quinta-feira, 26 de maio de 2011

IMAGINAR NÃO CUSTA


Proponho-me imaginar
viver no tempo do Eça
com ele compartilhar
longas horas de conversa
que bom teria que ser
ouvir da boca de quem
sem ser só a escrever
teria como ninguém
histórias para contar
iguais à do Mandarim
ou à Cidade e as Serras
sempre com um bom fim
lembrando bonitas terras

E com Pessoa também
lá no café das Arcadas
sentir-me-ia tão bem
como num conto de fadas
tristeza com tanto interesse
mesmo em Desassossego
seria uma benesse
e também um aconchego
antes de ter grande fama
pois só depois de morrer
alcançou a boa chama
do mundo reconhecer
de tal Homem o valor
qu’imagino ao meu lado
servindo-me de mentor
do por mim desejado
génio que eu bem procuro
o tal que eu não alcanço
no presente e no futuro
e só vejo de raspanço

Imaginar, pois, não custa
e isso faço por vezes
por muito que seja injusta
essa acção dos portugueses
que melhor é seu desejo
para si e para os seus
eu no meu papelejo
vou fazendo os meus Orfeus
que para depois eu deixo
s’houver alguém que deseje
por virtude ou por desleixo
e ainda que boceje
reler alto e em bom som
os textos e os poemas
o que é mau e o que é bom
mesmo não sendo emblemas

Mas deixem-me imaginar
as tertúlias com poetas
com escritores a atinar
também com as suas petas

Já que hoje se perdeu
o costume de juntar
à mesa de um ateneu
gente só p’ra falar
que façamos pelo menos
o esforço de recordar
e assim imaginemos
o prazer disso gostar

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