segunda-feira, 25 de abril de 2011

TERRA DA FRATERNIDADE...



NÃO SE TRATARÁ DE UMA EXCEPÇÃO, pois será uma característica da maioria dos povos mas, em Portugal, tanto como eu imagino, constitui um hábito enraizado que, pelo menos no capítulo da conservação de tradições, terá a sua utilidade. Refiro-me às comemorações que tanto gostamos de praticar, mesmo quando, em muitíssimos casos, os participantes nem façam uma ideia muito clara da razão que leva a que se pare em determinada data de trabalhar e se olhe para o calendário com o dia em causa marcado com um F.
O Domingo de Páscoa, naturalmente, faz parte de uma dessas datas, mas o 25 de Abril que se recorda há 37 anos, também não deixa de constituir um motivo de comemoração, face ao significado que mantém de mudança de um regime político nacional que deixou poucas saudades aos que o viveram em pleno, pelo que, ano após ano, lá se tem recordado o acontecimento que, para quem não terá atingido ainda o cinquentenário de vida, só vagamente tem um significado plena de libertação.
Mas esta passagem pretende acima de tudo recordar a canção lançada por Zeca Afonso, intitulada “Grândola Vila Morena” que, igualmente para os mais novos soará como para nós, os da idade superior, na altura da aprendizagem da História de Portugal, nos foi referida a Batalha de Aljubarrota. Tudo coisas vagas, ainda que ao ouvido não passem despercebidas.
Pois nessa letra da canção referida, canta-se o verso da “terra da fraternidade”, que esteve muito em voga nos momentos em que havia que reclamar contra determinada decisão que tivesse sido tomada pelos governantes e que afectasse os interesses daquilo que o povo clama como sendo os seus direitos. Terra da fraternidade, frase que se aplica ainda ao povoado alentejano grandolense, mas que, na ideia do poeta, se aplicaria a tudo que é terra, ou seja ao Mundo.
O Mundo é também denominado Terra, da mesma maneira que a fraternidade não tem como exclusivo uma área específica de aplicação. Fraternidade é uma característica humana que deveria ser usada permanentemente pelos fraternos, ou seja pelos irmãos que, seja qual for a sua origem nos primórdios do mundo – e também aí se verifica discrepância de opiniões entre os homens, com razões mais ou menos científicas não coincidentes e com bases religiosas que também se situam distantes umas das outras -, tudo indica que a nascença dos primeiros seres humanos os colocou na posição de filhos da mesma semente.
Mas os poetas, mentirosos como lhes chamou Pessoa, não hesitam em procurar expressões que tendem em apelar para o entendimento amistoso entre aqueles que, nesta altura, atingiram já o número assustador de sete mil milhões. E aí, como já tinha acontecido mesmo quando a quantidade de gente a movimentar-se em toda a Esfera não atingia nem sequer a metade da actual, a palavra fraternidade tem vindo a perder significado. Mesmo quando os irmãos, por conhecerem concretamente os seus progenitores, não se entendem, como é possível ter esperanças de que a tal fraternidade possa ser praticada entre naturais da mesma terra, nacionais do mesmo País, praticantes das mesmas religiões, identificados com ideologias políticas iguais, tendo as cores das peles semelhantes e muito menos com idiomas que não coincidem?
Cada vez mais a fraternidade passa a ser uma expressão cujo significado talvez só seja entendível quando a razão que permite o convívio seja o da posse de valores monetários. Mas, mesmo assim, os ricos também brigam, querem uns ter mais dos que os outros, não consideram ser bastante a parte que lhes cabe.
O Homem só é fraterno consigo próprio.
Ah, como eu adoro os animais!...

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