sexta-feira, 31 de outubro de 2008

CAMPO PEQUENO

É uma tarde de sol
esplendoroso, bem quente
daqueles que o caracol
está ainda mais dolente
Que linda tarde de sol
disposição p’ra tourada
não é de usar o cachecol
muito menos roupa errada.
Bonita tarde de sol
no belo Campo Pequeno
reluzente qual farol
que nos orgulha em pleno.
Com essa tarde de sol
o tecto da praça roda
tal e qual um gira-sol
conforme a luz se acomoda.
Sendo uma tarde de sol
com Campo Pequeno novo
há que ir com toda a prol
gozar o prazer do povo.
Mas numa tarde de sol
ou à noitinha cerrada
não faz falta guarda-sol
e a luz sai desvairada.

Mesmo sem tarde de sol
porque na praça há conforto
também faz parte do rol
saborear um bom Porto.
Será em tarde de sol
ou mesmo estando a chover
que se põe a tiracol
o que lhe der mais prazer.
Pois sendo em tarde de sol
que os turistas mais gostam
sendo francês ou espanhol
no Campo Pequeno apostam.
Melhor em tarde de sol
teatro, ballet, concerto
é prazer de rouxinol
naquele espaço coberto.
Naquela tarde de sol
não deixo esse prazer pleno
e disso farei escol
gozar o Campo Pequeno



DIFICULDADES?


Somos um País que vive com dificuldades? Encontramo-nos bem situados no espaço europeu? A crise que grassa por tantas áreas do mundo, não se faz sentir por cá? Estamos tranquilos em relação ao futuro, ao próximo e até ao mais distante? Mas isso só acontece nestes dias em que vivemos ou arrasta-se desde há muito tempo, muito embora a aparência que se deu em determinada altura, não muito longínqua, fosse a de que o povo dava mostra de desafogo, tendo sido acusado de gastar acima das suas possibilidades?
Pois bem, para responder a estas perguntas, pode-se caminhar por duas vias: ou encaramos seriamente todos os problemas que são postos, ou alivia-se a situação e dá-se-lhe um certo ar de ligeireza.
Seja como for, quem nos olha desde fora e constata que, no nosso País, foram construídos com o objectivo de fazer face ao Europeu no ano de 2004, oito estádios de futebol, não pode deixar de admitir que vivemos em plena prosperidade, pois não será admissível admitir que um país que enfrenta dificuldades se dê ao luxo de despender tão elevadas verbas, como foram as que terão sido usadas para erguer aqueles espaços que, desde logo, se sabia que não podiam render nem dez por cento dos seus custos.
Sim, é que, em termos de valores dispendidos, fossem lá por quem fossem os investidores, os números apontam para, no total, cerca de 530 milhões de euros, os quais não serão ressarcidos nos tempos próximos, pelo menos através da área desportiva, pelo que muitos dos exploradores daqueles espaços os estão a utilizar para tudo que possa atrair espectadores, concertos e até casamentos e festas privadas.
Pensar no Mundial de 2018 é hipótese que talvez possa estar dentro das possibilidades, mas, para isso, torna-se forçoso aderir à ideia apresentada pelos espanhóis de os dois países ibéricos concorrerem em conjunto à competição. Mas, mesmo assim, apenas três ou quatro dos oito estádios poderiam aderir a essa iniciativa. Se se justificou o pesadíssimo encargo tido com as construções dos oito estádios, basta perguntar aos clubes que os utilizam e saber se a frequência de espectadores tem compensado o esforço financeiro feito. Conheço os números e apenas digo que são uma autêntica desgraça. Já chega de tanta asneirada!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

VELHOS E NOVOS



Nada como um velho para contar
Aquilo que se fez enquanto moço
Mesmo que muito possa olvidar
É como água límpida do poço

Os novos muito têm a aprender
Se souberem seguir tanta ciência
Porque a vida levada a sofrer
Dá saber e dá muita paciência

Os jovens, por muito insatisfeitos
Por mais impacientes que eles sejam
Não é aí que perdem os direitos

Não é por aos mais velhos atender
Não é por muito apressados que estejam
Que não lhes sucede o mesmo... morrer!

DESVENTURA!


Que bom que deve ser viver num país onde só haja motivos para os cidadãos se regozijarem pelo facto de terem nascido nesse sítio e lá continuarem a viver. Os acontecimentos históricos, um passado longínquo que provoque um ufanismo e uma certa vaidade em relação aos ancestrais, tudo isso é importante. Mas se o presente, se aquilo que se contempla no dia-a-dia, se o que passa no decorrer da nossa vivência ou aconteceu em tempos que não se podem considerar muito recuados, se essas circunstâncias são postas ao dispor da nossa apreciação, então, por muito que sejamos amantes da nossa língua e da Nação que nos deu guarida quando nascemos, como temos cabeça para pensar e olhos para analisar e comparar com o que se passa noutras paragens, nesse caso não é aceitável que os facciosos do patriotismo considerem que o que fazemos é tudo bem feito e não temos nada que elogiar as acções de outros seres humanos, como nós, mas o que são é naturais de outras terras.
Feito este intróito, eu que me considero útil a Portugal porque não escondo a cabeça na areia e não hesito em apontar erros, na esperança de que outros, com poder, possam pensar e deixar de olhar sempre para o umbigo, o que permitirá emendar a tempo ou defender as suas acções, porque ficar calado é que não serve para nada, passada a entrada deste blogue vou, naturalmente, dedicar-me a lastimar alguns acontecimentos que estão a constituir o Pão Nosso da cada dia e que, se não se puser um travão nas fatalidades, acabaremos por ficar entregues ao Deus dará! (digo isto assim para me acolher sob o manto da Cristandade, pois talvez só ela nos possa ajudar a não nos espalharmos na lama)
Começo por referir a notícia – dado que sempre filio as minhas considerações naquilo que já foi tornado público – de que, até Junho de 2009, as estimativas apontam para 14 mil desempregados mais no sector dos componentes de automóvel. Mas, já nos dois próximos meses, existe a ameaça de mil trabalhadores verem terminadas as suas funções, também no mesmo sector. Isso, porque vão encerrar fábricas. Nada mais animador, nesta altura em que anda todo o mundo a contar os tostões, que é como quem diz, os cêntimos de euro, pois as dificuldades nas compras fazem-se sentir a cada instante.
E só para mudar de tema, refiro-me a outra notícia que, no meu caso, não constitui novidade nenhuma, mas isto de ter razão antes de tempo é da maior inutilidade para quem tem esperanças de que as suas palavras cheguem aos ouvidos dos governantes. Quero sublinhar a conclusão a que chegou o Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (é um nome grande, mas claro), de que, apesar dos apesares, 54% dos portugueses ainda consideram Portugal seguro, mas, por outro lado, acrescenta que apenas 20% dos nossos concidadãos confiam nos tribunais.
Não é preciso pôr mais na carta. Se os juízes e magistrados estão convencidos de que a sua actuação é aceite pelos portugueses, podem tirar essas ilusões da chuva, e o que lhes resta é meter a mão na massa e dar uma volta completa ao que ocorre nos tribunais. E não só nas demoras em fazerem sair as sentenças, que já seria muito! Não vou agora repetir o que tenho escrito dezenas de vezes…

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Ter pena de alguma coisa, de alguém, de um ser vivo que atravessa um mau momento, sentir dor por tomar conhecimento de uma situação desagradável que aflige alguém por quem temos alguma amizade, essa sensação de desejar que as coisas não estejam a correr de forma sofredora é algo que, sem dúvida, constitui uma preocupação que pode surgir em determinada altura.
Mas essa sensação de ter pena não ocupa todo o tempo da nossa existência. Há momentos de ter pena. Como há ocasiões em que essa pena é obscurecida por outro qualquer sentimento, até pela alegria.
A pena é um sentimento que surge com a ajuda de diferentes verbos auxiliares. Pode-se ter pena, como algo pode fazer pena, ou uma situação dar pena como igualmente se pode sentir pena. Gramaticalmente é assim. Resta saber com que grau essa sensação actua no nosso interior.
Há quem acompanhe a pena com choro. Como há quem não transmita para o semblante o que será uma tristeza. Há quem tenha pena dos outros, de alguma contrariedade que sucede a terceiros, de um acontecimento que não corre de feição. Já ter pena de nós próprios não é tão vulgar. Termos pena de ser baixos, gordos, feios, carrancudos ou com quaisquer outras características, mesma as inversas, que sejam consideradas contrárias aos nossos desejos. Transportar esse peso de desgosto pode provocar tristeza.
Por vezes penso se alguém, alguma vez, teve pena de mim. Pena de não me ver deslumbrante de felicidade, pena por me contemplar no café, debruçado sobre folhas de papel, a preenchê-las com textos infinitos. Pena por não saberem quem é aquele indivíduo que, todas as manhãs, ocupa uma mesa, bebe a sua chávena cheia de café, vai despejando o copo de água aos golos e, sempre de caneta em riste, não pára com as suas escritas.
Deve ser um sonhador, pensarão. Alguém que descarrega no papel os desânimos da vida. Um pobre diabo que estará convencido de que verá um dia os seus trabalhos literários transformados em livros, admitirão outros mais próximos da realidade.
Será que esses que se interrogam terão, no fundo, pena de mim?
Seja como for, no que me diz respeito eu não atingi ainda – espero que tal nunca suceda – esse patamar de ter pena de mim. Penso somente que se estará a perder, por não ter acabado ainda este rol de desabafos que ando para aqui a debitar, alguma coisa que terá o seu valor. Por pouco que seja. E, por mais que não queira, como vou acompanhando aquilo que as editoras vão lançando com frequência, não podendo deixar de estabelecer comparações, mais razão encontro para não ter pena de mim. Terei pena de outros.
No entanto, neste momento dá-me para não hesitar em fazer esta afirmação: se não chegar o momento de saírem a lume estes textos, isso sim, É UMA PENA!...

AS QUINAS

Em certa manhã de nevoeiro
Vai despertar aqui no País
A esperança de ser feliz
Trazida por um alvissareiro?

Em Terra de tantos pacientes
Há ainda fé em epopeias
Pois o sangue que corre nas veias
Vem de outrora, de antigas gentes

Por mais que se julgue adormecida
A ânsia do Mostrengo matar
Grande coragem não vai faltar
Sempre se vai dar a acometida

Tanta apagada e vil tristeza
Que é apanágio do Português
Não quererá que um dia, talvez
Ponha à mostra a sua sagueza

Para os últimos deixarem de ser
P’ra entrarem no comboio perdido
Há que soltar o ar abatido
E sem demora correr, correr

Olhemos aqui para os vizinhos
Esses, doutros tempos, Castelhanos
E honremos os velhos Lusitanos
Seguindo então novos caminhos

Por mais que estejam adormecidos
Mesmo que pouco e mal se lute
Não se há-de perder o azimute
No fim não sairemos vencidos

Discutir-se-ão muitas opções
Os políticos debitarão
Mas negar, nunca o negarão
Esse mar que nos cantou Camões

Seguro que vai ser necessário
Que a fome nos ataque primeiro
E que se faça um grande berreiro
A lastimar o nosso calvário

Mas p’ra atingir tão grato projecto
De aos da Europa sermos iguais
Só teremos, oh simples mortais
Que rogar ao Supremo Arquitecto

EDIFÍCIOS HISTÓRICOS ABANDONADOS




Cada vez mais me convenço de que na vida sempre vale a pena insistir com as ideias positivas que nos vêem à cabeça, pois a satisfação de, um dia mais tarde, ver concretizado o que defendíamos com convicção compensa bem o esforço de pensar e contrabalança as situações de nunca assistir à possibilidade de outras propostas que tornámos públicas e que foram ignoradas.
Este caso diz respeito à notícia de que está a fazer parte dos planos do Governo a intenção de concessionar castelos, igrejas ou fortalezas que se encontrem em estado de abandono, dando também possibilidade aos privados de requerer a desafectação do domínio público de instalações militares, como quartéis, terrenos ou armazéns que não estejam a ser utilizados e só sirvam de ocupação fedorenta de espaço que pode e deve ser utilizado com proveito de todo o País.
Foi exactamente este ponto de vista que eu tenho defendido há ror de anos e que, como já me habituei, ninguém na altura levou em linha de conta, mas que, felizmente neste momento de aflição, de crise, de contas que são precisas fazer, existe alguém que toma a decisão como coisa inovadora. Por mim, entendo que vale mais tarde do que nunca e só espero que as intenções agora anunciadas deixem de ser isso e passem, o mais rapidamente possível, a transformar-se em realidade.
A autoria agora da ideia coube ao secretário de Estado das Finanças, de nome Carlos Costa Pina e alarga-se às autarquias, dando-lhes também possibilidade de tomarem as medidas necessárias para que os capitais privados possam interferir na transformação de “monstros”, que são propriedade do Estado, em explorações comerciais, como hotéis, restaurantes, etc., mas tudo de qualidade elevada.
Surgiu ao conhecimento público que existem cerca de 2.680 imóveis estatais livres, para além dos muitos que se encontram arrendados. Ora bem, então numa época em que se fala tanto – como se tem falado sempre, sem dar solução ao assunto – de despesas supérfluas da administração pública, não serão os governantes capazes de olhar para uma coisa tão fácil e, em vez de aumentarem os impostos, obterem dinheiro com a disponibilização de propriedades que nãos lhes fazem falta, ao mesmo tempo que enriquecem o próprio Estado?
E já agora, deixem-me insistir naquele ponto que tem sido um meu cavalo de batalha de toda a minha vida jornalística: aproveitem a onda para libertar o Terreiro do Paço dos inestéticos ministérios que por ali se encontram e entreguem a concessão dos espaços para a utilização em hotelaria de alto gabarito, assim como por debaixo das arcadas gostaria de, antes de partir para a última viagem, ver ali instalados cafés de prestígio, com música clássica tocada ao vivo, como sucede, por exemplo, na linda “piazza” de Veneza. Não é preciso inventar nada!
Mas não consigo convencer-me que somos capazes de solucionar até os problemas fáceis. Bem gostava de ter confiança nas características portuguesas quanto às iniciativas produtivas, pertençam elas á iniciativa privada ou façam parte das atribuições dos governantes. Optimista quanto a isso, não posso ser. Não tenho razões para tal!...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!


Já ouvi dizer que um escritor não se arrisca. E isso, para mim, é o mesmo que afirmar que só corre riscos quem atravessa a rua despreocupadamente, ignorando as passadeiras dos peões, quem passa junto a um prédio em obras ou, muitas vezes mais afoito, resolve aventurar-se a subir os Himalaias Não é apenas isso – e já é muito – que serve para alinhar nas experiências de arriscar. Quem escreve e dá a ler aos outros o que lhe sai em prosa ou em verso enfrenta as críticas, especialmente as malévolas, de quem considera que a obra publicada não merece o apoio de quem perdeu tempo a apreciá-las e sujeita-se, por isso, a ser apontado como um mau cumpridor da tarefa a que se entregou.
E, dentro deste ponto de vista, sucede o mesmo aos que pintam e esculpem, aos autores musicais e, obviamente, aos que interpretam, com a voz ou com um instrumento musical, as composições dos outros.
Logo, o não fazer nada ou não dar a conhecer aquilo que constitui um atrevimento de produção, é a situação mais cómoda para não se ficar sujeito a críticas. Não correr esse risco é uma maneira de viver em tranquilidade, muito embora não se fique alguma vez a saber se valeu ou não a pena conhecer a opinião alheia.
Eu, pelos vistos, quero correr o risco de saber o que os outros pensam das minhas escritas e das minhas pinturas. E, mesmo que opinem desfavoravelmente, o mais que posso fazer é não aceitar tais opiniões ou admitir que têm mau gosto.
E cá vou continuando teimosamente…


MALA-POSTA

Queria conhecer-me, saber
Quem fui e o que sou.
Desejaria entender
Para onde vou, se é que vou
E que espero eu da vida
Daquilo que ainda me resta.
Quem responde que decida
Se o que vem depois algo presta.
Estou à espera
Estou sentado
Agarro-me como uma hera
Não volto a cara para o lado
Já sei que a resposta tarda
Duvido que venha a tempo
Que não seja uma atoarda
Muito menos contratempo
Mas o mais certo, isso sim
Será que partirei sem resposta
Ah! Pobrezinho de mim
Que perdi a mala-posta !

ENTREVISTA DE SÓCRATES



Apesar de tudo, na sua entrevista ao “D.N.” encontrei José Sócrates mais moderado do que é seu costume quando resolve fazer declarações públicas a propósito de tudo e de nada, mas em que entende dever comentar o estado da Nação, mostrando invariavelmente um bom serviço executado por si e nunca encontrando motivos para dar razão às opiniões que os outros também têm o direito de expressar.
É certo que as oposições existem para isso mesmo: para se oporem aos governos que estão naquela altura no poder. Por isso, não se pode, ou melhor, não se deve, levar a mal que as opiniões políticas, sociais e económicas não coincidam com aquilo que o Poder executa. Mas tudo deve ser exercido com boa educação, porque para dizer não, ninguém obriga a que se chame estúpido ao outro que, naturalmente, mostra um pensamento oposto.
É por isso que digo, ou seja escrevo, que encontrei nesta entrevista uma moderação e um tom (bem sei que não se ouviu a sua voz) que me deu ideia de uma certa retracção nas afirmações. Claro que o optimismo que lhe está sempre pregado às palavras, pode até ser elogiado, se o entendermos como uma pretensão de não criar desfalecimentos na população portuguesa, mas há verdades que estão tão à vista que não é por um primeiro-ministro se esforçar por contrariar que o povo dá crédito a tamanhas impossibilidades. E não é por Sócrates afirmar que a crise, que anda por todo o lado, não chega cá com a mesma intensidade, não é por essas histórias da carochinha que nos salvamos da calamidade que já sentimos bem no pelo e que ninguém está em condições de afirmar que não vai piorar ainda mais.
Temos de não perder de vista que as próximas eleições legislativas estão quase a chegar e que, até por isso, os membros do Governo, todos, vão mostrar uma maleabilidade e uma simpatia que, noutras ocasiões, nem lhes passa pela cabeça preocuparem-se com tal mostra de serem gente boa. Os “jamais” e os outros parecidos – refiro-me aos que têm sido maus profissionais da política, sem indicar nomes -, esses talvez comecem a sentir o lugar a arder, isso se o Sócrates tiver o bom senso de, mesmo à última hora, lhes encontrar um lugar bem situado fora dos ministérios, substituindo-os por outros parceiros menos “queimados” e com algum alento para pegar no trabalho que esteja a precisar de emendas. Esta situação faz com que encontremos certas mudanças nas palavras que saiam cá para fora e que sejam da autoria dos mais desastrados membros do governo. Não estou a dizer mal, o que faço é apenas, de passagem, referir que houve já necessidade de efectuar lavagens no governo e, tal como nos desafios de futebol, os treinadores têm obrigação de estar atentos e substituir os jogadores que, por cansaço, por má escolha ou seja lá pelo que for, não deveriam nunca ter alinhado na equipa.
Pronto. Também tenho o direito de ser um treinador de bancada. Pelo menos, o que pago de bilhete para assistir a este jogo, permite-me aplaudir ou assobiar, conforme o comportamento dos que estão em campo. Apesar de tudo, na sua entrevista ao “D.N.” encontrei José Sócrates mais moderado do que é seu costume quando resolve fazer declarações públicas a propósito de tudo e de nada, mas em que entende dever comentar o estado da Nação, mostrando invariavelmente um bom serviço executado por si e nunca encontrando motivos para dar razão às opiniões que os outros também têm o direito de expressar...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Oxalá não deixe atrás de mim um rastro insuportável.
Mas, a minha única defesa é a resposta que deu Picasso a uma das suas mulheres, quando esta o acusou de ser mal disposto com os amigos e este lhe respondeu: “é que com os outros, não me interessa o que pensem de mim; nem me dou conta de que existem!”
Será uma desculpa.
Cada um arranja a sua.

