quarta-feira, 29 de abril de 2009

APRENDER DEMOCRACIA



Se pensarmos bem, cada vez que a nossa boca pronuncia a palavra Democracia, no seu verdadeiro significado e naquilo que cada um de nós deve fazer para praticar essa modalidade política, se usássemos a referida expressão mas, por outro lado, a praticássemos melhor, seguramente que o seu uso no dia-a-dia seria bastante mais visível. E isso, particularmente, no que se refere ao português de gema.
É evidente que seguir com rigor os princípios democráticos não é tarefa fácil de executar. Obriga-nos a ter sempre presente a razão dos outros, a acatar as suas opiniões, mesmo que nos encontraremos no patamar contrário, não discutir pontos de vista aos gritos, gesticulando, impondo o nosso parecer sem consentir que os parceiros apresentem os seus. E isso, como é natural, custa a praticar. Sobretudo nós, portugueses, que vivemos embatocados durante praticamente toda a nossa existência - sim porque não foi apenas no longo período ditatorial que o povo não foi ouvido para opinar sobre a condução dos destinos da Nação -, que acordámos numa manhã com uma evolução na rua, em que nos foi dito que e passava a viver em Liberdade, nunca entendemos completamente o que isso significava na sua verdadeira pureza e passámos a julgar que já estava enraizado no nosso espírito aquilo que a Democracia representa na verdadeira acepção política.
Mas se observarmos, por exemplo, o que sucede na Grã Bretanha, onde a prática democrática – a tal que já Winston Churchill disse que era a menos má das políticas – existe há cerca de 300 anos, se tivermos oportunidade de conviver com súbditos ingleses do nosso nível intelectual, então poderemos constatar que existe uma enorme diferença entre a duas práticas do mesmo princípio, a deles e o nosso.
É que ouvir, mostrando a maior atenção, o que outro cidadão pretende dizer e, durante todo o discurso, sentir dentro de nós toda a contradição quanto aos pontos de vista que nos são apresentados e aguardarmos pela nossa vez de falarmos para, então, expormos o que consideramos ser a nossa verdade, essa atitude não constitui ainda a nossa forma de actuar.
Não há dúvida de que vão ser precisos vários anos de prática democrática, que é necessário o aparecimento de algumas novas gerações para que o hábito de saber ouvir os outros, para que os portugueses consigam, a pouco e pouco, embrenhar-se naturalmente no que hoje ainda constitui um esforço, dado que é característica nacional julgarmos que a razão está sempre do nosso lado e que os demais andam sempre enganados, será essencial praticarmos muitos para podermos chegar a uma situação parecida com o espírito democrático autêntico.
Essa, pois, a razão que me leva a manifestar a minha estranheza por não ter sido ainda introduzida no ensino escolar, até mesmo logo no primeiro ciclo, a disciplina que ensine aos miúdos o verdadeiro valor da Democracia. Surgiu uma preferência pela língua inglesa que, aliás já se aprendia antes, tem sido grande a propaganda em redor do computador Magalhães, tudo com o seu valor relativo, mas envolver as classes da primeira aprendizagem no estudo da prática democrática, com exemplos bem claros e fazendo com que a rapaziada se inicie na respectiva utilização, entre eles próprios, do que representa permitir que cada um pense da sua forma e possa expor aos parceiros o que a sua cabeça produz, sem impor, mesmo que esteja em desacordo, aquilo que constitui a sua própria opinião, o saber ouvir e expor, tudo em acalmia e com boa educação, isso não lembrou ainda a nenhum Governo pós 25 de Abril estabelecer na instrução dos homens de amanhã.
Essa atitude passiva não vai contribuir para que os cidadãos se vão habituando, o mais rapidamente que for possível, a essa norma tão salutar de conviver. E é pena. Quanto mais tempo levarmos por cá a não usar enfaticamente só a palavra sem a sabermos aplicar na prática em toda a sua extensão, mais longe se encontra o entendimento entre os que passam a vida a discutir e a não chegar facilmente a um entendimento.

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