segunda-feira, 24 de maio de 2010

CONFUSÃO TOTAL


JÁ PERDEMOS COMPLETAMENTE o Norte. Os indivíduos que se encontram no Governo, da mesma maneira que muitos dos que lá não estão, não sabem bem o que dizem, muito embora, dentro das nossas características, não sejamos capazes de dar o braço a torcer e confessar que, de facto, andamos bastante às avessas do que seria normal que nos encontrássemos, para tentar conseguir dar a volta ao estado lastimoso a que chegámos em Portugal. Se, na televisão e na rádio, como também nas repostas que são dadas aos entrevistadores, só com grande dificuldade conseguimos atinar com uma fala que seja considerada como tratando-se de alguém que tem todos seus neurónios no seu lugar, a conclusão a que se deve chegar é a de que alastra pelo nosso País uma onda de pouca irreflexão e que os enganos, as “gaffes”, os pés pelas mãos tomaram assento na nossa Terra.
E, se não é assim, como se explica que o próprio ministro das Finanças com a ordem de publicação no “D.R.” das novas tabelas de retenção na fonte do IRS, não tenha tido o cuidado de estabelecer a data de entrada em vigor, em 1 de Junho, pois não o tendo feito a Lei tem de ser cumprida quando determina que o dia a seguir a uma publicação é o que marca o início do efeito do diploma. Mas, tal é o desvario com que andam estes homens públicos que, dizendo e desdizendo, enganando-se continuamente, mas não sendo capazes de pedir desculpa a seguir, o seu comportamento é o de manter o erro e fazendo todos de parvos, com o maior desplante.
Afinal, essa maneira de pretenderem manter-se intocáveis, não se verifica apenas no actual Executivo. Uma certa protecção quanto ao que se passou para trás, de não atacar muito pois alguma coisa pode sobrar para os actuais ditos responsáveis, verifica-se igualmente, por exemplo, em relação ao chamado caso do submarinos, tanto que já está decidido que os 1.050 milhões de euros que constituem o seu custo, apenas em 2.012 é que serão inscritos nas contas do Estado, pois, segundo argumentos apresentados pelo actual ministro da Defesa, o que tem o “pepino”na mão, não se falando já no mal tratado acordo de fazer pagar parte do valor dos dois submersíveis com a contrapartida de compra, por parte dos alemães, de produtos nacionais, o que, segundo se apurou, não ficou devida e juridicamente explícito no contrato. De quem foi a culpa, primeiro de uma compra que não podia ser considerada necessária e, depois, da má operação legal para concretizá-la? Disso ninguém se mostra disposto a esclarecer e é até na Alemanha que se verificam actuações policiais para punir prováveis interferentes corruptos. E do nosso lado, ninguém beneficiou pessoalmente com tal asneira da compra? Para já, o que está apurado é que o Estado português já perdeu com esta negociata 32 milhões de euros. Isso, por enquanto.
Um pouco à pressa e com um atraso que não se explica, soube-se ontem que o Governo tem intenções de conhecer os pormenores desse caso das compras submarinas. Por enquanto é só isto, o que não quer dizer que se consiga aclarar toda a matéria. Alguém tem a certeza de que, alguma vez, se chegue a uma conclusão?
De facto, numa altura em que já é do conhecimento público que o Estado se declara incapaz de satisfazer os gastos nas Forças Armadas, em todos os ramos, incluindo por isso a Marinha, deparamos com a melhor oportunidade para nos metermos em enrascadas de compra de submarinos e o não ter apetecido aos “responsáveis” da altura encomendar um porta aviões já foi uma sorte. A mim, o que me confunde também muito é assistir às intervenções de Paulo Portas nas suas intervenções populares em que, com toda a razão, se indigna pelos gastos que o Estado, em todas as suas estâncias, e não teve ainda uma palavra de esclarecimento público no que diz respeito à sua actuação de compra dos “tais”, isto na altura em que ocupava o lugar de ministro da Defesa e do Mar. Custa-me escrever isto, mas não posso permanecer calado!
Que fiquem registadas nas páginas da nossa História que, se tivemos a coragem de navegar, séculos atrás, em naus para descobrir o mundo e até foi numa frágil avioneta que Gago Coutinho e Sacadura Cabral fizeram a primeira viagem aérea para o Brasil, também, passados anos, quisemos ter o orgulho de poder ir a Cacilhas debaixo de água. Se bem que, para vigiar toda a costa, não contemos com os barcos ultra-rápidos que são essenciais para impedir o contrabando.
Nós, portugueses, fazemos o melhor e o pior – mas com grande separação de anos!

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