domingo, 11 de outubro de 2009

PASTOR

Se tivesse que ser outra coisa
na vida
e me dessem a escolher
logo à partida
se soubesse o que sei hoje
por pouco que seja
esteja como esteja
talvez tivesse optado por ser pastor
por certo estranho
junto do meu rebanho
para os outros que me olhariam
andando por montes e vales
entregue ao não te rales
mas sempre com papel e caneta
a inspirar-me na Natureza
e a reproduzir sua beleza
e só pensar nos bons actos
que o ser humano poderia fazer
e pondo bem longe a hora de morrer

Que bom seria ser pastor
viver isolado das maldades
ser feliz
de raiz
ouvir apenas os balidos
das minhas companheiras
as ovelhas
e de vez em quando os ladridos
do fiel amigo
sempre atento ao perigo
que possa existir
de alguma fugir
do grupo que me dá
esta profissão de pastor

De manhã à noite
ter a imaginação
sempre em acção
ver passar as estações do ano
todas elas úteis e benéficas
sentir o sol e o vento,
mas ter presente o talento
beijando cada flor do caminho
cuidando em raízes não pisar
e deslumbrando o olhar
sem ambições, sem maldades
pegando no cordeirinho
que também quer o seu caminho
e, de vez em quando,
fazendo saltar os poemas
agarrado ao cajado
que também puxa pelos temas
sem pretender compreender
o mundo que se atravessa
e que desde ali não se pode ver

E à noite, recolhidas as ovelhas,
abrigado no curral, pensar
à luz do petróleo, sonhar
lembrar-me que os ricos
sofrem por querer mais
que eu com os meus nicos
sou feliz, por demais.

Ser pastor neste mundo
é o que eu queria no fundo.






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