segunda-feira, 31 de maio de 2010

AGRICULTRURA Á PORTUGUESA


CAVACO SILVA, numa das suas visitas ao interior do País, em pleno Alentejo lançou um desafio para que os agricultores portugueses se entregassem com entusiasmo à sua actividade, posto que, no seu entender, a agricultura será uma via de peso de que nos poderemos servir para colocar no estrangeiro os produtos nacionais da terra. E, com isto, parece ter descoberto alguma coisa de que não tínhamos a menor ideia.
Com o respeito que tem de merecer o Supremo Magistrado da Nação, seja ele qual for, aquilo com que deparamos frequentemente é que as mais bem situadas personalidades na hierarquia do Estado andam frequentemente desfasados das realidades portuguesas e, de vez em quando, “descobrem” soluções para os problemas portugueses que, quem não anda distraído e tem alguma vivência no seio do panorama, já conhece há muito tempo.
Falemos então da agricultura nacional. E eu, que especificamente lidei com esta área quando fui director, durante alguns anos, de uma publicação que teve larga difusão nessa zona e que se chamava “o País Agrícola”, estou em condições de poder opinar quanto a um sector que já foi da certa importância no conjunto económico português. É o que vou fazer neste espaço.
Somos um País pequeno, todos sabem, e, por tal motivo, as propriedades destinadas à agricultura também são de tamanho reduzido, com excepção do Alentejo onde, desde tempos remotos, se encontram ainda os chamados grandes proprietários, atendendo às dimensões proporcionais do nosso espaço como Nação. Logo, os restantes habitantes que se dedicam a tal actividade, de Norte a Sul, não são mais do que limitados cultivadores de terras com características de utilizadores de ferramentas não mecanizadas e produtores de pequenas quantidades de géneros que são consumidos em família e o que sobra é posto à venda em mercados relativamente perto.
Lisboa, como consumidora de certo tamanho, recordo que desde os tempos da Praça da Figueira, onde as carroças, vindas das regiões do Oeste, se acumulavam toda a noite, pela rua dos Correeiros fora, à espera da abertura das portas de madrugada para descarregarem os vegetais que ali eram destinados, e, nos dias de hoje, já não utilizando o transporte muar ou com bois mas sim por via motriz, também continua a consumir o que os fornecedores de vegetais vão trazendo.
Só que actualmente, a concorrência com os produtos oriundos do estrangeiro, sobretudo as frutas, obriga a que os preços sejam estabelecidos por essa via e, ao invés, ou seja no que diz respeito a podarmos ser nós a exportar para fora das fronteiras, aí já nos faltam as capacidades para conquistarmos mercados que não estão à mão de semear.
Ora, é aí precisamente que os nossos governantes, os de hoje mas também os de sempre, não sabem nem aprendem as regras que são essenciais para podermos estar à altura de preços e qualidades que interessem os mercados mais longe, mesmo os europeus, mas menos ainda os de outros continentes. Eu, que tive oportunidade de trazer de Israel a possibilidade de nos ensinarem como se conquista o interesse de potenciais compradores estrangeiros de produtos agrícolas, não consegui interessar, na altura, dois ministros sucessivos detentores da respectiva pasta, pois não foram capazes de entender que seria um passos importante se o Governo de então tivesse apadrinhado a proposta.
É que nós, como pequenos agricultores que somos, não temos, a nível individual, capacidade de investimento e de produção suficientes para estudarmos quais os produtos que são susceptíveis de suportar a concorrência do exterior, que características devem ter e que preços é que são susceptíveis de interessar aos potenciais compradores. Só uma instituição que aglutine todo o sector nas múltiplas actividades que vão desde o cultivo e até à recolha e apresentação, é que estará em condições de enfrentar tamanha tarefa. E isso, tal como sucede em Israel – pequeno País que nem terrenos de qualidade possui -, é que seria útil termos colhido os ensinamentos e o apoio técnico, o que não sucedeu na altura a que me referi. Mas, um dia, num espaço mais oportuno, relatarei os acontecimentos que constituem a prova de que, quando não sabemos também não queremos dar mostras da nossa ignorância. E vem sempre aquela frase dos políticos que, a mim, me causa a maior das vergonhas: “não recebemos lições de ninguém!”
Este episódio não é do conhecimento de Cavaco Silva mesmo que, por sinal, o seu pai até tenha sido um dos participantes duma excursão de agricultores que “o País Agrícola” organizou a Israel… E bastante me felicitou pelo facto.

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