segunda-feira, 20 de junho de 2011

DEIXAI-ME SER POETA

Olho de longe a vida
oiço todos os ruídos
falo às pessoas que passam
esclareço quem duvida
uso todos os sentidos
vejo os pássaros que esvoaçam

É isso que dia-a-dia
nesta fase me sucede
em que sem obrigações
já perdi qualquer mania
e até olhar p’ra parede
me provoca ilusões

Quando fumava lá tinha
certa ajuda ao pensamento
agora já sem tal vício
busco fundo alma minha
que me dê algum alento
p’ra cumprir o sacrifício

Sim, porque sendo um prazer
e também certo castigo
para as horas ocupar
e ter algo que fazer
nesta espécie de abrigo
algo de mim posso dar

O poeta é isso mesmo
um contemplador da vida
que anota tudo que sente
e quando produz a esmo
com genica incontida
conta tudo e até mente

No fundo, de todo o ser
penso eu, por isso digo
ao poeta com seus temas
não apetece bater
e pode-se ser amigo
apenas dos seus poemas

O que se passa comigo
com todos será igual
àqueles que à poesia
se entregam como um mendigo
a pedir sem ser por mal
dando em troca fantasia

Olhar de longe a vida
procurar estar fora dela
sem querer ser arrastado
na canseira da corrida
só debruçado à janela
é o que faço sentado

Deixai-me, pois, prosseguir
enquanto eu ando por cá
sem com depois me importar
com o que vem a seguir
mesmo que com um quiçá
dê muito gosto sonhar





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