quinta-feira, 23 de outubro de 2008

IMIGRAÇÃO BRASILEIRA

Talvez a juventude de hoje não tenha ainda tido tempo de tomar conhecimento dessa grande realidade, pois deparamos a cada passo com a ignorância de factos bem divulgados que nós, os mais velhos, muito estranhamos que não tenham chegado ao conhecimento da rapaziada. Refiro-me à época em que avalanchas de portugueses marcharam para o Brasil, País onde recomeçaram a sua vida e se instalaram como emigrantes com a família, que já levaram de cá ou a formaram com casamentos feitos lá mesmo. Ali, uma grande maioria construiu um futuro bem assente em dinheiro ganho à custa de muito trabalho e singrou, adaptando-se ao sotaque brasileiro e integrando-se na sociedade local, se bem que, até há pouco tempo, os Maneis e os Tónios tivessem que enfrentar uma certa risota anedótica dos brasucas mais desenvoltos.
Mas, se bem que essa transferência de população lusitana para o outro lado do Atlântico com a mesma língua tivesse começado a reduzir-se progressivamente, quando ocorreu entre nós o 25 de Abril, uma diferente camada de portugueses, gente oriunda do empresariado e também doutores e engenheiros que procuravam refúgio da confusão que por cá gerava um ambiente pouco satisfatório, essa elite foi em busca de conforto e trabalho nessas paragens. E, tendo sido bem recebidos na sua maioria, também conseguiram fortalecer as suas vidas, ao ponto de ali ainda estar a residir uma boa porção de tais transferidos.
Isso provocou, de certa maneira, que a maneira gozosa de os nossos irmãos de língua encararem os Maneis, se tivesse alterado, ao ponto de, nesta fase, um português que desembarca no Rio de Janeiro começar logo a ser tratado por “doutorre”, sinal bem claro de que já não somos considerados como os incultos que só ali chegávamos para ganhar dinheiro, fosse qual fosse o trabalho a que nos dedicássemos, embora uma grande parte enfileirasse nas funções de padeiro.
Falo nisto porquê? Porque o actual cônsul-geral do Brasil em Portugal concedeu uma entrevista em que afirma que, segundo os números oficiais em seu poder, vivem no nosso País 130 mil brasileiros e que todos os imigrantes da sua Terra que chegam até nós, devido às nossas novas leis da imigração obtêm com facilidade autorização de residência permanente.
Ora ainda bem. Tínhamos essa dívida de gratidão para com aqueles que nos acolheram bastantes anos atrás. E, dado que o seu comportamento junto da nossa sociedade é considerado como afável e correcto – com excepção de poucos casos que não se podem tomar a parte pelo todo -, por mim faço o juízo de que sempre é melhor recebermos quem não tenha dificuldades em adaptar-se à nossa língua comum, mesmo com alguns expressões diferentes, do que recebermos, por exemplo, romenos que, na sua esmagadora maioria é constituída por pedintes que atravessaram toda a Europa para aqui se instalarem e não serem produtivos.
Mas fronteiras abertas têm as suas vantagens e muitos inconvenientes. E não se pode querer que chova no nabal e faça sol na eira… ao mesmo tempo.

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