terça-feira, 29 de dezembro de 2009

NÃO SABEMOS VENDER



ANDO-ME A DESPEDIR de 2009 já há alguns dias. É que é grande a minha apetência de esquecer o que foi este período de más novas com que nos defrontámos sucessivamente. O que é mau é para esquecer. Por outro lado, também já estou farto de, ao longo dos anos, emitir uma opinião, quer no tempo em que a Censura não perdoava e me cortava as opiniões, mas também depois, em plena Democracia, em que tenho vindo a insistir com tal tese, mas com uma razão que pouco interessa aos que não estão dispostos a analisar as nossas características como portugueses que somos, habilidosos para umas coisas mas, para outras, de que não damos mostras de ter o menor jeito. E esta lamúria refere-se à antiga mas infeliz medida tomada pelo rei D. Manuel I, quando decidiu expulsar os judeus que não aderiram ao catolicismo, tendo partido grande parte deles para a Holanda, que muito ficou a ganhar com essa entrada de gente bem preparada e sabedora das artes de vender, não interessando para nada a religião que processavam.
Explico-me então: a partir daí, mesmo tendo sido grandes descobridores por esse mundo fora, nunca fomos capazes de tirar partido do que passámos a dominar, dos locais onde nos instalámos, das riquezas que por lá foram encontradas. E até os diamantes de Angola, por exemplo, foram fazer a riqueza de uma família judia, instalada em terras nórdicas da Europa, a qual, até hoje, conserva esse negócio e fá-lo com enorme competência.
Mas adiante. O que é verdade é que, mesmo com a desculpa de que nos encontramos situados geograficamente na ponta do Continente Europeu, longe dos centros de grande movimentação de muitas mercadorias, sobretudo as agrícolas, o certo é que não podemos negar a realidade. E esse é de que não nos sentimos vocacionados para introduzir junto dos potenciais compradores estrangeiros os produtos que, mesmo mal estudados no que se refere às suas características de se adaptarem às preferências dos potenciais interessados, ainda assim poderiam caber numa mancha de mercado que existirá se for convenientemente convencido.
Mas não é isso que se passa. Na área da agricultura, por exemplo, sendo o nosso clima propício a, no que diz respeito a novidades de estação, apareçam com algumas semanas de adiantamento, não somos capazes de usufruir dessa vantagem. E eu sei do que falo, já que fui director da revista “o País Agrícola” e lutei, na altura, pela introdução de uma genica actualizada por parte das cooperativas agrícolas que existem, em demasia, por esse País fora, e nunca consegui motivá-las. E nem ao Ministério respectivo, em que os nossos engenheiros agrónomos gostam mais de estar sentados e bem engravatados por detrás das secretárias, em lugar de sujarem os sapatos nas terras. Ao contrário, por exemplo, do que se passa em Israel!
Mas, só no fim deste texto é que me refiro à razão por que escolhi hoje este tema. É que Basílio Horta, actualmente presidente do AICEP (um organismos que deveria funcionar meticulosamente por forma a abrir portas no estrangeiros para os nossos produtos e consiga conquistar capitais de fora para serem aplicados entre nós), veio declarar publicamente que há investimentos estrangeiros em risco de desaparecerem, em virtude de um novo regime fiscal criado para atrair investimentos do exterior para serem canalizados para Portugal, em virtude de não ter o Governo definido ainda as actividades abrangidas por esse novo regime (publicado em 22 de Setembro e com efeitos retroactivos a 1 de Janeiro de 2009), existem vários projectos que estão em risco de serem desviados para outros países.
Para quê, pois, andarmos a discutir pequenos problemas que, às centenas nos rodeiam, se os grandes, aqueles que representam, na verdade, uma possibilidade de abrir portas ao relacionamento com empresas estrangeiras que podem vir criar trabalho no nosso País, esses, a burocracia, a mandriice nacional, a nossa estupidez crónica não permitem que consigamos sair desta molenguice em que vivemos?
E é assim. Nem fazemos nem criamos as condições para mudarmos de incapacidade de vender, de progredir, de sairmos da trampa (e não tenho medo da palavra) em que estamos atolados.
Que o ano que vai ficar para trás não nos deixe muita marcas de molde a ficarmos agarrados a métodos que não servem para o futuro é o que me resta desejar nesta altura.

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