e de que tira partido da sua colocação geografia e das condições de beleza que a rodeiam.
Só é necessária imaginação, que é o tem faltado sempre, não só agora como antes, naquele edifício onde está instalado o gabinete do Presidente camarário.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

CONTRATEMPOS

Tempo é coisa que não se segura
a medi-lo levamos toda a vida
e enquanto a existência dura
se não a damos toda por perdida
agarramos a árvore do tempo
porque essa, sim, é a que se vê
seguramo-la sem um só lamento
pois no tempo, nele só se crê

Não se vê, mas sente-se bem passar
tal como dizem, que o tempo é dinheiro
tudo ao mesmo tempo, até faltar o ar
mas para partir quem irá primeiro
pois todos nós, claro, envelhecemos
quem lá chegar que veja bem a hora
se o tempo conta como cá fazemos
e se também há depois e agora

Os minutos de tempo que separam
uns momentos dos outros, tal e qual,
servem para todos os que os comparam
e apartam o que é bom do que é mal
marcando os piores com uma cruz
metendo em cápsulas todos os tempos
que voam com a rapidez da luz
tanto os bons como os que são contratempos

Bons tempos que já lá vão e não voltam
que os maus esses nunca se esquecem
os tempos perdidos que nos revoltam
que também eles são os que envelhecem.
Se é tempo de começar novamente
mesmo que seja já com tempo pouco
pelo menos que chegue à tangente
para nos salvar deste tempo louco
que de loucura anda o mundo cheio
em correria no mesmo lugar
com o Homem sempre em grande anseio
de do mesmo sítio nunca mudar

Seja de chuva o tempo que faz
ou um bom sol ilumine a terra
aquilo de que ninguém é capaz
é de evitar que haja sempre uma guerra
todo o tempo da história do mundo
séculos e séculos que passaram
mostraram como sempre lá no fundo
houve quem morresse e os que mataram
sem compensar todo o tempo perdido
face ao tempo que não foi vivido.

Bem bastam os desperdícios dos tempos
Com todos os inesperados contratempos.

CRIANÇAS ABANDONADAS



Será por causa da crise – a tal que está a servir agora para justificar tudo – ou é o ser humano que, cada vez mais, dá mostras da maldade que transporta e já nem provoca grande indignação no mundo com os maus comportamentos que evidencia com enorme frequência?
Bem sei que a História do Homem tem sido próspera em nos dar mostras, ao longo dos séculos e desde que a memória consegue atingir tempos recuados, de assombrosas atitudes de vileza, por vezes singulares mas frequentemente colectivas, da forma como o dito Animal Racional tem actuado, sempre que dispõe de oportunidade, espaço e condições para pôr em prática os sentimentos malévolos que transporta. Mas, mesmo com essa consciência de que a população do Mundo não é de confiar na totalidade, apesar disso sempre acreditamos que as más acções humanas não atinjam proporções de tal forma arrepiantes que nos levem a viver num ambiente de desconfiança absoluta no que respeita ao próximo.
Não é exagero esta minha observação, pois que, quem anda ao corrente do que se passa por toda a parte, no Globo terrestre total e também à nossa volta, aqui mesmo ao lado onde vivemos, dá-se conta de que, de repente, surge a notícia de que um vizinho que não tínhamos na conta de má pessoa, afinal, no seio da sua família, pratica acções condenáveis, que vão desde o mal tratar da mulher ou do marido até ao abuso sexual dos filhos, quando não ocorre um assassínio e/ou um suicídio.
Não vale a pena dar mais exemplos para justificar esta minha preocupação no que diz respeito ao comportamento de uma grande parte do tal ser humano que, queiramos ou não aceitar, é, potencialmente, uma personagem que transporta, no seu íntimo, uma certa dose de maldade, de egoísmo, de inveja, de uma quantidade maior ou menor de maus princípios que, se não consegue sustê-los, quando surgem à superfície provocam atitudes que só são merecedoras de crítica dos outros seres que, se as circunstâncias o proporcionarem, repetem os erros dos criticados.
Escrevo este meu desabafo na altura em que tomo conhecimento da quantidade enorme de crianças que são abandonadas pelos pais e que, só em 2007, 309 meninos e meninas, com menos de 10 anos, foram deixados à sua má sorte pelos progenitores. Isso, cá em Portugal, pois no mundo inteiro e especialmente em zonas onde o mau viver é o que constitui a maioria da população, são milhões os pequeninos que deixam de poder contar com a protecção paterna e materna, pois os que têm essa absoluta obrigação, deixam-nos pelo caminho das suas vidas.
A noticia surgida agora de que, em pleno Algarve, marido e mulher que passavam férias naquela zona, abandonaram os filhos, dois irmãos gémeos de 11 anos, à beira de uma estrada, só isso chega para justificar este apontamento. É preciso pôr mais neste texto para justificar a acusação que faço e que, por certo, causa grande repulsa a muita gente que o lerá, pois não se dá conta da qualidade humana que transporta uma boa parte do chamado Homem que passa ao nosso lado todos os dias.
A realidade custa muito a ser suportada pelos que se julgam – e será a maioria esmagadora – as melhores pessoas do mundo!... E são-no, até surgir uma circunstância que altere por completo o seu comportamento.

domingo, 19 de abril de 2009

MAPA


Olho e que vejo no mapa?
O que mostra o rectângulo
em que nada me escapa
cada canto, cada ângulo
distingo todas as cores
e todos os retalhos
e só descubro amores
nada mesmo de cascalhos
são províncias, são distritos
todos eles desiguais
e também há conflitos
porque todos querem mais
recusam ficar de fora
cada um e cada qual
e quando ri quando chora
grita: aqui Portugal!

Mas, por cá, mesmo que em sonho
este País qu’é tão lindo
tem um povo que é tristonho
até quando está sorrindo.
Tem razões p’ra ser assim
mesmo tão bem colocado?
Eu cá tenho para mim
que é por ser abandonado
por aqueles que o conduzem
na luta agreste da vida
não sabem e não deduzem
como se ganha a corrida
mas não há outra melhor
a escolha foi o que deu
saída do eleitor

Vejo o mapa, acredito
haveria outro destino
mas é aqui que eu habito
qual outro é que não atino
com sol e mar à volta

PARLAMENTO EUROPEU



O PSD resolveu indigitar o cabeça de lista do seu grupo que vai representar o partido no Parlamento Europeu. Vai ser Paulo Rangel, o político que, até este momento, tem sido a figura social-democrata que, na Assembleia da República, tem o encargo de fazer frente ao Governo e, em especial, ao primeiro ministro, nos confrontos parlamentares que ali têm lugar. E como, de uma forma geral, tem desempenhado esse papel com desenvoltura, já houve quem viesse alertar Manuel Ferreira Leite para uma decisão que não beneficia em muito o agrupamento social-democrata. Mas isso é lá com eles.
Agora, a pergunta a fazer, e esta, sim, tem a ver com a generalidade de Portugal, é se os cidadãos das nossa Terra estão, de facto, muito interessados em saber quem são os representantes partidários que se vão instalar em Bruxelas para, no meios de 600 de todos os países da Comunidade, darem a cara pelos problemas que nos interessam discutir. A resposta respectiva que a dêem os responsáveis pelos Partidos nacionais, se é que, de uma verdadeiramente aceitável, são capazes de esclarecer a nossa população.
Aquilo que não passa assim tão despercebido ao comum dos mortais da nossa Terra é o nível de mordomias que são atribuídas a cada representante dos diversos países que tomam acento naquele Parlamento, entre um elevado salário e todas as regalias, de viagens e estadia, que lhes compete, o que representa um período de pelo menos quatro anos que tira a “barriga de misérias” a qualquer pessoa escolhida (ou eleita) para o lugar em questão.
Assim, o desempenho das funções de parlamentar europeu não constitui nenhum trabalho que represente um sacrifício ou até uma responsabilidade de grande monta (da maioria dos que lá têm feito vida nem se conhece a súmula da sua actividade, nem se o nosso País tem beneficiado com a sua actuação), mas antes uma espécie de prémio que os agrupamentos políticos concedem a uns tantos privilegiados dos seus membros, motivo pelo qual se trata de um lugar que é geralmente muito disputado no seio de cada partido.
E é isto que a actividade política propicia, em muitas situações, aos que entendem que dedicar-se a tal profissão constitui um caminho que presta garantias de ir progredindo ao longo das suas carreiras. São necessárias certas características para abraçar esse caminho e nem vale a pena aqui enumerá-las, sendo também necessário deixar claro que nem todos os que escolhem tal via podem ser catalogados de oportunistas. Porque há e tem havido excepções. Mas todos os portugueses não têm dúvidas de que, quem alinha por esse tipo de vida, sobretudo se tiver oportunidade de, alguma vez, ter enfileirado num grupo da governação, de que, ao deixar o lugar assumido, fica descansado para o resto da sua existência. Um lugarão numa empresa pública é o que lhe está destinado. E uma reforma daquelas que fazem morder as unhas de inveja, também não falta a esses felizardos.
Pois é. Este é o País que temos!...

sábado, 18 de abril de 2009

Os portugueses, que nunca foram muito risonhos, perante o que se passa na situação actual, perderam ainda mais a vontade de se rir.
Ao menos, que copiem, das forças públicas, as que se mostram tão satisfeitas com aquilo que fazem e o seu sentido de optimismo e de satisfação com eles próprios é tão evidente, que imitem o que eles dão mostras de possuir.
Neste caso, imitar, não resolve os problemas, mas dá uma ilusão de alegria nas caras dos cidadãos deste País.

CONVERSA FIADA


Neste dia-a-dia
De vida errante
Só resta a mania
De ser bem falante

Falar para o povo
Dizer baboseiras
Sem nada de novo
Apenas asneiras

Na terra onde estamos
Onde nós vivemos
Já não nos safamos
No mais e no menos

Falar por falar
Promessas, enfim
Ter que aguentar
Ouvir tal latim

O povo acredita
Naquilo que dizem
No fim é que fica
Com medo que o pisem

Comer p’la calada
Dinheiro nem cheiro
Conversa fiada
No fim e primeiro

LISBOA LINDA



Ainda bem que, na Câmara Municipal de Lisboa, já se instalou o espírito de que é fundamental criar um estilo de animação na cidade de Lisboa e, para isso, pelo menos já se fala no assunto, se bem, como é habitual entre nós, do momento do pensamento numa acção e até que o mesmo seja posto em prática leva o seu tempo… às vezes excessivo.
Mas não queiramos ser mais papistas do que o Papa e aceitemos com bonomia as intenções, porque essas sempre são melhores do que não haver ideia nenhuma e desinteresse em se tomar uma iniciativa. Pois, segundo uma entrevista com um participante na ideia de criar uma certa movimentação na zona do Chiado – e não será que alguns dos meus blogues sobre este tema não terão sido lidos pelas personalidades que têm funções dentro do Município lisboeta, pois estou cansado de me referir à necessidade de aproveitar a beleza natural de Lisboa e serem criadas iniciativas que alegrem o que está quase sempre com ar tristonho? -, vi na televisão a afirmação de que, para começar, aderiram à ideia várias lojas que passarão a encerrar diariamente às 20 horas, para dar a oportunidade dos eventuais clientes fazerem as suas compras depois das horas de trabalho. É já um começo, mas não creio que adiante muito ao que é preciso para que o Chiado e a Baixa em geral se apresentem como um atractivo para os lisboetas e todos os que visitam a capital não se desconsolem com a visão solitária de uma cidade vazia de transeuntes.
Logo, o que eu quero dizer e que só confirma aquilo por que eu tenho proclamado ao longo de anos, é que, para dar alegria e vida à nossa Lisboa, logo o Chiado mas não só, tem de se puxar pela imaginação e fazer saltar para a realidade todos os elementos que contribuam para transformar completamente uma capital triste num esplendoroso e animado burgo em que apetece passear.
Não me cabe aqui e agora repetir o que tenho escrito, mas vou-me referir, neste momento, a um pormenor, aliás da maior importância, de que todos os cidadãos alfacinhas se interrogam da razão do estado em que se encontra: trata-se do Museu do Artesanato, ali localizado na avenida de Brasília, junto aos monumentos e que deveria constituir um desafio para que ressurgisse, numa zona tão visitada por turistas estrangeiros, uma amostra daquilo que é, sem dúvida, uma demonstração da habilidade artística dos artesãos nacionais, os quais só têm possibilidade de dar nas vistas nas feiras locais que têm lugar na província.
Mas isto é uma pequena amostra do muito que há a fazer. Dado que, no que diz respeito ao Chiado mas não só, pois deveria constituir uma obrigatoriedade de toda a Lisboa, é a colocação em lugares que o estão mesmo a pedir, de vasos de flores, as quais nem teriam sequer que ser das caras, mas que constituíssem uma forma de dar utilidade às plantações baratas de jardins que existem por aí e que, com um serviço organizado de jardineiros (que os há já ao serviço do Município), se faria a volta diária para que não fossem apresentadas flores mal tratadas e feias.
Repito, pois, que isto é uma mínima parte do muito que poderia e deveria ser feito na nossa linda Lisboa, com o Tejo a seus pés.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

JUSTIÇA - MUDANÇA



Os senhores que nos governam lá vão fazendo algumas coisitas, estes, que lá estão agora, como outros que passaram por lá. Mas sem pressas, vagarosamente, para não se cansarem em excesso, que a vida são só dois dias e não dá para andarmos a correr. E é isto que se passa em Portugal, desde que este País nasceu lá por Guimarães, num antigo século XII, com um Afonso Henriques que se zangou com a Mãe e entendeu que aqui havia espaço para formar uma Nação. Só que, o trabalho e a labuto que lhe deu para começar a correr com os mouros por este rectângulo abaixo, não permitiu que essa criação, que depois foi seguida pelos seus sucessores, se fizesse levando em conta que não bastava sermos um dos primeiros países a ser formado, no espaço que veio a ser um Continente, a Europa, por isso podendo servir de exemplo, mas que era necessário que tivéssemos o espírito bastante para irmos pondo uma casa em ordem, que não chegava sabermos manejar as armas dessas épocas, pois que se impunha igualmente criar um espírito de desenvolvimento que também nos desse a primazia.
E isto, para querer dizer o quê? Que, ao longo dos séculos de vivência nesta ponta, por sinal tão bem situada no plano geográfico, se impunha que fôssemos capazes de nos organizarmos de molde a ir suprindo as deficiências naturais que fossem surgindo, quer nas épocas atrasadas quer nos dias que correm e em que as modernizações tecnológicas suprem muitas necessidades que o ser humano exige.
Só que não foi isso que se foi passando. Sempre, neste pobre País, se verificou uma falta permanente de meios que, lá fora, surgiam frequentemente com antecipação. E hoje, então, dadas as facilidades das notícias correrem mundo com grande velocidade, tomamos conhecimento de situações de que o Homem dispõe, mas só passados períodos de espera é que também usufruímos de tais privilégios.
E é agora que me explico melhor e, para não deitar a mão a tantos assuntos que cabem neste raciocínio, refiro-me apenas ao sector jurídico, esse que, mesmo com toda a gente de acordo (e até Mário Soares, num artigo saído esta semana, vem a lume com um forte “basta!”, no capítulo da praça pública se antecipar aos casos antes mesmo de se encontrarem em julgamento, mas sendo isso também consequência do “arrastar dos processos meses e meses, envenenando as populações com as piores suspeitas infundadas”), funciona de forma “criminosamente” demorada, o que constitui a prova provada de que somos uns lesmas a solucionar os problemas que nos atormentam neste País à beira-mar plantado.
Surgiram agora notícias de que o Governo está a querer meter a mão neste sector, para o que resolveu promover aquilo que chama de “reforma jurídica”, com um novo mapa judiciário, isto é, com uma distribuição diferente dos tribunais existentes. Não se falou ainda do problema principal: que é o de entrar a fundo na questão de não estarem os portugueses sujeitos a ver as situações que os obrigam a recorrer às decisões dos juízes a arrastarem-se meses e anos sem uma solução.
É este o mal maior da nossa Democracia, dado que não pode haver um País justo, uma sociedade protegida, uma liberdade bem utilizada quando as leis não são aplicadas no espaço mais curto de tempo que é admissível suportar.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O Homem está condenado, desde Caim e Abel, a amar e a odiar.
Será sempre assim, até ao final.
Final de quê?

PORTUGAL ROUFENHO


O “Portugal roufenho”, de Camilo,
Não foi só no século dezanove,
Aí estamos nós, de novo a admiti-lo
E a sentir na pele quanto chove
De asneiras e de grande incompetência.
Burocratas e chatos de morrer,
É demais falta de paciência
Para suportar enorme sofrer
E que chegue pr’a aguentar tamanho
Desgoverno que mostraram aqueles
Que se foram, de espírito tacanho,
Que perderam anos, enormes reles,
Que nos puseram no fim da corrida
E quase mais pobres do que estávamos
Quando se deu início à partida
P´ra democracia que desejávamos.

Sim, esperança não há que perder
Como é costume do nosso povo,
Já que mal pior não pode haver
E algo de melhor virá de novo.
Mas, entretanto, aperta o cinto
Pede quem governa este País,
Porque há que sair do labirinto
E falta esperar para ser feliz.
Como está distante a boa meta,
O “Portugal roufenho” de outrora
Deixa ainda Zé povinho sem cheta
E não se vislumbra a grande aurora.

Pode ser que haja ainda um final
E que seja diferente do agora,
Que se perca até a capital
E que Bruxelas passe a dar a hora
P’ra que este País entre nos eixos,
É triste mas será algum remédio
Único fim de todos os desleixos
E pontapé dado em todo o tédio.

Poderá depois chover no molhado
Arrepelarem-se forte os cabelos,
Chamar todos os nomes ao culpado,
Não terem conta muitos pesadelos,
Mas o que está feito, feito estará,
Não vale a pena olhar para trás
Só com a Europa se contará
É o que resta a quem foi incapaz.
Chega recordar os antepassados
Aos nossos maiores cantar glórias
Apontar todos os que nos seus fados
Merecem o respeito e as memórias.
Também as batalhas e descobertas
Devem ser lembradas para o futuro
P’ra tirar dúvidas e serem certas
As verdades rijas que nem muro.

Numa diáspora e com bravura
Espalhámos a língua e costumes,
A gastronomia e a cultura,
As canções e as danças, sem queixumes,
.Agora é lembrar os injuriados,
Aos nossos maiores cantar glórias,

Apontar todos os que nos seus fados
São dignos do respeito e as memórias
Será essa a nossa consolação
Restam os dedos, foram os anéis
E pensamos que não será em vão
Que, por mais que andemos aos papéis,
Fica o orgulho na nossa História,
Num País de séculos, sofredor,
Que nunca deve perder a memória
Daquilo que em nós for merecedor

De pé ficaremos nessa Europa
Dos ricos, pois então, e nós à espreita
Mas o povo não quer apenas tropa
Já chega da tanta desfeita
Pois que numa manhã de nevoeiro
Hão-de aparecer as epopeias
E não nasceu ainda o coveiro,
Daí podem tirar vossas ideias,
Que cavará a nossa sepultura,
Florirão ainda muitas acácias
Passaremos por cima das agruras
Também não serão precisas falácias
Para se poder gritar de alegria
Aquilo que ansiámos p’ró final
O poder afirmar com galhardia
Renasceu viçoso o Portugal !

MAU FUTURO


O que eu mais gostaria que me sucedesse na escrita destes meus blogues diários era que os temas focados fossem, na sua maioria, demonstrativos de que, neste nosso País, há mais motivos para expressar alegria e boa disposição do que o contrário. Que bom seria cantar aleluias às nossas demonstrações de felicidade, dar mostras de bem-estar com o mundo e connosco, ter saudades de algum passado que tivesse valido a pena e não perder expectativas agradáveis em relação ao futuro. Isto seria o que me apetecia que fosse uma realidade.
Mas, para fazer a vontade a todos aqueles que clamam pelo optimismo, que aconselham o acreditarmos que o que vem aí só pode apresentar boas perspectivas, que o mau tempo fica sempre para trás, sobretudo que somos capazes de vencer as adversidades e que temos competência para, como dizem os brasileiros, darmos a volta por cima, para aderirmos a esse espírito de que tudo corre bem não importa que estejamos a mentir a nós próprios?
Eu lastimo. Mas não sou portador dessa característica. O que vejo, o que sinto, o que perspectivo não corresponde a tal crença de que não temos razões para nos preocuparmos. Que podemos andar descansados e que os nossos descendentes vão encontrar um País pleno de forma e, em relação ao espaço europeu, não existirá nenhum atraso, para não dizer que nos vamos situar na frente da fila.
Sendo assim, vou apenas referir algumas notícias que, os que acompanham os jornais, as rádios ou as televisões, puderam constatar hoje, dando a conhecer ao público em geral como nos encontramos e como vamos ficar. Para começar, os cenários que o governador do Banco de Portugal entendeu comunicar não podem ser mais arrepiantes. Desde as diminuições da riqueza do País, da baixa do investimento privado que vai ter lugar, das exportações que caíram muito e a retoma que só será mais significativa lá para o ano de 2011, tudo isso acrescido do desemprego que não pára de aumentar, faz com que Portugal seja um País a viver um período de medo, em que a pobreza está bem à vista. Em resumo, os responsáveis pelas finanças públicas já não escondem que a queda agora analisada é mais forte do que se previa e que não vai ser fácil sairmos da recessão em que já nos encontramos.
E como se não bastasse a quantidade enorme de empresas de antigo sucesso e nome sonante que encerram as suas portas e ocasionam avultados despedimentos, também os pequenos empresários, que são aos milhares, diariamente dão mostras do encerramento das suas lojas onde figura o triste anúncio de “vende-se”.
Haverá então alguém neste nosso País que se queira iludir com toques de violino, para não se consciencializar no que respeita ao amanhã que tem de nos preocupar? Há ainda gente que se deixa levar pelas palavras falaciosas dos nossos governantes, com José Sócrates à frente, que não tendo nunca mostrado coragem para falar verdade aos portugueses, para convencer a população de que, em lugar de propagar a ideia de que estávamos ricos – como o fizeram durante a sua governação, especialmente no período mais inicial – o fundamental era ir preparando a população para o que a esperava, e que todo o mundo já conhecia? Aquilo que disse o Presidente da República, quando ontem se referiu a este problema e não foi nada meigo no que respeita ao sentido crítico das suas palavras, não esteve longe do conteúdo do que aqui fica expresso neste texto.
Não me importo que uns tantos, que até talvez estejam a ser beneficiados por esta situação de corda na garganta que se vive em Portugal (e não se admirem ao ler esta passagem, porque é verdade, há sempre quem ganhe com o mal da maioria), mas eu prefiro olhar de frente e, ao insurgir-me contra a apatia que certos sectores mantêm, levanto a minha voz de inconformado e dou a cara. Que não tínhamos, nós, pequeno País, capacidade para passar ao lado da crise, isso aceita-se. Mas que tenhamos seguido o caminho de esconder a verdade e de não sermos capazes de escolher as opções de actuação mais apropriadas, isso é que não consigo aceitar (leiam-se os meus blogues anteriores).

