sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

TRAPALHADA

OS LEITORES DESTE BLOGUE estão já avisados. Daqui a 72 anos terão o encargo de acabar de liquidar a dívida que tem vindo a ser contraída pelo Estado, neste “estado” a que chegámos. Eu, por mim, começo já a fazer pôr de parte o muito que me sobra todos os meses, de modo a que, nessa altura, ter já arrecadado os milhões que me cabem, como cidadão!
Só com o mau gosto de brincar com estas coisas tão sérias é que poderemos ainda largar larachas em relação ao panorama que nos é oferecido. Nós portugueses que, como eu, terão sofrido as agruras da situação ditatorial de antes do 25 de Abril, depois, na altura do PREC, apanharam com as consequências da acção de uma camada de “revolucionários” de pacotilha, que fizeram o País passar por um período de completa anarquia política e, depois disso, com a intervenção de um FMI que aqui impôs as suas normas, terem sido sentidas as restrições que eram inevitáveis, até à situação actual que é a mais negra de todos os tempos, resultado de uma absoluta incompetência por parte dos governantes que, ninguém nega, foram os escolhidos eleitoralmente pelo povo que se sente muito enganado, todos nós pouco mais poderemos fazer que não seja conformarmo-nos com as circunstâncias, a menos que, através da acção do próximo Presidente da República, ainda que seja a repetição do mandato anterior, se verifique algum acção positiva que incite toda a população a seguir recomendações práticas e o Governo que estiver a actuar dê mostras de comportamento bem diferentes das que foram, durante estes últimos anos, as que foram usadas pelo culpado número de tudo que se passa: José Sócrates.
Quando, mesmo nesta altura, temos de suportar as afirmações ridículas, digo até criminosas, do primeiro-ministro que, com um optimismo doentio, faz afirmações do tipo “estamos de parabéns”, “vamos cumprir as contas previstas”, “subimos em relações às previsões” e outras do estilo, que esperanças podem existir de que não é necessário que o Fundo Monetário Internacional venha exercer as suas directrizes, na área económica e financeira, quando não podem subsistir expectativas de que o actual conjunto governativo tenha capacidade para fazer, no mínimo, cumprir o que está previsto no Orçamento Geral do Estado para 2011? Isso, caso essas normas sejam suficientes.
Num pequeno resumo, aqui deixo alguns dos problemas que saem constantemente nos jornais e que não podem ser ignorados pelos portugueses comuns:
- Cada cidadão terá de pagar 4.512 euros para financiar todas as parcerias público/privadas, cujo montante ascende a 48 mil milhões de euros.
- O crédito mal parado, ou seja os calotes das famílias e empresas à banca atingiram, em Novembro passado, quase 11 milhares de milhões de euros, sendo enorme a cobrança duvidosa, chegando o seu crescimento aos 200 milhões mensais.
- No caso do BPN, as suas perdas ascendem já a 1,8 mil milhões de euros, isto enquanto o seu presidente, nomeado pelo actual Executivo, mantém um salário anual bruto de 63 mil euros.
- No que se refere aos juros dos empréstimos externos, ainda que estes sejam cada vez mais difíceis de conseguir, já chegaram a ultrapassar os 7 por cento, o que não é possível suportar e, também por isso, há quem mantenha a tese de que não existe outra alternativa que não seja, por muito que uns digam que não, que não seja o ter de recorrer à vinda do FMI, sendo que os mercados estão a pressionar Portugal para que aceite um resgate na ordem dos 80 mil milhões.
- Portugal necessita este ano de 46 mil milhões de euros de financiamento para fazer face às responsabilidades assumidas.
- Por outro lado, os chineses, como aqui neste blogue foi assunto semanas atrás, mostraram-se disponíveis para ajudar o nosso País com um empréstimo de mil milhões de euros.
Esta relação dá bem ideia do panorama que se apresenta pela nossa frente. E isto, enquanto os candidatos à Presidência da República, cada um à sua maneira, andam a garantir que, com a sua actuação se forem eleitos para esse cargo, o nosso País resolve todos os problemas. Que maravilha!
O que vale é que o povo, tendo sempre alguma coisa que o faça distrair das dificuldades autênticas que já sente e as que se vão apresentar, depara com alguma coisa que o faz olhar para o lado. Neste momento é a situação ocorrida em Nova Iorque com o assassinato do cronista Carlos Castro. Os noticiários ocuparam mais espaço com este assunto, que tem o seu quê de tristeza, mas que não existem motivos para constituir a notícia chave que ofusca todas as outras do nosso País, só que, ao sermos como somos, com consideramos que a negrura da situação nacional não atinge a importância de um caso que está ligado a um relacionamento do chamado “gayismo”, enquanto se puder prolongar a referida questão, nada mais parece importar!...
Ao mesmo tempo que tudo isto ocorreu, no leilão efectuado para a venda da dívida pública e em que a procura suplantou a oferta, com juros de 6,4% (há um ano eram de 4,8%), que se encontram um pouquinho abaixo dos fatídicos sete por cento que já aceitámos antes, com este acontecimento vamos ter de assistir ao Sócrates a embandeirar em arco e a afirmar de novo que o FMI não é preciso e que não vai ser pedida a sua intervenção em Portugal. O Ministro das Finanças, porta-voz do seu chefe, já veio dizer que não vamos precisar da ajuda exterior, pelo que nos resta aguardar pelos próximos dias, que não vão ser muitos, para assistirmos à realidade dos acontecimentos. E oxalá esses “reis do optimismo” tenham razão.
Não me venham cá dizer que este nosso Portugal não é um País com comportamentos muito típicos e que não podemos ser apelidados dos contentinhos da silva…

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