quarta-feira, 22 de setembro de 2010

DISTRAIDO

Aquele que não dá conta de si
que não se lembra das obrigações
que nunca sabe se vai por ali
que não se dá com organizações
que parece andar um pouco bebido
que não escuta o que lhe é dito
esse mesmo é então o distraído
o que dá ideia de se ter perdido

Mas não, ele até é um artista
bem no meio da sua confusão
pode, sim, por vezes perder a pista
e tocar nos assuntos de raspão
esquecer-se sim de um compromisso
confundir alguns dias da semana
não chegar a horas ao seu serviço
de manhã ficar mais tempo na cama

Não mostrando estar comprometido
com o cumprimento de quaisquer regras
afinal é bem ele o distraído
confundindo mulheres brancas com negras
julga que de manhã já é de tarde
e o relógio fica sempre em casa
não é coisa sua fazer alarde
do muito frio ou do calor que abrasa

Não sendo de felicitar pelos anos
nunca dando presentes de Natal
pois esquece datas até de manos
nem da sua presença dá sinal
não se consegue entender na cozinha
porque não segue à regra as receitas
pede sempre auxílio à vizinha
e na saúde não cuida das maleitas

Aí, confunde todos os remédios
os do almoço toma-os no jantares
o mesmo acontece a entrar nos prédios
confunde as portas, mistura os andares

O distraído é assim por doença
tem algo que não o deixe assentar?
Não é, por certo, por alguma crença
não é mal para se remediar
de uma forma geral bem formado
na vida dos outros não interfere
por isso está sempre do outro lado
e não dá mostras daquilo que quer

Podemos confiar-lhe um segredo
distraído como é logo esquece
assim não há que ter o menor medo
ter amigo assim até apetece
por mim perdoo tudo ao distraído
porque tudo que faz não é por mal
quando não o vejo fico perdido
quero tê-lo ao pé até final








1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns Sr. José
Tal como lhe prometi, aqui estou a visitar o seu blog. Parabéns pois apreciei imenso a sua escrita, a sua forma sóbria mas bem retratista como escreve.
Serei um seguidor assíduo das suas ilustres palavras!
Deixo-lhe os meus cumprimentos, arriscando e abusando deixo-lhe estas simples palavras:

O seu poema vai crescendo
De um puzzle de palavras,
Em cada peça um sentimento
Quando encaixam brotam quadras!

João Cunha