quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

FIM DO ANO


ALELUIA! Um novo ano está aí. É à meia-noite que, de baguinhos de uva numa mão, subindo a uma cadeira, com o porta-moedas com uns trocados na outra mão, que o portuguesinho da silva repete aquilo que fez durante toda a sua vida e viu fazer aos pais e até aos avós. E, em silêncio, faz um pedido que, naturalmente, dirá respeito ao seu sucesso no trabalho, à saúde que aspira sempre ter, para si e para a sua família mais chegada e a qualquer outra situação que conserva só para si.
No fundo, trata-se de enterrar o que ocorreu e de abrir portas de esperança para o que vem a seguir. É sempre assim. O Homem, por muito mal que seja tratado enquanto se arrasta por este suplício da vida, no fundo arrecada permanentemente a aspiração de que o que vem depois compensará o que de ruim teve de suportar. E até os miseráveis, os que não têm cama para se deitar nem prato com comida, mesmo esses suportam no seu íntimo a ânsia de que as coisas irão mudar. E o começo de um ano novo traz sempre essa espécie de milagre que não dá felicidade apenas aos outros. Por isso se diz que a esperança é a última coisa a morrer.
Sendo assim, por cá, por este País que anda azarado desde há muitos anos, há décadas, talvez há séculos, que não foi capaz de tirar partido das qualidades do seu povo, paciente, resmungão mas que lá vai fazendo, descobridor mas não sabendo tirar partido daquilo aonde chegou primeiro, com uma posição geográfica invejável no Continente Europeu mas não sendo capaz de beneficiar dessa situação, com grande História mas com confuso futuro, este País, chamado Portugal, entra em 2010 à procura do pé que deve colocar à frente, o Esquerdo ou o Direito, e, atrapalhando-se, metendo os pés pelas mãos e escorregando na passadeira da entrada.
Mas entremos. À porta não podemos ficar. E sejamos capazes de desembrulhar o pacote que nos espera pendurada na aldraba. Por muito que surjam os alertas amarelos, primeiro, e vermelhos, depois, isto devido às consequências das subidas dos caudais dos rios e das chuvas intensas que resolveram inundar várias partes do País, mesmo assim, depois de tanta água e precisamente a seguir a um período recente em que os agricultores se queixavam de que não tinham água para dar de beber aos seus animais – é sempre assim, ou excesso ou falta, mas nunca o bastante -, apesar disso tudo os aleluias são cantados, pelo menos para dentro, porque o suicídio não se pratica com facilidade e o que se tornou um destino dos portugueses é o aguentar, aguentar, aguentar…

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