quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

GRITAR BEM ALTO

Penso nisso muitas vezes
se melancólico estou
chegam-me à cabeça teses
direito ao papel eu vou
vontade vem-me da alma
de dizer alto e bom som
não fazendo apelo à calma
nem mostrar ser de bom tom
porque no tempo é que penso
no que me falta ainda
ponho de parte o bom senso
porque já nada se alinda
e face a tal realidade
se tudo que fiz não conta
não deixo nada a metade
vamos a isso: à afronta !

Portugal está num beco
bem difícil a saída
é como um País já seco
sem água nem na descida
há que fazer qualquer cousa
e jamais ficar parado
não desculpar quem repousa
e se põe sempre de lado
por muito que esteja errado.

Faz falta gritar bem alto
apontar o que está mal
se o País não der o salto
mantendo-se sempre igual
então as crianças de hoje
amanhã descobrirão
que em Terra do bate e foge
não há qualquer salvação
e o mais perto aqui ao lado
que também foi ditadura
já oferece o seu telhado
para vida menos dura
e não se queixem depois
os do aljubarrotismo
que se julgam heróis
mesmo deixando um abismo

Penso nisso a miúdo
e não sendo exemplar
ponho na balança tudo
e paro para analisar
o que passa à minha volta
e é ao estudar o mundo
que me ressalta a revolta
à superfície e no fundo
e ao pela manhã ler
os jornais que tenho à mão
fico logo a saber
que se vive em tensão
que há mortes e há guerras
que só vencem os mais fortes
os que dominam nas terras
mesmo provocando mortes
os mais ricos, poderosos
que têm primos e primas
e não são os valorosos
os que merecem estimas.
Fico, pois, desanimado
só me resta é gritar
ver onde chega meu brado
não passa do poemar
mas se mais longe não vou
se só me ouvem ao pé
não vou sair donde estou
na mesa do meu café

Estou limitado por isso
ao que a minha voz alcança
poder dos outros cobiço
dos que usam a gritança
mas que posso fazer eu
para além de encher papel
tal como pobre plebeu
perante um rei cruel
de manhã escrevo poemas
poemas… que fantasia !
abordo somente uns temas
com rima, por teimosia
são centenas, já milhares
que acumulo sem saber
se serão assim vulgares
mas dão-me tanto prazer
ao vê-los surgir na folha
que descubro a qualidade
numa miragem zarolha
que desperta caridade.
E de tarde vou pintando
quadritos a óleo puro
e com isso vou gritando
para mim e sem futuro.

Pensando sempre assim
pois isso ninguém me impede
sigo a gritar para mim
sequinho cheio de sede
sede de ver melhorar
este mundo, tão maldoso
sem crença já de chegar
a tempo de ter o gozo
de ver o Homem mudar.
Morrerei desiludido
o depois a lastimar
que eu não fui um protegido
pois a vera felicidade
está naquele que acredita
que o Homem tem qualidade
para mudar onde habita
que a água não faltará
e oxigénio também
e a cura haverá
p’ra se viver mais além
E em todo o globo cabe
cada um no seu lugar
a fazer só o que sabe
sem andar a empurrar
o vizinho que incomoda.
S os velhos forem tantos
mesmo não estando na moda
não se afastando p’ros cantos
mas com amor para dar
se vier a ser assim
se tudo se alterar
coisa em que eu não creio
não é preciso chinfrim
e muito menos receio.

Se o mundo se endireita
Portugal imitará
e a malta satisfeita
as hossanas cantará
eu é que não acredito
nem no mundo ou só cá
e é por isso que eu grito
p’ra me ouvir Deus e Alá
qualquer Buda ou seu parente
que p’ro caso tanto faz
já que o Homem é que não sente
o mal que lhe vem de traz
do jardim do Paraíso
no tempo de Adão e Eva
quando se perdeu o siso
e se caiu na treva
como dizem Escrituras
e a maçã desfez perdão
e s’inventaram figuras
e com nova situação
os cristão recomeçaram
a encarar o seu mundo
e nunca mais descansaram
convencidos bem no fundo
de toda a sua verdade

Faço, pois, mal em gritar
contra quem contente diz
tudo vai continuar
o ser humano é feliz ?
Tenho de dar grito alto
mesmo sem ter resultados
a vida é um sobressalto
nós andamos enganados
e num futuro qualquer
mais próximo ou nem por isso
seja homem ou mulher
verá que não foi enguiço
aquilo de que avisaram
os que estavam mais atentos
para o pior alertaram
apelando aos sentimentos
.

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