sábado, 22 de maio de 2010

QUE NOS IMPORTA O FIM DO EURO?


ANDAMOS TODOS justamente muito preocupados com a situação económica e social que ocorre em Portugal, e talvez por isso não estejamos tão atentos ao que se passa na Europa, mais concretamente na União a que pertencemos, e naquilo que se considera ser um ataque ao euro e, por arrasto, na desagregação de um projecto político-económico de grande alcance e enorme imaginação do seu criador, como é o de uma Europa unida e coesa, funcionando como um todo, e em que 27 países (ou aqueles que aderiram na totalidade, incluindo o uso da moeda única), se têm de mostrar completamente abertos a uma política de concórdia e de entreajuda, por forma a que possa vir a concretizar-se aquilo que, em meu entender e também de muitos observadores, consiste em podermos assistir ainda ao surgimento dos Estados Unidos da Europa. Vivemos, pois, num período de perigo que aponta para o fim do euro? Será que, apesar da moeda única ter conseguido proteger melhor os países que mais sofreram com a crise mundial, do que se conservassem os seus anteriores dinheiros locais e, no caso português, o termos conseguido uma inegável confiança dos credores que não teria sido atingida se o escudo ainda vigorasse, mesmo assim a dúvida sobre a manutenção de uma divisa utilizada pela maioria das nações do nosso Continente continuará a levantar-se com alguma insistência?
É que os homens andam permanentemente a criar dificuldades à sua própria vida e não são assim tão poucos os que mostram saudosismo das suas anteriores moedas próprias, como se tal atitude representasse uma defesa contra o afogamento de uma crise que alastrou com grande rapidez.
O caso da Grécia, que assusta outro países situados no nosso Continente e que tem o nosso deveras apreensivo no que se refere a tocar-lhe à porta idêntica situação, a ajuda que foi acordada para, com o euro, acudir à quebra absoluta de crédito, motivado por excessivos empréstimos que lhe foram concedidos, porque os gastos, lá como por cá, embora menos, e que ultrapassaram a possibilidade de serem suportados, esse desequilíbrio financeiro ainda pôde contar com a ajuda, renitente é certo, sobretudo por parte da Alemanha, dos restantes países europeus que, da mesma forma que calhou, no nosso caso a vez de participar com um montante que bastante falta nos faz, se tratou de um “empréstimo” que foi concretizado em euros. Por outro lado, está apurado que cada português deve cerca de 20 mil milhões de euros aos bancos estrangeiros e com esta nota podemos ficar esclarecidos no que se refere ao respeito que tem de nos merecer esta moeda e quem a criou.
É por isso que, do mal o menor. Bem à portuguesa. Os que avisam as hostes de que a moeda europeia está em perigo e que já foram maiores as garantias de que se conservasse a sua utilização pela maioria dos 27, esses sustos que correm o Continente talvez não passem disso mesmo, de um sobressalto. É o que se espera.
Mas, na fase em que vive actualmente o mundo, já tudo é de admitir. E a nós, essa de voltarmos ao escudo antigo, depois da experiência, boa ou má, mas concretizada, de aderirmos ao dinheiro de uma maioria europeia, representaria o ficarmos aqui “albanizados”, a olhar para um umbigo que, por demais conhecido, já não constitui o mínimo de esperança nem aos mais optimistas.
E é isto que se passa por cá. “Albanizados” já andamos nós há muito tempo. Atarefados com situações que não têm a menor utilidade no sentido de servir para nos livrarmos daquilo que se encontra já cá dentro da nossa porta. Apenas conversas de pátio. Assuntos de comadres. E o que nos vale é assistir a Sócrates a “falar” castelhano nas reuniões que tem com os parceiros do lado de lá da fronteira. Porque lá que tem graça, lá isso tem. Não só porque se trata de tentar expressar-se num idioma que não é de cá nem de lá, e mesmo que, quando os vizinhos nos visitam não usam o nosso idioma, pois nem é preciso, nós – o Sócrates – queremos mostrar que somos muito aptos em línguas estrangeiras. E, de facto, lá isso até somos, mas para pouco mais temos uma capacidade que valha a pena sublinhar, isso no que se refere a actuar no seio do nosso País, porque quando saímos, para além da facilidade de adaptação à língua que encontramos, também damos mostra da nossa capacidade de trabalho. Já cá dentro!...
Por outro lado e mesmo que não venha a propósito tem lugar neste, desabafo acabando com esta consideração: se tivermos a paciência de fazer como eu ainda procedo – não sei até quando – de passar, mesmo rapidamente que seja, os olhos pelos jornais diários e alguns semanários, e ir tomando conta dos títulos que procuram criar o interesse dos potenciais leitores, verificarão que, na esmagadora maioria dos casos, se tratam de assuntos que não merecem cansar minimamente os nossos cérebros. E, face à minha experiência de longas épocas passadas a seguir as instruções dos mestres da altura, gente sabedora, tenho de concluir que, ou estou completamente desfasado dos métodos que servem hoje para fazer chegar aos potenciais compradores da Informação os jornais que têm esse objectivo ou são os profissionais desta época que não são capazes de entender o que se espera deles. E, sendo assim, até se compreende o motivo por que as vendas de periódicos tem caído tanto desde há uns anos para cá!
As “notícias” publicadas seguidamente sobre as mudanças de namorados de gente que mal se conhece, lá porque se pavoneiam por aqui e ali ou desfilam acolá, ou cantam o que conseguem e que elas vão ser mães, de rapazes ou de raparigas, estas ou aquelas, o que nos é completamente indiferente, e, também essa “bronca”, fabricada recentemente, de que uma professora primária se prontificou a ser fotografada nua para uma revista da especialidade e que, devido a esse facto, foi dispensada pela escola - o que, ao que parece, acabou por ser anulada tal decisão –, tendo provocado que esse acontecimento (por sinal, algo que merece perfeitamente ser divulgado, pois que de gente feia está este País farto) se tivesse repetido dias a fio, todos esses espaços nas colunas e até nas capas dos ditos “jornais”, tal moda dos nossos tempos só quererá dizer que, de notícias que, de facto, o sejam, sobretudo agradáveis, de temas que nos animem, para disfarçar, de certo modo, os inúmeros engulhos que nos chegam ao conhecimento, os que vêm a lume já só provocam um ainda maior mau modo que nos é tão peculiar e se enraizou neste Portugal desconsolado.
Qual fim do euro! Quais dramas internos que nos fazem diminuir drasticamente o já tão baixo nível de vida dos milhões que somos nestas condições! Qual primeiro-ministro que temos de suportar, pois que não é altura de se pensar em eleições legislativas! Qual desemprego que atingiu já os 700 mil e que não se encontra disposto a diminuir de intensidade! Qual incapacidade para desenvolvermos a nossa produção e qual forma de colocarmos os produtos que poderíamos fabricar nos mercados estrangeiros! Qual tudo isso e muito mais! O que importa é ir assistindo às fofoquices, não só do intolerável “jet set”, mas também no ambiente político, pois que somos todos feitos da mesma massa e a projecção da nossa imagem bem maquilhada é uma preocupação que nos acompanha em todas as situações.

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