quarta-feira, 15 de abril de 2009

DESCONSOLADO

Aqui estou eu, desconsolado
a ver passar o mundo
à minha volta
sem que nele interfira
sem que o melhore
mas também pouco
o piorando.
Sou mais um
dos milhares de milhões
que por cá andam
a consumir o ar,
a água, o ambiente,
o espaço e que contribui para que o amanhã
seja muito pior,
mais escasso de tudo,
menos belo,
menos natural.

Aqui estou, enfastiado
já sem me importar
com o que vem a seguir,
com o que vai ser o futuro,
aquele que não me vai encontrar...
para me desconsolar

HOMEM MAU




Será por causa da crise – a tal que está a servir agora para justificar tudo – ou é o ser humano que, cada vez mais, dá mostras da maldade que transporta e já nem provoca grande indignação no mundo com os maus comportamentos que evidencia com enorme frequência?
Bem sei que a História do Homem tem sido próspera em nos dar mostras, ao longo dos séculos e desde que a memória consegue atingir tempos recuados, de assombrosas atitudes de vileza, por vezes singulares mas frequentemente colectivas, da forma como o dito Animal Racional tem actuado, sempre que dispõe de oportunidade, espaço e condições para pôr em prática os sentimentos malévolos que transporta. Mas, mesmo com essa consciência de que a população do Mundo não é de fiar na totalidade, apesar disso sempre confiamos que as más acções humanas não atinjam proporções de tal forma arrepiantes que nos levem a viver num ambiente de desconfiança absoluta no que respeita ao próximo.
Não é exagero esta minha observação, pois que, quem anda ao corrente do que se passa por toda a parte, no Globo terrestre total e também à nossa volta, aqui mesmo ao lado onde vivemos, dá-se conta de que, de repente surge a notícia de que um vizinho que não tínhamos na conta de má pessoa, afinal, no seio da sua família, pratica acções condenáveis, que vão desde o mal tratar da mulher ou do marido até ao abuso sexual dos filhos, quando não ocorre um assassínio e/ou um suicídio.
Não vale a pena dar mais exemplos para justificar esta minha preocupação no que diz respeito ao comportamento de uma grande parte do tal ser humano que, queiramos ou não aceitar, é, potencialmente, uma personagem que transporta, no seu íntimo, uma certa dose de maldade, de egoísmo, de inveja, de uma quantidade maior ou menor de maus princípios que, se não consegue sustê-los, quando surgem à superfície provocam atitudes que só são merecedoras de crítica dos outros seres que, se as circunstâncias o proporcionarem, repetem os erros dos criticados.
Escrevo este meu desabafo na altura em que tomo conhecimento da quantidade enorme de crianças que são abandonadas pelos pais e que, só em 2007, 309 meninos e meninas, com menos de 10 anos, foram deixados à sua má sorte pelos progenitores. Isso, cá em Portugal, pois no mundo inteiro e especialmente em zonas onde o mau viver é o que constitui a maioria da população, são milhões os pequeninos que deixam de poder contar com a protecção paterna e materna, pois os que têm essa absoluta obrigação, deixam-nos pelo caminho das suas vidas.
A noticia surgida agora de que, em pleno Algarve, marido e mulher que passavam férias naquela zona, abandonaram os filhos, dois irmãos gémeos de 11 anos, à beira de uma estrada, justifica, em certa medida, esta afirmação aqui deixada. É preciso pôr mais neste texto para justificar a acusação que faço e que, por certo, causa grande repulsa a muita gente que o lerá, pois não se dá conta da qualidade humana que transporta grande parte do chamado Homem que passa ao nosso lado todos os dias.A realidade custa muito a ser suportada pelos que se julgam – e será a maioria esmagadora – as melhores pessoas do mundo!... E são-no, até surgir uma circunstância que altere por completo o comportamento.
Mas, pensando melhor, afinal, por muito que tenhamos, mais vezes do que desejaríamos, desilusões acerca do nosso vizinho, feitas as contas, não se trata da maioria dos homens que servem de exemplo. Chefes de Estado, por exemplo, que, por esse Globo fora foram autores de horrorosos assassínios de habitantes, houve-os e há-os ainda. E são esses que marcam a nossa memória. Esqueçamo-los.

