terça-feira, 14 de setembro de 2010

QUERO VOLTAR PARA A ILHA!...


AQUELA ILHA deserta que faz parte de uma cena num programa televisivo, em que o náufrago que lá permaneceu longo tempo, longe de Portugal, é salvo por um barco português de passageiros que passou na altura e teve a alegria de se encontrar de novo entre compatriotas, beijando até a bandeira nacional, pois é precisamente essa ocorrência que me sugere escrever agora este texto. Quem já teve oportunidade de assistir a este cómico episódio sabe que, em face das más notícias que os passageiros que o acolheram lhe vão dando em relação ao que ocorre no Portugal tão desejado pelo náufrago, ocasiona a que, por diversas ocasiões, o desconsolado compatriota se agarre à amurada do barco, tentando atirar-se e grite: “quero voltar para a ilha!”
Estando dispostos a percorrer todos os episódios que, sucessivamente, têm lugar no nosso País – e, para isso, basta estar atento, todos os dias, ao que se passa dentro das nossas fronteiras -, a quantidade e as características dos acontecimentos levam-nos a que, conscientemente, também tenhamos a tentação de saltar do navio e desejar instalarmo-nos numa ilha que, embora isolada, não nos provoque tanta aflição e descontentamento como os que somos forçados a suportar com os pés assentes na dita terra civilizada.
Eu bem desejaria não ter de enfileirar neste texto uma série de tristes espectáculos que vão passando, mantendo-se algumas imagens na nossa cabeça e sendo substituídas por outras que se sobrepõem por mais recentes. Mas basta dar uma vista de olhos nas últimas notícias divulgadas para logo ficarmos com grande desejo de sairmos desta baralhada que se agrava de dia para dia.
Bem, já nem vale a pena referir a situação do julgamento do caso Casa Pia, em que a Justiça se comportou de tal maneira que só serviu para aumentar a desconfiança pública em relação a um sector que tem obrigação de funcionar impecavelmente e que, sendo só ontem entregue o acórdão que é essencial para os acusados que sofreram as penas e os seus advogados possam usar os meios para defesa, veio permitir que outra cena, não menos desprestigiante, a utilizada pelo acusado Carlos Cruz, tivesse podido ser utilizada com um exagero criticável. E devo esclarecer, no entanto, que não foi a aplicação de penas aos considerados pedófilos que tira valor à nossa Justiça, mas sim pelo tempo que levou a encontrar-se um desfecho, o que não é admissível nos tempos modernos e coisa que não sucedia antes, quando os computadores nem sequer existiam.
Mas muito mais há a acrescentar ao rol de disparates que não fazem criar o apetite de ficar por cá. Como, por exemplo, a incapacidade mostrada pelos governantes no que diz respeito à diminuição drástica do vergonhoso número de desempregados, os quais atingiram, nesta altura, um número assustador, ocupando-se os políticos que temos por cá em envolverem-se em confrontos em vez de deitarem mãos ao que pode contribuir na criação de mais produtividade, através de incentivos que devem substituir as burocracias que constituem outra doença nacional. Essa mancha horrenda de gente sem trabalho não constitui um apetite de viver em Portugal, muito embora o total de desocupados por esse mundo fora atingiu já o número astronómico de 210 milhões de indivíduos. Mas não é essa praga que ocorre também noutros países, que nos pode gozar de um certo optimismo, pois temos de perder o hábito de nos congratularmos por estar melhor do que alguns deles, em vez de procurarmos seguir os bons exemplos e tentarmos aprender alguma coisa com os bons resultados que ocorrem também lá fora.
O custo da dívida pública dispara todos os dias e o que nos espera ainda, muito em breve, com o pagamento das dívidas e até os seus elevados juros que nos exigem os credores, tudo isso leva-nos ao impulso de querer fugir ou de, no mínimo, enviar os nossos descendentes para outras paragens.
Temos de encontrar uma ilha que possa acolher aqueles que estão condenados a tentar sobreviver nesta Rectângulo, dado que nós próprios não temos possibilidade de saltar do barco a afundar-se em que navegamos.
Se assim fosse, com excepção daqueles que, entre nós, gozam de boa vida e de desafogo graças às remunerações que conseguem através de ordenados imorais e de reformas duplicadas e triplicadas, haveria bicha de cidadãos portugueses, nalgum local, para se atirarem ao mar, na busca da tal ilha do náufrago. Só um pequeno aparte: o que seria necessário era encontrar uma forma de saber o que se faria ao milhão e 700 mil telemóveis que foram adquiridos no semestre que atravessamos e isso só no nosso País.
Há mistérios que o ser humano proporciona e que não existe maneira de encontrar resposta. Iríamos todos para a ilha e lá usaríamos o aparelho das conversas, as que os portugueses não dispensam no seu dia-a-dia, seja no meio do trabalho ou nas compras do supermercado.

Sem comentários: