quarta-feira, 22 de setembro de 2010

CIGANOS ROMENOS


NÃO TEM DE SER somente o nosso País a ser focado pelos acontecimentos que despertam a atenção, no bom ou no mau sentido da sua apreciação. Considero que este assunto a que me vou referir merece ser comentado, face à situação pouco vulgar que representa, sobretudo na Europa dos nossos tempos.
Trata-se da atitude tomada pela governação francesa de expulsar do seu território umas centenas de ciganos romenos que, segundo dizem, por estarem indocumentados e, portanto, não cumprindo as regras de acolhimento que estão estabelecidas, se constituem habitantes não desejados naquele País.
Esta medida não pode ser analisada de ânimo leve e obriga a reflectir profundamente quanto ao seu significado: a primeira reacção que salta é a de que se está a discriminar uma parte de população, isso no espaço europeu onde as fronteiras se encontram abertas entre os participantes da União e não existindo lugar a exclusões, por raça, nacionalidade, prática religiosa, cor da pele. Numa palavra: xenofobia nunca.
Mas, analisando mais profundamente a questão, talvez outras razões nos deixem na dúvida no que respeita ao que deve ou não ser feito. E uma delas, sendo a principal ou talvez não, é que o drama do desemprego que alastra por toda a parte luta, em muitos casos pelo excesso de população, cria enorme dificuldade de colocar todos os naturais de cada País nas suas funções profissionais. Logo, a afluência de gente estrangeira, que se desloca para outros territórios também na ânsia de encontrar melhoria na maneira de viver, tem de representar uma concorrência que não pode agradar aos que nasceram e vivem no espaço “invadido”.
É certo que, no caso dos interesses portugueses, também nós, ao longo de muitos anos e ainda hoje, embora menos, percorremos o caminho que nos separa dessa França e lá nos instalámos com actividades que, como se sabe, não eram muito do agrado dos próprios franceses. Só que, nessa altura, não se verificava uma carência tão dramática de trabalho, ao ponto de o desemprego afligir, por toda a parte, os cidadãos naturais de cada país.
É importante, por isso, observar correctamente o caso dos ciganos romenos. Também por cá deparamos, a cada passo, nas nossas ruas, sobretudo mulheres, novas e mais velhas, geralmente com bebés ao colo, com ciganas romenas que se dedicam à actividade de pedir, muito embora oferecendo, como desculpa, produtos insignificantes para vender. É pouco compreensível que este tipo de população tenha atravessado a Europa para, num País pobre como o nosso, vir estabelecer a sua residência, nitidamente depois de terem percorrido outras nações que, por hipótese, não lhes deu abrigo para lá ficarem.
Mas o outro caso que ocorre também em França é a consequência da proibição, saída do Senado, do uso do véu integral por parte das mulheres islamitas em locais públicos. E as consequências dessa medida já se começam a notar, pelos avisos que soam em vários departamentos de segurança de que se estão a preparar acções terroristas, como resposta a um direito que cada País tem de estabelecer as suas regras e que escolhe mudar-se para esses destinos. A ameaça que obrigou em certa altura a encerrar a Torre Eiffel, por telefonema anónimo da existência de uma bomba, prova claramente que os atingidos não se conformam com as disposições tomadas pelo Poder de uma Nação que tem legitimidade para estabelecer regras de conduta no seu espaço.
A minha opinião, por certo discutível, é a de que, por muito infeliz que sejam as medidas que cada Terra estabelecer dentro das suas fronteiras, quem lá se dirige, por pouco ou por muito tempo, a obrigação que lhe cabe é a de aceitar, e fazer como diz o povo “em Roma ser romano…”. Se nos países muçulmanos se implantar uma disposição de que, quem atravessa as suas portas, tem de se vestir tal qual é uso nesses locais, a opção é não pôr lá os pés ou, indo, mulheres e homens usarem os trajes locais.
Com os romenos, sejam ciganos ou não – e não poderá ser por essa razão -, o que há que aceitar é a defesa proporcionada aos naturais franceses, no capítulo de não lhes serem criadas ainda maiores dificuldades na luta contra o desemprego. Não aceitaríamos que, em Portugal, as forças públicas tudo fizessem para que os 700 mil desocupados nacionais que existem obtivessem alguma protecção do mesmo tipo, por mais injusta que ela seja? Provavelmente não.
Agora, perseguir comunidades, minorias étnicas, se forem constituídas por cidadãos de origem do país onde residem, isso é que não é admissível.

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