quinta-feira, 27 de maio de 2010

O BACALHAU DO BASÍLIO


TANTO SE FALA - e alguma coisa, não muito acertada, tem sido feita, no sentido de procurar diminuir os gastos excessivos por parte do Estado -, e tanto tem sido este tema debatido sem que, na realidade, tenha sido “atacada” (esta é a expressão) a fundo a forma de reduzir drasticamente as despesas que bem poderiam ter sido já anuladas em ocasiões atrás, que nunca é demais aproveitar todas as formas de comunicação para acrescentar o que seja possível para incentivar os governantes a darem todos os passos essenciais, de forma a não ser somente pela via dos impostos que seremos capazes de equilibrar, quanto possível as nossas contas públicas.
Já aqui, neste blogue, por mais de uma vez, referi o sector dos transportes e das mordomias de que usufruem demasiados privilegiados que se situam na área do Estado. É que, quanto a usufruírem da comodidade de disporem de um automóvel ao seu serviço exclusivo, bem como de motorista, também ele fixo, essa situação só aceitável quando um país não atravessa um período de dificuldades financeiras, como é o nosso caso actual, já deveriam estas condições terem sido modificadas e, em vez disso, ser criado um departamento, com oficina própria de reparações e garagem para arrecadação das viaturas a aguardar requisição justificada, assim como, cada vez que fosse necessário utilizar tais serviços, o automóvel posto à disposição seria o que estivesse disponível, tal como o condutor que se encontrasse operacional. Só os ministros e secretários de Estado é que ainda poderiam dispor de serviços permanentes, mas todos os restantes, incluindo directores-gerais e lugares abaixo, só teriam direito aos serviços desde que os requisitassem, justificadamente, ao tal departamento, com poderes bastantes para negar a utilização se não se encontrasse devidamente regulado o pedido.
Mas, claro, não é apenas neste capítulo concreto da redução de dispêndios que devem limitar-se as medidas urgentes a tomar. Existem muitos sectores que merecem uma actuação pronta da Governação. Por exemplo, o caso do AICEP. Há vários anos que este Instituto, que até há pouco tempo se chamava apenas ICEP – nunca se compreende claramente o motivo por que se resolve, um belo dia, mudar os nomes para tudo ficar na mesma -, sempre teve e continua a ter como objectivo o de propagar no estrangeiro os produtos que poderemos exportar e, ao mesmo tempo, procurar interessar capitais de fora para virem instalar-se em Portugal com a abertura de novas iniciativas industriais, a fim de enriquecerem o activo nacional, ao mesmo tempo que podem proporcionar a criação de empregos. Ora bem, ao contrário do que eu sempre clamei e em que não fui ouvido pelos “sábios” que têm estado instalados nos postos de comando oficial, nunca se deu um passo que fosse no sentido de serem aglomerados, no mesmo Instituto, os intuitos de criar as condições essenciais para que as empresas exportadoras portugueses descobrissem novos mercados, ao mesmo tempo que se procederia ao fomento do nosso turismo fora de portas. E eu sou explícito.
Um exemplo que é bem visível para quem se desloca ao estrangeiro encontra-se, de forma clara, em Nova Iorque onde, a pouca distância e num bairro conhecido, se situa uma loja do AICEP, uma outra destinada ao turismo português e, um pouco adiante, a loja da TAP. Quer dizer, são três serviços, por sinal a pagarem rendas caríssimas, com diferentes directores e pessoal respectivo em cada função, quando o que seria admissível era apenas um local destinado aos três objectivos, com um só director e menos pessoal, mas este devidamente preparado para servir as respectivas missões. Podia ser até um estabelecimento de maior gabarito, com a designação de PORTUGAL bem saliente, o que constituiria até uma amostra poderosa da nossa existência. Isso, sobretudo porque nos E.U.A., um enorme número de habitantes não tem uma ideia bem formada da existência, até geográfica, do nosso País.
Mas esta ocorrência não é um exclusivo de Nova Iorque, pois verifica-se por muitas partes no exterior e as despesas que se suportam com o não conhecimento das realidades e também com a falta de imaginação daqueles que têm como função ir remodelando o que se encontra mal explorado, igualmente por preguiça de fazer bom serviço, tais gastos mal aproveitados vão-se mantendo e, como sucede agora, mesmo com as deficiências de orçamento no sector público, não se verificam os gestos e as propostas que alterem o que já se considerou tradicional.
Daqui lanço um desafio a Basílio Horta., actual presidente do AICEP: se lhe cabe a responsabilidade de desenvolver as exportações e de convencer investidores e grandes empresas do exterior para se instalarem na nossa Terra, convença o ministro que tem a seu cargo a Economia, logo também o turismo, certamente bem fora destes problemas, a ser o autor da modificação que proponho ou outra até mais apropriada. Mas não se deixe ficar sentadinho no seu gabinete e a aguardar pelo dia em que será colocado noutras funções, pois o despedimento está sempre fora de causa nos postos equivalentes ao que ocupa e a exigência de responsabilidades também é atitude que não se usa por cá.
Claro que eu escrevo isto e abordo outros assuntos mais sempre sem a menor esperança de que surja algum dia uma personalidade com poder, coragem, alguma humildade em reconhecer valor nas opiniões do outros e vontade de alterar o que não estará muito bem, que dê o passo decisivo para sair da rotina histórica que tanto gostamos de manter.
Mas, como estou vivo, já vivi bastante para ver muita coisa, não estou limitado por quaisquer compromissos que me atem a língua e as mãos, o que constituiu, aliás, sempre um princípio que me guiou pela vida fora, mesmo quando, como jornalista se pagavam caros tais atrevimentos, é neste blogue que dou largas ao que julgo útil ao meu País. E até agradeço os comentários, mesmo discordantes, que me chegam…
Quanto a Basílio Horta que, como pessoa respeito e reconheço a sua cordialidade, só tenho que voltar a pedir desculpa por lhe mostrar certa discordância que, como sucedeu quando exerceu as funções de ministro da Economia e por decisões erradas não existia bacalhau no nosso País e, por isso, tomei uma posição que não lhe agradou – o que provocou a sua ordem de ser retirada a publicidade ao Jornal que eu dirigia -, tendo, depois de sair do Governo, sido ele a fazer questão em cumprimentar-me, uma vez que nos encontrámos no Parlamento. E fomos almoçar, com o prato obrigatório de bacalhau…

Sem comentários: