quinta-feira, 30 de setembro de 2010

FAZER DE CONTA

Nem sempre o que é possível se consegue
fará falta algo, mesmo a fé
é preciso que o que se persegue
deixe de estar longe e fique ao pé

Muitas vezes tem que se dar o passo
ainda que não seja nosso agrado
há que manter fortes nervos de aço
e esquecer o que está ao lado

Por muito que se trate de uma afronta
aquilo que é preciso p’ra vencer
nada poderá ser de grande monta

Pois por mais longe que esteja pronta
o que queremos ver alvorecer
o importante é não fazer de conta

APERTAR O CINTO


E EU, QUE CONFIADO estava que tinha chegado a esta altura da minha vida sem ver credores a bater à minha porta, dou subitamente comigo a carregar uma dívida de 14 mil euros. E a quem é que eu tenho de pagar o que me avisam agora que me compete assumir tal compromisso? – é a pergunta que me ocorre fazer, dado que não fiz quaisquer compras utilizando o cartão de crédito. Pois fiquei a saber que é a crise da dívida pública que provocou que o Estado, mal governado como se sabe, ocasionou que termine o ano de 2010 com Portugal a dever aos mercados estrangeiros qualquer coisa como 142,2 mil milhões de euros, o que, feitas as contas, atribui a cada lusitano o tal montante atrás referido.
Quer dizer, no ano passado – soubemo-lo agora – já cada um de nós era devedor de 13 mil euros e neste 2010 o Estado (ou seja o Governo que temos) aumentou a dívida, diz-se, devido aos juros elevadíssimos que nos são exigidos pelos credores, tendo estes já ultrapassado os 6,5%.
É evidente que os riscos que os que emprestam dinheiro a Portugal assumem é cada vez maior e por isso se, por um lado, limitam quanto podem os montantes que são solicitados da nossa parte, quando anuem a ceder-nos alguns montantes sobrecarregam com juros a níveis que têm vindo a subir e que, tudo indica, poderão não ficar por aqui.
Foi a esta situação a que chegámos e que tem de nos fazer sentir grande preocupação pela incapacidade evidenciada até aqui pelo nosso Governo e, relembrando o passado, constatamos, sobretudo os que são dessa época mas também os que não tendo vivido o período da Grande Guerra Mundial não ignoram a História, que a Alemanha, esse País que sofreu uma derrota clamorosa devido à actuação do seu líder da época, o odioso Adolfo Hitler, tendo ficado completamente destruída e tendo sofrido também a divisão em duas parcelas que, há pouco tempo, foram reunidas, nesta altura dá-se ao luxo de ajudar, com fundos de resgate, alguns dos seus pares da União Europeia, tendo agora saído a declaração de que, para além de 2013, essa comparticipação não se prolongará.
É sabido que o meu portuguesismo e o meu amor pela lusofonia não se submetem a não apontar os defeitos que devemos assumir e que não sou dos que escondem essas realidades com o glorioso passado das Descobertas que servem para desculpar todos os erros que têm vindo a ser cometidos, sobretudo nos dois séculos que estão próximos incluindo o que ainda vivemos. Por isso, na situação em que nos encontramos, com os governantes que nos têm cabido no mesmo período e especialmente – porque é esse o caso que temos em observação - quanto ao que vamos estando a suportar nos últimos anos, só nos poderá servir de ajuda se aceitarmos que o comportamento, a forma de ser, até mesmo o “desenrascanço” de que muitos se gabam, só contribuem para não sermos capazes de antecipar a visão dos problemas e de estudar soluções com cabeça, bom senso e profundo estudo. Não se trata de nenhum mistério o não conseguirmos acompanhar os melhores, e até os médios procedimentos dos nossos parceiros europeus. E até é esse o motivo por que nunca acertamos nos montantes das estimativas das obras e menos ainda nos prazos de finalização das mesmas.
Pois, por muito que o estilo austero alemão não nos atraia demasiado, é agora a altura para aprendermos alguma coisa, se formos capazes de pôr de parte o nosso tradicional “logo se vê” e passarmos a tomar consciência dos nossos defeitos, por mais que tenhamos a vaidade de julgar que aqui, neste extremo da Europa, é que se situa o exemplo que os outros deveriam seguir. Já fomos exemplares, é verdade, mas isso foi no século XV. Agora encontramo-nos no XXI e não é possível continuarmos amarrados a uma antiguidade que, nesta época dos computadores, não tem a menor aplicação.
Os nossos sucessores, os que vão herdar as dívidas que lhes deixamos, esses bem nos encherão de acusações de perdulários, de péssimos cumpridores das mínimas regras de só gastar o que temos e de não continuar a mandar “pôr na conta”, como sempre foi feito neste nossos tão pitoresco País.
Posto este texto que já estava redigido antes do esclarecimento dado pelo Governo, na voz do primeiro-ministro e do responsável pelas Finanças, acrescento apenas o que me foi possível apontar no decorrer das declarações televisivas que cada um dos espectadores pôde atinar. E, em primeiro lugar, reconhecendo a mão à palmatória a que Sócrates acabou por se submeter (sabe-se lá com que amargura por ser contrário aos seus princípios), só tenho de lastimar que medidas semelhantes, por ventura menos castigadoras, deveriam ter sido tomadas já há um ano. Se as despesas tivessem sido reduzidas – e há ainda bastante que cortar no capítulo das empresas públicas, dos municípios, das instituições e dos, serviços externos de consultadoria e outras despesas que não foram referidas nesta explicação prestada – poder-se-á talvez afirmar que, nesta extrema decisão que tem a ver com as recusas externas em conceder mais empréstimos a Portugal poderia não ser tão castigadora como a que vai ser adoptada no ano próximo e mesmo algumas que entram em execução antes do final de 2010. Mas paciência. Já de nada vale lastimarmo-nos e o que importa agora é ver se se conseguem os objectivos anunciados como indiscutíveis.
Para isso, no capítulo das despesas, a medida mais chocante será a da redução de uma média de 5% nos salários, da função pública, superiores a 1.500 euros mensais, podendo chegar aos 10% nos casos de maiores valores. Igualmente o Governo tomou o compromisso de cancelar todos os investimentos públicos, situação que o ministro das Obras Públicas tem que encarar, para ver se termina com as suas afirmações completamente fora da realidade.
Já no que diz respeito às receitas, o maior castigo que vai ser aplicado aos portugueses é do novo aumento de 2%, o que fará subir o total para 23%, representando, por isso, uma subida dos preços de uma variedade de produtos, grande parte deles considerados de primeira necessidade.
E nesta breve análise do que constituem as medidas que o Governo tomará e que terão cabimento no Orçamento do Estado que vai ser discutido no Parlamento, regresso ao que comecei por afirmar no início deste texto de que a Alemanha tem dado um exemplo de actuação que, por sinal, está a ser seguido por diversos países europeus. E como vale mais tarde do que nunca, não remediando nada atirarmos agora pedras ao Governo por se ter atrasado excessivamente em actuar como lhe competia, só nos resta estar atentos e confiar, até nova alternativa que politicamente possa ser dada e em que um novo eventual responsável no Executivo tenha a capacidade de saber ouvir, de não ser arrogante e de reunir em sua volta elementos capazes e com o sentido de serviço público e não de fieis seguidores de um partido, seja ele qual for, a aguardar por uma bem remunerada colocação posterior numa empresa ligada ao Estado, como é o que tem sucedido à sombra de uma Democracia que não lhes convém nem apetece cumprir.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

DISPARATES

De todos os seres com vida
o homem ganha os combates
pois sem peso nem medida
faz montões de disparates

Mas se ao princípio volta
s’arrepende do mal feito
não deixa por aí à solta
o que não merece respeito
então desculpa merece
seu valor sobe quilates
em torno desaparece
quem lhe grite: disparates!

Quase metade os faz
os outros emendam erros
há quem seja capataz
que quer comandar aos berros
mas neste mundo afinal
pleno de cheques-mates
por aqui em Portugal
não faltam os disparates

SALÁRIO MÍNIMO


NA VERDADE, nos tempos que correm, ter como salário mínimo imposto por lei a insignificante verba de 475 euros representa um esforço que é imposto aos portugueses que, devido às suas condições profissionais e de preparação educativa, não têm condições para auferir salário superior. E será por isso que os movimentos sindicais tanto reclamam para obter uma subida para 500 euros que, mesmo assim, continuam a constituir insuficiência para sustentar qualquer família portuguesa.
Mas este é o panorama que se contempla no nosso País e, devido às circunstâncias que são proporcionadas pelo estado ruinoso das finanças e da economia em que vivemos, temos de reconhecer que não haverá possibilidade de se verificar uma subida, posto que a esmagadora maioria das empresas, tanto as pequenas e médias como bastantes consideradas grandes, lutam com grandes dificuldades mesmo para suportar os baixos salários.
Pondo de parte os aproveitadores das circunstâncias, que sempre existem, e que podendo distanciar-se da referida limitação não querem dar mostras das suas condições mais favoráveis, o certo é que o nosso País se situa numa plataforma em que a baixa de salários será ainda a única possibilidade de aguentar a concorrência de preços dos produtos que saem das suas indústrias, quando não até a manutenção das empresas a funcionar se baseia nessa triste atribuição de salários baixos. E, no panorama actual, não haverá por agora qualquer volta a dar, por mais que a CGTP de Carvalho da Silva (que salário terá?) e arredores pretendam que se siga outro caminho.
O facto da OCDE ter vindo propor a Portugal que se congelem salários, se reduzam os subsídios e terminem as novas admissões na função pública, pelo que dizem que pode representar um corte substancial de 3 mil milhões de euros até 2013 - no seu estudo que foi entregue ao Governo com o intuito de equilibrar as nossas contas públicas também o aumento de impostos tem de ser levado em consideração, o que deve ser apenas aplicado, digo eu, em derradeira situação, pois não se podem suportar mais encargos deste tipo -, não exclui a recomendação da poupança que se impõe em várias áreas, como sejam o corte de benefícios fiscais e a redução da protecção aos trabalhadores, o que permitirá a possibilidade, segundo eles, de representar uma poupança pública na ordem dos 24 mil milhões de euros, até ao final de 2013.
Quer dizer, portanto, que as notícias que nos chegam vindas do exterior, fruto de observações estranhas ao nosso domínio político, do Governo e das Oposições, vão todas na direcção de apertarmos o mais que seja possível o cinto que temos mantido demasiado frouxo (no caso dos gastos supérfluos) e, por aí, por mais que reclamem algumas forças políticas que se dizem defensoras dos interesses dos que trabalham, não haverá alternativa se quisermos emendar a mão de uma governação que não foi capaz de ter evitado este descalabro a que chegámos e que se poderia ter evitado em boa medida se não tivéssemos andado por aí a construir e a inaugurar pomposamente auto-estradas, como quem implanta um chafariz, e, ainda por cima, com a maior desvergonha, há quem mantenha a ideia teimosa de construir o novo aeroporto, a ponte sobre o Tejo e, imagine-se, o TGV.
Como é que, com políticos deste cariz, se poderá sair do miserável salário mínimo que cria as maiores dificuldades de subsistência aos muitos portugueses que, apesar de tudo, sempre preferirão essa miséria do que não ter sítio para trabalhar?
O pior é que se dá o caso também de o subsídio de desemprego ser, em muitos casos, preferido pelos desempregados do que o trabalho que, apesar de tudo, aqui e ali lá aprece!...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

ENGANADO

A rua que m’ensinaram onde ir
a porta com o número que anotei
o caminho que teria de seguir
a difícil rota por onde andei
Tudo com esperança
Sem medrança
porque ali encontraria a felicidade
deixaria para trás a mesquinhez
onde seria pura a amizade
o gosto de viver vinha de vez
Perfeição
Ilusão
porém, depois de muito procurar
por becos e vielas me meter
de ter pensado em não continuar
face à perspectiva de me perder
Parei p’ra respirar
Precisava de m’animar
tinha sido por certo enganado
o que queria ver não existia
tinha tido todo aquele enfado
felicidade total não havia
Avisado fiquei
Mas já não parei
alguém me preveniu pelo caminho
que não valia a pena eu cansar-me
a vida tinha mais do que um espinho
pelo que era esse o conselho a dar-me

Fé que nos cega lá me empurrou
não queria ficar agarrado ao solo
já ninguém ao ouvido me sussurrou
pois era desmedido o desconsolo


ELEIÇÕES AGORA?


AS LAMÚRIAS que se escutam em todos os sítios onde existem cidadãos portugueses – obviamente com excepção daqueles que conseguem manter uma vida confortável e ate com fartura excessiva que, ainda assim, são bastantes -, as queixas que os cidadãos fazem por verem, cada dia que passa, agravar-se a sua situação e perante um panorama que não oferece esperanças em relação ao futuro, esse queixume constitui o único escape para quem não depende exclusivamente de si a forma de alterar o “status quo”.
É visível que, apesar do fenómeno difícil de entender de as sondagens não demonstrarem ainda uma descida notável do PS na hipótese de umas eleições legislativas se se realizassem nesta altura, não obstante isso os sociais-democratas se situarem apenas alguns degraus acima e os restantes partidos andarem em redor das percentagens habituais no anterior escrutínio.
Quer dizer, apesar do principal culpado público da situação em que se encontra Portugal estar identificado, e isso segundo um elevado número de opiniões que se escutam por aqui e por ali, não seria desta que José Sócrates passaria de chefe do Governo para uma posição inferior muito distante da que mantém agora. Isso, repito, se as referidas eleições tivessem lugar nos próximos tempos.
Na verdade, justifica-se que paire uma dúvida em grande número de cidadãos no que respeita à escolha do substituto governamental do actual detentor desse lugar. Verificando-se a certeza de que a continuação de José Sócrates não beneficia do apoio da maioria, por outro lado não se descortinam garantias de que o que vier a seguir seja capaz, nas circunstâncias actuais, de pôr a casa em ordem e consiga solucionar os diversos problema, financeiros, económicos e sociais, que atormentam Portugal.
Um incomensurável endividamento, interno e externo, uma taxa de juro, à volta dos 6%, que nos retira as possibilidades de suportar, uma carga fiscal que atingiu já uma dimensão insustentável, uma taxa de desemprego com consequências sociais que se podem prever desde já, para além dos outros problemas que se vão mantendo, como o caos da Justiça, o Ensino em níveis muito baixos e uma enorme incapacidade de aumentarmos a nossa produtividade, isto para apontar apenas uns tantos dos males que nos atormentam, toda essa via sacra será o que herdará um novo Executivo que, como é habitual ocorrer entre nós, o primeiro que vai fazer é lastimar-se da herança recebida e acusar os antecessores de tudo que encontra em tão mau estado… como se não esperasse que isso iria suceder.
Neste momento, face ao relatório da OCDE e à vinda a Lisboa do secretário-geral dessa Organização, em que as recomendações deixadas são mais do que suficientes para mostrar que a imagem que mantemos fora de portas não é recomendável, sobretudo para efeitos de prestar o mínimo de garantias aos nossos credores que, para além dos juros altos, estão já a limitar os empréstimos, esta amostra deixa um aviso de que, na próxima discussão do Orçamento do Estado no Parlamento, não vai ser possível que o mesmo não consiga a aprovação da maioria de deputados, pois as consequências desse acto seriam tão desastrosas que aos seus causadores só lhes restaria emigrar para longínquas paragens, fugindo a sete pés de alguns dos cidadãos nacionais que, descontrolados, seriam capazes de fazer justiça pelas suas próprias mãos. Esta é, evidentemente, uma hipótese exagerada.
O Orçamento que aparecerá e de que, nesta altura, ainda é ignorado o seu conteúdo pelos portugueses comuns, por muito mau que ele seja – e não é de esperar que surja grande coisa das mãos dos que têm feito tão mau serviço – tem de ser aprovado, bastando que algumas famílias políticas, aquelas que tradicionalmente fazem o seu papel de opositores, utilizem o facto para propagar os seus princípios ideológicos. E é bom que assim seja.
Até lá, pois, só nos resta, a todos nós que vivemos numa ansiedade permanente, manter um mínimo de esperança de que possamos ir suportando as agruras que se irão sucedendo e que, neste blogue, têm sido largamente sublinhadas, pois que defendemos – e já não somos só nós – a vantagem dos portugueses estarem bem preparados para maus tempos, do que andarem enganados com pinturas cor de rosa, o que os irá deixar completamente sacudidos na altura da verdade inegável.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

DESTINO


Dizer logo que alguém nasce
que está escrito o seu destino
que o seu caminho faz-se
como qualquer peregrino
fazer tal afirmação
como absoluta verdade
sem nunca aceitar um não
chamando-lhe maldade
é deixar coisas correrem
com futuro conformado
vontades nada valerem
tal como gato capado
isso é mal de muita gente
de quem nunca quer lutar
sendo no destino crente
e diz que o que querer mudar
só dá p’ra tempo perder
pois tudo qu’ocupa a vida
está traçado até morrer
não muda por mais dorida

Será que têm razão
que o Homem não tem tal força
que não está na sua mão
fazer com que destino torça?
Talvez valha acreditar
na ânsia de cada um
que o importante é lutar
dando algo ao bem comum

Para isso sem se esperar
ao dar pontapé na pedra
surge ocasião no ar
nova vida que até medra
há quem diga estava escrito
outros que foi circunstância
pouco importa o que é dito
pois mesmo com ignorância
a pedra do pontapé
que provocou a mudança
seja qual for a fé
é que obrigou a mudar
direcção que se mantinha
e tudo p’ra trás ficar
tal como erva daninha

É destino, pois que seja
Mas não chega de bandeja!

EXTREMISMOS


ENQUANTO neste País das discussões inúteis estas se arrepelam, de um lado e de outro das chamadas ideologias políticas, a clamar as Esquerdas e as Direitas pela pureza de cada uma dessas suas preferências, ainda que não seja aí agora que se solucionam os graves problemas que Portugal tem de enfrentar e que cada dia abrem ainda mais o buraco por onde se corre o enorme risco de cair desamparado, ao mesmo tempo que os ingénuos teimosos, que julgam ser o seu grupo que, por ser como é, naturalmente perfeito, é o que tem possibilidades de salvar aquilo que ainda é a sua Pátria, por essa Europa fora ao que se assiste é a uma nuvem negra que assusta pelas recordações que ainda existem naqueles que vieram tempos recuados, e que tem uma designação política de extrema-direita, essa negritude está a crescer em muitos dos países que fazem parte do bloco da Comunidade, sobretudo sustentada por uma juventude que não faz ideia, senão por lhe contarem, dos efeitos provocados por uma actuação política que durou vários anos e que só foi afastada onde esteve implantada devido aos resultados da Grande Guerra que acabou há volta de 65 anos atrás. Já lá vai, portanto, muito tempo.
No caso da Suécia, em que a Direita tradicional renovou o seu mandato governamental, relegando para posição inferior os sociais-democratas, verificou-se já um entusiasmo por parte daqueles que se situam na ponta direitista. Mas, noutros países do velho Continente, é notória a subida de aderentes aos discursos nacionalistas, em que especialmente a atitude clara de se mostrarem contrários à imigração é bem demonstrativa das suas preferências políticas. Se bem que seja notória a necessidade de existir uma certa moderação controlada.
A Finlândia, a própria Itália esquecida da mão de Ferro de Mussolini, certos países de Leste que têm de saber o que representou a actuação dura do estalinismo, inexplicavelmente a Alemanha, que agora reunida sem o muro que a dividiu e deixou rastos no sector a Oriente da Porta de Brademburgo fecham os olhos a tal difícil situação e todas essas Nações já possuem grupos políticos que são normalmente designados no seu nome por “Partido Nacional” e até na Rússia há um denominado “Partido Liberal Democrático”, que defende ideias que se situam no extremismo conservador.
Os politólogos, que se dedicam à pretensa análise da situação que se atravessa, pretendem explicar este fenómeno, que, para uma Esquerda severa, também pouco maleável no que seria prudente abrir uma pouco as convicções de outro extremismo contrário, para ela constitui um perigoso avanço, pelo que esses estudiosos dos fenómenos políticos defendem a ideia de que tal fornada extremista resulta do facto de não se ter verificado ainda uma resposta por parte dos partidos nos governos que se identificam com uma democracia capaz de solucionar os problemas que tanto fazem sofrer as populações actuais. O resultado é, pois, esse: nem uns nem outros, Direitas e Esquerdas moderadas, dão mostras de capacidade para descortinar uma solução aceite pela maioria dos cidadãos e que leve a que o mundo, com a enorme volta que está a dar – com a China, a Índia e o Brasil a atingirem foros de prosperidade, coisa que há tempos atrás era impensável -, entre numa acalmia que tanto necessita e que, sem egoísmos dos seres humanos e atitudes de prepotência e de inveja, poderia chegar finalmente neste século XXI, fartos que se está de, ao longo de toda a História mundial, só as desavenças e as guerras é que formaram o motivo principal da existência do Homem.
E por cá, então? Não constituímos um exemplo. Com a experiência que deveríamos aproveitar de uma História que foi única num determinado período em que as descobertas, por muito que constituíssem uma imposição das condições geográficas do nosso território, representaram, sem dúvida, um acto único para todo o espaço terrestre, nem assim e gozando já dos privilégios de uma Democracia que temos obrigação de querer conservar a todo o custo, damos mostras de tudo fazer para que a situação muito complicada que atravessamos, no aspecto político, económico e social, não se transforme num beco sem saída que nos conduza para uma perda de cabeça, com os efeitos que se podem imaginar e de que, como sempre sucede por cá, ninguém aparece a assumir as responsabilidades e a considerar-se culpado dispondo-se a merecer castigo.
Já aqui assumi neste blogue, antes de outra qualquer afirmação saída nos jornais, a responsabilidade de tentar adivinhar que, no meu ponto de vista, apesar das discordâncias, ataques mútuos, mesmo ofensas entre os responsáveis do PS e do PSD, o Orçamento do Estado, ao ser votado no Parlamento, acabará por passar, especialmente porque, tanto os sociais-democratas como os adversários comandados por José Sócrates, não assumirão a carga das consequências de um O.E. não passar. E as críticas dos restantes partidos, assumindo naturalmente uma posição que lhes cabe, pois não pesam na contagem da votação, podem ter o aspecto e o conteúdo que entenderem as suas figuras principais, mas nada disso pesa no destino que está destinado a Portugal e que, infelizmente, não dá mostras de constituir uma melhoria dos condições de vida dos portugueses.
Existirem partidos políticos que se situam num lado e no outro do panorama de ideologias, mesmo nos dois extremos, faz parte da prática democrática. Só que, na situação de crise que o mundo atravessa e que, na Europa, se sente muito na pela, o que importa mais do que tudo é existir consenso alargado, abaixamento de posições dogmáticas de finca-pé em princípios que podem muito bem aguardar por melhor momento para serem defendidos, numa palavra, o que não pode faltar é um verdadeiro espírito de confraternização, posto que, num salva-vidas depois de um naufrágio, não se discutem lugares no pouco espaço existente, mas sim se procurará que o maior número de náufragos consiga chegar a terra para dar início a uma nova luta pela vida, com extremismos ou sem eles.
Com todo este discurso até parece que o meu passado, no tempo da ditadura que vivemos, foi de completa sintonia com a prática de censura e com a perseguição pidesca que se vivia. Provavelmente alguém ficará com a ideia errada de que não fui severamente molestado por não aderir, política e jornalisticamente, com a prática de tal sistema. Mas foi precisamente o contrário o que me ocorreu e não me é agradável recordar todos os contratempos, incluindo cadeia, que me marcaram.
Só que, na idade que atingi e com o aproveitamento da vida que me foi moldando, ao pensar que o País que eu vou deixar fica num estado tão deplorável que não se vislumbre nada de satisfatório para o futuro, face a esta probabilidade sou forçado a apelar para o uso de todo o bom senso que, ao fim e ao cabo, é o que mais falta à nossa volta. Extremismo político, seja ele qual for, não há um só que seja desejável. Mas se o Homem é assim…

domingo, 26 de setembro de 2010

REMOENDO

Mas então serei só eu
Desconsolado da vida
Que julga que já tudo deu
E se acabou a guarida?
Mais ninguém?
Todos bem?
Se assim é então fracasso
O mal é meu exclusivo
Não devo dar mais um passo
Pois não há paliativo

Só, no mundo, me revejo
Por culpa minha por certo
Movendo-me no papelejo
Que é o que tenho perto
Escrevendo
Remoendo
Com outra coisa não conto
Uma resposta não dá
Acabo ficando tonto
E sem fé no que virá

SUBALTERNOS


CLARO QUE há coisas mais graves, especialmente neste período em que todas as instituições lutam contra as enormes dificuldades financeiras que atormentam as governações das empresas. Mas, no capítulo das prioridades – que é o maior defeito que se encontra por parte dos que dirigem -, só quando for absolutamente impossível dispor dos mínimos para que o serviço que se tem de prestar aos utentes não se torne num obstáculo para cumprir o essencial que cabe no preço que se paga, só aí é que, depois de feita a declaração dessa fraqueza, é que será admissível manter a falta que está a decorrer.
Refiro-me, neste particular, a uma situação que não pode ser consentida, até porque os preços dos bilhetes para usar o metropolitano de Lisboa incluem o uso dos elevadores que, em determinadas estações, servem precisamente para conduzir os menos válidos (a verdade é que todos os usuários) à entrada ou à saída dos veículos em questão.
Pois, de todos os ascensores que existem, parece que são oitenta, 18 deles encontram-se avariados há meses, o que, especialmente para os deficientes, em que se incluem os que se movimentam em cadeiras de rodas, representa uma impossibilidade absoluta de utilização do referido meio de transporte público. E até os que possuem compra antecipada de bilhetes, para lá de não poderem servir-se do Metro, são prejudicados por terem pago uma coisa antes que não lhes é servida depois.
Como na televisão apareceu esta informação prestada por um deficiente motriz, utilizador dos ascensores, talvez nesta altura já se encontrem reparados os meios agora paralisados. Normalmente, por se tratar de uma notícia que chega ao conhecimento de todos, incluindo os chefes dos funcionários que devem proceder rapidamente aos arranjos mas que se descuidam, não é primeira vez que sucede solucionar-se um problema graças à divulgação dos erros, mas se for assim só é caso para nos congratularmos.
Aproveito esta oportunidade para sublinhar um comportamento muito frequente por parte de serviços inferiores de empresas públicas, incluindo as câmaras municipais - e aí aponto o dedo ao município da capital -, em que obras feitas tempos antes, como sejam os levantamentos de calçadas para reparar, por exemplo, canos subterrâneos, ficam depois períodos longos a aguardar que os calceteiros apareçam para repor o empedrado em condições dos cidadãos circularem sem tropeços. E aí, é evidente que não se pode culpar o presidente da entidade que tem a responsabilidade de manter os serviços perfeitos, mas sim uns tantos funcionários que, não cumprindo com o zelo que se lhes tem de exigir, chefes secundários e desse estilo, se desleixam e provocam má imagem na organização a que pertencem. Sejam municípios ou outras instituições, obviamente ligadas ao Estado.
Mas, já no que diz respeito ao empedrado das ruas – e refiro-me às de Lisboa, que são as que conheço melhor -, tenho, há largo tempo, há anos, clamado pela eliminação da chamada caçada à portuguesa (com excepções nas zonas tidas como exemplares como seja o Rossio, os Restauradores e algumas mais, que merecem os desenhos lindos com pedras), pois a utilização de placas pré-fabricadas, até com os mesmos desenhos, sai muito mais barato e elimina o uso dos calceteiros que, de cócoras, levando tempos infinitos, dão uma má imagem aos turistas estrangeiros da nossa própria actuação. Aí, sim, o presidente da C.M.L., já que os anteriores não o fizeram, deveria meter mãos no assunto e seguir o exemplo do que ocorre nas cidades estrangeiras, até aqui ao lado, em Espanha, animando para que se criasse uma indústria desse tipo de construção de painéis do solo.
Mas, no capítulo da actuação a cargo dos subalternos do serviço público é isso que os portugueses, de uma forma geral, têm de suportar. Dever-lhes-iam bastar os males que cabem a todos os cidadãos, como seja o custo de vida e os impostos, mas não, ainda por cima outros habitantes deste País que, lá por prestarem serviço público em lugares de prática de serviços, mas de enorme importância porque têm influência na vida dos seus compatriotas, não cumprem como é devido a obrigação que lhes cabe.
Aquilo que eu me farto de dizer que todos nós temos alguma coisa de socratiano nacional, não nos cansamos de criticar o que se encontra na cadeira principal do Governo mas, quando nos calha a vez, portamo-nos de igual modo, ou seja só olhamos para o umbigo e consideramo-nos os melhores e sempre com a razão do nosso lado!
É uma pena que não consigamos, todos nós, funcionários públicos ou não, sobretudo quem tem possibilidade de não empatar, desenvolver uma actividade que não tenha nada a ver com o complicado e com as demoras desnecessárias.
De uma vez por todas, passemos da tradicional moleza, do não há pressa para quando mais rápido melhor. Para não continuarmos a perder o comboio da Europa e do mundo e deixarmos de ser os subalternos de tudo.

sábado, 25 de setembro de 2010

A PREGUIÇA


Que bom é não fazer nada
sem qualquer obrigação
e enfrentar a jornada
não dizendo sim nem não
tanto faz como até fez
ser tudo igual não importa
como andar de lés-a-lés
a bater a toda a porta
foi coisa de outros tempos
eu nem me quero lembrar
já não me servem d’exemplos
é hora de descansar

É preguiça?
Pois será
mas eu mando um grande “xiça”
ninguém me provocará
fujo das complicações
do que seja casa cheia
já perdi as ilusões
de que alguém me dê boleia
pois quando se conclui
que ao mundo já nada damos
é fugir e gritar: fui!
onde nem cabe o “digamos”

Quem de preguiça acusou
outros de nada fazerem
a certa altura chegou
em que vendo envelhecerem
nesse grupo também entra
e ao sofá se entrega
nessa fofura concentra
o que foi o cega-rega

Preguiça
é esse o nome
o tempo não desperdiça
também não provoca fome
por não gastar energias
deixa tudo por enquanto
não se mete em euforias
mantém-se no entretanto
qu’é o momento sereno´
de quem já não está capaz
e só lhe basta um aceno
p’ra deixar preguiça em paz

Preguiçosos
são uns tais
que mantendo-se viçosos
com ventos e vendavais
não dão um passo p’ra nada
são como alguns governantes
que com conversa fiada
se mostram bem petulantes

ORÇAMINTO...


TUDO QUE, em qualquer parte do mundo, não constitui assim uma dificuldade intransponível, ao passar-se em Portugal, com estes lusitanos que nós somos, fica logo a representar um problema que provoca as maiores discussões, trocas de palavras agressivas e acusações de todas as partes, esse frenesim que é naturalmente aproveitado pela comunicação social que, desempenhando as suas funções, procura captar as atenções da população, aumenta ainda mais a importância dos acontecimentos.
É uma pena que isto se passe, mas nada se ganha em disfarçar realidades com um “talvez não seja tanto assim”, pois permanentemente assistimos a situações que comprovam ser essa a nossa maneira de empatar a vida e de fazer com que nos mantenhamos neste marcar passo que nos impede de seguir em frente.
Na área dos políticos, então aí a lesmice em solucionar problemas que só o são porque não existe a agilidade suficiente para fazer com que não se verifiquem “engonhices” em casos que só prejudicam todos nós portugueses, essa mania de levantar dificuldades onde o bom senso deve chegar para se dar a volta por cima, como agora se diz, tem como resultado um dispêndio que se poderia evitar, e não só de tempo, pelo que depois nos admiramos por não conseguirmos ser competitivos em comparação com o que ocorre lá fora.
Este preâmbulo serve para me referir ao caso do Orçamento do Estado para 2011, em que a sua aprovação ou não, na altura em que se puser essa discussão no Parlamento, anda a levantar uma celeuma que não se pode deixar de considerar absolutamente dispensável. E digo isto porque não é preciso andar de braços no ar a clamar pelas consequências de um eventual chumbo na A.R. de um documento que é vital para que existam condições mínimas de governação, e, igualmente, porque nesse caso a imagem que o nosso País daria aos credores externos, actuais e futuros, só aumentaria as dificuldades com que já nos debatemos em obter consensos de ajuda, os quais vão ser inegavelmente indispensáveis no futuro até o mais imediato.
Se a aprovação do Orçamento depende apenas de dois partidos, do PS e do PSD – pois os restantes, com acento parlamentar, podem perfeitamente lançar as suas críticas, por mais justas que sejam, porque não influem na solução do problema em causa – mandam as regras da serenidade que, sem ser na praça pública, se discutam as questões fundamentais pondo de parte ataques mútuos e chegando-se à conclusão fundamental no mais curto espaço de tempo. Se há que evitar, na medida do possível, o aumento de impostos e tem de ser no corte das despesas o fundamental para que se atinja o desejado, então que se actue com mão firme e não se entende muito bem como é que os dois grupos políticos não encontram forma de acordo sobre as alíneas que podem e devem ser incluídas em tal decisão. E isso quando se sabe que existe realmente um exagerado número de dispêndios que, num ocasião como esta que atravessamos, por muito que custe por exemplo encerrar empresas públicas, fundações misteriosas, num total de 13.740 instituições das mais variadas espécies e mesmo que isso provoque alguns desempregos acrescidos mas inevitáveis, não terá de verificar-se qualquer hesitação em dar esse passo. Será que, de um lado e do outro, nos dois partidos, se verifica alguma protecção a amigos e/ou correligionários que poderão ser atingidos por tal medida e seja isso que provoque um desacordo insuperável?
E se, como afirma agora Teixeira dos Santos, não é apenas com o corte nas despesas que se consegue atingir a anulação de quatro mil milhões de euros que pesam no passivo das contas públicas, sendo forçoso entrar de novo no aumento dos impostos para reduzir para cerca dos tais 4% que constituem o compromisso assumido pelo Estado – não importando agora fazer a crítica no que respeita à posição passiva do actual Governo e do anterior, com o mesmo Sócrates, que deveria ter tomado muito antes as medidas necessárias para não se ter chegado agora à difícil situação que temos de enfrentar -, se não existe outro remédio que não seja castigar de novo os portugueses, então que se chegue a um acordo, ainda que o PSD tenha de explicar publicamente a razão da sua anuência, pois que o indesculpável é contribuir, na parte que lhe cabe, para que uma crise política coloque Portugal numa situação tal que o resultado venha a ser o de um verdadeiro descalabro com consequências de um dramatismo inqualificável.
Tudo isto porque não é preciso ser um bruxo muito qualificado para prever que, na altura da votação no Parlamento, o Orçamento irá passar, claro que apesar dos votos contra dos partidos menores que não influem na decisão e não querem ver-se envolvidos para poderem manter a sua crítica política, e o PS e PSD não terão a coragem de assumir a responsabilidade das consequências dramáticas da eventual queda do Governo actual que, por muito mau que ele seja, tem de se manter onde está dado não existirem condições, internas e externas, para uma crise que, na altura em que Portugal depende da aparência de serenidade política, por mais relativa que ela seja.
A atitude do Presidente da República de ter proposto um encontro com os responsáveis socialistas e sociais-democratas, ainda que demasiado sobre a hora e com algum cheiro a campanha eleitoral que anda a desenvolver há um certo tempo, mesmo sem o afirmar oficialmente, tem a virtude de procurar pôr um pouco de água sobre a fervura e obterá, admite-se, um bom resultado de que tirará algum proveito junto do eleitorado quando chegar o momento da votação para o locatário de Belém.
Mesmo que o Orçamento represente mais “orçaminto” do que outra coisa, o que não se admite é continuar-se a alimentar esse tal vício nacional dos políticos se embrenharem continuadamente em discussões de pátio, em que todos apontam o dedo e acusam como num lavar de roupa suja, e ninguém tem nunca a honestidade de assumir culpas em causa própria, afirmando simplesmente “desculpem, mas enganei-me!...”

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

PODE SEMPRE VALER A PENA

Dar um passo arriscado
para alguém que nos acena
o melhor é ser pensado
pode não valer a pena

No totoloto jogar
escolher qualquer dezena
por vezes pode acalmar
pois se sair vale a pena

A pena com que se escreve
grande obra ou pequena
seja pesada ou leve
guardá-la não vale a pena

No fundo o importante
p’ra manter alma serena
em vez de tomar calmante
é ver o que vale a pena

Já lá dizia Pessoa
se a alma não é pequena
se se fizer coisa boa
então assim vale a pena

Para tal, por esse mundo
há quem faça muita cena
provocando mal rotundo
mas isso não vale a pena

Cheguei à conclusão
digo-o de forma serena
há que colocar um não
na frase valeu a pena

E viver neste País
com dívida nada pequena
lá razão tem o que diz
que assim já não vale a pena


POLÍCIAS, OS MAL TRATADOS


POR MAIS de uma vez dou comigo a imaginar que estou a desempenhar as funções de funcionário da PSP. Desses de farda, na rua, a exercer a actividade de segurança e de protecção dos cidadãos. Isso, mais do que a antipática atitude de repressor e de passador de multas.
Ora, alargando o meu pensamento, chego ao ponto de fazer um filme na minha cabeça em que assisto a um assalto à mão armada, por exemplo a uma joalharia e que, tomando eu posição atrás de uma viatura estacionada, puxo da arma que me está destinada e resolvo enfrentar os bandidos que, sendo vários, impõem respeito, tanto mais que naquela altura me encontro sozinho como representante legal. Os assaltantes dão pela minha presença no local e, dividindo-se, usam as suas armas para tentar anular a minha intervenção.
É aí que, protegido pela viatura que me dá visibilidade suficiente para atingir algum dos meliantes, em lugar de puxar do gatilho suspendo a acção e penso nas consequências provenientes da eventualidade de atingir um dos gatunos e de o matar. E prefiro deixar fugir todos os intervenientes no assalto que, num carro a alta velocidade, desaparecem de cena.
Quando chegam os reforços policiais, perante o ocorrido e até devido à indignação dos civis por não me terem visto utilizar a minha pistola de serviço, sou admoestado pelo chefe e é-me até levantado um auto de incompetência. E acaba aqui o que resultou de todo esse exercício de imaginação.
Agora, desfardado em pensamento e civil como sou, passo outro filme que me mostra o contrário do que antes foi referido e, por isso, enfrento as consequências de ter provocado a morte a um dos protagonistas do assalto referido. E aí, louvado pelo meu chefe, sou forçado a entregar a minha arma de serviço e sou levado a tribunal por não ter utilizado outro meio que não fosse o da gravidade de ter causado o falecimento de um dos assaltantes. E passo o cabo dos trabalhos, sendo-me suspenso o vencimento enquanto decorre o julgamento e como, na precipitação de me ter refugiado junto de um automóvel, até fiz um rasgão no uniforme e é-me imposto adquirir outro, quando, por acaso, aquele ainda não se encontrava totalmente pago. Tudo isso quando o meu salário mal dá para suportar as despesas mensais que tenho de assumir.
Perante este panorama, estando as polícias numa fase em que mostram disposição para reivindicar maior atenção por parte do Estado no que se refere às condições que impõe aos servidores da polícia, volto a imaginar-me na posição de membro dessa corporação e interrogo-me se, mesmo lavando em atenção a deficiente situação da finanças públicas, não contribuiria com a minha presença na manifestação e na greve que estão anunciadas. E sou forçado a reconhecer que, perante o risco que se está a correr de, cada vez menos, apesar do drama do desemprego, haver jovens que se sujeitem às más condições que são proporcionadas aos que entram no corpo poliial, o que aumenta são os malfeitores, nacionais e vindos do estrangeiro, pois o mau funcionamento do aparelho judiciário, em todas as suas vertentes, alicia a que, entre perseguidores e perseguidos, se opte pela segunda posição. É mais rentável e menos perseguida.
É isto e aquilo que vou referindo no meu blogue diário que me leva a gritar como o fiz há dias, precisamente no que se pode ler no dia 14 deste mês: “deixem-me voltar para a ilha!...”

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A VIDA

A vida passa com baixos e altos
rindo p’ra uns, gozando com outros
sorrateira ou correndo aos saltos

Não é a mesma para toda a gente
muda de face em cada momento
torna difícil caminhar em frente

Mas como os mortais, tem seus preferidos
há os que escolhe p’ra bem servir
e os que mantém sempre desvalidos

É cínica e traiçoeira a magana
ataca muitas vezes pelas costas
à bruta ou com ares de filigrana

Mas eis que de repente se arrepende
e no meio de enorme confusão
a uma prece avulsa lá atende

E tudo muda como por feitiço
de um grande azar algo se compõe
e dá também aos males um sumiço

A vida deixa assim seu conteúdo
tem de se atravessar com paciência
já que o tempo é borracha p’ra tudo

OS ESPERTOS DA COMPANHIA


OS QUE SE INQUIETAM por querer sabe o que vai suceder às figuras públicas que, mesmo tendo-se portado de forma deficiente, criticável, dando mostras claras de incompetência, até alvos de acusações proferidas na via pública mesmo que os tribunais não os tenham julgado (e ainda assim), quando saem das funções que desempenhavam, perante essa pergunta a resposta a dar é aquela a que se assiste todos os dias: partem para outra e, na maioria dos casos, para melhor.
Temos aí o exemplo do Armando Vara, o que mantém uma imagem que circulou por tudo que é comunicação social, acarretando a acusação popular de várias actuações nada recomendáveis, como foi a relacionada com o caso Facebook, embora não tenha sido proferida qualquer sentença em Tribunal. Pois esta personagem, que desempenhou funções importantes e bem pagas, ainda que com surpresa de todos os que o viram ascender tão alto sem possuir um curriculum anterior que o justificasse, pois apenas as sua condições de filiado no PS e de relacionamento com Sócrates lhe terá proporcionado uma subida tão repentina, ao ponto de ter chegado a administrador e vice-presidente do BCP, acaba de tomar posse como presidente de uma cimenteira brasileira, estabelecida em África, a qual está detida em 32% pela Cimpor.
Ora adivinhem lá o motivo que terá levado os responsáveis da referida cimenteira a escolher a figura em causa para desempenhar as funções que lhe foram atribuídas. E quem souber que responda.
Este é que é o panorama da cumplicidade que rege este País, em que não é minimamente necessário comprovar competência, ter conhecimento da matéria que vai ocupar a sua actividade, ser um indivíduo que se sabe que goza de uma inteligência acima da média. Nada disso. Apenas é fundamental estar bem integrado no ambiente que rege a governação e dar garantias de que, caso seja necessário, pode contar com o apoio de correligionários que já tenham dado provas anteriores de que lhes convém não abandonar a ligação existente. Isso pelos mais variados motivos, entre eles o receio de que divulgue algum acontecimento de que terá sido testemunha e até participante e que é fundamental manter na obscuridade.
E é por estas e por outras que os portugueses mais atentos e interessados em acompanharem e estar informados sobre os mistérios que produzem certas anomalias nacionais, acabam por se conformar e, face à inutilidade em levantar questões, não levam por diante qualquer tipo de indignação que lhes machuque a cabeça. Os blogues são uma forma de desaguar a irritação, basta que haja quem os leia.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

DISTRAIDO

Aquele que não dá conta de si
que não se lembra das obrigações
que nunca sabe se vai por ali
que não se dá com organizações
que parece andar um pouco bebido
que não escuta o que lhe é dito
esse mesmo é então o distraído
o que dá ideia de se ter perdido

Mas não, ele até é um artista
bem no meio da sua confusão
pode, sim, por vezes perder a pista
e tocar nos assuntos de raspão
esquecer-se sim de um compromisso
confundir alguns dias da semana
não chegar a horas ao seu serviço
de manhã ficar mais tempo na cama

Não mostrando estar comprometido
com o cumprimento de quaisquer regras
afinal é bem ele o distraído
confundindo mulheres brancas com negras
julga que de manhã já é de tarde
e o relógio fica sempre em casa
não é coisa sua fazer alarde
do muito frio ou do calor que abrasa

Não sendo de felicitar pelos anos
nunca dando presentes de Natal
pois esquece datas até de manos
nem da sua presença dá sinal
não se consegue entender na cozinha
porque não segue à regra as receitas
pede sempre auxílio à vizinha
e na saúde não cuida das maleitas

Aí, confunde todos os remédios
os do almoço toma-os no jantares
o mesmo acontece a entrar nos prédios
confunde as portas, mistura os andares

O distraído é assim por doença
tem algo que não o deixe assentar?
Não é, por certo, por alguma crença
não é mal para se remediar
de uma forma geral bem formado
na vida dos outros não interfere
por isso está sempre do outro lado
e não dá mostras daquilo que quer

Podemos confiar-lhe um segredo
distraído como é logo esquece
assim não há que ter o menor medo
ter amigo assim até apetece
por mim perdoo tudo ao distraído
porque tudo que faz não é por mal
quando não o vejo fico perdido
quero tê-lo ao pé até final








CIGANOS ROMENOS


NÃO TEM DE SER somente o nosso País a ser focado pelos acontecimentos que despertam a atenção, no bom ou no mau sentido da sua apreciação. Considero que este assunto a que me vou referir merece ser comentado, face à situação pouco vulgar que representa, sobretudo na Europa dos nossos tempos.
Trata-se da atitude tomada pela governação francesa de expulsar do seu território umas centenas de ciganos romenos que, segundo dizem, por estarem indocumentados e, portanto, não cumprindo as regras de acolhimento que estão estabelecidas, se constituem habitantes não desejados naquele País.
Esta medida não pode ser analisada de ânimo leve e obriga a reflectir profundamente quanto ao seu significado: a primeira reacção que salta é a de que se está a discriminar uma parte de população, isso no espaço europeu onde as fronteiras se encontram abertas entre os participantes da União e não existindo lugar a exclusões, por raça, nacionalidade, prática religiosa, cor da pele. Numa palavra: xenofobia nunca.
Mas, analisando mais profundamente a questão, talvez outras razões nos deixem na dúvida no que respeita ao que deve ou não ser feito. E uma delas, sendo a principal ou talvez não, é que o drama do desemprego que alastra por toda a parte luta, em muitos casos pelo excesso de população, cria enorme dificuldade de colocar todos os naturais de cada País nas suas funções profissionais. Logo, a afluência de gente estrangeira, que se desloca para outros territórios também na ânsia de encontrar melhoria na maneira de viver, tem de representar uma concorrência que não pode agradar aos que nasceram e vivem no espaço “invadido”.
É certo que, no caso dos interesses portugueses, também nós, ao longo de muitos anos e ainda hoje, embora menos, percorremos o caminho que nos separa dessa França e lá nos instalámos com actividades que, como se sabe, não eram muito do agrado dos próprios franceses. Só que, nessa altura, não se verificava uma carência tão dramática de trabalho, ao ponto de o desemprego afligir, por toda a parte, os cidadãos naturais de cada país.
É importante, por isso, observar correctamente o caso dos ciganos romenos. Também por cá deparamos, a cada passo, nas nossas ruas, sobretudo mulheres, novas e mais velhas, geralmente com bebés ao colo, com ciganas romenas que se dedicam à actividade de pedir, muito embora oferecendo, como desculpa, produtos insignificantes para vender. É pouco compreensível que este tipo de população tenha atravessado a Europa para, num País pobre como o nosso, vir estabelecer a sua residência, nitidamente depois de terem percorrido outras nações que, por hipótese, não lhes deu abrigo para lá ficarem.
Mas o outro caso que ocorre também em França é a consequência da proibição, saída do Senado, do uso do véu integral por parte das mulheres islamitas em locais públicos. E as consequências dessa medida já se começam a notar, pelos avisos que soam em vários departamentos de segurança de que se estão a preparar acções terroristas, como resposta a um direito que cada País tem de estabelecer as suas regras e que escolhe mudar-se para esses destinos. A ameaça que obrigou em certa altura a encerrar a Torre Eiffel, por telefonema anónimo da existência de uma bomba, prova claramente que os atingidos não se conformam com as disposições tomadas pelo Poder de uma Nação que tem legitimidade para estabelecer regras de conduta no seu espaço.
A minha opinião, por certo discutível, é a de que, por muito infeliz que sejam as medidas que cada Terra estabelecer dentro das suas fronteiras, quem lá se dirige, por pouco ou por muito tempo, a obrigação que lhe cabe é a de aceitar, e fazer como diz o povo “em Roma ser romano…”. Se nos países muçulmanos se implantar uma disposição de que, quem atravessa as suas portas, tem de se vestir tal qual é uso nesses locais, a opção é não pôr lá os pés ou, indo, mulheres e homens usarem os trajes locais.
Com os romenos, sejam ciganos ou não – e não poderá ser por essa razão -, o que há que aceitar é a defesa proporcionada aos naturais franceses, no capítulo de não lhes serem criadas ainda maiores dificuldades na luta contra o desemprego. Não aceitaríamos que, em Portugal, as forças públicas tudo fizessem para que os 700 mil desocupados nacionais que existem obtivessem alguma protecção do mesmo tipo, por mais injusta que ela seja? Provavelmente não.
Agora, perseguir comunidades, minorias étnicas, se forem constituídas por cidadãos de origem do país onde residem, isso é que não é admissível.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

DITO POR NÃO DITO

Afirmar sem reflectir
prometer sem ter certeza
até mesmo garantir
e mostrar grande firmeza
De pé
Assim é
quando depois afinal
conclusão for diferente
mesmo não sendo por mal
com isso se engana a gente

Tudo tem algum remédio
sem causar grande moléstia
e não dando ares de tédio
basta puxar da modéstia
O perdão
Está à mão
com clareza perfeita
sem causar um conflito
basta usar a receita
dando o dito por não dito

Teimar no erro é que não
nisso só o convencido
à palmatória dar mão
é sinal de arrependido
Se errar
Deve calar
mundo seria melhor
se chefes qu’usam apito
aceitassem o valor
de dar dito por não dito

Mas tal com convicção
mostrando arrependimento
todos dariam perdão
a quem errou num momento
Mas tal
Raro afinal
o homem não baixa a tanto
e o que faz é manguito
pois é preciso ser santo
p’ra dar dito por não dito

NOVO AEROPORTO?


QUE OS BLOGUES NÃO SERVEM PARA GRANDE COISA já muita gente sabe. Mas nem por isso se deixa de os preencher, sobretudo os que, como eu, todos os dias expressam a sua opinião, a angústia que existe perante os factos que ocorrem à volta neste pobre País e que constituem autênticas desgraças humanas, pois que os seus autores são gente igual a nós, mas que gozam de uma diferença: é que obtêm rendimentos escandalosos com as suas incompetências e ainda com enorme pesporrência se riem na nossa cara.
Vou-me referir hoje ao aeroporto que tem dado tanto que falar, desde o do “jamais” e até à nova versão que pretende que a obra de valor desmedido seja construída a vários quilómetros da capital, deixando, como se tornou um hábito das governações que temos tido, o seu pagamento para tempos futuros.
Portugal goza do privilégio, na sua cidade principal, de possuir um ponto de chegada e saída de aviões colocada praticamente dentro de Lisboa, o que provoca, por um lado, um ruído incómodo dos motores das naves aéreas sobre as nossas cabeças mas, por outro, permite as chegadas e as partidas não se situarem a grane distância dos hotéis e das casas dos lisboetas. E como não se pode ter tudo, pelo menos aquela facilidade é característica do aeroporto da Portela.
Como agora surgiu a ideia e que o volume de tráfego, dentro de alguns anos, ocupará todo o espaço e tempo do referido local, começaram a aparecer os interessados, sabe-se lá porquê – ou talvez até se saiba – que se ocupam a clamar pela necessidade de se construir um novo aeródromo e, naturalmente, andou-se na busca do local que conviesse a uns tantos interessados e a que o Governo deu acolhimento, pois que estas coisas das majestosas obras atrai sempre uma infinidade de gente que se cola como lapas na esperança de que lhe calhe algum benefício. E nisso, o que foi o antes do actual ministro das Obras Públicas, com todo aquele ar sapiente que põem os políticos quando ocupam um lugar de relevo, logo tomou posição e deixou marca registada com aquele estúpido dito do “jamais”!
Ora, o que não foi nunca esclarecido perante os portugueses que são os contribuintes para as despesas que o Estado faz, foi se havia possibilidade de esgotar o espaço de que ainda se dispõe na zona onde se situa, na chamada Portela, por forma a atrasar o mais que fosse conseguido a construção de um novo equipamento que tenha condições para atender o movimento aéreo comercial que é fundamental numa cidade importante. E, como é sabido, esse tipo de obras é de um custo tão elevado que, quer nos períodos atrasados, quer hoje e sobretudo no amanhã que será constituído por anos em que não se sabe quando Portugal se encontrará em condições de suportar as mínimas despesas que excedam o essencial do dia-a-dia.
Não há forma de os homens que se têm sentado nas cadeiras do poder e não se sabe se nos tempos para a frente eles aparecerão, sejam capazes de se limitar aos gastos e até mesmo aos investimentos que não obriguem a aumentar ainda mais as dívidas que temos sobre as costas. E o futuro, até o mais próximo, vai mostrar com clareza que sempre nos comportámos como os jogadores viciados que, sem olhar às consequências, continuam a sentar-se à mesa de pano verde, na esperança de que lhe saiam as cartas que os tirem do descalabro em que se meteram.
Se não tiverem emenda, há que enfiá-los num retiro e não os deixar meter a mão em nada de responsabilidade, pois que quem paga os seus erros são sempre os outros, neste caso os cidadãos portugueses.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

ERRAR

Quem não fez ainda isso ?
Que erro não praticou ?
Só não fez esse serviço
Quem a vida não gozou

Há uns que mais, outros menos
Mas um homem sem pecado
Só p’ra fugir aos Infernos
É que escapou desse fado

Há que perder petulância
Evitar que se atropele
D’ errar é tal abundância

Que há que escrever na pele
O erro ganha importância
Quando se aprende com ele

DISPARATES



TODOS OS DIAS se têm conhecimento de notícias em que intervêm personalidades portuguesas que nos deixam completamente embasbacados perante a falta de habilidade que demonstram em não atingir um objectivo e a perder tempo com “passos de tango” em redor dos assuntos que interessa debater para se chegar a uma conclusão. Eu explico melhor:
O passeio que deu a Madrid o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, na companhia de um ajudante, para tentar conseguir que o treinador português ao serviço do Real Madrid obtivesse autorização desse clube para vir utilizar a sua eficiência no treino da selecção portuguesa no que respeita aos dois jogos que se vão realizar dentro de dias com dois países da Europa, essa viagem de Gilberto Madail resultou em pura perda, pois sendo absolutamente necessário estabelecer negociações com o presidente do Real Madrid, as conversas, num almoço, só ocorreram com quem não dispõe de poder para decidir, o treinado português – que, por sinal, já tinha mostrado, através de uma entrevista televisiva, o seu prazer em desempenhar essa tarefa – e o importante, que era estabelecer uma conversa amigável com o presidente do clube de futebol madrilense, tentando convencê-lo a anuir na dispensa parcial de José Mourinho para o efeito indicado, isso não foi feito, tendo regressado a Lisboa o responsável português com as mãos completamente a abanar… É que as notícias que foram transmitidas pelos responsáveis espanhóis é a de que NINGUÉM de Portugal tinha contactado com o Real Madrid para obter o acordo desse lado!
Será possível explicar a alguém, que se interesse por este caso, qual o motivo por que a ida a Madrid foi feita sem ficar concluído o propósito único que motivou a deslocação, se bem que, só por si, aquilo que foi decidido no seio da F.P.F., de enviar o seu Presidente à capital espanhola para conseguir um empréstimo do técnico para dar uma mãozinha na nossa selecção, para o caso dos tais dois jogos, se tratasse de uma espécie de desenrascanço lusitano, que nos faria a todos rir se não andássemos todos de lágrima no olho pelas desgraças que aqui acontecem? Existe alguém que nos explique?
Andamos todos, nós por cá – para não metermos sempre o Sócrates nos disparates que se praticam – a fazer o quê?
Haverá algum concurso, de que não tenhamos conhecimento, para encontrar o campeão dos disparates para lhe ser atribuído um prémio que, provavelmente, será até valioso?
Com a cabeça no seu lugar e o mínimo sentido de responsabilidade não é possível levar-se a sério o que ocorre em Portugal e as soluções que são encontradas para cada berbicacho. E, no que diz respeito aos futebóis, bem chegou o conflito criado com o caso Carlos Queiroz, que constituiu uma amostra da incapacidade que existe nesta nossa Terra em solucionar os problemas que surgem e que até somos nós os que criamos grande número deles.
Não é apenas na governação. È bem o que já afirmei neste blogue: Sócrates há muitos, embora seja aquele o que paga por todos! E já nos baste, até demais!

domingo, 19 de setembro de 2010

COMPREENDER

Entender o que se ouve
perceber o que se vê
tirar a prova dos nove
decifrar o que se lê

Parar para reflectir
a dúvida não agradar
é forma de conseguir
sentir sempre um bem-estar

Mas fingir que compreende
só p’ra mostrar simpatia
depois d’algo se arrepende

pois quando num outro dia
a’lguém repetir pretende
aí enfrenta arrelia


FARTAR VILANAGEM!...


POR MUITO MAL que nos encontremos neste nosso País e em que, em termos financeiros, sociais, judiciais e tantos outros a situação seja de completa desgovernação, o que continua a ocorrer à nossa volta é verdadeiramente desencorajante por não se ver quem seja capaz de tomar as medidas que, por muito tardias que elas já sejam, lá daria uma indicação de que alguma coisa se pretendia fazer para tentar travar a queda para o fundo do abismo que se depara à nossa frente.
O panorama é o de que nos encontramos entregues ao que vier e logo se verá, sem que, das forças que ainda existem, por mais deficientes que elas sejam, surja alguma voz que dê indícios de que as consciências estão a despertar e que se põe um ponto final nas “roubalhices” que se instalaram no ambiente em que temos de nos movimentar.
Refiro-me agora, podendo apontar outros caos que não faltam nesta Terra lusitana, aos chamados gestores e também aos funcionários que, de uma maneira ou de outra, cobram os seus salários dos fundos do Estado. A notícia tornada pública de que a PT pagou 1,8 milhões de euros a dois administradores que abandonaram os cargos, após terem sido implicados no caso PT/TVI, sendo que um deles, Rui Pedro Soares, que foi nomeado administrador executivo daquela empresa em 2005, onde auferiu cerca de 5 milhões de euros em salários e prémios, continuando actualmente com vínculo labora à PT, embora sem pelouros atribuídos. Do outro, Soares Carneiro, não apurei quais foram os seus rendimentos enquanto desempenhou funções de administrador na referida empresa telefónica.
Mas, nas poucas notícias que saem a lume sobre escândalos deste tipo, também as autarquias são, volta não volta referidas, se bem que o distanciamento do poder central faça com que se escondam muitas situações que os portugueses deveriam conhecer. O que já foi publicado nas páginas dos jornais é que um ex-vereador da Câmara Municipal de Lisboa e mais quatro administradores da PT foram condenados em Tribunal pelo crime de peculato, tendo sido as penas suspensas em virtude da “idade, integração familiar e social” dos arguidos. As penas andaram entre os dois e os três anos de prisão e os motivos das condenações justificaram-se por os acusados terem atribuído a si próprios prémios pela sua eficiência em terem desempenhado os cargos que exerciam.
A pergunta que haverá que fazer é a de quantos casos semelhantes não terão ocorrido em Portugal ao longo de todo o exercício de Governos que não deram mostras nunca de cuidar da defesa dos dinheiros públicos, sejam directamente dos cofres do Estado ou por vias indirectas que, ao fim e ao cabo, representam sempre o mesmo: o meter a mão na massa que os contribuintes, com tanta dificuldade a maioria, têm de entregar aos Poderes da governabilidade.
E volto a insurgir-me por nunca se ter verificado uma acção fiscalizadora que, ao longo dos 36 anos de Democracia, desse mostras de que o rigor e a honorabilidade dos cidadãos, sobretudo aqueles que ocupam lugares privilegiados, consistia e consiste num princípio respeitado a todo o momento.
A semana que decorreu foi considerada como de “pânico” no Governo, pois os avisos que nos foram feitos pela Alemanha, pela voz da sua Presidente Ângela Merkel, de que as dificuldades que se põem agora à nossa necessidade de empréstimos serão ainda maiores nos tempos que temos pela frente, fizeram soar um alarme que, ao contrário do que seria de esperar de gente com bom senso, ainda se encontrava guardado para outra altura mais tarde…
Sócrates, perante esta chamada de atenção, entendeu dever chamar os ministros um a um, até para preparar o documento final do Orçamento do Estado para o período que aí vem e, que se saiba, a ministra da Saúde foi a mais ouvida, até porque a dívida do Estado à indústria farmacêutica atingiu os mil milhões de euros, saindo da boca de Ana Jorge o desabafo de que “não há dinheiro para nada, nem vai haver”.
Ora aí está o que o primeiro-ministro deveria ter declarado aos portugueses há muito tempo, em vez de usar de “paninhos quentes” cada vez que resolve, numa das muitas inaugurações em que geralmente o seu significado é ridículo, botar em boca própria os elogios à sua actuação.
Enquanto isso e enquanto grande parte se mantiver nesta doentia carreira, há aqueles que se aproveitam das circunstâncias favoráveis que lhes são proporcionadas e metem ao bolso dinheiros que tanta falta fazem para nos podermos ir aguentando, mal e porcamente, neste barco cheio de rombos.

sábado, 18 de setembro de 2010

TROCA TINTAS

O que andamos nesta vida
se não a trocar lugares
numa constante mexida
com ar de não ter vagares?
Há que trocar de roupa
já velho trocar de carro
observar o que poupa
mudar na boca o cigarro

pois miúdos muito enganam
não há que perder a mão
já que disso alguns se ufanam
havendo pessoas distintas
se há muita gente séria
atenções aos troca-tintas
que até nos levam a féria

De onde vem essa expressão
de haver quem as tintas troque
será que algum aldrabão
se enganou no retoque?
Se assim foi então de início
era aquela a pintura
a fazer no edifício
mas no fim fez má figura

Assim ou de outra maneira
trocas e baldrocas são
quem provoca a canseira
espalhando a confusão
no de vida direitinha
obrigando a fazer fintas

aquele que não alinha
nos truques dos troca-tintas

DEPOIS ALGUÉM PAGA!


CADA HORA QUE passa, Portugal aumenta a sua dívida em 2 milhões e meio de euros. Esta a notícia confrangedora que já nem pode ser rebatida.
A despesa pública não pára também de crescer e os juros que nos cabe suportar estão em subida vertiginosa, ao ponto de atingirmos já os 4% que nos são exigidos pelos credores estrangeiros, aqueles que ainda nos concedem alguma margem para irmos contraindo empréstimos. Só que se está a acabar!
E as gerações que estão aí a chegar – para não referir as que já se encontram entre nós, constituída por uma juventude que também não encontra emprego e que não vê forma de considerar Portugal como sendo o País onde devem ficar para construir o seu futuro -, essa camada de portugueses de um futuro próximo bem se pode preparar para ir buscar onde não há dinheiro para satisfazer as dívidas contraídas pelos governantes portugueses de hoje. Não é difícil imaginar o que a História contará dos Sócrates desta era – porque eles são vários – e o que se ensinará nas escolas quando for referido este período actual, como exemplo de uma actuação que condenou Portugal a uma vivência de completa penúria.
Foi dito claramente, na reabertura dos trabalhos pós-férias da Assembleia da República, que o nosso endividamento público neste momento já é de 147 mil milhões de euros e que não existem indícios de fique por aqui, não surgindo de nenhuma bancada qualquer solução para esta enfermidade económica que se tem vindo a acumular sucessivamente. E a questão que ninguém entende é como um Governo, que mantém um ar de confiança e se vangloria constantemente com os seus feitos, não é capaz de meter mão nas despesas, eliminando tudo que possa ser considerado como supérfluo e preste contas aos portugueses de cada um desses passos que, embora tardios, ainda algum efeito produziriam.
Eu não posso acreditar que o desleixo em que se tem vivido no que diz respeito a uma medida que qualquer dona de casa tomaria se o País fosse a sua casa, tal actuação seja propositada. Enterrar cada vez mais Portugal para que os sucessores não encontrem maneira de solucionar o problema que vão encontrar é atitude que não cabe na cabeça de ninguém. Não é crível que a maldade chegue a tanto!
Agora, a verdade é que andamos há um largo período a clamar pelo bom senso dos governantes que ainda temos (e também das oposições, essa é a verdade) no sentido de serem tomadas as medidas drásticas que reduzam substancialmente o que se gasta a mais neste País. E essas medidas teriam e terão de ser de grande dureza, começando pelo próprio organismo estatal e aos mais altos cargos, pelo menos para representar um exemplo que a população aceitaria como estímulo para os apertos que lhe vão ser ainda exigidos, posto que não é possível manter este ar de fartura que não se perde, pelo menos desde que a situação política nacional se abraçou a uma Europa comunitária, que essa também não contribuiu para criar um ambiente de racionalidade contra a crise que avançava a passos largos.
No que me diz respeito não é uma questão de ser pessimista ou o contrário. É que, depois de ter passado por uma vida de luta, em que o regime anterior não constituiu uma travessia fácil no campo profissional de jornalista, ao deparar com o que se seguiu e em que as esperanças eram as mais naturais, com a oferta da Democracia, e ao não conseguir repousar com os efeitos que poderiam ter sido transmitidos vindos de fora, não pode ser maior a desilusão e a falta de confiança nos homens, quer os de cá quer os de fora, foi crescendo, ao ponto de não ser encontrada forma de ver já Portugal a atingir um ponto alto na História que se perfila no horizonte.
E é isto que não escondo neste meu blogue. E o refugiar-me na poesia é uma maneira de fugir da realidade que tanto me magoa. Haverá quem me acompanhe neste sofrimento. Sempre são alguns que me dão nota de que sempre existem leitores.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

OS DIAS VÃO PASSANDO

Andar por cá a arrastar-se
e a idade não ajuda
vá lá a gente fiar-se
que nada nos desiluda
e os dias vão passando
e mais um aniversário
sem saber como e quando
acaba este calvário

O sofrer com a doença
ninguém quer mas tal sucede
lá se vai mantendo a crença
não vir o que não se pede
mas ninguém foge à sina
de dar com o inesperado
é situação que amofina
mesmo que ocorra ao lado

Vai passando cada dia
na ânsia de ser melhor
que o a seguir tenha magia
que não cause tanto ardor
pois bem basta o tormento
da vida que cá se leva
é de facto um lamento
esta tão continua treva

Os dias que vão passando
dão azo ao dia seguinte
não é por irmos chorando
por dar ares de pedinte
que melhore situação
pois há que lutar com força
que dê p’lo menos p’ro pão
evitar que algo torça

O que custa é ver os ricos
levar vida flauteada
nada falta aos mafarricos
bem lhes chega a mesada
mas cada um tem o seu
não há porque invejar
e quem quer ganhar o Céu
o que lhe resta é rezar

Os dias que vão passando
leva-os a pagar cá
pecados de quando em quando
toda a atitude má
porque depois de passarem
o final é sempre igual
não é por muito agarrarem
que não dão passo mortal





QUEM MUITO FALA....


MUITO GOSTA certa gente do nosso País de largar “bocas” publicamente, criando situações de conflito quando, devido até às posições que ocupam esses faladores, o recomendado seria que se mantivessem em silêncio, por muita razão que lhes assista o que provoca o levantarem a voz.
São muitas as situações que se passam no nosso País, sabido como é que não é das nossas características o fingirmos que não fomos atingidos por alguma ocorrência menos agradável. E, seja qual for a posição que ocupe o protagonista desses acontecimentos, a política sobretudo é a que está mais em causa e os ataques mútuos não dão descanso aos cidadãos que lá vão acompanhando os conflitos que têm lugar.
Sabendo-se que os que governam gozam de uma posição privilegiada e as oposições anseiam por derrubar os mais votados e ocupar os lugares dos outros, esses amuos, ainda que atingindo por vezes acusações graves de um lado e do outro, até se compreendem e não terão que ser levados muito a sério. Na altura das eleições é que é chegada a altura de escolher e não antes.
Mas que, na área desportiva, especialmente no caso dos futebóis, os responsáveis por clubes de nomeada se ponham na praça pública a lançar reptos, a ofender até os adversários, a provocar que os seus sócios organizem grupos de força para atacar os membros com que se irão defrontar, provocado verdadeiras manifestações de mau comportamento cívico, essa atitude não pode ser admitida e deveriam ser os próprios responsáveis principais pelas direcções respectivas a criar um ambiente que eliminasse as fúrias que é relativamente fácil criar nos adeptos de cada formação.
Sabendo, no entanto, o nível da maioria dos presidentes desses tais clubes de futebol, logo se conclui que a boa educação e as regras de comportamento que deveriam existir nessa área se encontram distantes de serem praticadas. Não vou indicar nomes, mas nem é necessário. É público e notório que, mesmo entre agrupamentos que se situam em cidades distintas, se alimentam rivalidades que ultrapassam o calor normal pelo clube que cada um segue. Só que não existe motivo nenhum para que, de um lado e de outro, não se verifiquem palavras de simpatia, mesmo que fingida, capazes de criar um clima em que apenas a rivalidade desportiva esteja em causa, sabendo-se que, cada vez que se realiza um jogo, o resultado que vier a ser apurado, com justiça ou sem ela, com sorte por um lado e menos fortuna do outro, é aquele que conta e não as acusações posteriores que são tanto do gosto especialmente dos que saem perdedores.
O que acabou de ocorrer com o caso Carlos Queiroz, dando mostras de excesso de mau comportamento de todos, desde o seleccionador que não se soube conter perante a inspecção média da droga, e antes com o seu atirar do casaco para o chão do campo, o que foi um gesto a todos os títulos criticável, e até à despropositada intervenção do secretário de Estado do Desporto, tudo isso constituiu a demonstração de que o sector do futebol sofre de excesso de palavreado e que seria bem melhor que se dedicassem mais a criar um conjunto representativo de Portugal mais preparado do que a gastarem energias a atacarem-se uns aos outros.
Afinal, como especialistas no desenrascanço que é a característica portuguesa, o passo que está a dar-se nesta altura é a de incluir José Mourinho para, desde Espanha e sem perder a sua actividade no Real Madrid, se desdobrar com a responsabilidade sobre a selecção portuguesa. E, para grandes males grandes remédios, ainda que, à hora a que escrevo, o clube espanhol esteja a declarar que não tem qualquer conhecimento formal no que respeita à possibilidade do treinador do seu clube vir a desempenhar funções cumulativas com o grupo português de futebol.
É assim. Quem, como acontece connosco, passa a vida a nadar atabalhoadamente para a praia à procura de salvamento, sempre mantém a esperança de que os problemas se hão-de resolver. Muito se fala, pouco se acerta!...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O MEDO

É coisa muito vulgar
mesmo estando escondido
por vezes o só gritar
logo surge num gemido
Medo temos
Escondemos
p’ra não dar parte de fraco
não é preciso tremer
basta suor no sovaco
para ninguém perceber

O medo é coisa séria
limita ao homem a acção
pode provocar miséria
dá que fazer ao chorão
Em segredo
Vive o medo
coragem é coisa rara
a tem o inconsciente
e muitas vezes sai cara
rouba a vida a muita gente

Por isso o medo defende
de passos mal pensados
até permite qu’emende
certos erros praticados
Medo é vergonha
Ajuda alguma ronha
p’rós outros bem enganar
dando mostras de valente
só serve para se gabar
qu’é melhor que toda a gente

POBRE CONSTITUIÇÃO


SE FOR BEM ANALISADA, a Constituição da República Portuguesa necessitará com frequência alargada de uns toques de melhoria que será consequência da evolução da vida e da experiência que se vai tendo com os acontecimentos que nos apanham nesta caminhada que também é fruto das modernizações do mundo e do surgimento de problemas que antes não se notavam. A questão, porém, é ter a consciência de que tais mexidas devem ser efectuadas em prazos curtos ou se a prudência aconselha a que se escolham as ocasiões apropriadas e menos perigosas de brigar com circunstâncias adversas que não apresentam disponibilidade temporal para o efeito.
Neste momento, em que o PSD faz finca-pé em mexer no texto constitucional, alegando que esse acto será a “saída para a crise”, a dúvida que se pode pôr é se, atravessando-se um período menos propício politicamente falando, tal proposta se pode considerar inadiável.
É certo que o desemprego que grassa no nosso País e que não pára de aumentar, ao ponto de os nossos 10% de desocupados já constituir um quarto lugar na lista europeia, nos impõe tomar medidas sérias e céleres para parar tão grave situação. Mas, existem meios que, bem aplicados, podem influir na travagem da avalancha de desempregados e, por muito que constituam descontentamentos por parte do empresariado e/ou junto do sector sindicalista, bem como provoquem reacções partidárias que não se situem na linha dos promotores das tais medidas, a mudança constitucional que, no seu artigo 53º, se refere aos despedimentos, obriga a que se recorra a absoluta clareza, não dando ocasião a interpretações enviesadas, como essa da substituição da “justa causa” por uma expressão com total vazio de conteúdo.
Alteração do artigo 53º do documento fulcral pode ser essencial para impor regras claras nas suspensões dos trabalhadores, o que é forçoso, no entanto, é que essa acção ocorra em momento próprio e adequado às circunstâncias políticas que se vivem. E, neste momento, com as eleições presidenciais já à vista, manda o bom senso que se aguarde pela tomada de posse do novo Supremo Magistrado da Nação para, depois disso, se darem os passos necessários que incluem a votação na Assembleia da República com os dois terços de sins.
Seja como for, a iniciativa não enfrenta um consenso fácil. No caso do sector do Trabalho, pode permitir que os empresários sem escrúpulos se refugiem na facilidade de despedimento para se libertarem de funcionários que, independentemente da sua capacidade profissional, não sejam do seu agrado; ao mesmo tempo que as forças sindicalistas e os partidos político adversários também contrapõem posições distintas.
Perante as dificuldades que se conhecem em fazer convergir pontos de vista que conduzam a uma aprovação parlamentar, o que não pode deixar de existir é um texto claro e, no caso presente, sem complexos políticos na escrita. Neste caso do desemprego, o que se espera é que, logo a seguir à entrada em funções do PR seguinte, seja apresentada mudança do artigo, mas com uma linguagem que não mantenha a dispersão de opiniões.
Nos que diz respeito às outras alterações também sugeridas pelo PSD, no capítulo da Saúde, da Educação, da Justiça e do período do mandato do Presidente, bem como aos Média, estes temas merecem também uma reflexão. A seu tempo falarei deles, caso valha a pena parar para reflectir sobre situações que, sendo tão correntes nesta nossa Terra atormentada, o que merecem toda essa gente que anda por aí a pavonear-se é o desprezo completo e a ignorância sobre a sua existência.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

SALVE-SE QUEM PUDER!

