terça-feira, 25 de janeiro de 2011

ÁGUAS PASSADAS


AS ELEIÇÕES decorreram, por sinal mal e em virtude das deficiências tão naturais no nosso País em que, como me sucedeu, nem o bilhete de identidade novo nem o cartão do voto serviram para se exercer esse direito, e como foi tema que se esgotou no domingo, é assunto passado e, cada vez mais e eu não abdico desse comportamento, o que se torna absolutamente necessário é que nos preocupemos com o que está pela frente e não com o que faz parte do antes.
Cavaco Silva, como era esperado, venceu a reeleição e vai, portanto, repetir o mandato, só que temos de esperar que não seja, de facto, uma repetição de comportamento, pois que as circunstância não dão ocasião a que, no cumprimento escrupuloso da Constituição, a sua actuação não se limite a não intervir nem mesmo com um esclarecimento claro e sistemático, que nada o impede de fazer, por forma a marcar aos portugueses qual é a sua posição, ainda que ela não seja condizente com a actuação do Executivo.
Pondo de parte também a infeliz declaração do Presidente da República no CCB, em que não foi capaz e nem teve ninguém que lhe desse uma opinião – se é que ele aceita opiniões estranhas à sua -, pois mostrou recalcamento em vez de ter evidenciado uma posição humilde de ganhador, deixando isso para trás e esperando que as críticas que lhe foram feitas tenham servido para alguma coisa, o que os portugueses talvez aguardem é que os próximos cinco anos de presidência sejam preenchidos por uma actuação positiva, de interferência pública, obviamente sempre depois de esgotados os esforços para que o responsável número um do Governo reflicta profundamente sobre os resultados das medidas que terá em vista tomar.
E, dentro das regras que estabelece a Constituição, o direito de veto presidencial está consagrado e mesmo que as leis nessas circunstâncias venham a ser de novo aprovadas no Parlamento, os pontos de vista do Presidente devem ser tornados públicos, sujeitando-se este ao apoio ou ao desagrado que os portugueses entenderem dedicar-lhes. É esse o risco que os políticos, sejam eles quais forem, têm obrigação de correr, visto que é para isso que assumem os lugares que ocupam e que o dinheiro do Estado lhes paga.
Agora ficamos todos a aguardar que o novo período que temos pela frente se apresente, pelo lado de Belém, mais eficiente e, de acordo com as enormes dificuldades que Portugal vai enfrentar, desta vez não podendo existir desculpas, constitucionais ou outras, que sirvam para ir deixando andar o que está mal em vez de meter mão a fundo nos problemas e não deixando a população entregue às suas dúvidas e a assistir impávida aos erros pecaminosos que são praticados pelos serviços do Estado. Como foi esta, como exemplo, que ocorreu em diversas mesas de voto e de que, certamente, não sairão nunca os culpados.
Se Cavaco Silva foi tão capaz de acusar os restantes cinco candidatos de se terem portado mal durante a campanha, pois que use agora essa mesma actuação ao longo do mandato que cai reiniciar. Sendo que, nesse comportamento de utilidade nacional, aí terá utilidade nacional e não apenas amuo pessoal.
Fui severo com Cavaco Silva? Pois todos nós temos de o ser com ele e com todos os políticos que, se tudo fazem para atingir cargos e não são obrigados a seguir essa profissão, têm de se sujeitar à exposição pública.

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