segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

EUROPA, ONDE ESTÁS?


NÓS FALAMOS, REVOLTAMO-NOS, não aceitamos as posições que muitas vezes são tomadas e, se temos razão, ainda bem que o fazemos. Não devemos ficar conformados. Quando as atitudes que são assumidas não são consideradas como sendo as mais aconselháveis, obviamente, dentro das regras democráticas, cabe-nos usar da nossa prerrogativa de evidenciar descontentamento. E, se com essa atitude, não provocamos prejuízo ao próximo e, muito menos, causamos custos à Nação, ainda mais valor terá a demonstração de chamar a atenção aos senhores do Poder. Ao longo da minha vida de jornalista, antes e depois do Abril, sempre actuei desta forma. Mas aceito que haja quem não concorde comigo.
Porém, o que se passa por cá não representa uma característica exclusiva portuguesa, pois que grande parte das causas da crise que todos sofremos é proveniente dos países incluídos no grupo europeu, na área do euro e na Comunidade, dado que não dão mostras de saberem entender-se no mínimo que lhes deve ser exigido e de que os maiores beneficiários com tal atitude seriam os próprios participantes.
Se, dentro das características para que foi criada a então CEE, se verificasse aquela ajuda colectiva, dando-se as mãos aos mais fracos e fazendo com que a moeda única – que deveria ser obrigatória para a totalidade dos membros – se fosse fortificando, é evidente que muitos dos problemas que se verificam seriam remediados. Mas não é isso que sucede e, pelo contrário, as lutas, as atitudes de superioridade, as invejas e os desejos de benefícios próprios em detrimento dos que os alcançam, tudo isso representa o afastamento em lugar da união que colocaria a Europa em plano de igualdade em relação aos países mais evoluídos de todo o mundo.
Não sei se poderemos manter algumas esperanças de que, depois de tantos anos da criação da Comunidade e face aos inúmeros sobressaltos que se têm verificado no decorrer da sua existência, já com tempo suficiente para ter sido fortificada uma ideia que merecia melhor compreensão, alguma vez se alcançará o bom entendimento entre os homens, ainda que seja em seu próprio benefício.
Confesso que já mantive mais fé nesse objectivo do que aquele que ainda conservo hoje. E, especialmente, o que considero poder ser a vitória máxima deste conjunto, que seria a criação dos Estados Unidos da Europa, aí cada vez observo maior afastamento da maioria dos parceiros.
A ideia que mantenho há anos – ainda muito antes de existir a CEE – de que obteríamos grandes vantagens de diversa ordem, e servindo até de exemplo a toda a Europa, se estabelecêssemos um forte acordo com a vizinha Espanha, no sentido de formar um bloco económico, sobretudo de produção agrícola mas não só, em que uníssemos esforços que serviriam para os melhores momentos, mas em particular para enfrentar os piores, os resultados e a força que se conseguiria junto da Comunidade e, em particular, perante o actual bloco franco-alemão, dar-nos-ia enormes vantagens por deixarmos de ser este pequeno território na ponta do Continente, que quase não conta quando lutamos pelos nossos direitos e obrigar os parceiros a ouvir os nossos pontos de vista.
Mas, por cá, é escasso o sentido de união e paira permanentemente o receio tonto de sermos absorvidos pela Espanha (!), como se isso pudesse alguma vez ter lugar e representar qualquer subjugação e não um aumento de importância mútua para a solução dos nossos problemas. Mas, quanto a isto, já expus demasiadas vezes esta tese e só tempo indicará onde se encontra a razão. O ideal é que não surja excessivamente tarde.
O grave, nesta altura, é que a Europa não consegue unir-se para fazer face ao problema que atingiu tantos países do seu conjunto. E nós, aqui neste cantinho, também não alcançamos tal fim apenas pelos nossos meios, tendo de ser objecto de grande sofrimento e, segundo há que aceitar, com a intervenção do tal FMI, pela falta de capacidade, da nossa parte, em actuar com a coragem que se necessita sempre que as situações são desagradáveis.
Será que, alguma vez, a Ibéria – tal como o Benelux – virá a ser uma realidade? O futuro, e não próximo, dará resposta a isso. Mas, para tal, teremos que todos, os que ocupamos este espaço para cá dos Pirinéus, unir as mãos e, sem complexos de ocupações falsas, bater o pé à Europa que, como se verifica, também não consegue formar o coro afinado que, seguindo escrupulosamente as regras da Democracia, se deixe de superioridades de alguns e não queira ficar na História como um mau momento desde a sua constituição.
Falta de patriotismo é nada fazer para manter Portugal na senda da sua existência de cabeça levantada, em vez de nos irmos arrastando neste espaço de terra, sob o olhar desprezível dos companheiros continentais e até do mundo.
É isso que me faz sentir revolta, pois que essa coisa do amor e de uma cabana, nem para os sonhadores já é argumento.

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