domingo, 20 de dezembro de 2009

DESENTENDIMENTOS



ESTE SÉCULO que está a decorrer e que constitui o segundo que nos apanha em pleno, a nós que começámos a nossa vivência no decorrer de 1900, não se pode dizer que nos seus primórdios tenha trazido um bom ambiente de felicidade à maioria das populações da Terra. Esta crise que nos apanhou em cheio e que se mantém ainda por um tempo que não se sabe quando chegará ao fim faz recordar, a quem é desse tempo, o que se passou também por volta de 1929 e que, segundo dizem, também constituiu uma verdadeira atrapalhação para os habitantes terrestres que sofreram as consequências da escorregadela económica de então. Até parece que os inícios dos séculos não trazem a quem os aguarda um sinal de esperança e vontade de prosseguir nessa caminhada pelos anos fora.
Só que, nesta altura em que se beneficia (!?) das vantagens dos avanços tecnológicos que eliminam as distâncias e em que as comunicações se realizam num curtíssimo espaço de tempo, qualquer notícia, boa ou má, atravessa o Planeta de ponta a ponta e o que antes levava um certo tempo a chegar longe, agora é em fracção de segundos que se toma conta de que uma crise financeira começada noutro continente nos vai bater à porta logo de seguida. E o mesmo se passa com as epidemias, como está a ocorrer com a gripe A, que nem dá tempo para serem tomadas as medidas de precaução porque a notícia nos avisa ao mesmo tempo em que a doença se instala.
O que, porém, não decorre com a mesma ligeireza são os entendimentos entre os responsáveis maiores dos diferentes países que, mesmo reunindo-se temporariamente em congressos e outros tipos de encontros, dando abraços e distribuindo sorrisos, fazendo as fotografias clássicas que chamam de família”, apesar disso tudo e das boas almoçaradas partem depois para os seus pontos de origem e não dão garantias de prosseguirem afincadamente no que deveria constituir a principal preocupação de todos os humanos, os que mandam e os que obedecem, e que é o fazerem todos força para o mesmo lado, sobretudo neste período em que não se esconde mais o que vai constituir um risco grande para o Globo terrestre, o aquecimento da Terra e as mudanças radicais de temperaturas e das subidas das águas dos oceanos e dos mares, assim como, isso digo eu, o esgotamento da água doce e as alterações fulcrais que se verificarão na agricultura, alterando profundamente as gastronomias de todos os seres.
O resultado saído da Cimeira de Copenhaga é bem a prova de que não são de grande optimismo as perspectivas que se apresentam às gerações de hoje e às que surgem a seguir. Um acordo global que era essencial sair da referida reunião dos 119 líderes de 193 países que estiveram presentes na Dinamarca durante um recorde de 13 dias, isso só vagamente ocorreu. A China, actualmente uma das mais importantes economias mundiais, deu mostras de não admitir que lhe imponham regras que provoquem um travão no seu desenvolvimento. Os E.U.A. foram claros ao declarar que necessitam de mais um ano para se adaptarem às normas das alterações climáticas e a Europa não conseguiu a força negocial bastante para fazer frete aos E.U.A. à China e à Índia. E as expectativas quanto ao que poderá surgir em Fevereiro próximo e depois em Outubro de 2010, nos dois encontros programados, constituem uma derradeira esperança de que o que não se conseguiu agora em Copenhaga venha a encontrar um caminho mais satisfatório. A derradeira esperança só reside na eventualidade de, em Dezembro de 2010, ser assinado um compromisso que fixe a redução, em todo o mundo, da temperatura que será admissível para que a vida seja sustentável no globo em que existimos.
Ao fim e ao cabo, parece que se justifica a tarefa daqueles que, no mínimo, têm o mérito de procurar avisar com antecedência, de molde a que não cause surpresa aquilo que possa ocorrer num futuro neste mundo de Cristo. Esses, que chamam a atenção para situações possíveis, e que, por isso, são apelidados de “profetas da desgraça”, não estarão a contribuir para que se evitem as euforias perigosas que terminarão com desmedidas desilusões? Por agora, basta-nos aproveitar as consequências do susto que todo o mundo apanhou e ainda está a sentir, com a tal crise e com os seus resultados, sendo um deles, bem grave, o do alto nível de desemprego por todo o lado, tirando-se daí as lições que pudermos reter na memória. Isso, se o Homem for capaz de se emendar com os erros que pratica e de se precaver a tempo!
Mas o resultado obtido com a Cimeira de Copenhaga não veio, infelizmente, trazer, para já, razões para alimentarmos esperanças de que se pode contar com a sensatez dos homens dos diversos países para que se venha verificar, a curto e até a médio prazo, uma mudança radical que torne a vida aceitável da maioria dos muitos mil milhões de habitantes da Terra.
Bem gostaria eu de, após o encontro de tanta gente com poder de inúmeros países, constatar que o panorama é de melhoria indiscutível e que existem razões para começarmos a cultivar o optimismo. Mas é isso sério?

Sem comentários: