terça-feira, 1 de março de 2011

ESPERA GALEGO!


ESTA FRASE MUITO ANTIGA tem a sua razão de ser. É que, neste nosso País, mesmo no tempo em que era usual utilizar os serviços dos emigrantes galegos que faziam os recados e que, de corda ao ombro, eram o que se chama “pau para toda a obra”, então se fazia esperar bastante tempo para decidir a nova tarefa que lhes seria destinada.
Mas, o que importa é apontar aquilo que constitui um hábito de toda a vida dos portugueses, pois sempre demos mostras de que não nos apressamos perante as necessidades de sermos diligentes e rápidos na execução de tarefas que se encontram a aguardar que sejam iniciadas e depois concluídas. Nas obras que se mantêm em todo o País, por vezes anos paralisadas ou em lume lento, quando não a aguardar que as instâncias do poder dêem o seu consentimento, aí se encontra a prova de que muito gostamos nós de empatar, pois que as equipas de decisão oficial são constituídas por cidadãos nacionais que as circunstâncias colocam, em dada altura, em lugares de apreciação e de decisão. Como eu afirmei neste blogue várias semanas atrás, todos nós somos um pouco “Sócrates”, no capítulo de actuarmos tarde e fora de tempo ou de nem sequer darmos um passo se o interesse não apontar para o nosso lado.
Se nos queixamos, pois, do aparente desinteresse das forças públicas em despachar, rápida e eficientemente, os processos que se encontram depositados nas suas secretárias, se nos calhar sermos nós a ocupar essas funções, provavelmente sucederia o mesmo, posto que é um hábito enraizado de não nos interessarmos pelo bem público e os problemas dos outros cada um que os resolva, mesmo que esteja em causa a melhoria das condições do nosso País. E contra isso não há maneira de nos modificarmos.
Logo, a espera é a posição mais natural que ocupa grande parte do tempo de todos nós. E também por isso é que a chamada “cunha”, o favorzinho ao amigo ou ao parente, a tal história dos “boys”, o passar à frente da lista da papelada, o obter o “sim” numa fila sucessiva de “nãos” em igualdade de circunstâncias, até a corrupção que, em tantas ocasiões, opera “milagres”, esses comportamentos são os que os mais favorecidos têm de deitar mão, pois que a espera, sempre ou quase, aumenta os custos, quando não provoca a desistência de se prosseguir numa iniciativa que poderá até ser muito útil a Portugal.
As notícias são permanentes quanto a casos que ocorrem e que, infelizmente, nos deixam já conformados com o vício de empatar que se depara a cada passo da nossa existência nacional. Por exemplo, ainda ontem vinha anunciado que um projecto para a construção de dois edifícios no Porto, de complemento à maternidade Júlio de Matos, se arrasta há cerca de vinte anos a aguardar, e que só agora é que foi aprovado, o que dará assistência para acolher cerca de mais quatro mil partos por ano e muito melhor assistência a mães e crianças. Mas esta anomalia não é uma excepção. Quantos casos semelhantes e ainda mais escandalosos não ocorrem de Norte a Sul do nosso País? E, muito embora o fim dessas “empatocracias” possa contribuir para animar os investimentos que são tão necessários para que o nosso País consiga sair da situação periclitante em que se encontra e proporcione mesmo a criação de novos empregos, mesmo assim o prazer mórbido de todos aqueles que só encontram pontinhas para impedir que os outros cidadãos ponham a funcionar as suas iniciativas, esse gozo doentio surge a cada passo e, especialmente na câmaras municipais, os clássicos fiscais que aparecem de pasta e livros de multas na mão, se, nos casos em que isso corre e que não são poucos, em que o sobrescrito com as notas lá funciona, o que se passa é o impedimento de desenvolver iniciativas que, bastantes vezes, melhoram o que já existe.
Mas não é só nessas áreas que o sacrifício da espera e as revoltantes paralisações de actuações dos responsáveis pelo andamento de investigações se depara aos cidadãos. O caso do pequeno Rui Pedro, com então onze anos de idade, desaparecido há treze anos e que só agora é que é preso o que é dado como acusado do acontecimento, quando essa investigação, na data respectiva da ocorrência, já indicava ser o próprio o autor da má acção, essa demonstração de demora em actuar a que a própria Polícia não escapa, coisa que, aliás, faz é uma constante dos Tribunais portugueses, esse mau exemplo é um dos muitíssimos que se dão neste nosso rectângulo peninsular.
É uma tristeza que, enquanto por um lado temos a característica do desenrascanço, sendo rápidos a sair dos berbicachos em que nós próprios nos metemos, em contrapartida criamos os longos tempos de espera em pôr em prática o que nada justifica que permaneça adormecido nas gavetas dos diversos escalões oficiais que fazem parte da complicada burocracia portuguesa. É isso que justifica, em grande parte, a embrulhada situação a que chegámos em Portugal, pois arrastamos, desde sempre, a nossa própria sombra, gozando do prazer mortífero de meter o pé à frente em tudo que os outros fazem, talvez também por inveja de não termos sido nós os autores das ideias. Ou também para justifica a passagem da mão por baixo da mesa com o respectivo “cumprimento” que, em muitos casos, é o remédio para fazer mexer o que se encontra paralisado.
Será que o contacto com a Europa, ela também a andar à volta com os seus problemas e sem conseguir ganhar tempo para pôr a funcionar a razão da sua criação, fará com que, um dia, ponhamos de parte esse nosso “espera galego”?
Será que este nosso caminhar para o fundo acabará, só quando lá tocarmos, por fazer com que despertemos para a realidade?
Eu já acredito em tudo!...

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