sexta-feira, 8 de outubro de 2010

DESASSOSSEGO

Não é d’hoje mas é dantes
que existe este alvoroço
pois já velhos navegantes
roíam o duro osso

Foi Pessoa quem lançou
num total desapego
a obra a que chamou
Livro do Desassossego

Mas quando s´séculos atrás
o Filho bateu na Mãe
e afirmou ser capaz
de fazer um País bem

Deixando p’ra trás galego
por este rectângulo abaixo
lançou o desassossego
inventou também o tacho

Assim fomos caminhando
em triste monotonia
por vezes também chorando
noutras sentindo alegria

Sossegados não estivemos
profunda inquietação
pois saber nunca soubemos
viver sem ter um mandão

Os reis eram eles donos
República veio tentar
e nós só como colonos
pusemos dedo no ar

Dezasseis anos chegaram
P’ra República cair
ditadores aproveitaram
o não sabermos gerir

Cinco décadas passaram
sob um jugo bem pesado
portugueses sossegaram
sempre de bico calado

Os que não se conformaram
por perderem alter-ego
escondidos reclamaram
em total desassossego

Até que o dia chegou
com Marcelo sem poder
a Revolução derrubou
quem estava p’ra perder

Agora em Democracia
com três décadas passadas
não é grande a alegria
há gentes desagradadas

Os que mandam, lusitanos
nos partidos estão também
são todos seres humanos
não conseguem dar-se bem

E isso da Liberdade
que todos p’ra si exigem
com outros de má vontade
poucochinho lá transigem

Para podermos viver
em Democracia plena
muito há que aprender
e a altivez ser pequena

Como no dizer do povo
se cada um se vê grego
há que tentar de novo
fugir do desassossego

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