terça-feira, 28 de outubro de 2008

ENTREVISTA DE SÓCRATES



Apesar de tudo, na sua entrevista ao “D.N.” encontrei José Sócrates mais moderado do que é seu costume quando resolve fazer declarações públicas a propósito de tudo e de nada, mas em que entende dever comentar o estado da Nação, mostrando invariavelmente um bom serviço executado por si e nunca encontrando motivos para dar razão às opiniões que os outros também têm o direito de expressar.
É certo que as oposições existem para isso mesmo: para se oporem aos governos que estão naquela altura no poder. Por isso, não se pode, ou melhor, não se deve, levar a mal que as opiniões políticas, sociais e económicas não coincidam com aquilo que o Poder executa. Mas tudo deve ser exercido com boa educação, porque para dizer não, ninguém obriga a que se chame estúpido ao outro que, naturalmente, mostra um pensamento oposto.
É por isso que digo, ou seja escrevo, que encontrei nesta entrevista uma moderação e um tom (bem sei que não se ouviu a sua voz) que me deu ideia de uma certa retracção nas afirmações. Claro que o optimismo que lhe está sempre pregado às palavras, pode até ser elogiado, se o entendermos como uma pretensão de não criar desfalecimentos na população portuguesa, mas há verdades que estão tão à vista que não é por um primeiro-ministro se esforçar por contrariar que o povo dá crédito a tamanhas impossibilidades. E não é por Sócrates afirmar que a crise, que anda por todo o lado, não chega cá com a mesma intensidade, não é por essas histórias da carochinha que nos salvamos da calamidade que já sentimos bem no pelo e que ninguém está em condições de afirmar que não vai piorar ainda mais.
Temos de não perder de vista que as próximas eleições legislativas estão quase a chegar e que, até por isso, os membros do Governo, todos, vão mostrar uma maleabilidade e uma simpatia que, noutras ocasiões, nem lhes passa pela cabeça preocuparem-se com tal mostra de serem gente boa. Os “jamais” e os outros parecidos – refiro-me aos que têm sido maus profissionais da política, sem indicar nomes -, esses talvez comecem a sentir o lugar a arder, isso se o Sócrates tiver o bom senso de, mesmo à última hora, lhes encontrar um lugar bem situado fora dos ministérios, substituindo-os por outros parceiros menos “queimados” e com algum alento para pegar no trabalho que esteja a precisar de emendas. Esta situação faz com que encontremos certas mudanças nas palavras que saiam cá para fora e que sejam da autoria dos mais desastrados membros do governo. Não estou a dizer mal, o que faço é apenas, de passagem, referir que houve já necessidade de efectuar lavagens no governo e, tal como nos desafios de futebol, os treinadores têm obrigação de estar atentos e substituir os jogadores que, por cansaço, por má escolha ou seja lá pelo que for, não deveriam nunca ter alinhado na equipa.
Pronto. Também tenho o direito de ser um treinador de bancada. Pelo menos, o que pago de bilhete para assistir a este jogo, permite-me aplaudir ou assobiar, conforme o comportamento dos que estão em campo. Apesar de tudo, na sua entrevista ao “D.N.” encontrei José Sócrates mais moderado do que é seu costume quando resolve fazer declarações públicas a propósito de tudo e de nada, mas em que entende dever comentar o estado da Nação, mostrando invariavelmente um bom serviço executado por si e nunca encontrando motivos para dar razão às opiniões que os outros também têm o direito de expressar...

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