segunda-feira, 21 de março de 2011

AMBIÇÕES


UMA DAS CARACTERÍSTICAS do ser humano, sejam quais forem as circunstâncias que atravesse na vida, é a de manter, desde muito tenra idade, uma ou mais ambições em atingir determinados objectivos que irá desenvolvendo na caminhada que tem de percorrer.
As crianças, com a maior ingenuidade, começam por ter apetites de, quando forem crescidos, desempenharem profissões que mais os atraem durante esse período de sonhos, tais como serem polícias, bombeiros ou também de seguirem as actividades dos seus pais. Mas, com o correr dos tempos, à medida que vão avançando nos estudos – e isso na época actual e na mais próxima dos dias de hoje, porque antes essa perspectiva era mais rara -, as ambições vão-se fortificando no espírito de cada um, dependendo os fins em vista de muitas circunstâncias de que, naturalmente e mais ainda no período que atravessamos em Portugal, a ansiedade em dar continuidade profissional proveitosa aos cursos seguidos, enfrentando o dramático desemprego, é que pesará mais nas decisões que têm de tomar em momento apropriado.
Mas, tendo sob observação os homens de hoje e tomando por exemplo mais concreto alguns que se exibem voluntariosamente perante os panoramas televisivos – que é a grande atracção que movimenta essa classe de gente que surgiu com vida no período da Revolução de 74 -, pode-se nessa camada constatar que a actividade política é a que atrai inegavelmente uma boa porção de homens e mulheres que se aproveitam de tal via para atingir os objectivos que têm em mente e que, se seguissem as carreiras que os seus estudos lhes poderiam proporcionar, nem de perto nem de longe se aproximariam de algo que lhes pudesse proporcionar as regalias que uma entrega bem calculada a um partido que esteja situado razoavelmente na tabela ou, no mínimo, em condições de poder subir no seu escalão, lhes poderá proporcionar.
É evidente que esta observação se aplica a muita gente que, ao longo dos últimos 36 anos e sobretudo nas épocas mais recentes, tem andado atenta às oportunidades que as circunstâncias lhes oferecem e, não excluindo os indivíduos que alinham em partidos por única convicção ideológica, que os haverá, embora poucos, uma grande parte só tem ido entregar a sua inscrição partidária após um estudo cuidadoso das possibilidades de utilizar essa escolha como trampolim para, não só obterem, por exemplo, um lugar bem guloso de deputado na Assembleia da República, como o poder esgueirar-se por entre os muitos concorrentes aos múltiplos objectivos possíveis, de maneira a conseguirem um apoio dos já instalados em tais agências de empregos e, sobretudo, o caírem nas boas graças do chefe principal que lhes poderá deitar uma mão se derem mostras de serem fieis seguidores dos passos, sejam eles quais forem, que os “patrões” partidários considerarem como sendo os fundamentais para mostrarem fidelidade.
Foi sempre assim. Antes do 25 e depois. Nada mudou nesse particular. Logo após a Revolução, quando surgiram os que eu chamei sempre de “revolucionários de pacotilha” e de “democratas à pressa”, e até na época actual, em que os “salvadores da Pátria” surgem por todos os lados, posto que têm podido contar com um ambiente propício criado pelo desastrado José Sócrates, nesta altura concreta, tudo se propicia para abrir largas portas aos que se considerem nas condições ideais para gritar aos portugueses que reside neles a salvação de Portugal.
A queda anunciada de um Governo que se encontra em estado moribundo e as razões que se observam nas derradeiras gaffes cometidas pelo ainda primeiro-ministro, para além do descontentamento nacional que é bastante generalizado em relação ao Executivo, tudo isso, com o principal partido da oposição a declarar-se preparado para substituir o actualmente em funções, havendo dúvidas de que, em eleições antecipadas que venham a ser efectuadas, a maioria absoluta possa caber ao PSD, era mais do que óbvio que o grupo político, situado na linha da direita e que se encontra mais interessado em prestar a ajuda necessária para juntar votos, não iria perder a oportunidade de se oferecer para tal e é aí que o seu presidente actual, Paulo Portas, aparece para levar a cabo uma ambição que se lhe nota e que, provavelmente, desde o primeiro dia em que anuiu à actividade política, ainda que subalterna, constitui uma meta que desejava atingir.
E como, tempos antes, foi o escolhido para exercer umas funções que não lhe estavam, de todo, adaptadas às suas características, as de ministro da Defesa (imagine-se…), nas quais não deixou boas recordações e em que a história dos submarinos ficará gravada no seu “curriculum”, a meta agora idealizada está mesmo a ver-se qual é: a de poder vir a conseguir as funções de primeiro-ministro, eleito por um CDS para quem, na reunião partidária que aconteceu neste fim-de-semana em Viseu, não mostrou o mínimo pejo em declarar abertamente que a sua ambição é de a ver os portugueses votarem em massa no grupo que chefia, mesmo que, até agora, a percentagens de aderência dos portugueses tenha sido bem diminuta.
É evidente que a liberdade política que nos rege não permite que nada nem ninguém possa obstar a que um cidadão nacional se proponha a ocupar, mediante a escolha popular, um posto que deposite nas suas mãos os maiores poderes que um Estado democrático oferece. Isso deixo claro.
E como eu não sou o português mais indicado para opinar nestas circunstâncias, haverá seguramente quem se encontre em melhor posição para o fazer, no que diz respeito à disponibilidade demonstrada por Paulo Portas. Eu, por mim, que o conheci quando foi pedir emprego ao semanário de que eu era sub-director, “o Tempo”, tinha ele então os seus 18 anos, fiquei logo com a convicção de que se tratava de um jovem pleno de ambições, pois já se classificava ele próprio, ainda que sem a menor experiência, com condições para ser um excepcional jornalista. E, a partir daí, fui acompanhando o seu trajecto.
Todavia, contemplando o que constituiu a obra de José Sócrates, tendo assistido a todo o mar de equívocos, de erros, de convicções ruinosas que colocaram Portugal no estado em que se encontra, sou levado a imaginar que, tratando-se o presidente actual do CDS de uma personalidade também permanentemente utilizadora do “eu”, falando sempre em nome pessoal, não obstante dever fazê-lo como um conjunto de pessoas, com a convicção plena de que ele é tudo e os outros pouca coisa, de que a verdade está sempre do seu lado e de que nunca erra e nem precisa de ouvir os parceiros para depois aparecer a comunicar os resultados, não utilizando o “nós” mas sempre o “eu”, não dando a ideia de que terá alguma vez coragem para se confessar publicamente enganado, ao pôr as duas figuras lado a lado e utilizando todas as possibilidades que a comparação pode permitir e que seja aceitável nestes casos, eu, por mim e aqui neste texto sem ambições, só pode dizer que, claro que Sócrates nunca…, mas quanto a Portas não escondo que tenho as minhas dúvidas. E cada vez que o oiço falar em público e contemplo os seus modos… interrogo-me.
Menos-mal que as possibilidades caem sobre um homem, Pedro Passos Coelho, de que não existem ainda razões para apontar grandes falhas, por muito que haja quem o culpe de o PSD ter deixado passar Orçamento e PECs que talvez pudessem ter ficado pelo caminho. Não me resta outro refúgio que não seja depositar o mínimo de esperança de que, por muito mau que seja o panorama, pelo menos vimo-nos livres da figura que tem de ser julgada, pelo menos pela História. Oxalá não me engane.
Já que a dúvida é o que nos envolve nesta fase periclitante do futuro imediato nacional, pois ao menos que nos refugiemos nesse ténue chapéu de chuva, à espera de que não venha aí nenhum tsunami ou coisa parecida, pois que nessas circunstâncias não haverá quem nos salve!...

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