Nem toda a gente pode
cada um sabe de si
às vezes há quem acode
dando razão a quem ri
Salvam-se uns
E outros não
a sorte não chega a todos
para os que a têm pouca
outros têm-na a rodos
e levam uma vida louca

Quando o barco vai ao mundo
todos aos mesmo escaler
e sem perder um segundo
é o salve-se quem puder
Socorro!
Se não morro
é grito de aflição
por esse mundo não falta
quem em grande agitação
se ponha a alertar a malta

Só os que podem se livram
as circunstâncias ajudam
serão os que se esquivam
e na sorte se escudam
Se puder
Haja o que houver
não serei eu apanhado
na derrocada fatal
terei o maior cuidado
p’ra evitar pior mal

Até mesmo p’ra viver
que se salve quem puder

PORTUGUESES INSTRUIDOS?


A INSTRUÇÃO ESCOLAR neste nosso País nunca foi a que competia a uma Nação que aspirava naturalmente em ombrear com as que lhe são parceiras no Continente a que pertence. Hoje, o que se depara é com uma geração de jovens com tão baixo nível intelectual que o resultado é aquele que se observa, com tristeza, em certos concursos televisivos e em que a cultural geral dos mesmos aparece com um nível tão baixo que as respostas que saem a perguntas correntes é, deveras, confrangedor. Mesmo os cidadãos, na casa dos trinta e quarenta anos, esses também não prezam pelo conhecimento do que pode ser considerado como matéria de “lana caprina”.
Tudo isso porque a chamada velha instrução primária (agora com outro nome), em que a obrigação de estudar funcionava e os ditados, as redacções e as contas eram matéria obrigatória que levavam ao “chumbo” dos que mandriavam, toda essa aprendizagem era levada a sério e os exames obrigatórios na chamada quarta classe e na admissão aos liceus eram levados a sério, sendo necessário estar preparados os alunos, pois que, de outra maneira, a repetição era o que estava reservada aos cábulas.
Esse espírito mantinha-se no caminho seguinte e até nos cursos superiores havia que provar que as aulas não serviam apenas para ocupar tempo. Ora, sendo este o panorama que existia num regime onde o salazarismo não apreciava muito que o povo fosse demasiado culto, porque o princípio era o de que a ignorância facilita mais a política da repressão, era de esperar que a Revolução, tida como de propósito democrático, trouxesse aos Governos que se têm sucedido as condições para a instrução escolar dos vários níveis subisse de qualidade e abrangesse o maior número possível de cidadãos de todas as idades e classe sociais.
É verdade que o número de escolas aumentou e que abriram várias faculdades privadas, assim como as dificuldades que existiam antes para os trabalhadores-estudantes diminuíram alguma coisa (e eu bem sofri na minha altura pelas manobras que eram necessárias para sustentar as duas posições), mas a realidade a que se assiste hoje é que toda essa mudança não passou de um “fogo fátuo”. É que actualmente até se está a verificar, por esse País fora, um devastador encerramento de escolas primárias (porque o Estado não tem dinheiro para suportar essas despesas), sobretudo em vilas e aldeias no interior, assim como também estão a abrir falência as faculdades privadas que, até agora e numa habilidade de nenhuma utilidade para quem procura saber, têm dado licenciaturas e doutoramentos em cursos que estão ainda por definir para que servem.
Não bastando a inquietação que grassa pelo nosso Portugal no que diz respeito aos variados problemas que atormentam os cidadãos, é o nível de saber dos portugueses que não melhorou o que tem de ser considerado como nível mínimo para ombrearmos com os parceiros europeus. Também se sabe que, este ano lectivo, foram menos 50 mil alunos que se matricularam no 1.º ciclo do Ensino Básico, o que também é consequência da descida de natalidade que tem ocorrido no nosso País.
Podem os optimistas de serviço cantarem as loas que quiserem aos benefícios que auferimos com as governações que nos têm cabido. Mas a verdade é bem diferente. Não é só o nível de vida que se distancia cada dia que passa da média europeia. É igualmente a barreira do saber que se mostra sucessivamente mais alta para uma população a que não lhe basta consumir em profusão os telemóveis e os computadores Magalhães. É preciso mais e, como tenho largamente difundido a minha opinião no capítulo da preparação da classe infantil, é aí que deveria ter sido introduzida há bastante tempo a aula prática de Democracia, pois são necessárias várias gerações para que esse espírito passe a fazer parte dos hábitos dos cidadãos e é sabido que, em particular no caso dos portugueses, existe uma grande dificuldade em saber ouvir os outros e aceitar o que cada um pensa. Isso não passa sem se começar de pequenino.
Mas os nossos governantes entendem que não e consideram mais importante encher-lhes os olhos com o Magalhães e com a língua inglesa. Eles lá sabem… mas pouco.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

QUERO VOLTAR PARA A ILHA!...


AQUELA ILHA deserta que faz parte de uma cena num programa televisivo, em que o náufrago que lá permaneceu longo tempo, longe de Portugal, é salvo por um barco português de passageiros que passou na altura e teve a alegria de se encontrar de novo entre compatriotas, beijando até a bandeira nacional, pois é precisamente essa ocorrência que me sugere escrever agora este texto. Quem já teve oportunidade de assistir a este cómico episódio sabe que, em face das más notícias que os passageiros que o acolheram lhe vão dando em relação ao que ocorre no Portugal tão desejado pelo náufrago, ocasiona a que, por diversas ocasiões, o desconsolado compatriota se agarre à amurada do barco, tentando atirar-se e grite: “quero voltar para a ilha!”
Estando dispostos a percorrer todos os episódios que, sucessivamente, têm lugar no nosso País – e, para isso, basta estar atento, todos os dias, ao que se passa dentro das nossas fronteiras -, a quantidade e as características dos acontecimentos levam-nos a que, conscientemente, também tenhamos a tentação de saltar do navio e desejar instalarmo-nos numa ilha que, embora isolada, não nos provoque tanta aflição e descontentamento como os que somos forçados a suportar com os pés assentes na dita terra civilizada.
Eu bem desejaria não ter de enfileirar neste texto uma série de tristes espectáculos que vão passando, mantendo-se algumas imagens na nossa cabeça e sendo substituídas por outras que se sobrepõem por mais recentes. Mas basta dar uma vista de olhos nas últimas notícias divulgadas para logo ficarmos com grande desejo de sairmos desta baralhada que se agrava de dia para dia.
Bem, já nem vale a pena referir a situação do julgamento do caso Casa Pia, em que a Justiça se comportou de tal maneira que só serviu para aumentar a desconfiança pública em relação a um sector que tem obrigação de funcionar impecavelmente e que, sendo só ontem entregue o acórdão que é essencial para os acusados que sofreram as penas e os seus advogados possam usar os meios para defesa, veio permitir que outra cena, não menos desprestigiante, a utilizada pelo acusado Carlos Cruz, tivesse podido ser utilizada com um exagero criticável. E devo esclarecer, no entanto, que não foi a aplicação de penas aos considerados pedófilos que tira valor à nossa Justiça, mas sim pelo tempo que levou a encontrar-se um desfecho, o que não é admissível nos tempos modernos e coisa que não sucedia antes, quando os computadores nem sequer existiam.
Mas muito mais há a acrescentar ao rol de disparates que não fazem criar o apetite de ficar por cá. Como, por exemplo, a incapacidade mostrada pelos governantes no que diz respeito à diminuição drástica do vergonhoso número de desempregados, os quais atingiram, nesta altura, um número assustador, ocupando-se os políticos que temos por cá em envolverem-se em confrontos em vez de deitarem mãos ao que pode contribuir na criação de mais produtividade, através de incentivos que devem substituir as burocracias que constituem outra doença nacional. Essa mancha horrenda de gente sem trabalho não constitui um apetite de viver em Portugal, muito embora o total de desocupados por esse mundo fora atingiu já o número astronómico de 210 milhões de indivíduos. Mas não é essa praga que ocorre também noutros países, que nos pode gozar de um certo optimismo, pois temos de perder o hábito de nos congratularmos por estar melhor do que alguns deles, em vez de procurarmos seguir os bons exemplos e tentarmos aprender alguma coisa com os bons resultados que ocorrem também lá fora.
O custo da dívida pública dispara todos os dias e o que nos espera ainda, muito em breve, com o pagamento das dívidas e até os seus elevados juros que nos exigem os credores, tudo isso leva-nos ao impulso de querer fugir ou de, no mínimo, enviar os nossos descendentes para outras paragens.
Temos de encontrar uma ilha que possa acolher aqueles que estão condenados a tentar sobreviver nesta Rectângulo, dado que nós próprios não temos possibilidade de saltar do barco a afundar-se em que navegamos.
Se assim fosse, com excepção daqueles que, entre nós, gozam de boa vida e de desafogo graças às remunerações que conseguem através de ordenados imorais e de reformas duplicadas e triplicadas, haveria bicha de cidadãos portugueses, nalgum local, para se atirarem ao mar, na busca da tal ilha do náufrago. Só um pequeno aparte: o que seria necessário era encontrar uma forma de saber o que se faria ao milhão e 700 mil telemóveis que foram adquiridos no semestre que atravessamos e isso só no nosso País.
Há mistérios que o ser humano proporciona e que não existe maneira de encontrar resposta. Iríamos todos para a ilha e lá usaríamos o aparelho das conversas, as que os portugueses não dispensam no seu dia-a-dia, seja no meio do trabalho ou nas compras do supermercado.