sexta-feira, 3 de junho de 2011

A BRASILEIRA

Sentado na Brasileira
Neste espaço com História
Aqui da minha cadeira
Revolvo a minha memória

Foi neste café aqui
Que em tempos da PIDE antiga
Se juntava em frenesi
Quem não ia na cantiga

Falavam contra o regime
Baixinho se conspirava
O que então era um crime
E bem caro se pagava

Cinquenta anos atrás
Não foi ontem, mas parece
Época de podre paz
Que jaz morta e arrefece

Em mesas por ali perto
De ouvido atento, matreiro,
Os pides com olho aberto
Espiavam o parceiro

Mas o Rocha, o Aquilino
E outros da nossa praça
Gente que fiava fino
Não lhes encontravam graça

Eu, por mim, alguma vez
Lá estive dos mestres junto
E na minha pequenez
Ajudava ao conjunto

Anos depois, já maduro,
Paguei o atrevimento
Comprometi o futuro
Mas fi-lo com muito alento

Brasileira do meu sonho
Recordo-te com saudade
O que passei foi medonho
Mas foi feito com verdade

Se fosse hoje, quem me dera!,
Voltando ao menino e moço
Ser de novo o que era
Regressando ao alvoroço

Mas não, hoje a Brasileira
É um café de turistas
É tudo d’outra maneira
Já não há por cá artistas

Mas quem tal tempo viveu
Quem ainda tem memória
Se é justo, não esqueceu
Esse pedaço de História







Sem comentários: