sábado, 18 de outubro de 2008

PROSA DA POESIA

Isto de escrever versos
é uma necessidade
e tem a ver com a profissão
do poeta.
Eu, por exemplo, que fui jornalista,
não consigo deixar de espiolhar
o mundo,
o que me rodeia,
como o que penso que será o amanhã,
por isso comento,
opino,
deito para fora o que me preocupa.
Ao mesmo tempo
o meu passado conta,
a experiência vivida tem peso,
os desenganos sofridos interferem
no que se escreve,
as bem-aventuranças sentidas
também.
No café onde escrevo
com montras para a rua
observo a gente que passa
e não posso deixar de pôr
a imaginação
a fazer o seu trabalho,
ao procurar descobrir dramas,
problemas, alegrias
de alguns daqueles transeuntes
que mais despertam a atenção.
Nesta rua de Campo de Ourique,
a que vai dar ao cemitério,
vejo da minha mesa a loja do Euro,
a que vende tudo por uma moeda,
e como é só uma,
é barato:
mas, afinal, são duzentos escudos,
dos antigos,
do tempo em que, com este dinheiro,
se ia à praça, comprar o almoço todo.
Como são ingénuas as pessoas!
Têm má memória
ou esquecem-se de propósito.
Mas eu, também
neste café,
pago cento e cinquenta escudos,
quando antes, no meu tempo de repórter,
não gastava mais do que
sete e cinquenta!
Aqui deixo a minha poesia,
em prosa,
servirá para alguma coisa
ou não vai servir para nada.
Não sei, mas gostaria de saber
se os que lerem este texto poético,
sei lá quando,
mesmo que não apreciem
o estilo e a forma,
prefiram poesia com rima
ou sem ela.
As modas evoluem,
nem sempre para melhor.
E há que acompanhar essa roda
que é o que acontece
neste livro de poesia.
Mas que foi com boa-vontade
que foram saindo todos os textos,
lá isso foi,
boa-vontade,
esforço,
dedicação,
mas muita dúvida.
Os que me vêem,
todos os dias,
aqui neste café,
agarrado aos papeis,
a escrever,
não sabem para quê.
Nem eu!...


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