quinta-feira, 30 de junho de 2011

DESGOSTO

Como gosto de pintar
De trazer à tela em branco
O dom que sinto no ar
E da alma o arranco

Como ter papel à frente
À espera que o preencha
Com versos que estão na mente
A pedir que eu lhes mexa

Mas a música saltitante
Essa sim bem gostaria
De fazer dela uma amante

Mas aí é que eu não pego
Nem marcha nem sinfonia
Com desgosto, não lhe chego

DESGOSTOS E MAIS DESGOSTOS




TENHO ESTADO PROPOSITADAMENTE silencioso no que se refere a comentários sobre os acontecimentos que têm sido presenciados na nossa Terra, exactamente porque considerei que seria muito mais próprio não adiantar aplausos ou críticas a quem surgia para ocupar umas funções tão delicadas e de enorme responsabilidade, a quem recebia um presente que vem carregado de explosivos e que, só por isso, seria mais apropriado dar tempo a que tomassem lugar nas suas cadeiras e, só depois, surgir a tentar prestar algumas opiniões que possam servir para que a equipa aproveite e não faça como a anterior que sabia tudo e não dava mostras de precisar de pontos de vista oriundos dos portugueses.
Venho só agora referir-me a um tema que, não sendo minimamente novo na minha colecção de assuntos que considero de primeira importância para podermos avançar rapidamente na reconstrução deste País não produtivo, nem por isso foi referido no período da propaganda eleitoral e mesmo depois, já com o elenco ministerial constituído. Na verdade, a ideia com que fico é que a maior parte das figuras que querem dar mostras de que andam preocupadas com a situação que atravessamos, não se referem a um ponto que, no meu entender, constitui uma das principais acções que deveriam ser tomadas de imediato a peito, posto que, no capítulo de tornar Portugal uma Nação que produza e exporte, não bastam os conselhos proferidos nas discursatas sem resultado prático, pois o que é preciso é verificar-se uma actuação bem estudada para que, passados tempos, se comecem a obter os resultados positivos.
Vamos, pois, a isso:
É bem sabido que o interior do nosso País, por ter vindo a ser abandonado há já demasiadas anos, pois que a falta de apoio técnico aos agricultores, sobretudo aos possuidores de menores dimensões de terras que, com a produção que obtinham, e que não conseguiam manter as famílias a viver nos locais onde nasceram e cresceram, foi isso que obrigou a deslocarem-se para as zonas nacionais da beira-mar, naturalmente com preferência para as regiões em redor das grandes cidades, para não referir a enorme emigração que voltou a interessar aos nossos nacionais que foram forçados a deixar abandonadas, o que produziu o que está hoje à vista de todos e que é assistirmos a áreas enormes abandonadas sem produção.
Este é um sector que me inquieta não ter visto ser referido, nas inúmeras recomendações que foram feitas pelos políticos quando andam na busca de votos, um assunto que tem de ser considerado como prioritário, não só no capítulo da produtividade nacional como também no de serem encontradas actividades para o grande número de desempregados que vai aumentando cada dia que passa.
Mas não é apenas isto que deve constituir uma das prioridades que os governantes devem levar em conta. É que, por outro lado, sendo Portugal o País europeu com maior área marítima diante de si, tendo a pesca já sido um dos grandes factores de criação de riqueza e de modo de vida de muita população, passou também a ser subalternizada e perdemos um elemento tão valioso que não só abastecia os portugueses como servia como elemento de exportação para o estrangeiro que não dispunha nem dispõe de zonas de captura marítima.
Isto, no capítulo da agricultura e da pesca, mas outras actuações existem que não se conformam com a limitação dos políticos ao apontamento de passagem dos factos e não se assista à mais pequena acção prática no sentido de modificar todo o panorama, o que compete, como é óbvio, para além das iniciativas privadas, do estímulo e ajuda que o Estado tem de dar para criar as estruturas que entusiasmem os cidadãos a dar os passos que lhes competem.
Vou ser mais explícito:
No capítulo das terras abandonadas no interior do País, é evidente que o sistema legal em que vivemos não permite que o Estado actue directamente nas propriedades que a Constituição que temos protege. Haverá, por isso, como primeiro passo para solucionar este problema e outros que se mantêm e nos não dão alternativa para passaremos a ser uma Nação desenvolvida, que criar formas legais para não permitir que os bens que não são aproveitados através da sua rentabilidade – e aí cabem as térreas abandonadas – se mantenham na posse dos que serão legítimos proprietários, mas que, com a sua inacção, não contribuem para o enriquecimento que se torna cada vez mais fundamental que não seja negado à Pátria de todos. Trata-se de uma atitude que “cheira” a políticas ditatoriais que já foram aplicadas em zonas onde o poder da força se sobrepunha àquilo que hoje está tão divulgado e que se refere às liberdades que, com toda a sua beleza, só é possível seguir quando os países em causa não estão a ser vítimas de crises de vária espécie, como é a que está a inundar várias partes do mundo e de que a Europa é a principal sofredora.
Tenho de me revoltar interiormente para admitir este tipo de medidas, mas se a Democracia, a tal “menos má das políticas”, não tem meios de solucionar problemas que surgem em certas fazes da vida dos países, só existem duas formas de actuar: ou entrar na banca rota e sofrer as consequências financeiras e sociais que daí advêm ou juntar forças e salvar de qualquer modo da morte a terra que nos viu nascer.
Então, no caso das habitações por ocupar, como é o que se verifica em Lisboa – mas não só -, em que se encontram milhares de apartamentos vazios e em que os arredores se incham de gente que tem de encontrar as suas residências, não haverá uma legislação que obrigue os proprietários a não manter vazios os referidos andares e lhes seja imposta uma renda que, por um lado, se ajuste ao seu valor mas também crie uma movimentação de arrendatários por forma a não se manterem zonas abandonadas – como é o caso da “baixa” lisboeta à noite.
E no mar? Então não se trata também de uma actuação imediata o fazer com que o Atlântico à nossa frente se encha de embarcações pesqueiras, particularmente dando trabalho aos estaleiros que, como sucedeu agora ao de Viana do Castelo, fechou as portas e despediu os trabalhadores?
No meio disto tudo, existindo há vários anos, entre nós, uma instituição oficial denominada AICEP (recentemente acrescentou-se-lhe no princípio do nome a letra A, Deus saberá porquê!), a qual teve desde o início como objectivo abrir portas nos mercados estrangeiros para a exportação dos nossos produtos, mas não só isso, sobretudo agora, em que se impõe convencer empresas industriais de fora virem instalar-se no nosso País, mesmo que, para isso, as Câmaras Municipais ofereçam terrenos em lugares convenientes e o Estado facilite todas as diligências para que não existam burocracias incomodativas e tão ao nosso gosto, de molde a que tudo seja facilitado e até algumas compensações fiscais pudessem e devessem estimular as instalações de tais novas empresas que, como obrigação teriam a de só poderem dar trabalho a portugueses.
O que sucedeu ontem na Assembleia da República em que a estreia do primeiro-ministro deixou alguma esperança de que, pelo menos, existe uma consciência de que existe um vasto e difícil trabalho a fazer e que, a partir de agora, há que ir tomando conta das medidas que vão ser postas em prática – espera-se – no sentido de encaminhar Portugal no bom trajecto. Mas, seja como for, levará tempo e os portugueses têm de se mentalizar que por muitos maus bocados ainda terão de passar e que lhes compete também deixarem de ter um comportamento de não contribuir para que dêem a mão que lhes cabe no sentido de trabalhar para o mesmo e não cada um por seu lado. E a má notícia de que metade do subsídio de Natal já não será recebida, para os que tem um salário ou uma reforma inferior ao salário mínimo nacional, esse é o início de uma série de desgostos que serão anunciados.
E é tudo por agora…

terça-feira, 28 de junho de 2011

DEIXEI DE FALAR

De repente, perdi a palavra
deixei de falar
fiquei mudo
nenhum som sai da minha boca
as mãos não chegam
para me expressar
só por escrito
posso transmitir o que me vai na alma
mas ninguém está disposto
a conversar comigo
só a lar o que eu escrevo

Eu oiço, mas não falo
faço caretas
para mostrar se estou satisfeito
opu triste
se concordo ou discordo
mas não exponho os meus pontos de vista
não consigo manter um diálogo
para além do curto sim ou não
e o uso da mímica
não chega para ser expressivo

Por isso uso o papel
e a caneta
como sempre fiz antes, quando falava
mas é como quem argumenta sozinho
sem se ouvir
sem ter uma ideia do tom que deve utilizar
sem perguntas
sem respostas
e só sim porque sim
ou o contrário

Não falar terá as suas vantagens
não aborrece o próximo
não lhe castiga os ouvidos
não corre o risco de dizer coisas inúteis
de falar por falar
de falar demais
não tem de se arrepender do que disse
não ter de voltar atrás
com a palavra dada
não empenhar a palavra de honra
só vale o que escreve
mas isso tem remédio
deita o papel para o lixo
não o mostra a ninguém

Falar, falar…
falar barato
abrir a boca para dizer o que lhe vem à cabeça
até asneiras
quando mais valia ter fiado calado
que é o risco de quem não tem
tento na língua

Por isso, desde que deixei de falar
passei a andar mais descansado
não tenho de me conter
para não dizer mais
do que devia
falo comigo mesmo
sem som
e só funciona
o mesmo comando que antes
orientava as palavras:
o cérebro
e esse, de facto,
não se vê
nem se ouve

domingo, 26 de junho de 2011

DEIXAR DE ESCREVER

Se eu não escrevesse o que faria?
Se não pudesse passar ao papel
o que arde dentro e faz azia
seria de mim próprio infiel
estoirava
acabava
guardar só p’ra mim sem desabafar
recalcar no fundo as amarguras
já porque quem não gosta de falar
nas letras se vinga e nas pinturas

Quem escreve debita desalentos
em texto simples ou mesmo poemas
é uma forma d’abrir sentimentos
e igualmente de quebrar algemas
libertar-se
superar-se
no dia em que deixar de escrever
quando vier a sentir-me incapaz
é então a hora de perceber
que o que resta nada me traz
melhor é partir
deixar de existir
e quem cá ficar que faça as contas
que julgue os que primeiro partiram
e se conseguir que agarre as pontas
dos que quiseram mas não conseguiram

São assim os alcatruzes da vida
sobem p’ra encher descem e despejam
mesmo aqueles que passam de corrida
sem tempo que chegue p’ra o qu’almejam
mas génio mostram
mais tarde gostam
depois de cá não estarem p’ra ver
e de não lhes chegar a admiração
não tendo já por isso o prazer
de merecer especial menção

Enquanto por cá eu puder pensar
e possa escolher o que mais gosto
ao menos que não tenha de guardar
p’ra mim e tenha de esconder o rosto
envergonhado
culpado
por isso o qu’escrevo, o que pinto
melhor ou pior é para mostrar
porque o que deixo é bem o que sinto
outros que guardem ou queiram queimar

quarta-feira, 22 de junho de 2011

DEIXAR ALGUMA COISA


Há quem não se preocupe com isso
que o depois não seja um problema
se a vida já é algo tão maciço
para que serve aumentar o tema
o depois pertence ao infinito
a esse campo do desconhecido
porquê então andar por cá aflito
se o que a vida dá é bem sabido
e chega p’ra ocupar atenção
façamos bem o que há que fazer
e deixemos a preocupação
de pensar no que vem após morrer
lá está a cova e um caixão
e se acabou é só esquecer
também há quem prefira a cremação
pois por cá há bastante que fazer
e não dar que fazer é o melhor
aos outros depois de dar a partida
seja qual o caminho seja qual for
não há volta é apenas a ida
o melhor p’ra eles é esquecer
a vida vai seguindo cá no mundo
por grande que seja o desprazer
porque afinal no fundo, bem no fundo
ninguém se lembra nem na nossa rua
pois o tempo é o melhor remédio
cada um cá na vida continua
para matar saudades e desgostos
porque também propriamente o tédio
é coisa que muito foge dos rostos
Vale a pena deixar alguma cousa
que depois já não estando por cá eu
não se sabendo onde a alma repousa
se no tal Inferno ou se no Céu?
Isso para todos que têm fé
que acreditam que um depois existe
conhecendo-me a mim José
por certo mostram um semblante triste

Porque todos os outros, a maioria
raramente o que fui recordam
estavam bem longe do que eu sentia
por isso também depois não discordam
essa a razão por que quero deixar
alguma coisa que dê a ideia
do que procurei ser e sem mostrar
o que ocupou uma vida cheia

Antes papeis jaziam nas gavetas
cheios de bolor, grande confusão
era no tempo do uso das canetas
quando ainda não havia a paixão
por internet e computadores
porque hoje fica tudo no disco
que conserva bem todos os labores
durante anos sem menor belisco
aí fica o que hoje produzo
à espera de mais tarde ser visto
a menos que surja algum intruso
que não seguindo as regras de Cristo
entenda destruir só por maldade
ou até nova ciência humana
a tecnologia d’hoje altere
reapareça outra traquitana
que nem disco gravado recupere

Mas não, há que manter a esperança
de que algo de meu sempre resista
e de que certa bem-aventurança
permita que seja feita justiça
e que daqui a anos, muitos mesmo
o meu nome passe a ser falado
que não como um qualquer aventesmo
jornalista, escritor, poeta honrado

A esperança é grande desidério
e o seu fim é só no cemitério

terça-feira, 21 de junho de 2011

ESPERANÇAS



AS ESPERANÇAS QUE o ser humano consegue albergar no seu íntimo, normalmente são acompanhadas do desejo de deparar com melhorias no futuro que lhe é apresentado. Ter esperança nas melhoras de uma doença, no alcançar um emprego que lhe resolva os problemas de subsistência, nua concretização de uma amor que se encontrará num caminho periclitante, de fazer as pazes com alguém com quem se incompatibilizou e que lhe provocou um certo desconforto. São essas as esperanças que os homens procuram manter quando se lhes depara uma situação que dá mostras de constituir uma complicação na sua vida.
Com a entrada em funções do XIX Governo chefiado pelo vencedor das últimas eleições legislativas, Pedro Passos Coelho, uma incógnita política por não ter dado provas antes da sua capacidade em tomar conta de um Executivo, sobretudo perante a herança que lhe é deixada pelo seu antecessor – e mais vale esquecermos a personalidade que lá se encontrou ao longo de seis anos, para não nos distrairmos com o que já não interesse e pela falta de tempo que temos para pormos a Casa em ordem -, face a este novo grupo que vai tomar conta do nosso futuro, especialmente o imediato, a esperança tem de ser algo que não é útil que nos abandone, pois se assim for, a comparticipação dos portugueses não se torna visível e, sem ela, a produção que é a base essencial para podermos tentar aumentar o nosso activo e com ele criar as condições de diminuir o desemprego, esse desejo imperioso não participa na melhoria das contas públicas e cairemos de novo numa fase de poço sem fundo, com as consequências que ninguém é capaz de prever.
Isto para dizer o quê? Que, mais do que nunca em toda a nossa História, não podem os portugueses deixar cair os braços e ficarem completamente desesperançados de que não somos capazes de ultrapassar este terrível momento que, numa frase, se pode definir de que “ou é agora ou nunca!...”
Nem vale a pena dedicarmo-nos a estudar cada uma das figuras que passaram a fazer parte do grupo governativo. São aqueles e têm de ser eles e elas a fazer tudo o que puderem 8e sobretudo o que não puderem) para que possamos das a volta por cima. Com algum erro pelo meio, pois com certeza. E embora o desejável seja que tudo seja bem pensado, cuidadosamente aplicado e com o maior emprenho para não existirem enganos, como o errar é próprio dos homens, se tal acontecer alguma vez, o que se impõe é que, de imediato, os lapsos sejam reconhecidos e declarados publicamente, sem complexos e com verdade, actuando-se de seguida na reparação do que saiu mal. Esconder é que não. Fazer como foi costume em Portugal desde o 25 de Abril e, especialmente neste último período, isso é que não pode ser tolerado pelos que têm a seu cargo a inspecção dos actos desses que se sentam nos gabinetes e usam das mordomias que são dadas aos que se emproam por serem tratados por ministros.
Carrinhos à porta com motorista sempre às ordens e almoçaradas repetidos por tudo e por nada, isso todas as mordomias que se conhecem a Suas Excelências, isso é que tem de acabar quanto antes. Não se pode dar largas a esse grupo de funcionários públicos que tomaram a seu cargo as chefias dos ministérios.
Os discursos do Presidente da República e sobretudo o que foi pronunciado pelo actual chefe do governo não podem cair em saco roto. Ai deles, dos dois, se não cumprirem aquilo com que se comprometeram nas afirmações que fizeram.
Olhem para as movimentações populares que estão a decorrer em vários locais no estrangeiro e, muito embora os portugueses não tenham esses hábitos, nunca se sabe se, face a um excesso de sofrimento, não seguirão os passos dos exemplos que são mostrados todos os dias.
Olho alerta!...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

