domingo, 24 de janeiro de 2010

O QUE SOU E O QUE FUI

Se eu não sou quem imagino ser
se não fui o que julgava ter sido
quem fui e quem sou, finalmente
e que de útil foi tudo o que fiz
se me resta fazer mais alguma coisa?
Vasculho na memória, sem resposta
desperto a consciência e é igual
não encontro nada de destaque
algo que mereça ser mencionado
tudo foi arrancado com esforço
muito me custou bastante desgosto
porém, espremido agora é zero
não provoca espanto a ninguém
também não haverá razão para isso.

Sei que não é excesso de modéstia
não acredito que se trate disso
eu que desconfio dos que se adulam
dos que só pensam bem de si mesmos
que não avaliam os seus defeitos
e que acham que o mundo é ingrato
por não reconhecer valor nos próprios
eu que sou muito exigente comigo
o que não me falta é teimosia
e é graças a ela que persisto
que repito, que vou continuando
até aquele momento decisivo
em que já não puder deslocar-me
e nem mesmo isto que faço agora
seja capaz de levar a cabo.

Não, de facto eu não sou nem nunca fui
o que cheguei a admitir que era
alguma coisa que valesse a pena.
Ao menos ainda fui a tempo
de encarar a realidade.

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