BANQUETES



Eu tenho deixar de me preocupar com esta gentinha que faz parte das diferentes posições que existem na máquina administrativa do Estado, seja nos ministérios, seja nos municípios, seja em qualquer dos organismos que, de uma ou de outra maneira, o dinheiro que custam é proveniente dos cofres que os contribuintes têm de contribuir para preencher. É que quem fica incomodado sou eu e, digo-o em plena consciência, as situações não se alteram, quer eu escreva agora num blogue quer, como sucedeu antes durante anos, os meus escritos surgissem em publicações, algumas com largas tiragens. É que eles estão-se nas tintas para o que se diz e, quando fazem algum comentário, só serve para afirmarem descaradamente que “o que têm é inveja”…
Mas, mais uma vez e sem emenda aqui vai uma observação: então não é que foi divulgado que os ex-administradores da Gebalis, uma organização que depende dos dinheiros públicos, no estrangeiro e desde Fevereiro de 2006 e Outubro de 2007, gastaram cerca de 6.000 euros, em hotéis de luxo e em requintes gastronómicos em restaurantes de altíssimo gabarito! E o despacho de acusação é feita pelo Ministério Público, referindo-se mesmo aos nomes dessas pessoas que, pelo facto de porem e disporem dos fundos que a organização lhes confiava, não hesitaram em passear-se como se se tratassem de magnatas do petróleo e as ajudas de custo de que dispunham chegaram a atingir os 6 mil euros, sendo que os almoços de trabalho incluíam frequentemente vinhos de preços elevados, whiskies velhos e mariscos, sublinha o Ministério Público. Os tais ex-administradores da Gebalis são Clara Costa, o ex-vogal, Mário Peças e Francisco Ribeiro, que foi presidente da mesma empresa.
Volto aqui a referir-me à culpa que morre sempre solteira no nosso País. Não sei onde trabalham agora essas três figuras, mas não me admirava nada que estivessem, neste momento, a exercer altas funções noutra organização, igualmente estatal, sem ter de prestar contas pelos actos que o Ministério Público – que não é qualquer coisa – organizou em despacho de acusação.
A expressão bem portuguesa de “tudo ficar em águas de bacalhau”, aplica-se todos os dias a dezenas de actuações merecedoras de censura dos pobres dos cidadãos que fazem esforços inauditos para cumprir com o pagamento dos impostos que lhes cabem. Aposto que é o que vai suceder mais uma vez com estes dispêndios que, pelo seu exagero, levaram a que se tivesse organizado um processo. Mas, mesmo assim!...

A SORRIR

Queria morrer a sorrir
ir assim até ao fim
para lá me divertir
a ouvir falar de mim

Muito mal, assim assim
tudo me faria rir
o que quisessem, enfim
continuava a sorrir

Digam coisas, mesmo más
não me fazem deprimir
lá onde só há paz
só teria que sorrir

O pior é se se calam
me olvidam mesmo a dormir
não dizem nada, não falam
deixava então de sorrir

domingo, 26 de outubro de 2008

DESENRASCADOS



Isto não tem nada a ver com crise financeira, a que está a servir também como desculpa para as nossas molenguices em resolver problemas e em acertar completamente nas prioridades de dar cumprimento às obrigações que cada um de nós, portugueses, tem para solucionar. E, particularmente, o Governo, pela boca do seu primeiro-Ministro, agarra-se a essa situação surgida, como náufrago a uma bóia de salvação em pleno mar alto.
Só que muitos dos casos que estão há muito tempo a pedir que os respectivos poderes actuem e, sem ter nada a ver com crises financeiras, arregacem as mangas e tratem de pôr as deficiências em ordem. Essa posição, tão característica deste País, tem de ser repetidamente denunciada, até ver se algum desses mandões que se chamam ministros encaram os problemas e dão ordens peremptórias aos respectivos chefes de serviços para deixarem de estar distraídos e façam os trabalhos que lhe incumbem sem mais delongas e sem desculpas para as tardanças que só servem para impacientar os cidadãos e, pior do que isso, provocam prejuízos que os contribuintes têm de suportar com os seus impostos.
Dou aqui um exemplo, mas não pararia se me fosse ocupar da lista imensa de actuações que não têm de estar disfarçadas pela tal crise. Refiro-me, como vem na Imprensa do fim de semana, à demora de quase um ano para se verem aprovados medicamentos inovadores experimentados e tendo dado provas da sua eficiência nos mercados estrangeiros. Os processos que se arrastam à espera que o Infarmed dê a sua aprovação chegam a levar até aos três anos, o que provoca situações de morte de doentes que poderiam ter beneficiado das novas descobertas científicas devidamente estudadas e completamente confiáveis.
Segundo um relatório internacional, Portugal é o último de 13 países europeus que incluem novos medicamentos nas suas listas de descobertas feitas entretanto. E a área do cancro é a que mais sente este relaxamento por parte das autoridades médicas nacionais. Uma vergonha!
A Infarmed já respondeu a esta acusação, com uma desculpa de mau pagador. Que nenhum doente deixa de ter o medicamento que necessita, memo que não se encontre comercializado,”desde que o seu médico informe a administração do hospital de tal necessidade”. Nem faço comentários! É mesmo uma atitude à portuguesa. Dizem os mesmos “sábios” que os tais remédios podem ser adquiridos no estrangeiro, através de uma autorização de utilização especial (AUE) solicitada pela respectiva unidade de saúde. Está-se mesmo a ver agilidade dos respectivos serviços públicos, ao ponto dos necessitados morrerem entretanto!...
Não temos, de facto, remédio. E eu que o diga. Necessitei de um medicamento, receitado por um médico português, de um laboratório americano e tive de fazer aquilo a que todos nós deitamos mão quando nos encontramos com um problema semelhante: pedir a uma amigo ou familiar que se encontra no País respectivo e pedir-lhe para ser portador no bolso do tal remédio…
O que vale é que os portugueses têm uma característica que nos marca: somos desenrascados! Se não fossemos assim, já há muito que tinha deixado de haver este sítio, considerado uma Nação
Muito bem, cheguei. Depois de ter guiado , de uma só vez, 300 kms.
Apanhei bom tempo em Viseu, onde se realizou no Hotel Príncipe Perfeito, uma festa de homenagem a diversas figuras ligadas à gastronomia e aos vinhos.
Esteve a cargo da Academia dos Vinhos doDão, presidida por D.Miguel de Bragança, que ficou na nossa mesa, assim como o Presidente da Câmara de Viseu.
A Filipa foi homenageada, tendo recebido uma salva de prata e uma placa indicativa da honra que lhe foi prestada, na qualidade de perita gastronómica.
E assim se vai vivendo.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

VOU ESTAR AUSENTE UNS DIAS.
ATÉ AO MEU REGRESSO

POESIA LIVRE

Aqui estou eu à frente do papel
à espera que a inspiração me chegue
olhando para a rua a ver passar
aqueles que não olham para a folha
em branco à espera de estar cheia
de letras, de palavras e de versos

Serão felizes esses que não puxam
por um génio que não lhes faz falta?
Quem sabe se não seria melhor
conhecer tudo sobre o futebol
preocupar-me só com o meu clube
e andar em dia com o jet-set?

Se fosse assim, poemas não fazia
e descansava quem vier a ler
todos os versos livres e bem livres
porque de rima mesmo nada têm
e a cadência é o que lhes resta
mas mesmo assim encheram o papel

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Quando releio as centenas de poemas que já escrevi e que conservo em folhas soltas que, constantemente, se misturam, a minha vontade é fazer um molho desses papéis e despejá-los no caixote do lixo. Mas tenho, primeiro, que esquartejar todas as páginas, não vá alguém encontrá-las e depois exibi-las como obra sua.
Fico, porém indeciso. Será que não têm essas poesias, de facto, o menor valor? Que, bem seleccionadas, alguma coisa será aproveitável e supere a mediocridade?
Esta falta de confiança, que entra em mim quando remexo nos escritos de saíram da minha produção, a incerteza quanto ao valor que pode ter tanto trabalho, esse receio de poder ser considerado um intruso no meio literário obriga-me a encher as gavetas dos pendentes, sem coragem para oferecer à crítica, à opinião dos outros, alguma coisa que um valor tem, sem a menor dúvida: é tudo fruto de esforço, de empenho, de desejo em utilizar o tempo que me falta até ao passo final, deixando alguma coisa a que não assistirei qual vai ser o seu destino.
E assim, vou escrevendo prosa e poesia, da mesma forma que , de vez em quando, pego nos pincéis e encho uma ou outra tela de desabafos coloridos. E vou guardando tudo, ao ponto de não haver já muito espaço para armazenar aquilo que só eu sonho poder vir a ser apreciado um dia…
Não faço questão de assistir a esse surgimento.

IMIGRAÇÃO BRASILEIRA

Talvez a juventude de hoje não tenha ainda tido tempo de tomar conhecimento dessa grande realidade, pois deparamos a cada passo com a ignorância de factos bem divulgados que nós, os mais velhos, muito estranhamos que não tenham chegado ao conhecimento da rapaziada. Refiro-me à época em que avalanchas de portugueses marcharam para o Brasil, País onde recomeçaram a sua vida e se instalaram como emigrantes com a família, que já levaram de cá ou a formaram com casamentos feitos lá mesmo. Ali, uma grande maioria construiu um futuro bem assente em dinheiro ganho à custa de muito trabalho e singrou, adaptando-se ao sotaque brasileiro e integrando-se na sociedade local, se bem que, até há pouco tempo, os Maneis e os Tónios tivessem que enfrentar uma certa risota anedótica dos brasucas mais desenvoltos.
Mas, se bem que essa transferência de população lusitana para o outro lado do Atlântico com a mesma língua tivesse começado a reduzir-se progressivamente, quando ocorreu entre nós o 25 de Abril, uma diferente camada de portugueses, gente oriunda do empresariado e também doutores e engenheiros que procuravam refúgio da confusão que por cá gerava um ambiente pouco satisfatório, essa elite foi em busca de conforto e trabalho nessas paragens. E, tendo sido bem recebidos na sua maioria, também conseguiram fortalecer as suas vidas, ao ponto de ali ainda estar a residir uma boa porção de tais transferidos.
Isso provocou, de certa maneira, que a maneira gozosa de os nossos irmãos de língua encararem os Maneis, se tivesse alterado, ao ponto de, nesta fase, um português que desembarca no Rio de Janeiro começar logo a ser tratado por “doutorre”, sinal bem claro de que já não somos considerados como os incultos que só ali chegávamos para ganhar dinheiro, fosse qual fosse o trabalho a que nos dedicássemos, embora uma grande parte enfileirasse nas funções de padeiro.
Falo nisto porquê? Porque o actual cônsul-geral do Brasil em Portugal concedeu uma entrevista em que afirma que, segundo os números oficiais em seu poder, vivem no nosso País 130 mil brasileiros e que todos os imigrantes da sua Terra que chegam até nós, devido às nossas novas leis da imigração obtêm com facilidade autorização de residência permanente.
Ora ainda bem. Tínhamos essa dívida de gratidão para com aqueles que nos acolheram bastantes anos atrás. E, dado que o seu comportamento junto da nossa sociedade é considerado como afável e correcto – com excepção de poucos casos que não se podem tomar a parte pelo todo -, por mim faço o juízo de que sempre é melhor recebermos quem não tenha dificuldades em adaptar-se à nossa língua comum, mesmo com alguns expressões diferentes, do que recebermos, por exemplo, romenos que, na sua esmagadora maioria é constituída por pedintes que atravessaram toda a Europa para aqui se instalarem e não serem produtivos.
Mas fronteiras abertas têm as suas vantagens e muitos inconvenientes. E não se pode querer que chova no nabal e faça sol na eira… ao mesmo tempo.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A CORJA

A terra está cheia dessa gente
Que se julga melhor e dominante
Que atropela todos pela frente
E olha o mundo, altivo, do mirante

Não ouve, não pára, não se importa
Com caminhos que outros lhes indicam
Dos princípios faz sempre letra morta
E galhofa quando alguns criticam

Será a maioria ? Pois que seja
Nem por isso lhes devem dar razão
0 preciso é apagar essa forja

Por mim não lhes tenho qualquer inveja
Nem me apetece apertar a mão
Dessa gentinha que é uma corja

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Eu não sou hoje o que era ontem. Por isso, muito menos sou agora o que fui em tempos bastante passados. Nesta altura não actuaria da mesma maneira como me comportei noutras épocas.
Os meus olhos não vêem neste momento, tal e qual o que contemplavam anos antes. Não foi o panorama que se alterou, foi a objectiva que parece ter sofrido certa mudança. Desgastou-se ou foram-lhes acrescentadas outras características.
O sabor também sofreu modificações. Recordo-me do que gostava e do que passou a ser menos saboroso. E o contrário.
Os próprios ouvidos, esses não dedicam idêntico apreço pelos mesmos sinais sonoros que, noutras épocas, mereciam uma atenção particular. Deixaram de prestar atenção a tais sons ou, pelo contrário, passaram a ser apreciadores do antes pouco valioso.
Não. Não sou hoje o que fui ontem. E pergunto-me: será que aqueles que não mudaram, que se mantêm toda uma vida fieis aos mesmos sentidos do prazer ou de repulsa, será que esses podem afirmar que aproveitaram cem por cento todas as variantes da vida?
Serão talvez mais felizes. Por serem mais constantes. Mesmo não tendo tido a oportunidade de apreciar os dois lados da moeda.

CAMARATE




Quem tem esperança sempre alcança. É o que diz o ditado popular, embora os resultados não sejam assegurados por nenhuma ciência. Seja como for, perante a notícia trazida hoje na Imprensa de que Diogo Freitas do Amaral se prontifica, amanhã, a prestar uma entrevista televisiva e a fazer revelações inéditas quanto ao brutal acidente chamado de Camarate, aqueles que, quase ao fim de 30 anos, ainda alimentam esperanças de que se acabe por ter conhecimento das razões da queda da avioneta que se dirigia para o Porto, transportando várias figuras importantes da política, essas pessoas conseguirão, ou ficar a saber tudo ou ficar a saber nada.
Augusto Cid, o cartunista que, até hoje, defende a tese de que se tratou de um acto de banditismo e não de um acidente, estará seguramente atento à referida entrevista, até porque, quanto ao antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, acusa-o de nunca ter revelado o resultado dos seus contactos com a Scotland Yard e com a Polícia Judiciária, defendendo que se esses elementos tivessem sido revelados talvez bastante se adiantasse na descoberta da verdade.
A expectativa, a um dia de distância, mantém-se. E tanto pode acontecer que surjam revelações que, se assim for, não se compreende o motivo por que estiveram tantos anos guardadas ou, pelo contrário, tratar-se–á de uma entrevista oca de indicações úteis, daquelas que abundam, infelizmente, nos nossos órgãos de Informação, apenas para encher papel e tempo de antena.
Neste País em que os mistérios por solucionar se amontoam no nosso conhecimento, especialmente quando metem investigações e julgamentos, nem sendo necessário vascular muito na nossa memória, pois está aí bem presente e arrasta-se indefinidamente, como é o problema Casa Pia, este de Camarate não pode fugir à regra. Até porque revelações importantes que estiveram guardadas, se agora forem divulgadas obriga a que seja feita a pergunta: porquê deixar passar todos estes anos?

terça-feira, 21 de outubro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!


Por mais que não queiramos, todos somos um pouco lamurientos.
Uns, não o demonstram, lastimam-se para dentro.
Outros, os mais exuberantes, choramingam mesmo sem lágrimas, não perdem a ocasião para se lastimar, quer com o que se passa com eles próprios quer com a sociedade em geral, a que está à sua volta ou até a que se encontra distante.

GAVETA

Gaveta que guarda
segredos de outrora
é coisa que tarda
‘inda não é hora
de querer abrir
p’ra não recordar
e ter de engolir
o que a guardar
ficou na gaveta

Era então desgosto
mazelas d’antanho
hoje é já sol posto
papéis não apanho
reler hoje em dia
o que então guardei
isso não faria
nem jamais farei
não abro a gaveta

Não vou eu abri-la
falta-me a vontade
não quero senti-la
dar-lhe liberdade
outros que o façam
sem eu estar a ver
e que se desfaçam
não quero saber

Não estando presente
no mundo dos vivos
quem não vê não sente
nem dá mesmo ouvidos

Também não importa
não estarei p’ra ver
fechou-se a porta
que posso fazer?

Gaveta não puxo
falta-me a coragem
será mesmo um luxo
oferecer viagem
ao que há tantos anos
está encafuado
não causando danos
por estar olvidado

Não vejo agora
quem ficando cá
após minha hora
s’interesse quiçá
por ler o que fica
pois se enquanto vivo
não ligam nem nica
ao que é meu activo
de escrita, pudera,
que o outro se houvesse
seria quimera
seria benesse
bem apetecida
coisa que um poeta
ao longo da vida
não deixa em gaveta.


JOÃO SALGUEIRO



Eu bem gostava de ser um crente de toda essa gente que utiliza as televisões para debitarem aquilo que consideram ser a ciência e a sabedoria absolutas, fazendo com que os telespectadores que não têm outros para ver ocupem o seu tempo a escutá-los. Na minha qualidade de antigo jornalista que aprendeu bem a lição em tempos passados, em que os mestres diziam que não era necessário estar de acordo para registar o que afirmavam os entrevistados, bastando tomar nota e transmitir, por vezes com o estômago às voltas, lição essa que passei depois à rapaziada que foi aparecendo para trabalhar sob as minhas indicações, com essas características assisto agora ao que dizem uns tantos fulanos que falam e escrevem aquilo, julgo eu, em que acreditam.
Porque é que venho agora com este discurso? Pois é simples. Porque acabo de ler uma entrevista feita ao economista e homem da Banca João Salgueiro que, com aquele ar que é costume porem os que se sentem dentro da razão, afirma, alto e bom som, que é como quem diz, em letras garrafais que fazem um título do texto, que ”nunca houve lucros fabulosos na banca”.
A gente lê e relê, para ver se não está com a vista em mau estado, mas confirma aquilo que dá a impressão ser alguma frase do antigo Pinóquio.
Não vou repetir as várias repostas que o presidente da Associação Portuguesa de Bancos dá às diferentes perguntas efectuadas pelo entrevistador, mas todas elas são quase para explicar que a área bancária não vive nem viveu naquela opulência que vem descrita repetidamente. Por pouco não afirma que vai ser criada uma associação de auxílio aos bancos pobres.
E, no que diz respeito ao pessoal superior dessas mesmas instituições, pouco faltou para desmentir que os mesmos usufruem salários de verdadeiro escândalo, claro comparando com o nível de vida geral da população portuguesa, e que as luvas que lhes são dadas ao longo das carreiras chegam para adquirir viaturas de luxo e para terem casas próprias de níveis superiores.
João Salgueiro, defendeu bem a classe a que pertence, mesmo sem ter merecido o mínimo crédito dos leitores que seguiram a entrevista.
Eu nem falaria nisto, sobretudo referindo-me a um antigo colega do Instituto superior que ambos frequentámos em anos diferentes, se não pertencesse ao grupo dos que apontam o dedo acusador à classe bancária de todo o mundo que esteve na origem da crise financeira que envolveu o globo terrestre. Não é que se pudesse exigir outra coisa de quem tem obrigação de proporcionar lucros à instituição para que trabalha, mas que procuremos disfarçar e desviar a vista daqueles que, para emprestar muito e ganhar bons lucros com os juros, tudo fizeram e até utilizaram a publicidade em excesso para engodar os pobres e ingénuos clientes, lá nisso eu não alinho.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Ninguém, todos os dias, é igual.
Os humores, provenientes das circunstâncias que se vivem, vão alterando os comportamentos.
É também o que se passa comigo.
Vou variando e ainda bem.

QUADRAS SOLTAS

É boa a democracia
Porque ser livre nos deixa
E gozar no dia-a-dia
Com pouca razão de queixa

QUADRAS SOLTAS

Pois só em si mesmos pensam
Portugueses são assim
E fazem grande chinfrim
Se os outros os dispensam

QUADRAS SOLTAS

Quem me dera, quem me dera
Que alguém me respondesse
Que seria desta era
Se o Homem se arrependesse

EUTANÁSIA



Ler, de longe em longe, sobre a eutanásia, e tomar agora conhecimento que este tema terá, m 2009, prioridade na agenda parlamentar portuguesa, suponho que no Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, isto num País em que o assunto não se encontra no grupo das prioridades, constatar o facto de que o “direito a morrer” já surge com certa clareza, para mim, que não me guio exclusivamente por regras religiosas que, como se sabe, nem sempre olham com realismo para o factor humano, traz-me uma certa crença de que as coisas deste tipo, entre nós, começam a mudar e que o sofrimento dos doentes sem cura passará ser encarado com a piedade de que o tecnicismo médico nacional ainda se encontra distante.
É que não se trata, pura e simplesmente, de matar alguém que não pode esperar da ciência forma de se libertar do sofrimento que, por vezes, faz prolongar o momento da morte durante longos tempos. O que se situa na área da caridade é, pelo contrário, libertar um ser que, por motivos que as próprias religiões não sabem explicar, só sente a dor, ao mesmo tempo que resiste ao calvário de entender o que se passa à sua volta – ou até mesmo nem isso -, mas que a medicina considera como tratando-se de um humano que ainda se encontra “vivo”.
A dignidade do ser é espezinhada e, por vezes, esse prolongamento do fio de vida que ainda resta dura meses, quando não anos até. Vegetar, em vez de viver, em que todos os dias os familiares se perguntam quando acabará aquele espectáculo horroroso do padecimento, não se resolve por mais cuidados paliativos que sejam tomados.
Todos nós mantemos na memória televisiva aquele caso de um homem galego que, deitado e sem se poder mover, durante anos pediu que lhe acabassem com tanto padecimento, até que lá conseguiu que um médico, correndo todos os riscos, lhe satisfizesse a ânsia de passar para o outro lado com todo o conforto. Mas tardou até ser dada a resposta com a eutanásia.
Haverá ainda muita gente que se horroriza só de pensar que se acaba com uma vida sem ser por forma natural, tal como, durante muito tempo, poucos eram os que aceitavam a cremação em lugar do enterro na cova, mas, a pouco e pouco, as coisas vão ser compreendidas e só o admitir que esse horror de padecimento sem fim pode caber-nos a nós, então sim, a solução definitiva já será mais aceitável.
O que é preciso para isso é pormo-nos no lugar dos pobres coitados. Só assim é que o Homem entende melhor o que nos rodeia na vida. Quando pensa na morte!

domingo, 19 de outubro de 2008

QUADRAS SOLTAS

É boa a democracia
Porque ser livre nos deixa
E gozar no dia-a-dia
Com pouca razão de queixa

QUADRAS SOLTAS

Fugir ao fisco é que é bom
E fazer negociatas
Até se diz de bom-tom
Fingir que não são magnatas

QUADRAS SOLTAS

Que fácil é ser político
E não custa mesmo nada
É fazer de paralítico
E ganhar pela calada

QUADRAS SOLTAS

O Alentejo sempre foi
P’ra mim sossego e refúgio
Senti-lo muito destrói
Todo e qualquer subterfúgio

GRATIDÃO



Já não é a primeira vez que os ex-combatentes das diferentes guerras de África, de triste e longa memória, dão mostras do seu descontentamento por nunca terem recebido do Estado a compensação pelos perigos que enfrentaram e, bastantes deles, pelas consequências penosas de que foram vítimas, umas mais graves e visíveis do que outras, mas todas merecedoras de uma atenção muito especial por parte daqueles que, mesmo não sendo desse tempo na vanguarda de um Governo, não podem nem devem fechar os olhos e fingir que nada se passou e que cada português se tem de aguentar com a sorte que lhe calhou em rifa, sobretudo porque essa ocasião teve lugar na época do salazarismo, quando a ordem era morrer pela Pátria e lutar até ao último homem. Que bonito defender esta filosofia sentado atrás de uma secretária, de botas calçadas e confortavelmente gozando do ar condicionado!...
Mas a verdade é que, nem naquele período do posso, quero e mando, nem hoje, passados mais de trinta e cinco anos sobre as matanças africanas, não houve ninguém num lugar saliente do Governo que tivesse dado mostras de querer solucionar aquela injustiça e, antes pelo contrário, no período que atravessamos, algumas regalias de que dispunham os ex-militares deficientes, até essas foram retiradas ou, pelo menos, reduzidas.
É sabido que o Estado está também debilitado de finanças e disso quem tem culpa são os homens que têm manejado os dinheiros públicos e que, apesar dos pesados impostos com que atormentam os cidadãos, mesmo assim não foram nem são capazes de utilizar o dinheiro com cabeça, com bom senso e, sobretudo seguindo prioridades rígidas, em vez de se dedicarem a gastar em fantasias, como as que estão anunciadas e que vão ser precisas, só e apenas, quando Portugal estiver em condições de despender fundos que lhe sobrem e não nesta ocasião em que nos encontramos numa situação parecida com a da falência.
Que sofram, pois, os antigos militares, os que deram o corpo ao manifesto e não tiveram a sorte de fazer como tantos outros, que deram o salto para França e para diferentes destinos.
Mas, já agora, sempre lhes deixo aqui a história de um acontecimento que eu, como jornalista, tive ocasião de presenciar e depois relatar (tendo sido cortada pela Censura, à primeira vez, mas que mais tarde sempre conseguiu sair no meu Jornal de então, “o País”: tendo sido convidado a visitar a Índia, pude ir a Goa e aí um residente confidenciou-me que havia uma velha capela, quase em ruínas, onde no seu interior eu deveria contemplar um espectáculo horroroso. Lá fui e, num espaço ínfimo numa cave do local, ao empurrar a porta empenada, deparei com oito caixões, todos com uma chapinha com um nome em cada uma e a indicação de soldado n.º tal e o respectivo nome bem português. Um dos caixões, todo desfeito, tinha deixado cair no chão as ossadas de um cadáver. Coisa horrível.
O que era aquilo? Pois nem mais nem menos que os restos mortais de militares mortos quando se deu a invasão de Goa pelas forças indianas, naquela altura em que Salazar ordenou que “deveriam todos os militares morrer, pois os que não lutassem até ao fim, não mereciam ser portugueses” – e se não foi com estas palavras, o significado era o mesmo -, pelo que, se alguns conseguiram chegar vivos a Portugal, pelo menos aqueles guardados numa dependência de uma capela em ruínas, não tiveram de enfrentar a ingratidão da Mãe Pátria.
Conto isto agora, porque na altura em que fiz a reportagem publicada, nem um dedo se mexeu por cá, no sentido de fazer chegar aqueles mortos a terras nacionais. Foi ainda pior do que está a suceder aos lutadores nas guerras de África, estas muito posteriores à invasão de Goa, Damão e Diu.
Pergunto: vale a pena ser português? É isto que se passa com os militares americanos que têm dado o corpo ao manifesto nos diversos confrontos por esse mundo fora, desde o Vietnam até ao Iraque, tão recente?
Se perguntassem às criancinhas que estão a nasce por cá, que nacionalidade prefeririam, se elas pudessem falar, que responderiam?
Eu não sou bruxo, mas arriscava uma resposta…
E já agora, aumento um pouco mais este texto, para referir uma situação que, não tendo nada que ver com a vida militar, se assemelha pelo abandono que os poderes públicos mostram aos seus filhos, mesmo quando eles se empenham em mostrar alguma utilidade à causa nacional: os jornalistas. Claro que defendo um problema em causa própria, mas vale a pena, mesmo resumidamente, dar conheciomento que este classe trabalhadora sempre teve - e isso vinha do tempo de Salazar, que tinha a esperteza de não desgostar os possuidores da caneta para contar o que se passava - a sua situação de saúde defendida, pois a Casa da Imprensa que vem dessa época, contava copm uma série de médicos que prestavam assistência completamente gratuita aos sócios, os hospitais também serviam para acolher os jornalistas sempre que necesitados, todos os remédios, análise e os restantes erviços de investigação médica estavam sempre à disposição durannte anos, antes e depois da Revolução. Pois bem, de repente e recentemente, o Governo entendeu fechar a Caixa de Previdência dos Jornalistas e a tal Casa da Imprensa ficou sem poder contar com o auxílio precioso que lhe era dado pelos serviços sociais. Cada um que resolva os seus problemqs de saúde como puder.
E o pior é que os jornalistas idosos, aqueles que tinham lutado antes com o aperto feroz da Censura e que depois, com o período revolucionário, também passaram grandes dificuldades, agora encontram-se entregues às suas possibilidades, que o mesmo é dizer à crise que não perdoa e que atira cada um para o seu canto.
Eu já nem sei se não terá razão José Miguel Júdice, ex-bastonário da Ordem dos Advogados, quando diz que "Portugal pode não ser viável!"

sábado, 18 de outubro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Tenho a impressão de que o tempo passou, hoje que tenho mais idade, muito mais velozmente do que quando não sentia o peso dos anos sobre os ombros. Ocorre um acontecimento qualquer e, mal damos por isso, já parece que passou um largo tempo, o que nos faz exclamar: “Até parece que foi ontem!...”
Mal passa um Natal e logo nos cai em cima uma Páscoa e quando damos por isso surge o calor a convidar-nos para uma ida à praia.
O passado foi há bocadinho, é o que parece agora em que assisto ao tempo numa correria desenfreada. É por isso que tenho pena. Não quero sofrer o risco de já não ter ocasião para cá deixar tudo que, talvez com excessivo optimismo, julgo que ainda serei capaz de produzir.
Aqueles que, com a minha idade, não se apressam, não se atormentam com o tempo que voa, que não têm esse sofrimento, sentam-se e esperam. Que felicidade!...

PROSA DA POESIA

Isto de escrever versos
é uma necessidade
e tem a ver com a profissão
do poeta.
Eu, por exemplo, que fui jornalista,
não consigo deixar de espiolhar
o mundo,
o que me rodeia,
como o que penso que será o amanhã,
por isso comento,
opino,
deito para fora o que me preocupa.
Ao mesmo tempo
o meu passado conta,
a experiência vivida tem peso,
os desenganos sofridos interferem
no que se escreve,
as bem-aventuranças sentidas
também.
No café onde escrevo
com montras para a rua
observo a gente que passa
e não posso deixar de pôr
a imaginação
a fazer o seu trabalho,
ao procurar descobrir dramas,
problemas, alegrias
de alguns daqueles transeuntes
que mais despertam a atenção.
Nesta rua de Campo de Ourique,
a que vai dar ao cemitério,
vejo da minha mesa a loja do Euro,
a que vende tudo por uma moeda,
e como é só uma,
é barato:
mas, afinal, são duzentos escudos,
dos antigos,
do tempo em que, com este dinheiro,
se ia à praça, comprar o almoço todo.
Como são ingénuas as pessoas!
Têm má memória
ou esquecem-se de propósito.
Mas eu, também
neste café,
pago cento e cinquenta escudos,
quando antes, no meu tempo de repórter,
não gastava mais do que
sete e cinquenta!
Aqui deixo a minha poesia,
em prosa,
servirá para alguma coisa
ou não vai servir para nada.
Não sei, mas gostaria de saber
se os que lerem este texto poético,
sei lá quando,
mesmo que não apreciem
o estilo e a forma,
prefiram poesia com rima
ou sem ela.
As modas evoluem,
nem sempre para melhor.
E há que acompanhar essa roda
que é o que acontece
neste livro de poesia.
Mas que foi com boa-vontade
que foram saindo todos os textos,
lá isso foi,
boa-vontade,
esforço,
dedicação,
mas muita dúvida.
Os que me vêem,
todos os dias,
aqui neste café,
agarrado aos papeis,
a escrever,
não sabem para quê.
Nem eu!...


.


DIABO QUE ESCOLHA


Na situação em que nos encontramos no campo da escolha política, tirando alguns partidos que, logo de início, não vão merecer a preferência do nosso voto – isto para o caso das legislativas que começam a dar ares de estar aí a aparecer -, os restantes deixam-nos as maiores dúvidas no que se refere a serem aqueles que, na verdade, irão cuidar de pôr a casa em ordem, de arrumar os assuntos velhos de que não vale mais a pena andarmos sempre a referirmo-nos a eles, de se preocuparem sobretudo com a melhoria de vida do povo que somos, em vez de terem apenas os olhos postos no aumento de posições, nas inúmeras sondagens que são feitas ainda eles se encontram ou no poder ou com vontade de ser parte dele.
A mim, o que causa a maior dúvida é encontrar um grupo partidário que tenha a modéstia suficiente para reconhecer, sempre que tal se justifique, que se enganou, que o caminho que seguiu não devia ser aquele, que um adversário viu melhor um problema do que o que se encontra no comando das operações, que se está sempre a tempo de emendar a mão e que não é por se cometer um erro que se deve depor logo a toalha, sempre e quando se esteja disposto a enfrentar o engano e mudar de posição.
Esse partido político não existe. O chefe desse agrupamento não deverá ter ainda nascido, pois, tratando-se de um ser tirado do molho dos humanos, está sempre convencido que é o maior, o mais sapiente, o que nunca comete disparates. E, perante tal realidade, eu, como votante quando chegar a hora de meter o papelinho na urna, tenho a maior das hesitações. Daqui até me encontrar nessa oposição ainda falta muito tempo, mas eu começo já a preocupar-me. Por mim, claro, mas sobreturo pela maioria dos concidadãos que, tal como acontece comigo, terão cada vez mais dúvidas.
Examinando, sobretudo, os dois principais concorrentes, um, um sabichão que me causa a maior das revoltas estomacais com as suas afirmações categóricas, eu que passo a vida a duvidar de mim próprio, esse não me parece, apesar das coisas menos más que, mesmo assim, foi capaz de enfrentar durante a sua governação; a outra, uma mulher, silenciosa e misteriosa, que não foi capaz de mostrar até hoje a sua capacidade para dirigir – e o que tem feito no Partido não provoca qualquer garantia -, provoca-me reticências, pois votar no desconhecido é coisa que não podemos fazer, numa altura em que a crise e o resto andam a atormentar-nos a cabeça e a dizer-nos que todas as cautelas são poucas.
Um Governo a meias? O que poderá sair daí? Dois teimosos; dois convencidos; dois sabichões; duas formas de encarar as realidades?
Venha o Diabo e escolha!...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

DIZER

Tenho pouco pr’a dizer
Está tudo dito afinal
O melhor é não mexer
E pôr um ponto final

Já outros antes de mim
Foram melhores a falar
Quanto de bom e ruim
Puderam todos contar

Não vale a pena mostrar
O que tenho por lavrar
É algo de pouca monta

É melhor guardar p’ra mim
Aquilo que bem no fim
Não tem princípio nem ponta

DESENCANTO... POR ENQUANTO!



Parece que, por cá, a coisa ainda não é aceite em plenitude. Por esse mundo fora e até em países europeus, é considerada em absoluto pela classe médica. Mas, em Portugal, onde se mantém a convicção de que é terra de gente muito conhecedora em todas as áreas, a acupunctura é vista pelo canto do olho.
Os milhares de anos que têm servido para os orientais recorrerem àquela ciência e com sucesso, não chegaram para nos convencer da sua validade. Ainda é praticada, entre nós, à revelia de muitos profissionais médicos que, no entanto, se se vêm muito castigados por enfermidades que a medicina convencional não resolve, às escondidas acorrem à acupunctura.

DEMOCRACIA



Não podemos deixar de levar em conta que a Grã-Bretanha goza do privilégio de viver em Democracia há maias de 300 anos. E, por isso, as várias gerações que surgiram desde o seu início têm vindo a praticar esse exercício de não interferir nas opiniões dos outros e de, mesmo discordando, não levantar questões face às formas de pensar diferentes. E essa atitude verifica-se, obviamente, nas relações políticas e nos movimentos que se apresentam para lutar pela chegada ao poder.
Tendo os Estados Unidos surgido da expulsão inglesa daquele grande território, o lógico é que bastante da influência dos anteriores ocupantes tivesse ficado, ainda que as múltiplas imigrações que se verificaram tivessem contribuído para algumas diferenças no que respeita à chamada Democracia pura, se é que ela existe onde se movimentam os seres humanos.
Seja como for, a verdade é que existem grandes alterações de comportamento entre as lutas políticas americanas e as idênticas que têm lugar na Europa latina. Em Portugal, por exemplo, todos sabemos que os confrontos que se verificam entre os vários concorrentes a lugares cimeiros na área política, chegam muitas vezes a roçar a má educação, a grosseria e o vale tudo.
Falo nisto porque tenho seguido a luta entre McCain e Obama que tem tido lugar no outro lado do Atlântico. E mesmo os frente-a-frente televisivos que já ocorrerram serviram de prova de que nunca se intrometem nas declarações que estão a ser feitas pelo antagonista, esperam pela sua vez e, quer no início quer no final, cumprimentam-se calorosamente e com o maior espírito de compreensão do papel de cada um.
Mesmo esperando-se que a vitória venha a caber ao candidato que se situa já mais bem classificado, não é por isso que o outro evidencie ares de arrogância, até porque, se tomasse tal atitude, provavelmente os potenciais votantes poderiam mudar de sentido de voto.
Aprendemos alguma coisa com o que os outros fazem, sobretudo quando se trata de acções dignas de louvor? Baixamos o tom de sabedores de tudo, de sermos senhores da verdade, de os outros nunca terem razão? Isto é consigo senhor Sócrates!... (em quem eu votei).

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

DIREITOS E DEVERES

O Homem tem seus direitos
os gregos foram primeiros
e a demo com seus defeitos
teve aí os seus obreiros

Os romanos se seguiram
as Doze Tábuas criaram
mas os plebeus não se riram
longe dos nobres ficaram

A Revolução Francesa
fez algo p’lo cidadão
trouxe alguma firmeza
na sua Declaração

Mas só a França lucrou
a Europa estava fora
e o mundo nem se atinou
com tais sinais de aurora

Foi precisa uma guerra
que espalhou p’lo Universo
malefícios de quem erra
mostram o Homem perverso

No fim as Nações Unidas
lá do Homem se lembraram
p’ra tapar muitas feridas
a Declaração criaram

A segunda, a que existe
extensiva a todo o mundo
mantendo o dedo em riste
mas pouco eficaz no fundo

Muçulmanos, por exemplo
tolerância não conhecem
e mesmo crentes no templo
as mulheres só obedecem

Respeitar opiniões
é coisa que não aceitam
provocando explosões
aos que o Islão rejeitam

Porém há tantos que tais
que aos outros não dão direitos
e mandando querem mais
julgando-se até perfeitos

Pois todas as ditaduras
de quaisquer ideologias
têm as mesmas posturas
de severas tutorias

Mas de direitos falando
úteis p’ra todos os seres
é bom não ir olvidando
que também há os deveres

Uns e outros são irmãos
até gémeos por sinal
e todos os cidadãos
devem ter esse ideal

Direitos têm de haver
essa regra é de ouro
mas deveres não esquecer
fazem parte do tesouro

Nunca é demais lembrar
quem os direitos quer ter
que os deveres têm de estar
ao lado de cada ser




DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Fazer fortuna facilmente é uma questão de sorte, de engenho e, por vezes, de processos inconfessáveis para o conseguir.
Fazer obra genial já não depende de subtilezas da vida.
Quem faz fortuna, goza-a; quem é génio, quase nunca o aproveita em vida.

CÁ SE FAZEM!...



Portugal tem um povo que é pródigo em utilizar ditados para conduzir a sua vida, procurando, dessa forma, encontrar resposta para as fatalidades que surgem no dia-a-dia. “Cá se fazem, cá se pagam!”, é uma maneira das gentes aguardarem que alguma malandrice acabe por merecer o castigo, mesmo sem se saber como.
Mas, vistas as coisas com certo realismo, aquilo a que se assiste nesta Terra é que “a culpa morre sempre solteira!”, pois que assistimos a arrastamentos de processos em tribunais, apontam-se falcatruas de toda a espécie, conhecem-se corrupções a cada passo, mas quanto a definirem-se os culpados, especialmente se se tratarem de personalidades bem situadas, isso cai no esquecimento na maioria das situações.
Apenas como exemplos que, num ápice, posso chamar à lembrança, aponto casos recentes: aquele atraso de mais de três horas verificado na entrega da proposta de Orçamento do Estado 09, que ocorreu na terça-feira passada, motivado por uma série de números trocados, provocados no Ministério das Finanças por “alguém” que é um funcionário a pedir mudar de ares, essa situação embaraçosa, segundo as notícias não justificou a identificação do responsável do erro. Mais um a ficar “solteiro”.
Não sendo recente, antes tratando-se de uma situação com “barbas”, o que se passa com o julgamento que se arrasta do chamado “caso Casa Pia”, o não se saber ainda se os apontados como envolvidos nessa vergonha são culpados ou não, ainda que alguns já tenham passado pela prisão, essa é a demonstração demonstrada de que em Portugal é difícil apontar o dedo para aqueles que se refugiam na classificação de” pessoas importantes”.
Ainda outra história que vale a pena referir: o cartão do cidadão, que eu há tanto tempo reclamo não existir como, há tanto tempo, os espanhóis já possuem – ah não querem que aponte o exemplo? -, tendo sido anunciado há meses que também seríamos beneficiado por essa modernidade tão útil, a verdade é que foi iniciado, primeiro à experiencia, numa terra fora de Lisboa, e agora parece ser a vez da Capital, pois as Lojas do Cidadão foram invadidas por potugueses desejosos de se actualizarem com tal documento. Apesar e se ter de pagar 12 euros, o tempo de espera de cada utente ao balcão foi de cerca de uma hora. Se o Ministro respectivo teve o cuidado de pedir aos vizinhos espanhóis uma ajuda para explicarem como funciona ali o mesmo caso (que tarda um quarto de hora para atender cada situação) e se quem lá foi aprender não compreendeu a melhor maneira, então há culpado de estarmos, mais uma vez, a ver passar os comboios e, como sempre, o País está na lista de espera, que é o lugar habitual deste Sítio.
Já agora, uma informação preciosa: este Cartão do Cidadão substitui outros cinco – bilhete de identidade, cartão de contribuinte, cartões de segurança social e de saúde e, futuramente, o cartão de eleitor. Vamos esperar até que aprendamos como se faz.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

ÓPERA PORTUGUESA

Ainda há no nosso País cidadãos que entendem que não são só os seus interesse pessoais que cabem na sua vida. E, perante essa inclinação, metem mãos a uma obra que consideram ser de um valor que extravasa os seus próprios. É o caso de um pai e dos filhos, ajudados por alguns amigos, que resolveram levar a cabo uma iniciativa que tem um nome bem esclarecedor: Eventos Ibéricos – Companhia Portuguesa de Ópera. E, desde 1991, têm levado a cabo diversos recitais pelos mais adequados locais do nosso País, como seja no lindo cenário do castelo de Óbidos, no Palácio de Queluz, em Coimbra e na Figueira da Foz.
Só com uma enorme carolice se poderia transformar uma ideia num facto concreto e quem já assistiu a estes espectáculos, com cantores portugueses e músicos também nossos, teve ocasião de se deslumbrar com tamanho feito.
Os melómanos, os amantes de música erudita, quem aprecia os eventos culturais, não pode perder este grupo que existe para deliciar os ouvidos e a alma de todos os que procuram estes acontecimentos. E, com este blogue que sei bastante gente lê, procuro que organizações de cultura, câmaras municipais e todas as organizações que desejem abrilhantar as suas acções com algo diferente, se ponham em contacto com o grupo que eu, particularmente, tanto aprecio.
O endereço é:
evi.geral@evi.pt ou pedrochaves@evi.pt.
Está feito o prometido, com grande alegria minha!

FAZER DE CONTA

Nem sempre o que é possível se consegue
fará falta algo, mesmo a fé
é preciso que o que se persegue
deixe de estar longe e fique ao pé

Muitas vezes tem que se dar o passo
ainda que não seja nosso agrado
há que manter fortes nervos de aço
e esquecer o que está ao lado

Por muito que se trate de uma afronta
aquilo que é preciso p’ra vencer
nada poderá ser de grande monta

Pois por mais longe que esteja pronta
o que queremos ver alvorecer
o importante é não fazer de conta

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Pergunto-me com frequência: se tivesse nascido noutro País e lá continuasse a viver, o meu pensamento seria o mesmo que mantenho agora?
Se sim, então o Homem comporta-se, em relação ao exterior de si próprio e quanto a si mesmo, de acordo apenas com o seu modo de ser.
Se varia conforme o ambiente que o rodeia, nesse caso é de fora para dentro que funciona a forma de ser de cada um.
Eu prefiro ser como sou, independentemente do lugar onde vivo.
Só não sei se o consigo…

ORÇAMENTO 09


Ainda é cedo para comentar o Orçamento 2009 que foi ontem apresentado ao fim do dia e, mesmo assim, com avarias nos meios de comunicação, tendo o presidente do Parlamento português que aguardar algumas horas para se inteirar do que é que ia aparecer como novidades que o Governo tinha cozinhado.
Não sou daqueles que saltam de imediato à liça para apoiar ou contrariar os estudos e as promessas que os Governos fazem, cada vez têm de apresentar o Orçamento para o ano que aí vem. Por isso, se houver ocasião para isso, e por partes, lá irei a seu tempo.
Temos ainda muitos assuntos para nos preocupar o pensamento que, pelos vistos, não são tratados no tal documento surgido com tanta pompa e circunstância. Também não admira, pois as próximas eleições legislativas começam a estar à vista e todos os cuidados são poucos por modo de não criar, a esta distância, descontentamentos e motivos para as oposições aproveitarem eventuais falhas eleitoralistas.
Vou só, por gora, falar de dois temas: o primeiro é o do preço da gasolina que não há forma de os governantes se encherem de coragem para meterem na ordem as empresas patroas da movimentação daquele precioso combustível, forçando-as a equilibrar o preço de venda nos postos, de acordo com as baixas que se verificaram nas extractoras. Se sobe, em Londres ou em Nova Iorque, nessa mesma altura aumentam as tabelas de venda ao público; se desce a cotação nos mesmos sítios, as baixas, aliás insignificantes, só surgem passado um tempo longo. As pretensas explicações confusas lá surgiram, mas não convencem ninguém…
O segundo tema tem a ver com a candidatura ibérica ao Mundial de futebol de 2018, que surgiu como proposta do outro lado da fronteira, e que pode aproveitar bem os vários estádios construídos em Portugal e que se tratou de um dispêndio exagerado de novos ricos que um Governo passado resolveu fazer para dar mostras de desempoeirado, sem olhar ao estado em que estavam e ficaram as finanças, quer de clubes quer dos próprios cofres oficiais.
Já não me refiro a outro assunto que bem deveria fazer parte do Documento agora tornado público: o estado da Justiça no nosso País. É tema ignorado, é problema que não interessa muito aos que governam, sejam eles quem forem, porque isto de meter a mãos onde há juízes e magistrados é uma escaldadela e a coragem nem sempre está disponível!”

terça-feira, 14 de outubro de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Levantei-me hoje com a disposição de encarar o mundo com pleno optimismo.
Desejo ver tudo cor-de-rosa.
E até o fala-barato do café, que diz coisas por tudo e por nada, sempre em voz gritante que amachuca os ouvidos de quem está calmamente a fazer as suas palavras cruzadas, até essa criatura me merece simpatia.

CALADO

Ter que fazer
não ser capaz
nem querer morrer
sem deixar p’ra trás
obra aceitável
para recordar
ser memorável
não ser vulgar

Mas e o génio?
bem que o procuro
qual oxigénio
em túnel escuro
se não o alcanço
fica por fazer
não terei descanso
sem desfalecer
até conseguir
antes de partir

Só os papéis
manuscritos no café
esforços cruéis
de quem faz finca-pé
em não ser um qualquer
quem cá ficar que diga
o que lhe aprouver
pois ninguém é obrigado
a manter esta luta
e se calhar é calado
que é a melhor conduta
dizer alto é vergonha
de se ficar a saber
o que cada um sonha
e, sem o conseguir… morrer

ANTECIPAR-SE

Isto de ter razão antes de tempo é um disparate. Ou melhor, é uma frustração. É o que me acontece vastas vezes, mas não tenho emenda. Volto constantemente a expressar os meus pontos de vista, para espanto e até indignação de muitas pessoas, quando o acontecimento só acaba por se dar ainda longe do seu anúncio. E quando aparece, já ninguém se recorda que houve alguém que avisou que tal sucederia.
Desta vez, a notícia de que as rendas das casas, em Portugal, vão substituir as prestações das compras respectivas, por enquanto é apenas isso mesmo: uma notícia. Os bancos, dizem, vão substituir as mensalidades correspondentes às liquidações das prestações, com juros, das aquisições de andares, por valores de rendas, sendo estas frutos de negociações que cada caso proporciona. Esta é uma novidade que o Orçamento de 2009 vai apresentar. Aguardemos.
Mas o que constitui uma noticiada medida que corresponde ao que, neste blogue diário, tinha sido tratado, é o caso dos prédios degradados que existem por esse País fora e que, no caso de Lisboa, estão bem à vista de todos, há muitos anos. O referido Orçamento prevê um agravamento para o triplo das taxas de IMI praticadas em cada município aos proprietários com edifícios em risco de cair.
Quer dizer, a preocupação vastamente demonstrada neste meu blogue em relação, primeiro às casas em estado de degradação contínua e a falta de andares para aluguer, que tinham desaparecido tendo sido substituídas por andares para venda, com empréstimo bancário, que deu no que deu, esse problema parece que vai ser resolvido, tendo-se que aguardar pela execução prática das medidas que a população tem de vir a conhecer logo que o Orçamento oficial para 2009 entre em efeito.
Por mim, como em muitos outros casos de que fui pioneiro nas minhas intervenções escritas em diferentes locais, quer na Imprensa quer, mais modestamente, nestes blogues, fico satisfeito por verificar que não caíram em saco roto as reivindicações a que meti a cabeça. Terá sido coincidência. Pois terá. Mas o que importa é que os resultados surgiram. As vaidades, que não existem no meu caso, ficam arredadas.

Apenas mais uma palavra: a nossa vizinha Espanha já deu início a um procedimento idêntio ao que vai agora, entre nós, entrar em funcionamento. Até nisto me antecipei. Não tenhamos complexos em copiar, desde que o façamos bem. Afinal, em acções políticas ninguém inventa nada. O que é preciso é andar atento ao que os outros fazem e aproveitar das experiências alheias. Se deram resultado, quem somos nós para evitar seguir o mesmo caminho?

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

SE EU FOSSE UM HOMEM RICO


Hoje estou num desses dias
com ganas de fazer nada
todos nós temos manias
ou gosto pela vida airada
tenho livros para ler
mais de dez na escrivaninha
pinturas para fazer
mas caí nesta morrinha
é preguiça
enfermiça

Olho só, mas nada vejo
nem isso quero fazer
tudo me causa bocejo
mas que maçada viver
e falar não é comigo
que trabalho isso me dá
andar também não consigo
dar uns passitos vá lá
mandriice
que lesmice

Amanhã será diferente
terei plena energia
pois nem sempre a gente sente
bem fundo a mesma agonia
vou falando com quem passa
poesia escreverei
mirarei a mulheraça
e tudo que sei farei
com vontade
e qualidade

Postas as coisas assim
parando para pensar
ponho esta questão a mim
em prosa ou a versejar:
pode-se ser mais feliz
estando atento à nossa volta
e sendo sempre juiz
ou seguir na vida à solta
divertido
extrovertido ?

Boa questão está no ar
que responda quem souber
cada um faça o que achar
o que mais lhe aprouver
porém o mundo não deixa
que cada qual faça a escolha
pois muita porta se fecha
quem anda à chuva se molha
aguenta
que tormenta

Sendo pobre, coisa má
mais difícil a opção
não há por perto o sofá
e p’ra dormir há o chão
por isso não fazer nada
não é escolha para ter
e andar na vida airada
não é questão de querer
o trabalho quando falta
sem ser por própria vontade
mesmo doente com alta
não dispõe de liberdade
desemprego
desassossego

Comigo não é assim
não sou pobre nem sou rico
é só por não estar afim
não quero e nem abdico
já nesta altura da vida
de ser de outra maneira
o momento é que convida
seja certo ou seja asneira
dolência
independência

Não posso ser mentiroso
pôr em verso meus desejos?
É que me dá certo gozo
fingir que tenho bocejos.
Não, nunca estou desse modo
no “dolce fare niente”
por mim nunca m’acomodo
na posição de ausente
é que tenho consciência
de que o tempo que me falta
me desperta a exigência
de não m’entregar à sesta
essa a razão por que faço
esforços p’ra produzir
e afugento o cansaço
em troca do insistir
teimosia
rebeldia

Estou num dia portanto
ao contrário do que disse
em que p’ra dentro canto
não vejo nisso chatice
acrescento mais poemas
ao rol imenso em arquivo
são quase todos algemas
que eu deixo em donativo
aos que ainda cá ficarem
nada têm de nocivo
mesmo sem apreciarem
testamento
sem talento

só se for rico
o mafarrico
Especialista é todo aquele que sabe cada vez mais sobre cada vez menos.
Super especialista é o que sabe absolutamente quase tudo sobre absolutamente quase nada.

IMIGRANTES




Por mais que se queira resolver o problema do eventual (ninguém tem a certeza) excesso de imigração, não é fácil enfrentar de vez a questão, em virtude dos compromissos tomados, por um lado, pelo Acordo de Shengel e, por outro, dado as fronteiras europeias se encontrarem abertas e não haver forma de impedir as mudanças de populações que, depois de conseguirem entrar num país da Europa, movimentam-se em toda ela até serem localizados pelas autoridades e, normalmente, isso só acontece quando cometem alguma actuação contras as leis e são detectados pela polícia. Dessa forma, todas as nações europeias estão sujeitas ao enchimento, por vezes excessivo de algumas nacionalidades, e, dessa forma, sujeitam-se à ocupação de uma mão-de-obra que deverá ser exercida apenas por naturais de cada sítio.
Há benefícios inegáveis com a aceitação de estrangeiros legais a prestarem-nos serviços a que os autóctones não deitam a mão. Nas obras, por exemplo, quando estas estavam no auge, era um dos locais onde se aceitavam trabalhadores vindos de fora e alguns deles, até, sobretudo os oriundos de Lesta, com formação académica muito acima das tarefas a que se passaram a dedicar entre nós. Mas a coisa, neste momento, mudou, quer em Portugal quer em Espanha, pelo que se verifica já um excesso de oferta de gente e uma grande baixa de procura, devido à tal crise que não se sabe quando vai ser ultrapassada.
A Espanha, por exemplo, já cortou com os imigrantes, pretendo devolver certos empregos aos naturais do País, proibindo a contratação de estrangeiros em trabalhos ditos de difícil cobertura. Entre as profissões agora proibida a estrangeiros, contam-se os soldadores, os cozinheiros, os camionistas, os carpinteiros e os electricistas. Ora, veja-se lá, como os nossos vizinhos são rápidos a tomar decisões em defesa dos interesses dos naturais.
Por cá, o que se passa é que as autoridades acabam de autorizar residência a 49 mil brasileiros que se encontravam aqui irregulares, o que, tratando-se dos nossos irmãos do outro lado do Atlântico e que, em tempos passados, acolheram tão bem os portugueses, até me parece uma medida moralmente justa. Mas, o pior é que estão localizadas muitas favelas que, com residentes em situação de indocumentados no nosso País, bastantes até com cadastros por crimes praticados já, formando gangs perigosos, e não são postos a andar para as suas origens, já que as cadeias se encontram também a abarrotar de presos de todas as ordens.
São estas e outras situações que, podendo e devendo merecer a atenção prioritária dos governantes, pelo contrário o que se assiste é a discussões sobre temas que não adiantam nem atrasam, que podem bem esperar por ocasião mais apropriada e longe de crises graves.
Enfim, temos de nos conformar com os passos trocados de que somos peritos nesta Terra. Vem-nos tudo da tropa…

domingo, 12 de outubro de 2008

O IDEAL

(Letra para uma canção)

Todos nos olham, ficam espantados
Estamos na montra do mundo real
Afinal fomos nós os enganados
Fiámo-nos na pureza do ideal

Um raio de luz
Chegará um dia
Qu'alegria
Em que a nossa cruz
Terá um bom fim
Enfim

O homem verá
Como é bom sorrir
E daí partir
Para o que será
Um mundo melhor
O maior !

É o homem o maior culpado
Porque é grande a sua ambição
Nem os maus exemplos do passado
Mostram dever ser outra a sua acção



Faço o possível para ler toda a poesia que me chega às mãos.
A que é publicada e apreciada, pelo menos pelos editores que lhe deram oportunidade de surgir impressa.
Concluo que não tenho sensibilidade suficiente para ser tocado por certos poemas sem métrica, sem rima, conjunto de palavras sem significado à primeira e à segunda vista.
Está muito para lá do meu entendimento.
Ou será que, tal como aquela denominada música, que é só barulho?
Também há poemas que não respeitam o silêncio…

JOSÉ MIGUEL JÚDICE


Conheço-o há muito tempo. Quando, cerca de um ano depois do 25 de Abril, regressou a Portugal, ainda bastante jovem mas já em vias de receber o papel passado pela Ordem dos Advogados, tendo vivido uma temporada em Espanha envolvido com os movimentos políticos que se sabia existirem no País vizinho, a convite de Vera Lagoa, que me acompanhava no semanário por mim fundado, “o País”, aceitou escrever uma coluna em que dava largas ao seu pensamento que, por sinal, não condizia precisamente com aquilo que eu tinha como lema no jornal que dirigia, mas como sempre respeitei a independência do jornalismo, nunca interferi nos seus escritos. Tratava-se de José Miguel Júdice que, quando Vera Lagoa fundou o seu próprio semanário a acompanhou por se sentir mais à-vontade naquele ambiente de Direita declarada. Não me foi dada qualquer explicação, mas eu sempre aceitei os comportamentos do outros, mesmo os que podem caber na área dos menos próprios.
Seguiu, pois, Júdice a sua vida e foi, como se sabe, bem sucedido, tendo até conseguido o lugar de Bastonário da Ordem dos Advogados, militou no PSD, partido de que, segundo se lê na entrevista que concedeu recentemente a um diário, se afastou, tendo mostrado inclinação pelo PS, pois foi até nomeado por Sócrates para a reabilitação da frente ribeirinha de Lisboa, cargo que não chegou a exercer o que causou alguma polémica.
Digo tudo isto, porquê, se não se trata de nenhuma novidade e quem anda atento neste País às figuras que se fazem notar não considera coisa nova o que acaba de ser escrito? Só para, eu próprio, recordar tempos passados e me ajudar a tomar a consciência de que tudo que fiz ou que autorizei que se fizesse se tratou de algum acto que ´edigno de aplauso ou, pelo contrário, é merecedor de profunda censura.
Deixemos isso aos outros para julgarem, mas eu apenas me aconchego no conteúdo da entrevista que José Miguel Júdice considerou útil tornar pública. E foco um ponto essencial.
É evidente que cada um é livre de mudar de pensamento político as vezes que lhe aprouver. Se me recordo desta figura que, quando nos falámos pela primeira vez, me disse que, para ele o CDS estava muito à Esquerda, e que foi dando os desvios que, nesta altura, roçam o socialismo, muito embora comece a levantar dúvidas quanto ao socraterismo, é só para dizer uma coisa: não tenho nada que fazer comentários. Mas é-me permitido registar a situação.
Mas há uma questão que eu, nesta altura, tenho de concordar com o José Miguel. É que, cada vez mais, Portugal vai dando mostras de que é capaz de acabar por não ser viável como País.
Toda a gente que me conhece sabe que eu, desde que me conheço e já no tempo da Ditadura afirmava que a única solução para esta ponta da Europa é constituir-se a Ibéria e surgir um agregado de duas Nações que, nessa altura sim, terá a força suficiente para bater o pé não só no espaço europeu mas também no mundo. O caso do Benelux serve de exemplo. E há forma de chegar a esse ponto sem nenhuma fracção deste espaço, sem perda de línguas, costumes, culturas, bandeiraa, hinos, governos, assembleias… já que, quanto a moeda, é sabido o que se sabe.
Portanto, no que diz respeito às ideias de José Miguel Júdice, nesse particular tudo indica que não pensamos de forma muito diferente. Se é que ele mantem este pensamento!