segunda-feira, 27 de setembro de 2010

EXTREMISMOS


ENQUANTO neste País das discussões inúteis estas se arrepelam, de um lado e de outro das chamadas ideologias políticas, a clamar as Esquerdas e as Direitas pela pureza de cada uma dessas suas preferências, ainda que não seja aí agora que se solucionam os graves problemas que Portugal tem de enfrentar e que cada dia abrem ainda mais o buraco por onde se corre o enorme risco de cair desamparado, ao mesmo tempo que os ingénuos teimosos, que julgam ser o seu grupo que, por ser como é, naturalmente perfeito, é o que tem possibilidades de salvar aquilo que ainda é a sua Pátria, por essa Europa fora ao que se assiste é a uma nuvem negra que assusta pelas recordações que ainda existem naqueles que vieram tempos recuados, e que tem uma designação política de extrema-direita, essa negritude está a crescer em muitos dos países que fazem parte do bloco da Comunidade, sobretudo sustentada por uma juventude que não faz ideia, senão por lhe contarem, dos efeitos provocados por uma actuação política que durou vários anos e que só foi afastada onde esteve implantada devido aos resultados da Grande Guerra que acabou há volta de 65 anos atrás. Já lá vai, portanto, muito tempo.
No caso da Suécia, em que a Direita tradicional renovou o seu mandato governamental, relegando para posição inferior os sociais-democratas, verificou-se já um entusiasmo por parte daqueles que se situam na ponta direitista. Mas, noutros países do velho Continente, é notória a subida de aderentes aos discursos nacionalistas, em que especialmente a atitude clara de se mostrarem contrários à imigração é bem demonstrativa das suas preferências políticas. Se bem que seja notória a necessidade de existir uma certa moderação controlada.
A Finlândia, a própria Itália esquecida da mão de Ferro de Mussolini, certos países de Leste que têm de saber o que representou a actuação dura do estalinismo, inexplicavelmente a Alemanha, que agora reunida sem o muro que a dividiu e deixou rastos no sector a Oriente da Porta de Brademburgo fecham os olhos a tal difícil situação e todas essas Nações já possuem grupos políticos que são normalmente designados no seu nome por “Partido Nacional” e até na Rússia há um denominado “Partido Liberal Democrático”, que defende ideias que se situam no extremismo conservador.
Os politólogos, que se dedicam à pretensa análise da situação que se atravessa, pretendem explicar este fenómeno, que, para uma Esquerda severa, também pouco maleável no que seria prudente abrir uma pouco as convicções de outro extremismo contrário, para ela constitui um perigoso avanço, pelo que esses estudiosos dos fenómenos políticos defendem a ideia de que tal fornada extremista resulta do facto de não se ter verificado ainda uma resposta por parte dos partidos nos governos que se identificam com uma democracia capaz de solucionar os problemas que tanto fazem sofrer as populações actuais. O resultado é, pois, esse: nem uns nem outros, Direitas e Esquerdas moderadas, dão mostras de capacidade para descortinar uma solução aceite pela maioria dos cidadãos e que leve a que o mundo, com a enorme volta que está a dar – com a China, a Índia e o Brasil a atingirem foros de prosperidade, coisa que há tempos atrás era impensável -, entre numa acalmia que tanto necessita e que, sem egoísmos dos seres humanos e atitudes de prepotência e de inveja, poderia chegar finalmente neste século XXI, fartos que se está de, ao longo de toda a História mundial, só as desavenças e as guerras é que formaram o motivo principal da existência do Homem.
E por cá, então? Não constituímos um exemplo. Com a experiência que deveríamos aproveitar de uma História que foi única num determinado período em que as descobertas, por muito que constituíssem uma imposição das condições geográficas do nosso território, representaram, sem dúvida, um acto único para todo o espaço terrestre, nem assim e gozando já dos privilégios de uma Democracia que temos obrigação de querer conservar a todo o custo, damos mostras de tudo fazer para que a situação muito complicada que atravessamos, no aspecto político, económico e social, não se transforme num beco sem saída que nos conduza para uma perda de cabeça, com os efeitos que se podem imaginar e de que, como sempre sucede por cá, ninguém aparece a assumir as responsabilidades e a considerar-se culpado dispondo-se a merecer castigo.
Já aqui assumi neste blogue, antes de outra qualquer afirmação saída nos jornais, a responsabilidade de tentar adivinhar que, no meu ponto de vista, apesar das discordâncias, ataques mútuos, mesmo ofensas entre os responsáveis do PS e do PSD, o Orçamento do Estado, ao ser votado no Parlamento, acabará por passar, especialmente porque, tanto os sociais-democratas como os adversários comandados por José Sócrates, não assumirão a carga das consequências de um O.E. não passar. E as críticas dos restantes partidos, assumindo naturalmente uma posição que lhes cabe, pois não pesam na contagem da votação, podem ter o aspecto e o conteúdo que entenderem as suas figuras principais, mas nada disso pesa no destino que está destinado a Portugal e que, infelizmente, não dá mostras de constituir uma melhoria dos condições de vida dos portugueses.
Existirem partidos políticos que se situam num lado e no outro do panorama de ideologias, mesmo nos dois extremos, faz parte da prática democrática. Só que, na situação de crise que o mundo atravessa e que, na Europa, se sente muito na pela, o que importa mais do que tudo é existir consenso alargado, abaixamento de posições dogmáticas de finca-pé em princípios que podem muito bem aguardar por melhor momento para serem defendidos, numa palavra, o que não pode faltar é um verdadeiro espírito de confraternização, posto que, num salva-vidas depois de um naufrágio, não se discutem lugares no pouco espaço existente, mas sim se procurará que o maior número de náufragos consiga chegar a terra para dar início a uma nova luta pela vida, com extremismos ou sem eles.
Com todo este discurso até parece que o meu passado, no tempo da ditadura que vivemos, foi de completa sintonia com a prática de censura e com a perseguição pidesca que se vivia. Provavelmente alguém ficará com a ideia errada de que não fui severamente molestado por não aderir, política e jornalisticamente, com a prática de tal sistema. Mas foi precisamente o contrário o que me ocorreu e não me é agradável recordar todos os contratempos, incluindo cadeia, que me marcaram.
Só que, na idade que atingi e com o aproveitamento da vida que me foi moldando, ao pensar que o País que eu vou deixar fica num estado tão deplorável que não se vislumbre nada de satisfatório para o futuro, face a esta probabilidade sou forçado a apelar para o uso de todo o bom senso que, ao fim e ao cabo, é o que mais falta à nossa volta. Extremismo político, seja ele qual for, não há um só que seja desejável. Mas se o Homem é assim…

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