sexta-feira, 25 de março de 2011

PORTUGUESES QUE SOMOS


QUANDO SE CONTEMPLA, como me sucede neste momento, em que escrevo o presente texto (quinta-feira, dia 24 de Março, pelas 17 horas) e na televisão nos é dado observar os membros em boa cavaqueira e que se preparam para reunir em Conselho Europeu, a pergunta que nos salta à cabeça é se todos esses vários responsáveis dos diferentes países que formam o conjunto do nosso Continente têm a mais pequena ideia da forma como se comportam os portugueses, sobretudo nesta altura em que o primeiro ministro demissionário, José Sócrates, se apresenta nessa qualidade de político que, ainda que fosse pela sua própria vontade, não teria outra forma de sustentar o lugar que ocupava.
É certo que, da nossa parte, também não nos podemos arrogar do privilégio de sermos conhecedores profundos das formas de pensar dos diversos povos europeus ali representados, mas, fazendo o exame ao contrário, não podemos deixar de reconhecer que, no caso dos lusitanos, é bem mais difícil que os outros entendam perfeitamente quais são as nossas maneiras de actuar perante situações que exigem bom senso, tranquilidade, sentido apurado de defesa dos interesses que dizem respeito ao grupo populacional de que fazemos parte. Sobretudo na área da política, somos nós próprios cá de casa que não temos capacidade para prever as reacções dos parceiros de língua e de Pátria face a situações mais complicadas.
Posto este desabafo, que não adianta nem atrasa no capítulo de alterarmos a nossa maneira de ser, agora que nos encontramos já aliviados de um governante que, no decorrer do seu mandato, o que fez foi ter colocado Portugal numa posição de afundamento progressivo da sua já tão difícil situação de que a crise mundial foi grande contribuinte, perante a sua demissão de moto-próprio para se adiantar ao que lhe aconteceria por decisão alheia, o que faria bem, a todos nós portugueses que iremos deitar o nosso voto na altura em que isso for requerido, era reflectirmos um pouco sobre aquilo que temos sido e ainda somos, ou seja, metermos bem a mão na consciência e penitenciarmo-nos por este nosso feitio de passar a vida de mão estendida na pedincha de auxílio dos outros e, quando o obtemos, não o utilizar com o devido proveito o que nos chega.
Com excepção da altura em que, perante o Plano Marshall, a seguir à Grande Guerra, Salazar recusou o apoio que nos foi oferecido, com sucedeu a outros parceiros da Europa, alegando não necessitarmos de “esmolas”, mais recentemente, por via da nossa adesão à CEE, não deixámos nunca de participar das várias ofertas que nos foram proporcionadas. Mas, infelizmente, sem tirar todo o proveito que cabeças bem pensante não desperdiçariam.
Vamos a exemplos:
Quando, sendo Portugal o País com maior área marítima, logo que nos foi proposto reduzir a frota marítima, sobretudo a pesqueira, a troco da facilitação financeira que nos foi oferecida, de imediato nos pusemos de mãos estendidas e não hesitaram os governantes da altura em seguir o caminho mais fácil, mesmo que isso representasse, como sucedeu, a perca de uma actividade produtiva que, nesta altura, poderia e deveria fazer parte do sector de aumento de riqueza e de possibilidade de exportarmos o que nos sobrasse, numa altura como aquela o que interessou foi receber de fora e não houve quem reflectisse no sentido de prever o futuro.
Mas o mesmo sucedeu em relação à agricultura. Também, a troco de pararmos de cultivar e de aproveitar as características próprias da nossa temperatura propícia a anteciparmo-nos umas semanas da produção hortícola e frutícola do resto do Continente, meteu-se ao bolso o qu3e pareceu ser uma oferta dos deuses e os campos nacionais ficaram à mercê daqueles que, em vez de tractores e de maquinaria agrícola moderna, se regalaram com automóveis topo de gama e com viagens de milionários. Agora choram com a pouca produção que conseguimos, num período em que tanta falta nos faz o equilíbrio das contas nacionais.
Pois é a torcer a orelha que os portugueses tomam consciência de que a situação económica e financeira do País não encontrará equilíbrio sem o auxílio do estrangeiro e que serão necessárias várias décadas para podermos – se pudermos – não ser uma Nação, aqui na ponta da Europa, a assistir ao desenvolvimento de tantos povos que, esses sim, nunca voltaram as costas à produção e foram capazes de ultrapassar as crises que lhes surgiram.
Não venham agora deitar as culpas só a um Sócrates que, por péssimo e destruidor que tenha sido e foi, não pode ser acusado isoladamente do que se sofre actualmente e daquilo que vai ainda passar-se por este País. Somos todos nós, os que não gostamos de utilizar o tempo de que dispomos para, nos horários respectivos, não nos distrairmos com disfarces de produção, que é forçoso que tomemos consciência das diferenças de actividade produtiva que nos separam dos povos que se encontram já na senda do progresso, mesmo aqueles que estiveram submetidos às ditaduras de vária cores.
Por hoje, não me dedico a referir o que vai suceder, politicamente falando, neste nosso País à beira mar plantado. Já com a Primavera chegada. Pelo menos recebamos um pouco de optimismo, com ou sem acordo ortográfico que, como se vê, ainda não faz parte da minha semântica.

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