terça-feira, 14 de abril de 2009

ACREDITAR AINDA



Ao contrário do que sucede, por exemplo, com os norte-americanos, que têm um conhecimento razoável da sua Constituição – bem se sabe que os artigos de que é composta são muito restritos e essenciais -, no que se refere ao que se passa entre nós serão raros os portugueses que possuam uma noção, ainda que aproximada, dos múltiplos artigos que compõem a Lei principal que nos rege, no sentido de nos indicar as regras a que temos de obedecer e os direitos que nos são facultados para assumir as nossas funções de cidadania, em plena consciência do cumprimento justo das acções que nos cabem.
E é por isso que, com excessiva frequência, barafustamos pelo facto de sermos admoestados por nos encontrarmos a pisar alguma das regras básicas do comportamento que nos cabe e não somos capazes de chamar a atenção do próximo pelo mesmo motivo, o do desconhecimento dessa legislação que não tem que ser discutida, pois faz parte de uma lista de deveres e obrigações que cada português tem de ter sempre em conta.
Recentemente, e pelo facto de se estar a atravessar nesta altura um período em que até os membros do Governo estão a ser alvo de observações profundas sobre o seu comportamento, com razões encontradas e já julgadas ou mesmo sem elas, e que, por estarem a desempenhar funções oficiais dentro da política, pensam que podem evadir-se dessa posição, incómoda de facto, dos cidadãos levantarem dúvidas, pois é por esse motivo que me ocorre recordar que responsabilidade política é uma coisa e responsabilidade penal é outra bem diferente, pois que a nossa Constituição, numa determinada passagem, lá diz que “todos os titulares de cargos públicos são politicamente responsáveis pela acções e omissões que pratiquem no exercício das suas funções”.
Isto não quer dizer, há que sublinhá-lo, que, por exemplo no chamado “caso Freeport”, a personalidade de José Sócrates deva ser lesada sem se concluir, por meios exclusivamente jurídicos, a sua culpabilidade ou a sua inocência.
Esta opinião aqui expressa serve para responder a algumas perguntas que me têm sido feitas sobre a razão por que não me tenho referido a um assunto que está tão na boca e no pensamento de muitos portugueses. Mas eu sempre aprendi e executei, como jornalista de longa actividade, que não basta ouvir rumores para se dar largas ao que apetece colocar no papel. Esperemos pelos resultados que têm de surgir no local próprio, e tenhamos confiança de que, por um lado, não tardarão muito tempo e, por outro, serão claros, precisos, justos e terminarão com as suspeições que, nesta altura, bailam nas cabeças dos cidadãos que acompanham os noticiários que dizem respeito ao primeiro-ministro.
E não me digam que não sou optimista!...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

SOLIDÃO ENTRE MUITA GENTE


Andar pelo mundo
ouvir o ruído
mas bem lá no fundo
não ver o sentido
de tudo que passa
da gente que fala
da enorme massa
que nunca se cala
não ver os sentidos
daquilo que dizem
ter dor de ouvidos
sem ver se condizem
os sons que lhe saem
das bocas teimosas
parece que atraem
palavras folosas
com a vastidão
´é o que se sente
grande solidão
entre muita gente

CASAS PARA RICOS



Há que ver esta realidade sob duas perspectivas. Uma, dada a difícil situação económica, financeira e social que se vive em todo o mundo e, no nosso caso, com compreensível revolta; e a outra, sob o ponto de vista do interesse nacional, evidenciando alguma satisfação, porque sempre é melhor que o dinheiro dos ricos venha cá parar do que vermo-lo passar lá longe, com outros destinos.
Que quero eu dizer com isto? Pois, nada mais, nada menos, de que se está a verificar um fenómeno que, para muitos, seria difícil prever: é que as casas mais caras que temos por cá, aquelas que têm preços elevadíssimos, atingindo verbas incalculáveis de muitos milhões de euros, são essas precisamente que os grandes capitais de várias origens estrangeiras estão a adquirir em diferentes localidades nacionais, com preferência para a região de Estoril/Cascais e do Algarve.
Mediadores internacionais como a Sotheby são os que estão a fazer negócios altíssimos com a canalização para Portugal de clientela capitalista de diferentes origens, mas com maior procura por parte de chineses, árabes, angolanos e russos. E essas compras situam-se na ordem dos 20 milhões de euros por local, sempre muito bem situado e com condições de acomodação, de área e de segurança que, dizem as empresas que estão a mediar essas compras, já são difíceis de encontrar na Europa.
Não se ficará muito satisfeito por se constatar que, mesmo no meio desta horrorosa crise de que não se sabe como e quando vai terminar, surja gente a ostentar níveis faustosos que criam alguma revolta social no mais pacato cidadão que se defronta com as dificuldades que aumentam de dia para dia. Mas há que aceitar as realidades e, por muito que se pretenda suster alguma revolta política, não é possível travar a cada vez maior barreira que tem vindo a desenvolver-se entre os muito ricos e os muito pobres. Também ninguém será capaz de responder a uma pergunta baseada numa simples operação aritmética: é a de que, se houvesse possibilidade de juntar todas as riquezas mundiais e de dividi-las pelos milhares de milhões de pobres que estão espalhados pelos cinco continentes, a cada um caberia algum montante que chegasse para os retirar da situação precária em que vivem hoje?
Essa simples operação de dividir não se fará nunca, pelo que a existência de uns milhares de fabulosamente ricos e de uns milhões de angustiosamente pobres é uma sina a que o Mundo se tem de resignar, talvez porque o mal vem da origem, do princípio de tudo, desde que o Homem é um ser e que, não tendo a receita do seu fabrico saído com garantia de qualidade, não há maneira visível de impor uma igualdade que algumas teorias políticas têm apregoado. Era bom demais para ser possível
Enquanto isso, cá vamos nós tomando conhecimento da venda de propriedades portuguesas por preços estrondosamente altos a estrangeiros fabulosamente milionários. E ainda bem que eles lá vão aparecendo!...

domingo, 12 de abril de 2009

FARMÁCIAS, BOM NEGÓCIO?



Neste Domingo de Páscoa, tinha planeado oferecer outro texto que se adaptasse melhor ao dia que decorre e que costuma ser celebrado por muitos cidadãos portugueses, mas achei que não era razão suficiente para passar ao lado de um assunto que, por muito que queiramos não o focar, constitui uma preocupação que, sobretudo numa data festiva como esta, tem toda a razão de ser e de chamar a atenção das forças vivas, que é como quem diz, das que deviam estar em plena actividade mas que se deixam adormecer sobre os temas preocupantes de Portugal.
E digam-me lá se esta chamada de atenção não destoa de uma Páscoa que devia ser celebrada com alegria e sem preocupações? Não é a primeira vez que toco neste assunto e ainda dias atrás escrevi sobre ele, mas entendo que devo renovar insistentemente a preocupação que sei que ataca a maioria esmagadora dos portugueses. Pode ser que a teimosia resulte.
Como é que os cidadãos comuns, aqueles que são obrigados a recorrer aos medicamentos receitados pelos médicos para tentarem resolver os seus problemas de saúde, podem solucionar esta situação, mais uma, que surgiu no ambiente nacional, o de optarem ou não pelos remédios ditos genéricos? É que de acordo com o que se está a seguir na Imprensa e se ouve e vê nas televisões, levantou-se uma polémica que, como não podia deixar de ser, pelo hábito que se criou neste País, envolve também o próprio Governo, neste caso o Ministério da Saúde, o qual, em vez de aclarar as situações e a exemplo do que tem ocorrido com o problema dos professores e da ministra respectiva, até agora ainda não foi capaz de fazer ouvir a sua voz no sentido de esclarecer as dúvidas e de deixar os portugueses claramente identificados com o caminho a seguir.
Segundo já escutei da boca de dois ou três farmacêuticos, o negócio das farmácias não está, ao contrário do que constitui uma convicção do cidadão comum, tão esfusiante quanto isso. Entendi existirem queixas de que passou o tempo de ganharem bom dinheiro com a sua profissão. Estranhei a lamúria, mas não possuindo elementos que provocassem controvérsia, não pude ir mais além do que fazer o papel de ouvinte. Porém, ao ler esta semana o “Expresso”, deparei com a denúncia na primeira página de existir um "negócio escondido nos genéricos”. Qualquer pessoa como eu, longe dos segredos da actividade das farmácias, terá de ficar surpreendida com os diferente pontos de vista, um negativo e outro positivo, que apresentam, por um lado os profissionais da área e, por outro, a Imprensa que dá a cara com o desmentido de que as coisas corram mal.
Seja como for, o que não pode passar despercebido a ninguém e os que já tiveram oportunidade de avaliar a situação por experiência própria no estrangeiro, como aconteceu comigo há mais de 30 anos em Londres, sabe que os genéricos são vendidos com regularidade e que as minidoses também são prática corrente, pelo que esta troca de argumentos que se está a verificar no nossos meio e a falta de conclusão oficial no que se refere ao problema só pode ser encarada como tratando-se de mais uma disputa que é costume passar-se por cá.
Uma coisa é certa: no caso das minidoses, mesmo que a sua aplicação prática não seja fácil e o custo individual das pastilhas sai mais cara do que em caixas de 20 ou 30, no total do necessário de cada toma é menos dispendioso para os utentes, o que é importante para as bolsas dos mais pobres. E, para além disso, o Estado, com o auxílio que presta, fica menos sobrecarregado, o que quer dizer que os contribuintes em geral beneficiam também.
No que se refere aos genéricos, diz o “Expresso” que “genéricos dão muito mais lucro” e que também o Estado ganha com a sua utilização, falando mesmo de muitos milhões de euros por ano.
O que é preciso é que o Governo aclare de vez esta situação e não se mantenha num mutismo que atrapalha todos. Já basta o que ocorre com o Freeport, de que me tenho abstido de referir neste blogue, porque aguardo que a Justiça faça o seu trabalho. Avance com o esclarecimento e governe bem, que é como quem diz, dè mais facilidades aos portugueses e também, se puder, gira melhor o dinheiro que é de todos. No fundo é só pedir que faço o trabalho para que lhe pagamos!... E, com isto, cá ficam os desejos de uma Páscoa tão boa quantyo possível.

sábado, 11 de abril de 2009

MORRER A RIR

Queria morrer a rir
ir assim até ao fim
para lá me divertir
a ouvir falar de mim

Muito mal, assim assim
tudo me faria rir
o que quisessem, enfim
continuava a sorrir

Digam coisas, mesmo más
não me fazem deprimir
lá onde só há paz
só teria que sorrir

O pior é se se calam
me olvidam mesmo a dormir
não dizem nada, não falam
deixava então de sorrir


TRÊS TEMAS


Vamos a ver se consigo reunir num só blogue diferentes temas que, por sinal, surgiram todos na Imprensa de ontem e que, pela sua importância, merecem ser despachados num texto abrangente. Vamos a isso.
Primeiro, o caso do chefe da polícia britânica que, tendo ocorrido um deslize relacionado com documentos secretos que foram mostrados inadvertidamente, por terem sido deixados em cima de uma mesa, o mesmo admitiu a culpa e esse facto obrigou a antecipar a prisão de 12 elementos tidos como terroristas, que planeavam um ataque em Inglaterra. No que se refere à prisão tudo correu bem, mas o que não mereceu desculpa foi o desleixo que obrigou a antecipar a acção policial. Uma situação destas ocorreria por cá? Alguém, situado na área oficial, seria capaz de se demitir das suas funções por se ter sentido culpado de uma acção profissional?
Outro caso: o dos genéricos que têm levantado tanta celeuma entre o Ministério da Saúde, Ordem dos Médicos e a mesma dos Farmacêuticos. Uma forma de actuar que já é bastante antiga por essa Europa fora, e que, sem a mais pequena dúvida, provoca grandes economias nos doentes que não são forçados a adquirir remédios de marca, podendo optar pelo mesmo princípio de saúde com os chamados genéricos, essa medida não agrada a todos e já fez com que nascessem ameaças por todos os lados, porque alguns se sentiram melindrados nos seus interesses e, no fundo, quem sofre com tudo isso é sempre o “mexilhão”. Nem me dou ao cuidado de apontar, como me apetecia, os que optariam com todas as suas forças numa das escolhas, mas nem quero entrar por aí. O Ministério da Saúde conhece bem quem são e se não entra a matar é porque não tem coragem de enfrentar as situações. E, já agora, apetece-me aqui repetir o que venho clamando há mais de 30 anos, por ter usufruído dessa vantagem lá fora: trata-se do caso das vendas de medicamentos em unidoses, a qual se mantém ainda em fase de “análise”. Também me sucedeu, na Grã-Bretanha, há mais de 40 anos, ter sido receitado por um médico quatro pastilhas de um produto de marca e a farmácia forneceu-me de harmonia. Mas isso foi lá fora, em terras atrasadas em ralação à nossa!...
Por fim e por agora, congratulo-me pela circunstância de verificar que alguém leu os meus blogues em que insurgia contra o facto de existirem tantas casas em Portugal, principalmente em Lisboa, que, estando abandonadas muitas, por se encontrarem em péssimas condições de habitabilidade, permanecendo nessas condições e não sendo arranjadas nem alugadas. Pois o Governo despertou. E lançou uma proposta em que os proprietários são obrigados a vendê-las, dentro das regras de expropriação, no caso de não poderem fazer as obras que são indispensáveis, e que agora só se espera pela aprovação da Assembleia da República para que o passo definitivo seja dado. Há um mas, no meio de tudo isto. É que, no caso de não chegarem a acordo sobre o valor dos edifícios para venda, aí entram os tribunais e, neste caso, todos sabemos que se entra na fase do espera aí uns largos anos para que se saia do impasse.Era bom demais para ser verdade!...

sexta-feira, 10 de abril de 2009

OXIGÉNIO

Menos idade com opiniões
Mais idade e bem poucas ilusões
Uma lei p’ra quem anda neste mundo
Dos lá de cima e dos que estão no fundo

Mas talvez não seja tanto assim
Pois a vida não é um folhetim
Com todos os episódios iguais
Que terminam sempre em jogos florais

Há os jovens que estão desiludidos
Que imaginam que são uns desvalidos
E os velhos com ânsia de viver
Que tudo que fazem lhes dá prazer

O ser humano é cheio de contrastes
De altos e baixos, plenos de hastes
Há os que sabem algumas coisitas
E os que são avessos às escritas

Mas bem lá no fim de todas as contas
P’ra se conseguir agarrar as pontas
Fará tanta falta ser-se um génio
Se é igual p’ra todos o oxigénio ?



ADOPÇÃO




Tornou-se pública a notícia de que existem cerca de 11 mil crianças a viver em instituições em Portugal, das quais à volta de duas mil estão em condições legais para serem adoptadas. Indicam também os números que 3.154 estão em situação de adoptabilidade, com idades compreendidas entre o 0 e os 10 anos, mais concretamente 579 com menos de 3 anos, 560 entre os 4 e os 6 anos e só 63 têm mais de 15 anos.
Analisando em pormenor os números, temos que 811 têm a adopção decretada, 626 encontram-se em fase de pré-adopção, 554 aguardam proposta do candidato, 101 estão em vias de integração no seio familiar e 34 situa-se na fase de alteração de projecto de vida.
No que se refere a candidatos existem 2.541 já seleccionados e 2.466 a aguardar resposta, mostrando estes preferência por adopção de crianças caucasianas. As tendências multiplicam-se por diversas escolhas, quer quanto à idade, como no que se refere ao sexo.
Por aqui se pode avaliar como os pedidos para acolher crianças no seio familiar não faltam, o que tarda excessivamente são as escolhas dos serviços respectivo para, com a indispensável análise das condições dos adoptantes, fazerem as entregas e, posteriormente, as vigias, da criançada que se encontra a aguardar famílias que lhes cuidem do futuro. E é preciso ter em conta que os anos passam muito depressa, sobretudo para os rapazes e raparigas que precisam urgentemente de integração e que, não o sendo em idade quanto mais tenra melhor, acabam por resistir mais e também tornar-se mais difícil fazê-los aceitar caras novas na sua vida.
Todos nós sabemos que as situações no nosso País, por mais urgentes que se apresentem, se defrontam constantemente com as burocracias de que tanto gostam os serviços oficiais. Papéis e mais papéis, carimbos, passeios de responsabilidades de departamentos para departamentos, aguardar por melhores ocasiões, sobretudo em pastas e em gavetas que se conservam fechadas. E o problema que espere. Mas isto tem de mudar um dia.
E é caso para fazer a pergunta: então os funcionários, superiores e médios, que têm a seu cargo encaminhar os infelizes rapazes e raparigas que tiveram a pouca sorte de não contar com os progenitores naturais, são capazes de dormir, todas as noites, descansados, sabendo que depende da sua agilidade de despachar rapidamente os processos que têm sobre as suas secretárias a felicidade de miudagem à espera de protecção familiar?
Não consigo aceitar qualquer tipo de desculpa que possa ser apresentada por esses mortais, também eles, possivelmente homens ou mulheres de família, gente que, ao chegar a casa se envolve com os filhos ou os netos e que não pode deixar de pensar que outras crianças se encontram, meses e anos à espera que os burocratas resolvam as suas situações. Mas que os há… há!