sábado, 25 de abril de 2009

REVOLUÇÃO

25 de Abril

Quem está perto dos quarenta
nascido à volta da data
que por cá se aguenta
nesta vida tão ingrata
tem este tempo na mente
e dele nunca se esquece
porque no fundo bem sente
que o festejar merece

Mas não viveu na altura
o efeito da diferença
não estava já na moldura
dos que sofreram doença
da ditadura teimosa
do come e cala e mais nada
de uma vida medrosa
que assim tinha sido herdada

Aprendeu tudo a seguir
do passado conhecia
só que podia ouvir
e era o que percebia
como tinha sido antes
mesmo que mal contado
por antigos apoiantes
do que foi o triste fado
pois que na volta da folha
do calendário fiel
não havia outra escolha
que pegar-se bem ao mel

E assim naquele dia
a maioria aderiu
agarrou sua fasquia
convencida aplaudiu
era algo que chegava
pior não podia ser
do que então acabava
e que estava a apodrecer
por isso bem vinda a nós
a boa Revolução
porque o que vem após
há que agarrar em festão
e seja o que Deus quiser
logo se vê o que passa
como mudar de mulher
e retirar a mordaça

E passada a confusão
daqueles meses de início
em que muito aldrabão
quis tirar seu benefício
parecia que lá íamos
conquistando a alforria
e que assim conseguíamos
chegar à Democracia

Mas não é em trinta anos
que se aprende a assumir
que causar aos outros danos
pode ser o destruir
da igualdade total
aceitar opiniões
ser-se em tudo liberal
mesmo nas religiões
faz falta à juventude
crescer e isso aceitar
e mostrar tal atitude
já no primeiro falar

E com caminhar dos anos
entender a liberdade
mesmo com uns desenganos
vai mostrando a verdade
de que como alguém dizia
ao olhar para os sistemas
de que a Democracia
é menos mau dos esquemas

Porque o Homem esse ser
não deixa haver melhor
está dentro do seu qur’er
nunca perder o pendor
de ficar só com o bom
ao próximo não deixar
mais do que um simples som
que reste do seu bem-estar
e o tal não dividir
e só p’ra si tudo querer
não deixa poder cumprir
nem chegar a entender
o bem da igualdade
de não haver diferenças
em toda a Humanidade
sejam quais forem as crenças

Ao terem por fim passado
três décadas do Abril
teremos aproximado
do verdadeiro perfil
que a Revolução sonhara
um Portugal vaidoso
que para trás deixara
o que era pavoroso?

Se isso se alcançou
os que antes conheceram
vêem bem o que mudou
e aos que depois nasceram
alguma coisa explicam
mas sem poder comparar
na dúvida sempre ficam
custa-lhes a acreditar
que era essa a nossa vida
no meio de tanto mal
não havendo outra saída
para o nosso Portugal

O que resta é saber
se o dia-a-dia de agora
tem alguma coisa a ver
com o que naquela hora
os da revolta queriam
dar felicidade ao povo
nem sei se eles sabiam
o que saia do ovo
o estado a que chegaríamos
com ou sem crise que há
sim ou não conseguiríamos
estar melhor do que está.

Pode ser que o futuro
se apresente noutro tom
e que caia enfim o muro
que não deixa ouvir o som
que outras democracias
mais antigas e seguras
nos mostrem as mais valias
de políticas mais puras
com mais anos de vivência
mais gerações assumidas
não pequem pela ausência
de posições bem paridas

E se a nossa juventude
souber assumir o bem
e com vera atitude
apreciar o que tem
então talvez o futuro
se apresente melhor
e que todo aquele apuro
que hoje é um horror
se transforme em oração
e que os que não viveram
a época da Revolução
bendigam os que fizeram
o golpe da nossa História
e eles que não nós
cantam bem alto a vitória

Sim, porque há que bem dizê-lo
nós os que vivemos hoje
apanhámos o farelo
os restos para quem foge
sofremos o que foi antes
sentimos todo o depois
e mesmo sendo amantes
somando os dois com dois
apanhámos com dois males
um que acaba de partir
e outro a pedir embales
sem saber bem onde ir

Cá estamos, pois, a aguardar
a melhor consolação
não vale a pena chorar
que viva a Revolução!






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