DEIXAI-ME SER POETA

Olho de longe a vida
oiço todos os ruídos
falo às pessoas que passam
esclareço quem duvida
uso todos os sentidos
vejo os pássaros que esvoaçam

É isso que dia-a-dia
nesta fase me sucede
em que sem obrigações
já perdi qualquer mania
e até olhar p’ra parede
me provoca ilusões

Quando fumava lá tinha
certa ajuda ao pensamento
agora já sem tal vício
busco fundo alma minha
que me dê algum alento
p’ra cumprir o sacrifício

Sim, porque sendo um prazer
e também certo castigo
para as horas ocupar
e ter algo que fazer
nesta espécie de abrigo
algo de mim posso dar

O poeta é isso mesmo
um contemplador da vida
que anota tudo que sente
e quando produz a esmo
com genica incontida
conta tudo e até mente

No fundo, de todo o ser
penso eu, por isso digo
ao poeta com seus temas
não apetece bater
e pode-se ser amigo
apenas dos seus poemas

O que se passa comigo
com todos será igual
àqueles que à poesia
se entregam como um mendigo
a pedir sem ser por mal
dando em troca fantasia

Olhar de longe a vida
procurar estar fora dela
sem querer ser arrastado
na canseira da corrida
só debruçado à janela
é o que faço sentado

Deixai-me, pois, prosseguir
enquanto eu ando por cá
sem com depois me importar
com o que vem a seguir
mesmo que com um quiçá
dê muito gosto sonhar





DEFINHANDO

Nem sol nem chuva
umas nuvens que causam incerteza
nada assenta como uma luva
tudo provocou já surpresa
será a vida uma chateza
não vale nem um bago de uva

Andar assim à toa
sem saber o que fazer
olhar para Lisboa
dando para entristecer
pensar no que poderia causar tanto prazer
a mim, como no seu tempo a Pessoa

Vai definhando
Falta imaginação
com todo o tempo que foi passando
não houve quem tivesse mão
para ir resguardando
o que nos foi deixado por missão

Capital tão bela
que tantos invejaram
podia ser hoje aquela
que lisboetas desejaram
mas por fim não alcançaram
nem olhando da janela







sexta-feira, 17 de junho de 2011

CARIMBOS



CADA UM DE NÓS, emendo, cada um dos portugueses que se interessa por estas coisas e pensa nelas, andará a imaginar quem, de entre as figuras que costumam dar nota da sua existência através dos meios de comunicação, escolheria este ou aquele ao seu gosto parta vir a exercer o cargo que considera mais apropriado na galeria de ministros e de secretários de estado que virão a ser empossados no Governo que vai ser nomeado. E seguramente que, na altura em que forem divulgados o nomes, deparará com contrariedades face aos seus ideais. E não será mau que assim aconteça. É sinal de que não se anda completamente alheado do que sucede neste nosso País.
Porém, o que, no meu caso, mais me tem atraído a chamada à imaginação é o facto de estarem previstas uniões de ministérios e provavelmente criação de nomes novos para outros, a necessidade a que isso obriga de alterar todas as folhas que são utilizadas para movimentar os textos que são expedidos para o exterior dos próprios organismos e até os que só transaccionam dentro e em que a indicação no topo de cada página nos sobrescritos, o que ocasiona um gasto enorme e uma paralisação durante uns tantos dias de movimentação de comunicados.
Imagino o que será necessário de gasto público e de papel para o lixo até se actualizarem todos os impressos que têm de sofrer mudança nas suas indicações de proveniência. Se fosse eu a mandar não hesitaria um minuto em mandar fazer urgentemente carimbos com as novas designações e colocá-los em cima dos nomes antigos dos organismos e enquanto durassem não expenderia um euro nessa mudança. Não seria muito elegante, pois não, mas em tempo de guerra não se limpam armas e era também uma forma de se dar o exemplo público, interno e externo, de que não estamos a brincar em serviço.
Só que não acredito que as personalidades que têm a seu cargo as responsabilidades de cada sector sejam capazes de capitular de uma certa dose de vaidade e assumam abertamente as situações e cada um contribua para não gastar em demasia. E, no caso dessa ordem sair do gabinete do primeiro-ministro, muito me agradaria que se tratasse de uma medida que saísse da cabeça do maior responsável. Vamos a ver!
Já que andamos todos aos papéis, este gesto seria do maior significado que animaria a população a seguir o e4xemplo que foi tão corrente de outras épocas, em que se utilizavam os interiores dos sobrescritos para anotar as respostas às cartas que se recebiam. Mas, então, não tínhamos a mania de que éramos ricos…
Agora só resta colocarmo-nos na posição de espectadores e, pagando bilhete continuadamente, esperar que os nossos compatriotas do futuro, quando cá já não estivermos, não enfrentem as circunstâncias que nos afogam na actualidade.
Carimbos, é o que nos resta. E já que está tanto na moda essa mania das escritas na pela – porque já não chegam as paredes -, pois que se implante a fúria das carimbadelas, tapando o que estava e colocando em cima o que vier a seguir.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

