quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

GASTAR DEMASIADO


E CÁ VOLTO EU ao tema que me desperta permanentemente a atenção, dado o panorama político, económico e social que atravessamos e de que não se vislumbra um volte-face tão depressa. Trata-se de encarar com firmeza uma atitude de suprimir os gastos desnecessários no imediato e isso, naturalmente, compete aos governantes, que são os responsáveis principais pelo desequilíbrio nas contas públicas e pelas dívidas astronómicas que já suportamos todos, sobretudo os que são mal governados.
É claro que os optimistas que existem por cá, sendo eles, de uma forma geral, pertencentes a classes que não sofrem mensalmente os efeitos dos apertos na carteira, esses insurgem-se contra os que, como afirmam, “só dizem mal” e não apontam formas de se mudar deste mal-estar. Não me podem dizer isso a mim, pois, quer neste blogue quer sempre na minha profissão de jornalista, fiz sempre questão de apontar erros mas nunca deixando de indicar os caminhos que eu considero como sensatos. Mário Soares, de quem eu não escondo o meu apreço e até uma certa amizade, num texto saído no “Diário de Notícias” veio, como sempre faz, defender a actuação de Sócrates e atacar os “pessimistas profissionais”, mas também ele não indica uma actuação clara que altere o que tem sido feito. Bonacheirão como é, nunca poderá Soares entender a má vida que a maioria esmagadora dos portugueses sofre, e ainda menos porque a sua reforma, aliada à de Maria Barroso, permitem ao casal um fim de vida agradável.
Mas eu aponto erros e indico aquilo que o Governo, este agora e os anteriores, deveria fazer e até já ter feito tempos atrás. Por exemplo, será que existe consciência das rendas que paga o Estado por espaços que estão desocupados de repartições públicas? Eu conheço vários, um mesmo na minha rua que se encontra fechado há mais de sete anos e que até o lugar de estacionamento da viatura do director, marcado por placas avisadoras, ali se encontra sem que ninguém o retire? E idênticos espaços que foram adquiridos por dinheiros públicos e que, nesta altura, não têm a mais pequena serventia? Claro que não é só em Lisboa, mas por esse Portugal fora. A notícia agora surgida de que o Ministério da Justiça gastou 15 mil euros por mês, durante quatro anos, por ter arrendado um andar em Castelo Branco, que custava 15 mil euros por mês, num imóvel degradado e muito antigo, num contrato com validade até 2005, e que nunca foi utilizado, essa asneirada (que, claro, não tem nenhum responsável!), é apenas um exemplo dos muitos que haverá que descobrir do Norte a Sul de Portugal. E, quem sabe, tudo isso talvez para “ajudar” uns amigos…
Aliás, as coisas estranhas que, no capítulo de alugueres, têm de deixar os portugueses de boca aberta, como o que foi divulgado pelo programa “Nós por cá”, da RTP1, em que o dispêndio de 2.400 milhões de euros por mês, com a utilização do novo Campus jurídico na zona da antiga Expo, nesse particular o Ministério da Justiça parece ser exímio em disparates. Então não se sabe onde poupar? Ninguém é capaz de meter mão no desvario que ataca muita gente que só faz asneiras neste País e tem nas mãos tanto poder?
Mas há mais, muito mais a assinalar. O caso dos tais submarinos que um Executivo atrasado, com Portas na pasta da Defesa, adquiriu, embora com contrapartidas que, afinal, não podem ser executadas, não se deveria anular, de imediato, esse encargo e tentar reaver o que já foi entregue? É que o próprio chefe do Estado-Maior das Forças Armadas já levantou publicamente dúvidas sobre a utilidade desse gasto de 1000 milhões de euros!
Não vou aqui, como é natural, fazer uma relação exaustiva de tudo o que poderia fazer parte de uma política de “economização” de dinheiros públicos, pois bastaria que um chefe do Governo metesse ombros ao assunto e, sem necessidade de criar mais uma comissão (isso, não!) que, com responsabilidade, se dedicasse com afinco à busca de casos concretos. E até, se fosse pedida a participação dos portugueses, através de indicações que seriam depois analisadas, por aí se encontrariam situações que poderiam ser resolvidas.
Como vê Mário Soares, como eu sempre lhe mostrei nas longas conversas que tivemos nas viagens que fizemos quando trocámos opiniões sobre o caso português, às vezes, o saber ouvir traz os seus benefícios. Mesmo que eles já não venham a tempo…

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