sexta-feira, 24 de setembro de 2010

POLÍCIAS, OS MAL TRATADOS


POR MAIS de uma vez dou comigo a imaginar que estou a desempenhar as funções de funcionário da PSP. Desses de farda, na rua, a exercer a actividade de segurança e de protecção dos cidadãos. Isso, mais do que a antipática atitude de repressor e de passador de multas.
Ora, alargando o meu pensamento, chego ao ponto de fazer um filme na minha cabeça em que assisto a um assalto à mão armada, por exemplo a uma joalharia e que, tomando eu posição atrás de uma viatura estacionada, puxo da arma que me está destinada e resolvo enfrentar os bandidos que, sendo vários, impõem respeito, tanto mais que naquela altura me encontro sozinho como representante legal. Os assaltantes dão pela minha presença no local e, dividindo-se, usam as suas armas para tentar anular a minha intervenção.
É aí que, protegido pela viatura que me dá visibilidade suficiente para atingir algum dos meliantes, em lugar de puxar do gatilho suspendo a acção e penso nas consequências provenientes da eventualidade de atingir um dos gatunos e de o matar. E prefiro deixar fugir todos os intervenientes no assalto que, num carro a alta velocidade, desaparecem de cena.
Quando chegam os reforços policiais, perante o ocorrido e até devido à indignação dos civis por não me terem visto utilizar a minha pistola de serviço, sou admoestado pelo chefe e é-me até levantado um auto de incompetência. E acaba aqui o que resultou de todo esse exercício de imaginação.
Agora, desfardado em pensamento e civil como sou, passo outro filme que me mostra o contrário do que antes foi referido e, por isso, enfrento as consequências de ter provocado a morte a um dos protagonistas do assalto referido. E aí, louvado pelo meu chefe, sou forçado a entregar a minha arma de serviço e sou levado a tribunal por não ter utilizado outro meio que não fosse o da gravidade de ter causado o falecimento de um dos assaltantes. E passo o cabo dos trabalhos, sendo-me suspenso o vencimento enquanto decorre o julgamento e como, na precipitação de me ter refugiado junto de um automóvel, até fiz um rasgão no uniforme e é-me imposto adquirir outro, quando, por acaso, aquele ainda não se encontrava totalmente pago. Tudo isso quando o meu salário mal dá para suportar as despesas mensais que tenho de assumir.
Perante este panorama, estando as polícias numa fase em que mostram disposição para reivindicar maior atenção por parte do Estado no que se refere às condições que impõe aos servidores da polícia, volto a imaginar-me na posição de membro dessa corporação e interrogo-me se, mesmo lavando em atenção a deficiente situação da finanças públicas, não contribuiria com a minha presença na manifestação e na greve que estão anunciadas. E sou forçado a reconhecer que, perante o risco que se está a correr de, cada vez menos, apesar do drama do desemprego, haver jovens que se sujeitem às más condições que são proporcionadas aos que entram no corpo poliial, o que aumenta são os malfeitores, nacionais e vindos do estrangeiro, pois o mau funcionamento do aparelho judiciário, em todas as suas vertentes, alicia a que, entre perseguidores e perseguidos, se opte pela segunda posição. É mais rentável e menos perseguida.
É isto e aquilo que vou referindo no meu blogue diário que me leva a gritar como o fiz há dias, precisamente no que se pode ler no dia 14 deste mês: “deixem-me voltar para a ilha!...”

1 comentário:

Anónimo disse...

Não posso deixar passar em branco esta reflexão que em muito me sensibilizou. Deveriam passar por estas palavras todos os nossos jurístas e comandantes das forças policiais deste país e ao mesmo tempo que liam reflectir cada uma das suas palavras. Obrigado Sr. José Vacondeus por mais um forte testemunho, de quem vive com consciência da actualidade social que se vive em Portugal.
Obrigado pela partilha.
Com amizade
João Cunha