ESCOLHER BEM



ESTIVE PARA NÃO INTERROMPER este interregno que estabeleci em relação ao meu blogue que já tem uma duração que mostra alguma persistência. Enquanto se arrastou o período da propaganda eleitoral não quis, propositadamente, meter a foice num saco de gatos que o que fizeram foi apenas uma discussão de uns contra os outros, pondo em plano secundário aquilo que interessava mais ao País e que era apontar soluções para poderem ser escolhidas pelos, ainda que com dificuldade de entendimento, os portugueses mostrassem preferência. E como, no campo dos “politólogos” já bastam os que andam por aí a debitar nas televisões e nos jornais as suas previsões, algumas verdadeiramente inacreditáveis, foi por isso que resolvi ser mais sensato sair provisoriamente de cena e só surgir quando houvesse já um caminho mais ou menos definido.
É agora que começa a justificar-se que se vá analisando o que os tidos como responsáveis da condução da via política, económica e social de Portugal, depois dos encontros que tiveram lugar e de que, neste momento, ainda não se sabe como é que ficou definida a divisão das pastas, prevendo-se que terá sido fácil convencerem-se uns e outros, PSD e CDS, de que os lugares mais apetitosos teriam de caber aos opositores e em que, no caso do Partido Portas, mesmo sendo o mais fraco entre os dois, por servir de charneira e de contrapeso terá feito algumas exigências que o homem do largo do Caldas não deixaria passar sem luta. Mas isto agora já é apenas imaginação, se bem que, a pouco e pouco, neste Paios em que tudo se acaba por saber, virão a lume em breve casos que satisfarão a curiosidade dos mais bisbilhoteiros.
Estamos a dois dias de saber bastante mais sobre o Governo que será nomeado, quais os elementos que figurarão no elenco e qual o comportamento do Partido Socialista que, também ele tem o problema da nomeação do Secretário-Geral para resolver. E se bem que qualquer dos dois mais indigitados não se tratem de figuras com características sequer parecidas com o do homem a que sucedem, é de supor que, até pelos compromissos assumidos com os negociantes estrangeiros, não se levantarão questões muito complicadas.
E será isso que constituirá a primeira boa impressão que temos de deixar junto dos observadores lá de fora, pois ´«e bem sabido que as ajudas que estão programadas para os tempos mais próximos não chegarão para sustentar as dificuldades financeiras em que estamos envolvidos.
Apareço, pois, agora para dizer apenas isto. Que, no meio de todo o pessimismo que não me abandona em relação ao que vem por aí e que muito castigará os portugueses, pelo menos estamos a tempo de deixar uma boa imagem junto dos mercados externos de que o bom senso se instalou e que, ainda que enfrentando as faltas de verba que estão instaladas por todo o lado, no Estado e na vida privada, somos capazes de dar as mãos e, por fim, portarmo-nos como cidadãos merecedores das ajudas que ainda puderem ser-nos proporcionadas.
E por aqui me fico a aguardar, ansiosamente, os nomes dos indigitados para ocuparem os lugares de responsabilidade em todos os sectores oficiais e, após isso, constatar se as escolhas foram feitas com cabeça e sem interesses pessoais e de grupos.
Aguardemos sentados.

terça-feira, 14 de junho de 2011

A GULA




Querer tudo de uma vez
e ter medo que se acabe
não aceitar o talvez
de haver alguém que se gabe
de comer tudo
não deixando depois nada
do petisco saboroso
p’ra sorver uma garfada
do que estava apetitoso
ficar pançudo

