sábado, 12 de março de 2011

À RASCA

ISTO DE CHAMAR “geração à rasca” à juventude que, nesta altura e precisamente hoje, dia 12, vai fazer a sua manifestação para reclamar pela forma como está a ser tratada pelos governantes que temos, não posso classificar como muito feliz, da mesma forma que seria contrário que tal apodo fosse aplicado a outro grupo etário, como, por exemplo, aquele a que eu pertenço. Porque para utilizar tal denominação o que tem de ser dito é que quem está completamente enrascado é Portugal, todo ele, como Nação que, sobretudo pelo seu passado quinhentista, e postos de lado os exageros de grandiosidade que são normalmente cantados na História – porque, como eu não me canso de referir, particularmente nos 10 cantos da minha “Lusofonia” que choram o mau aproveitamento que foi feito da difusão da língua Pátria que se deixou ultrapassar pelo idioma inglês que não foi divulgado através de descobrimentos de novas terras -, não merecia que tivéssemos atingido uma tão baixa plataforma no panorama mundial e europeu em que se encontra.
Pois é hoje que sai à rua aquilo que se espera (porque estou a escrever este texto na véspera do acontecimento) que seja uma demonstração de enorme proporção do desassossego em que vivem os portugueses – e não serão só os jovens -, enfrentando as maiores dificuldades e não assistindo a perspectivas animadoras que façam alterar o estado de espírito que atinge a grande maioria dos cidadãos lusitanos.
Mas eu tenho de dar mostras da reclamação pessoal que face ao presenciar o apoio específico que é dado aos jovens por esta atitude. É que, no seu caso, pelo menos gozam de uma vantagem e que é a de estarem ainda na idade em que muito futuro, mau ou bom, os espera. Agora aqueles que se encontram, como é o meu caso, na categoria que eu já chamei, num texto publicado por aí, de “geração sofrida”, ou sejam os que atravessaram o período político da ditadura (sobretudo os que tinham uma profissão que estava sob o olhar e a perseguição permanente da PIDE) e que, após o 25 de Abril e cruzando aquele PREC de má memória, com o tal Vasco Gonçalves em perseguição dos que não apoiavam o seu comportamento – e deste muita juventude nem tem o menor conhecimento -, essa camada de população não vislumbra já a possibilidade de poder vir a gozar de um período que lhes traga a tranquilidade de se despedirem da vida com alguma satisfação.
É que, as reformas, por mais pequenas que sejam, que ainda vão recebendo, essas encontram-se já perante o dilema – e eu parece que adivinhei quando escrevi, tempos atrás, neste blogue que um dia acabariam -, de irem sofrer reduções, segundo o anúncio dado hoje (ontem) pelo Ministro das Finanças de que, já em 2012, se verificarão cortes (não disse quantos) nas pensões acima de 1.500 euros -, pelo que não será a juventude à rasca que sofrerá as consequências de acabarem de vez quando isso puder vir a acontecer e então assistir-se-á a um espectáculo doloroso de um desfile de cadeiras de rodas e até de macas cheias de inválidos pertencentes à tal geração sofrida mas que, pelos vistos, não estará à rasca!
Cavaco Silva, no seu discurso de retomada de posse, quis referir-se à juventude fazendo-lhes um apelo que, quanto a mim, não tem o menor sentido, posto na equação em que foi colocada. Como se dependesse exclusivamente dessa gente jovem o alterar, nesta altura, o Governo que temos, o de fazer com que o País passasse a ser um lugar produtivo, com adequadas exportações e com iniciativas de investimentos, com a agricultura a desempenhar o papel que lhe cabe, as pescas a voltarem a ser o que já foram e os que exercem profissões se consciencializarem de que as horas em que se encontram a actuar profissionalmente não podem nem devem ser perdidas com as distracções que os portugueses tanto gostam de aproveitar (mas que, quando são emigrantes, nem lhes passa pela cabeça procederem dessa forma).
Se, como eu tenho aqui proclamado, nas escolas primárias, à infância, se ensinasse a prática democrática, o saber ouvir os mais sabedores, os direitos mas sobretudo os deveres que os cidadãos devem seguir para que o País a que pertencem progrida, então, talvez dentro de três a quatro gerações o nosso País se pudesse enfileirar na lista dos mais prósperos. Mas não é com desfiles plenos de cartazes que as coisas mudam para melhor. Só se produz barulho, proclamação de frases feitas, encher de lixo os locais por onde passa a manifestação. Nada mais do que isso!
Logo, nós, os que já fizemos (ou não) o que nos cabia fazer, não podemos ter perspectivas de assistir à mudança que, por muito que se deseje, não é a juventude que a vai proporcionar.

Sem comentários: