quinta-feira, 7 de abril de 2011

DAR O BRAÇO A TORCER


O QUE ERA INEVITÁVEL acabou por suceder. O Governo, embora sendo de gestão, não teve outra alternativas senão reconhecer que não podia aguentar por mais tempo a sua teimosia de não pedir auxílio externo para fazer face às necessidades financeiras urgentes que afogam Portugal e que, nesta altura, se apresentam inexoráveis para pagar dívidas e juros cujas datas de liquidação batem à porta. O ministro ainda em exercício, Teixeira dos Santos, não teve outro remédio que não fosse declarar publicamente que os acontecimentos calam a boca ao seu primeiro-ministro e a si próprio. E até os bancos portugueses se anteciparam com as declarações de que não estavam em condições de acudir ao Governo para enfrentar a situação que se sabia há muito que aparecia nas datas que vêm já a seguir. E esta atitude forçada até serviu milagrosamente para retirar do Executivo que surgirá depois das eleições a má imagem de ser ele a ter de dar o passo que não se podia evitar e que, neste blogue, tem sido referido há tempos, muito embora fosse contra a corrente de muitos comentadores que não entendiam ser indiscutível esse pedido de apoio externo. Mas, fazendo um intervalo e falando de outras situações que também custam a admitir aos políticos que temos por aí, vale a pena referir e vem muito a propósito com a situação actual e que a anunciada convergência proposta pelo B.E. ao PCP, a fim de encontrarem posições políticas que lhes permitam fortalecer uma oposição a uma eventual maioria conseguida depois do apuramento nas eleições que estão já marcadas para 5 de Junho, perante isto considero que vale a pena efectuar um sublinhado a este passo que constitui também uma excepção ao que tem ocorrido no nosso panorama político. Se este desejo for realizado, como parece inquestionável, ter-se-á que aguardar que, do outro lado, os partidos que defendem ideologias opostas também consigam convergir – para usar o mesmo verbo -, por forma a juntar forças que permitam arredar confrontos inúteis e que só são prejudiciais para tentar solucionar problemas que põem ainda mais em risco os interesses do nosso País Para além disso, nesta fase tão crucial que se vive actualmente, sustento o ponto de vista que é desejável que se verifique a coragem de pôr de lado, por uns tempos, isso da Esquerda e da Direita, apelando unicamente ao que constitui a razão de ser da nossa vivência e será a construção concreta do nosso futuro de forma diferente do que tem sucedido até hoje. Não tenho dúvidas de que esta proposta não tem a menor viabilidade de ser concretizada, tal como aquela de manter em lume brando, por uns tempos, isso da democracia, pois não passará nunca de uma espécie de sonho mágico que, na vida humana, não tem maneira de ser posto em prática. Mas, apesar disso, quem possui larga imaginação tem o direito de não ocultar o que considera ser o ideal. Mas, a sério, verificar-se a tentativa de juntar os partidos que não se encontrem assim tão distanciados nos princípios ideológicos que defendem e, especialmente para aliviar a pressão que sempre se levanta nos momentos das campanhas eleitorais, fazer esse esforço será um apelo que os portugueses podem e devem apresentar aos “patrões” dos diferentes grupos e levar até isso em conta para efeitos de confiar ou não o seu voto naqueles que se encontrem dispostos a praticar essa excepção política. Independentemente das inclinações de cada um, ouvir os homens que representam os partidos mais radicais a clamar pelo apoio dos “patriotas de Esquerda”, como deparar com os contrários a atiçar o ambiente com acusações que atingem os adversários comunistas e similares, tudo isso não ajuda nada os indecisos em escolher, porque o que está em causa e é prioritário é descortinar soluções, sejam elas de que lado sejam, que nos retirem do buraco em que nos encontramos. E a demonstração surgida ontem do resultado de uma sondagem se as eleições se tivessem realizado recentemente, em que a soma do PSD e do CDS não mostra uma maioria absoluta, essas contas provam cabalmente que, a cumprirem-se esses números na contagem dos votos das eleições estabelecidas, o problema nacional não se encontrará resolvido, antes os confrontos permanecerão. Descansados, portanto, não podemos estar neste particular. E o que continua a faltar é quem tenha a coragem de falar claro aos portugueses e de lhes mostrar que é nos momentos mais difíceis que importa mostrar aquilo de que somos todos nós capazes. E o que é fundamental é sermos úteis, produtivos, cumpridores. Que sejamos um povo que, de uma vez, entenda que está também nas suas mãos contribuir para ajudar a alterar a situação que vivemos. E utilizar todo o tempo da actividade de cada um em proveito de um Portugal que, em termos de produção, não tem dado mostras de ser exemplar. E essa é uma das razões do distanciamento negativo do resto da Europa. Termino, pois, com o tema inicial deste escrito: o da decisão do Governo de solicitar ajuda externa, o que representa uma mudança de 180 graus ao que tem sido afirmado até agora pelos responsáveis governativos. É uma mudança salutar. E as declarações de José Sócrates ao princípio da noite, atrasado como sempre pois nem desta vez conseguiu cumprir um horário dos telejornais, como andou sempre fora de tempo ao longo da sua governação, não foram mais do que a repetição daquilo que tem constituído as suas afirmações desde que foi forçado a pedir a demissão do seu Governo. As acusações aos opositores voltaram. Os outros são os culpados de tudo o que está a suceder. Ele fez o “seu melhor”!... Nem num momento tão grave como este que atravessamos foi capaz de assumir as suas responsabilidades e de mostrar a humildade que sempre lhe faltou. Afinal, aquilo que declarou mostrou de novo aquilo que é o José Sócrates. Não alterou em nada a opinião sobre o que muitos dos portugueses têm a seu respeito. Também já nem interessa qualquer mudança de imagem. A História falará a seu tempo. E nós, os que vivemos esta época, temos de sofrer as consequências de ter escolhido tal figura para ser primeiro-ministro de um Executivo nacional. Mão deixo também passar esta ocasião para deixar aqui expresso o meu ponto de vista sobre Pedro Passos Coelho que, logo a seguir a Sócrates, também quis dar mostras da sua opinião. Deixou-nos a pensar sobre a eventualidade de o cenário político que se seguirá às eleições vir a ser mais sensato e representar a contradição da imagem de teimosia de que o Sócrates nos encheu, a nós portugueses, as cabeças e nos despejou os bolsos. Escrevi este longo texto de madrugada e angustiado com a situação que somos obrigados a suportar e, com a reportagem transmitida televisivamente do que está a decorrer na Grécia, confesso que gostaria de me transladar para outra galáxia, porque esta, não o escondo, enoja-me…

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