domingo, 26 de abril de 2009

O DISCURSO


O Presidente da República foi prudente. Sabia, seguramente, que as palavras que ia pronunciar no Parlamento eram aguardadas com enorme ansiedade, estando a ser previsto que iria aproveitar a ocasião para deixar bem clara a sua posição de demarcação do Governo que tem estado a ser alvo de críticas muito alargadas. Compreende-se, por isso, que, cautelosamente, tenha preparado um discurso que não servisse de motivo para que as Oposições, as políticas e as outras, surgissem de unhas afiadas e que o ambiente que se vive hoje, já por si de grande contestação, não aumentasse ainda mais, sobretudo neste período de pré-eleições em que as tentações são de não haver contenção nas acusações e de se praticar uma guerrilha do bota-abaixo que, sob o ponto de vista da ética e dos bons modos, não proporciona um ambiente calmo e ponderado.
Havia, isso sim, que apelar para os perigos da abstenção que, face ao que se pode avaliar no dia-a-dia e no contacto com a população corrente, constitui um perigo quanto a avaliação correcta de um resultado eleitoral. E tal alerta foi lançado por Cavaco Silva, no que, a nível colectivo, só merece a concordância de todos.
Face ao que eu escrevi no meu blogue de anteontem, é nítido que a expectativa que existia e que eu mantinha era a de que o primeiro Magistrado da Nação não se conteria quanto a deixar recados claros de desacordo com a prática política que José Sócrates tem vindo a praticar, sobretudo na fixação de que há que investir e muito, neste período difícil da vida portuguesa, por parte do Estado, deixando para os vindouros encargos que, até bastante tarde no futuro, vão constituir pesadas dificuldades, por muito que se beneficie alguma coisa antes com as modernizações que, provavelmente, não serão as opções mais sensatas nesta altura que atravessamos. Isto, no concreto, não saiu das palavras do Presidente, mas, com atenção e alguma boa vontade pode-se deduzir que se subentendeu tal preocupação no discurso presidencial.
Em conclusão: não ficariam os arreigados inimigos do partido do Governo completamente satisfeitos com o que ficou dito por Cavaco Silva. Esperavam muito mais e que não deixasse dúvidas quanto ao acatamento por parte de Belém dos passos que vão saindo de S. Bento.
Talvez tenha sido melhor assim. Já bem bastam as consequências de uma crise que estamos a viver, para acrescentar agora uma tensão institucional. E daí, apesar de Sócrates ter afirmado que estava de acordo com o que foi dito pelo Presidente, lá no seu íntimo não poderá sustentar um aplauso tão entusiástico.
No fundo, andam todos a fingir que não há razões para andarmos tão preocupados. E nós cá vamos indo também a criar a ilusão de que somos capazes de aguentar. São os portugueses, nus e crus!...

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