terça-feira, 1 de março de 2011

PORTUGAL ROUFENHO

O “Portugal roufenho”, de Camilo,
Não foi só no século dezanove,
Aí estamos nós, de novo a admiti-lo
E a sentir na pele quanto chove
De asneiras e de grande incompetência.
Burocratas e chatos de morrer,
É demais a falta de paciência
Para suportar enorme sofrer
E que chegue pr’a aguentar tamanho
Desgoverno que mostraram aqueles
Que se foram, de espírito tacanho,
Que perderam anos, enormes reles,
Que nos puseram no fim da corrida
E quase mais pobres do que estávamos
Quando se deu início à partida
P´ra democracia que desejávamos.

Sim, esperança não há que perder
Como é costume do nosso povo,
Já que mal pior não pode haver
E algo de melhor virá de novo.
Mas, entretanto, aperta o cinto
Pede quem governa este País,
Porque há que sair do labirinto
E falta esperar para ser feliz.
Como está distante a boa meta,
O “Portugal roufenho” de outrora
Deixa ainda Zé povinho sem cheta
E não se vislumbra a grande aurora.

Pode ser que haja ainda um final
E que seja diferente do agora,
Que se perca até a capital
E que Bruxelas passe a dar a hora
P’ra que este País entre nos eixos,
É triste mas será algum remédio
Único fim de todos os desleixos
E pontapé dado em todo o tédio.

Poderá depois chover no molhado
Arrepelarem-se forte os cabelos,
Chamar todos os nomes ao culpado,
Não terem conta muitos pesadelos,
Mas o que está feito, feito estará,
Não vale a pena olhar para trás
Só com a Europa se contará
É o que resta a quem foi incapaz.
Chega recordar os antepassados
Aos nossos maiores cantar glórias
Apontar todos os que nos seus fados
Merecem o respeito e as memórias.
Também as batalhas e descobertas
Devem ser lembradas para o futuro
P’ra tirar dúvidas e serem certas
As verdades rijas que nem muro.

Numa diáspora e com bravura
Espalhámos a língua e costumes,
A gastronomia e a cultura,
As canções e as danças, sem queixumes,
.Agora é lembrar os injuriados,
Aos nossos maiores cantar glórias,

Apontar todos os que nos seus fados
São dignos do respeito e as memórias
Será essa a nossa consolação
Restam os dedos, foram os anéis
E pensamos que não será em vão
Que, por mais que andemos aos papéis,
Fica o orgulho na nossa História,
Num País de séculos, sofredor,
Que nunca deve perder a memória
Daquilo que em nós for merecedor

De pé ficaremos nessa Europa
Dos ricos, pois então, e nós à espreita
Mas o povo não quer andar à coca
Já chega da tanta meia-desfeita
Pois que numa manhã de nevoeiro
Hão-de aparecer as epopeias
E não nasceu ainda o coveiro,
Daí podem tirar vossas ideias,
Que cavará a nossa sepultura,
Florirão ainda muitas acácias
Passaremos por cima das agruras
Também não serão precisas falácias
Para se poder gritar de alegria
Aquilo que ansiámos p’ró final
O poder afirmar com galhardia
Renasceu viçoso o Portugal !

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