domingo, 26 de setembro de 2010

SUBALTERNOS


CLARO QUE há coisas mais graves, especialmente neste período em que todas as instituições lutam contra as enormes dificuldades financeiras que atormentam as governações das empresas. Mas, no capítulo das prioridades – que é o maior defeito que se encontra por parte dos que dirigem -, só quando for absolutamente impossível dispor dos mínimos para que o serviço que se tem de prestar aos utentes não se torne num obstáculo para cumprir o essencial que cabe no preço que se paga, só aí é que, depois de feita a declaração dessa fraqueza, é que será admissível manter a falta que está a decorrer.
Refiro-me, neste particular, a uma situação que não pode ser consentida, até porque os preços dos bilhetes para usar o metropolitano de Lisboa incluem o uso dos elevadores que, em determinadas estações, servem precisamente para conduzir os menos válidos (a verdade é que todos os usuários) à entrada ou à saída dos veículos em questão.
Pois, de todos os ascensores que existem, parece que são oitenta, 18 deles encontram-se avariados há meses, o que, especialmente para os deficientes, em que se incluem os que se movimentam em cadeiras de rodas, representa uma impossibilidade absoluta de utilização do referido meio de transporte público. E até os que possuem compra antecipada de bilhetes, para lá de não poderem servir-se do Metro, são prejudicados por terem pago uma coisa antes que não lhes é servida depois.
Como na televisão apareceu esta informação prestada por um deficiente motriz, utilizador dos ascensores, talvez nesta altura já se encontrem reparados os meios agora paralisados. Normalmente, por se tratar de uma notícia que chega ao conhecimento de todos, incluindo os chefes dos funcionários que devem proceder rapidamente aos arranjos mas que se descuidam, não é primeira vez que sucede solucionar-se um problema graças à divulgação dos erros, mas se for assim só é caso para nos congratularmos.
Aproveito esta oportunidade para sublinhar um comportamento muito frequente por parte de serviços inferiores de empresas públicas, incluindo as câmaras municipais - e aí aponto o dedo ao município da capital -, em que obras feitas tempos antes, como sejam os levantamentos de calçadas para reparar, por exemplo, canos subterrâneos, ficam depois períodos longos a aguardar que os calceteiros apareçam para repor o empedrado em condições dos cidadãos circularem sem tropeços. E aí, é evidente que não se pode culpar o presidente da entidade que tem a responsabilidade de manter os serviços perfeitos, mas sim uns tantos funcionários que, não cumprindo com o zelo que se lhes tem de exigir, chefes secundários e desse estilo, se desleixam e provocam má imagem na organização a que pertencem. Sejam municípios ou outras instituições, obviamente ligadas ao Estado.
Mas, já no que diz respeito ao empedrado das ruas – e refiro-me às de Lisboa, que são as que conheço melhor -, tenho, há largo tempo, há anos, clamado pela eliminação da chamada caçada à portuguesa (com excepções nas zonas tidas como exemplares como seja o Rossio, os Restauradores e algumas mais, que merecem os desenhos lindos com pedras), pois a utilização de placas pré-fabricadas, até com os mesmos desenhos, sai muito mais barato e elimina o uso dos calceteiros que, de cócoras, levando tempos infinitos, dão uma má imagem aos turistas estrangeiros da nossa própria actuação. Aí, sim, o presidente da C.M.L., já que os anteriores não o fizeram, deveria meter mãos no assunto e seguir o exemplo do que ocorre nas cidades estrangeiras, até aqui ao lado, em Espanha, animando para que se criasse uma indústria desse tipo de construção de painéis do solo.
Mas, no capítulo da actuação a cargo dos subalternos do serviço público é isso que os portugueses, de uma forma geral, têm de suportar. Dever-lhes-iam bastar os males que cabem a todos os cidadãos, como seja o custo de vida e os impostos, mas não, ainda por cima outros habitantes deste País que, lá por prestarem serviço público em lugares de prática de serviços, mas de enorme importância porque têm influência na vida dos seus compatriotas, não cumprem como é devido a obrigação que lhes cabe.
Aquilo que eu me farto de dizer que todos nós temos alguma coisa de socratiano nacional, não nos cansamos de criticar o que se encontra na cadeira principal do Governo mas, quando nos calha a vez, portamo-nos de igual modo, ou seja só olhamos para o umbigo e consideramo-nos os melhores e sempre com a razão do nosso lado!
É uma pena que não consigamos, todos nós, funcionários públicos ou não, sobretudo quem tem possibilidade de não empatar, desenvolver uma actividade que não tenha nada a ver com o complicado e com as demoras desnecessárias.
De uma vez por todas, passemos da tradicional moleza, do não há pressa para quando mais rápido melhor. Para não continuarmos a perder o comboio da Europa e do mundo e deixarmos de ser os subalternos de tudo.

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