Isso dos olhos comerem
põe bastante gente fula
faz os gulosos temerem
não satisfazer a gula
grande defeito
a temperança por si
é da ânsia o contrário
o guloso só se ri
nem chama a isso calvário
bom proveito

segunda-feira, 13 de junho de 2011

À GRANDE

Frase sem sentido é
e quando nos falta tudo
é ver por aí o Zé
a gabar-se de pançudo

O gastar sem se ter conta
não dando ares de fraqueza
é aí que a gente tonta
diz à grande e à francesa

Porque antes só ia a França
quem era então gente rica
como sinal de abastança
pois pobre só Caparica

Os tempos porém mudaram
já não são os emigrantes
como então p’ra lá saltaram
procurando bens distantes

Por isso em tempos tais
se dizia com certeza
que quem gastava demais
vivia à grande, à francesa

Mas hoje, com esta crise
há quem mostre tal fartura
e mesmo que não precise
quer fazer essa figura?

Até mesmo os protegidos
da política que nos rege
se fazem de desvalidos
escondem quem os protege

Deixou de ter um sentido
dizer que é bom à francesa
pois grande só em gemido
quando ocorre uma despesa

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A FORÇA

Esta força que temos e desconhecemos
e que está muito bem escondida
pelo que não sabemos
que a temos em vida

E é melhor assim, não haver consciência
para não a usar mal
e sempre haver clemência
num momento fulcral

A força das palavras é melhor
do que a força dos braços
é a razão que impera onde for
preferem ser usados em abraços

Se a força que podemos ter
for mal utilizada
será ocasião para aprender
que a vida é um quase nada

A força de vontade essa sim
é bem útil ao ser humano
ajuda a chegar até ao fim
sem nunca sofrer grande dano

A força
Não reforça
Mesmo que torça


terça-feira, 7 de junho de 2011

A ESPERA

Quem na vida que se leva
parte dela não passou
à espera de quem lhe deva
veja o dia em que pagou?

O esperar é bem a sina
dos que andam pelo mundo
e sentar-se numa esquina
não é só p’ra vagabundo

Eu já vou, não me demoro
diz quem pede paciência
se se trata de um namoro
é sempre grande a urgência

Espera aí um bocadinho
às vezes é coisa d’anos
pode bem ser um espinho
que causa enormes danos

À espera andamos todos
desde o primeiro dia
e cansamo-nos a rodos
na esperança de magia

segunda-feira, 6 de junho de 2011

A DROGA

O mal do mundo moderno
A peste que anda à solta
Aquilo que é um inferno
Tem de ferir e revolta

Sofrem muitos, muitos seres
Sobretudo gente nova
Do que julgam ser prazeres
Mas que pode ser a cova

É fácil dizer que não
Que aos outros isso acontece
Que nisso é que não se joga

Mas afinal mesmo à mão
Está quem disso padece
Do tal veneno: a droga

ABSTENÇÃO



INTERROMPO o interregno que tenho mantido no meu blogue por considerar que não posso guardar só para mim a indignação que sinto perante o comportamento dos portugueses votantes que apresentaram 43% de abstencionismo na votação que ocorreu ontem para as Legislativas. Não posso calar a minha desilusão.
Que o PSD tenha saído vencedor e que, com o CDS atinja a maioria absoluta na Assembleia da República, isso não me espanta nada. Já era de esperar que o resultado com a soma dos dois partidos desse uma maioria absoluta aos dois grupos que se apresentaram para disputar a ocupação do próximo Governo. Mas que, perante a crise que atravessamos, face à necessidade inegável de serem tomadas decisões certas e urgentes para dar cumprimento ao que ficou estabelecido e comprometido com a Troika, se tivesse verificado uma ausência tão significativa de votantes a demonstrar a sua preocupação quanto ao que vai ocorrer daqui para diante, isso é que, pelo menos da minha parte, não era espectável.
Os portugueses, se bem que não me tenham desiludido em relação ao seu comportamento passivo, ultrapassaram o que eu esperava dos meus compatriotas. Nem sei o que será necessário acontecer em Portugal para que se verifique uma reacção construtiva da parte daqueles que já suportam as dificuldades que se apresentam e que têm de estar preparados para enfrentar o pior que ainda está para anunciar.
Mas temos de nos conformar com aquilo que somos e com o que temos. É pena que não sejamos capazes de mostrar uma verdadeira força que nos dê esperança de que vamos, pelos nossos próprios meios, ultrapassar o ambiente pesado que nos envolve. E, nesse particular, oxalá o PSD e o CDS consigam encontrar uma harmonia política que sirva para enfrentar, com sentido de unanimidade, os problemas que temos para resolver. Porque é disso que necessitamos como pão para a boca. Como se impõe que a força do trabalho e o sentido de responsabilidade não se escapem de todos os que têm de dar o seu melhor para que não aumentemos as dificuldades que vão ser muitas para nos libertarmos do poço que temos perante nós.
Vamos a ver como se comporta o novo Governo e o sentido de urgência que não pode perder para que, no curto espaço de tempo que nos é concedido, efectuarmos as nossas obrigações e, entre elas, como é bem sabido, o pagamento das dívidas que nos afogam e que não sabemos bem como poderão ser solucionadas.
E, depois disto, não vejo, por enquanto, razões para manter o meu blogue diário. A menos que a situação seja tão complicada que não me deixe ficar sossegado a observar e a não expandir as minhas opiniões.

domingo, 5 de junho de 2011

A DOR


Há tanto tempo, mas não esqueci
Parece que foi ontem, como dói,
Alguém partiu e eu fiquei aqui
A moer a dor, como ela destrói!

O choro dura mais do que a alegria
A dor do sofrimento é persistente
É algo que perdura, que atrofia
Que apunhala o coração da gente

Quem parte assim sem mais e não espera
Porque não pode, chegou a sua hora
Deixa um vazio na alma de quem fica

Também partiria se tal pudera
Por caminhos por esse Além afora
Quem perde um amigo de muito abdica

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A BRASILEIRA

Sentado na Brasileira
Neste espaço com História
Aqui da minha cadeira
Revolvo a minha memória

Foi neste café aqui
Que em tempos da PIDE antiga
Se juntava em frenesi
Quem não ia na cantiga

Falavam contra o regime
Baixinho se conspirava
O que então era um crime
E bem caro se pagava

Cinquenta anos atrás
Não foi ontem, mas parece
Época de podre paz
Que jaz morta e arrefece

Em mesas por ali perto
De ouvido atento, matreiro,
Os pides com olho aberto
Espiavam o parceiro

Mas o Rocha, o Aquilino
E outros da nossa praça
Gente que fiava fino
Não lhes encontravam graça

Eu, por mim, alguma vez
Lá estive dos mestres junto
E na minha pequenez
Ajudava ao conjunto

Anos depois, já maduro,
Paguei o atrevimento
Comprometi o futuro
Mas fi-lo com muito alento

Brasileira do meu sonho
Recordo-te com saudade
O que passei foi medonho
Mas foi feito com verdade

Se fosse hoje, quem me dera!,
Voltando ao menino e moço
Ser de novo o que era
Regressando ao alvoroço

Mas não, hoje a Brasileira
É um café de turistas
É tudo d’outra maneira
Já não há por cá artistas

Mas quem tal tempo viveu
Quem ainda tem memória
Se é justo, não esqueceu
Esse pedaço de História







quinta-feira, 2 de junho de 2011

A BERTRAND

Oh Bertrand da juventude
Dos vinte anos de então
Eu te recordo amiúde
Quando já sou ancião

Junto dos livros, aí,
Nasceu em mim a paixão
De ler o que depois li
De não perder a lição

Estudava então também
Que a vida fácil não era
Tinha de ir mais além
Quem sabe o que nos espera

Tive sorte, a Bertrand
Ensinou-me o caminho
Mostrou-me o amanhã
Serviu-me também de ninho

Então, o grande Aquilino
Que aí sempre parava
Tornou-se o meu paladino
E ouvi-lo eu adorava

E à tarde, ao cafezinho
Tomado ali no Chiado
Podia ser o padrinho
A estimar o afilhado

Oh Bertrand, passaram anos
E aí estás sempre de pé
Na esquina, não há enganos
Em plena rua Garrett

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A ALMA


Dentro de mim vagueia qualquer coisa
Não sei o que é, mas sinto-a dentro
Será importante e sei que poisa
Sem fazer alarde bem no centro

Será só a cabeça a reagir
Ou algo impõe também sua vontade ?
Como me dera poder descobrir
E acabar com qualquer ambiguidade

Pode ser que seja algo escondido
Do meu ser que esteja ignorado
De coisa que me domina e acalma

Seja o que for não faz grande alarido
Mas deixa-me a pensar um bom bocado
E perguntar: será isso a alma ?