quarta-feira, 16 de março de 2011

CONVERSAS FIADAS


NO DIA EM QUE FOR POSSÍVEL, neste nosso País, não nos incomodarmos com o que um primeiro-ministro diz ou deixa de dizer, o que não sucede no momento que atravessamos, nessa altura, ainda que a situação económica, financeira e social não se tenha ainda recomposto do estado em que se encontra agora, pelo menos não nos atormentaremos perante aquilo que somos forçados a suportar e que é o que sai da boca de um fulano que dá toda a ideia de viver noutro planeta e de não ter a menor ideia da realidade que o rodeia a ele a todo o País onde existimos.
Este sentimento não constitui uma raridade em Portugal. Basta andar por todos os sítios por onde passamos ao longo deste nosso território e o que se escuta com mais vulgaridade é a adversidade quanto ao governante que está instalado e que se encontra protegido pelo receio de todas as partes com possibilidades em ocupar o lugar que lhe tem cabido, mas que não se atrevem a tomar a decisão. É que dar a volta de 180 graus aos procedimentos que sejam capazes de colocar o nosso País numa plataforma que possa ser considerada como a possível e minimamente certeira, isso quando conscientemente, a situação atingiu aquela considerada como a de não ter ponta por onde se lhe pegue, tal pavor em pegar num País que atingiu o fundo do poço e que nem um milagre o consegue fazer subir à superfície apenas pelos seus próprios meios, é esse grau de debilidade que assusta qualquer provável sucessor nas funções de chefe de um novo Governo e que o faz reter-se apenas como comentador e maldizente.
Mas que as coisas não podem permanecer durante mais tempo como estão, que, por mais difíceis que tenham de ser as soluções para repor Portugal no caminho que lhe pertence por direito e como Nação europeia a cumprir o papel que a História lhe reserva, tem forçosamente que surgir alguma solução, ainda que se mantenha a ideia de que a dependência dos restantes modos que, do exterior, lá têm vindo a fazer aumentar a enorme dívida que já está assente na pipa e que algum dia haverá que liquidar, o que entrou mais os elevadíssimos juros que sobrecarregam os vindouros nacionais.
Da Europa, a que aderimos com a esperança de que se tratava de uma comunidade que iria funcionar como uma federação, até talvez uns futuros estados unidos, verifica-se que a promessa feita nos primórdios da sua constituição como CEE est5á cada vez mais longe de se verificar. Cada um por si e ninguém por todos é o panorama que se apresenta para os que, como Mário Soares, tanto aspiravam que se concretizasse um dia.
A ideia que eu defendo há muitos anos de se formar, com a vizinha Espanha, uma espécie do Benelux, a Ibéria, para lhe dar um nome, em que esta Península daria mostras da sua força no compromissos que fossem firmados no conjunto das nações que aderiram à Comunidade europeia, discutindo, lado a lado, com a Alemanha e a França, as formas de levar por diante a unidade que tem faltado neste nosso Continente, tal proposta encontra-se muito longe de vir a ser concretizada, posto que, sobretudo do lado de cá da fronteira, não se viu nunca e também agora uma iniciativa governamental e parlamentar que conduza a tal passo.
Daí que estamos entregues a nós mesmos. E como não há razão para crer que a actual conjectura do Executivo seja capaz de enfrentar abertamente a difícil situação em que nos encontramos, pois que a teimosa convicção de Sócrates de que ele é único com razão e senhor da verdade absoluta, a saída possível reside apenas na queda forçada do Gabinete governamental e desejar que, no seu lugar, os portugueses tenham capacidade para escolher razoavelmente o substituto, um partido ou uma coligação, que, em derradeira causa, pegue no doente chamado Portugal e consiga libertá-lo da morte anunciada.
A todos nós, que ainda estamos vivos, só nos resta assistir ao espernear do defunto e tudo fazer para que consigamos, através da produção, que é o que sempre nos faltou, suportar o consumo interno e conquistar até mercados externos. Não há outra maneira de podermos subsistir. E isso quer dizer que cada um de nós se deve compenetrar de que o trabalho é isso mesmo: o não passarmos o tempo na conversa, nas fugas ao café, nos telefonemas a torto e a direito, e sim utilizar todo o período de actividade apenas agarrados ao que devemos fazer e a produzir.
É isto que compete a todos os que se situam nos lugares de comando, começando pelo Presidente da República e incluindo todos os lugares de chefia, incluindo o Parlamento, dando o exemplo de arregaçar as mangas, de restringir ao máximo as despesas inúteis e de recomendar aos portugueses aquilo que é forçoso que lhes seja dito, sem tibiezas e sem complexos.
A morte anunciada do nosso País só será evitada se acabarmos de vez com as conversas fiadas dos políticos, sejam eles quais forem, e se passe dos discursos à acção.
Não vejo outra forma.
P.S. – Acabo de seguir com a maior atenção a entrevista que José Sócrates deu à SIC e, em primeiro lugar, só tenho que lastimar que continuemos a não dispor de jornalistas com capacidade para apresentar um questionário – e não a fazer afirmações que não lhes competem – que obrigue os entrevistados a não se repetirem nos pontos que lhes interessam e a deixar em claro respostas que os obriguem a não fugir às questões. E foi isso que sucedeu ontem.
Mas, quanto a poder ainda existir alguma expectativa no que respeita a declarações que ajudassem a esclarecer a forma de fazer política do que ainda se mantém como primeiro-ministro e, pelos vistos, face a uma eventual crise politica (que Sócrates referiu 23 vezes), declarou-se disponível para concorrer a outras eleições. Logo, agarrado ao poder ele está. Mas há que voltar ao assunto. Depois…

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